O Amor, a Vida e o Aborto
O tema que se propõe para meditação tem a ver com um facto ocorrido há já alguns meses. [anteriores a Setembro de 1997, conf. nota abaixo]. Algumas pessoas, entre elas uma jovem mãe de dois filhos encantadores, trocavam impressões acerca das condições de vida, nomeadamente da vida vivida a dois, nos tempos que correm, onde tudo funciona com uma velocidade vertiginosa e nada é fácil.
Contava e recordava essa senhora o seu namoro, o seu casamento, os meios materiais com que viveram a vida a dois, depois a três e agora a quatro.
Procurava ela demonstrar a outros que a rodeavam, que a luta, a vontade, a fé é coisa que move montanhas. Tudo isto bem condimentado com boa dose de entendimento, da harmonia, diria mesmo, de muito amor.
Contava ela o quanto fez seu marido quando ocasionalmente esteve doente. Rodeava-a de todas as atenções, tratava dos filhos, enfim substituiu-a eficientemente.
«O meu marido não sabia o que me havia de fazer», desabafava ela em tom de felicidade e de triunfo.
Contou como casaram, a vinda do primeiro filho, os primeiros problemas ultrapassados, com muitas poucas facilidades.
Porém, a vida continuou e ficou grávida do segundo filho. Naquela altura as dificuldades eram mais que muitas. Passou dias e dias a cogitar como seriam vencidas essas dificuldades, pois já sabia, tinha a certeza, que consigo, fruto do amor construído com dificuldades acrescidas, tinha um outro fruto. Mais um filho… mais um problema que seria acrescentado àqueles muitos que já estava a viver. Como poderia, materialmente, vencer as barreiras que tinha pela frente e que, mais um filho, lhe vinha criar?
Chegou a pensar no aborto. Terá confessado ao marido. Não sei agora qual terá sido a reacção de ambos. Também pouco importa, neste momento, para o desfecho final que é de fazer meditar.
A certa altura, uma criança brincava junto de nós, alegremente, transmitindo a todos a inocência que gostaríamos de ver na vida, nos homens e na sua relação entre si.
Essa mãe, orgulhosa, feliz, irradiando ternura e amor pelos seus filhos, apenas disse: «Veja lá o que eu ia fazer! Hoje não tinha e não via a minha filha junto de mim!!!»
Publicado na rubrica «Última Coluna» do jornal paroquial «Valongo do Vouga»
Em Setembro de 1997
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Nota: - Já não recordo as pessoas envolvidas, mas sei que este comentário foi feito baseado em factos verídicos. Faria hoje os mesmos comentários (se tal fosse possível), já que o que está em causa é demasiado importante e sério que muita discussão tem proporcionado e continuará, certamente, a proporcionar.
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