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terça-feira, 29 de setembro de 2015

Brumas da Memória - 45

A Indústria em Valongo do Vouga                       

Como eram as instalações da firma
António Pereira Vidal & Filhos, Lda.
(Clicar na imagem para aumentar)
Iniciamos a história da indústria em Valongo do Vouga, socorrendo-nos, com a devida vénia, do trabalho do Dr. Deniz Ramos, a que foi feita referência num dos artigos anteriores.
Recordou-se o que foi a indústria florescente do prego, da brocha e outros artigos de ferro usados para diversos fins, nomeadamente na indústria naval. Nesta história das  ferrarias do Baixo Vouga, foram identificados alguns pioneiros dessa indústria. Deniz Ramos aponta ainda os primeiros empreendedores da indústria de ferragens em Águeda e faz um percurso histórico bastante curioso sobre alguns dos seus protagonistas, aos quais voltaremos em tempo oportuno.
Hoje rebuscamos daquele importante trabalho do insigne historiador, «um exemplo, entre muitos, de algumas vocações e capacidades empreendedoras» no qual dedica um capítulo à indústria têxtil na freguesia, uma actividade com pouca expressão no concelho de Águeda da qual foi pioneiro António Pereira Vidal Xavier, de Arrancada do Vouga, chegando a capitalizar o título de uma das maiores empresas do país neste ramo.
Natural do lugar de Brunhido, onde nasceu a 29 de Janeiro de 1874, faleceu a 9 de Janeiro de 1959. A sua vocação e capacidade empreendedoras, fez com que instalasse, no local denominado Pedrozelo, arrabaldes de Arrancada do Vouga, "uma primeira e rudimentar  unidade industrial têxtil. Para isso convergiu, a par de um voluntarismo pessoal, o conhecimento de antigas tradições locais de teares e lavouras de linho, cardadores de lã, fiandeiras e tecedeiras e a informação sobre o processo de produção obtida nos contactos com proprietários de teares existentes no concelho de Oliveira de Azeméis, enquanto funcionário da Junta Autónoma de Estradas", escreveu o Dr. Deniz Ramos. E acrescentava:
"Da mesma forma expedita como haviam surgido, anos atrás, as ferragens em Águeda, a indústria têxtil nasceu a partir de práticas artesanais com significativa expressão naquele local. Foi assim que António Pereira Vidal Xavier aproveitou uma pequena queda de água, que movia um velho lagar de azeite, para instalar o rudimentar tear que adquirira em Oliveira de Azeméis e 'como era muito engenhoso construiu em madeira os mecanismos indispensáveis' . Envolvendo os filhos na empresa familiar, o engenho de  António Pereira Vidal Xavier daria origem a um pujante núcleo têxtil, que acabou por se dimensionar em outras unidades afins, de malhas e confecção, dando ocupação a centenas de operários, grande parte deles do sexo feminino". E da freguesia.
Tudo evoluiu positivamente e em 1956 (o jornal «Valongo do Vouga» diz ter sido em 1954) foi instalada uma outra para completar o processo produtivo e nos anos de 1965 e 1966 surgiram mais quatro empresas, uma ainda da iniciativa da empresa-mãe, todas dedicadas à produção de vestuário, malhas e camisas, refere Deniz Ramos.
No jornal «Valongo do Vouga» de Julho/Agosto de 1986, respigamos este pormenor: «... o espaço do Pedrozelo já era insuficiente. Foi necessário procurar outro local, mais central e mais bem servido por vias de comunicação e acesso e assim se iniciam as instalações na Póvoa do Espírito Santo".
Sabe-se que era intenção dos seus responsáveis dar continuidade à permanência desta unidade industrial, de grande projecção na altura, dentro dos limites da freguesia de Valongo do Vouga.
O início de laboração está centrado no ano de 1926. A empresa foi oficializada em Maio de 1935, ainda segundo o jornal «Valongo do Vouga». Uma placa no cemitério assinala a efeméride indicando os anos de 1936-1986. Em 10 de Maio de 1986 foram iniciadas as comemorações do 50.º aniversário da sua fundação. Logo, o ano oficial, considerado na efeméride da sua fundação, só poderia ter sido em 1936. A este assunto, contemporâneo, voltaremos, pelos dados históricos importantes no contexto da freguesia.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Brumas da Memória - 44

As Ferrarias no Baixo Vouga

Introdução
Imagem retirada da Internet (Google). Os pregos apresentados
fazem parte de um catálogo de vendas e nele se diz que têm
mais de 150 anos
Hoje vamos falar um pouco sobre as Ferrarias do Baixo Vouga. Inicio informando que o meu livro actual é de um aguedense por adopção e ilustre historiador, Dr. Deniz Ramos, cujos escritos  são sempre um prazer e uma curiosidade em ler.
Esse livro, a que deu o título «O PERCURSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO EM ÁGUEDA», edição da Associação Empresarial de Águeda (AEA), 2014, insere uma parte interessante sobre as localidades a norte da cidade, onde predominava a arte de trabalhar o ferro. Muita gente sabe da proliferada existência das fábricas de pregos, tachas e artigos de ferro para diversos fins, nomeadamente para a construção naval que se fabricavam na freguesia de Valongo do Vouga, como abaixo se descreve.
Claro que iremos destacar, com a vénia ao autor, devida a este tipo de trabalho, as passagens mais significativas da freguesia, enveredando depois por outras curiosidades que a leitura nos possa vir a suscitar. Vamos então ver o que havia:

*****

Como diz o autor, o forte adensamento das ferrarias, a partir do século XVIII, estavam principalmente centradas nos lugares da Trofa, Carvalhosa, Mourisca, Arrancada, Aguieira e Crastovães. Numa nota pessoal que aqui inserimos, o lugar da Veiga, também com bastante preponderância nesta indústria, teria, no século XVIII, alguma implantação e actividade. Abaixo ficam alguns resquícios dessa existência, talvez posterior.
As tropas napoleónicas no decurso das invasões francesas acabaram por destruir muitas das ferrarias, arruinando outras ao desorganizarem-se os circuitos comerciais. Após essas invasões, a Real Junta do Comércio deu instruções aos Corregedores das províncias para que fosse realizado um levantamento da situação, elaborando e remetendo mapas com os dados em que se encontravam algumas actividades, a 20 de Setembro de 1811, em que foram identificadas, pela primeira vez, as ferrarias do Baixo Vouga, a sua localização, proprietários, produtos fabricados e situação económica.
Neste ano, 14 das 18 ferrarias existentes já se encontravam em decadência, cuja causa fora provocada pela instabilidade na região do Vouga aquando das invasões.
A situação inverte-se positivamente anos mais tarde, como mostram os expressivos números conhecidos. Em 26 oficinas da freguesia de Valongo do Vouga, laboravam 97 oficiais e 30 aprendizes e nas 15 da Trofa do Vouga, 36 oficiais, 22 aprendizes e 2 serventes. Esta actividade apresentava já elevados níveis de estrutura industrial, assistindo-se à concentração do capital e dos meios de produção nas mãos de um reduzido número de proprietários, que igualmente chamavam a si a comercialização dos produtos.
Por exemplo, o capitão José Simões, foi proprietário de 7 oficinas em Arrancada, Veiga, Lanheses e Outeiro e José João possuía 4 em Aguieira. Em 1865, embora o seu número tivesse decrescido, em 17 oficinas de obra de ferro existentes no concelho dava-se ainda ocupação a 528 trabalhadores.
Nelas executava-se uma variada gama de pregos, tachas, e cravos, de acordo com os fins a que eram destinados.
Num levantamento feito em Mourisca do Vouga, que teve a interferência de José Maria Marques, para o Museu Etnográfico da Região do Vouga, entre 1915 e 1935 envolviam 29 artistas e 9 comerciantes, conhecendo-se alguns dos produtos fabricados: cravos de 8 a 16 polegadas, para a ferra do gado cavalar e das vacas, que para os bois havia a brocha do boi; o tachão, da mesma medida, para os tamancos de homem e a tacha mais maneirinha para os socos das mulheres; pregos para a construção naval (todo o tipo de barcos de rio, moliceiros, mercantéis e chatas, além de bacalhoeiros e embarcações para a pesca costeira) e prego miúdo, o tremoçado, para os mais diversos fins. As oficinas eram dotadas de de forjas de foles fixos, que os aprendizes accionavam com o pé ou manualmente. As ferramentas mais usadas eram a estaca, o tais, a talhadeira, a craveira, o zaine, o medronho, o malhete, a cunha, a patilha e os indispensáveis martelos e vassouras.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Jesus, Deus, Homem, Cristo, Messias

INTRODUÇÃO

Cruz Alta (Fátima), junto à Igreja da
Santíssima Trindade
No post anterior com aquele título, o comentário ali inserido, reconheço, carece de uma mais explanada informação. Não consideramos apropriado e suficiente o que nele se diz. Como se costuma dizer, faço o que posso.
Mas percebe-se que o que se pretende é dar a conhecer a existência de literatura (erudita, digamos) de alguns competentes conhecedores e bem pensantes, que pretendem transmitir uma mensagem aos mais incautos. Há por aí, ainda, muito disso. E certamente tarde e mal acabarão.
Como se sabe, em termos legais não é permitida a transcrição da obra de Reza Aslan. Mas tecer alguns comentários, confirmá-los com pequenas notas, levantar um pouco da caspa das nossas cabeças, isso é possível. E desejável. Porque somos livres...

*****

Também ficou dito que a razão tinha origem nas afirmações de que Cristo é uma fantasia, inventado e nada de credível possuindo, afirma-se (ainda) com muita convicção. Se o autor desta interessante obra, que, repito, em qualquer página não afirma nada daquilo que ainda se pretende incutir, somos obrigados a pesquisar o que a certa altura dos factos se narra, mostrando à saciedade que aquilo que se me permite transmitir (em certa medida a falsidade do conteúdo bíblico), passa-nos ao lado e é contraditório com esta tese.
Não era necessário ir às reminiscências da história para saber (pela própria bíblia) que os antigos que já acreditavam num Deus único, atribuíam à magia, aos curandeiros e a outros "profissionais" do tempo (como ainda hoje os há), a cura de certos males, desde os corporais aos espirituais (leia-se possuídos). Os "profissionais" cobravam-se e bem deste tipo de serviços (como ainda hoje os há). E sabemos ainda que estas situações físicas e de doenças eram causa principal do pecado cometido, era a crença da origem. Os Judeus também pensavam desta forma... pobres leprosos, entre outros.
Na antiguidade, os milagres de Jesus eram causa de magia por Si praticadas, como é o caso de dar vista aos cegos, fazem andar os coxos (defeituosos de nascença nos seus membros inferiores), abrir os ouvidos (terminologia usada para os surdos, como é sabido), etc., etc., etc... Tinham uma diferença da magia: é que Jesus não se cobrava de qualquer destes seus «serviços» em benefício da humanidade. E a cura não distinguia pobres e ricos, camponeses e nobres, carpinteiro ou agricultor  (Vidé, por exº, a filha do Centurião).
É aqui que reside toda a teia montada para o desacreditar. É nisto que faz remoer os fígados dos seus adversários. É aqui que começa a trama para o liquidar, nomeadamente através dos sumos sacerdotes, que não gostaram nada da fama que se espalhou por toda a Galileia e que os remetia para segundo plano. Os sumos sacerdotes sabiam que lhes fugia o «tapete debaixo dos pés». O resto é conhecido, até o suborno da ressurreição que aqueles armaram com os soldados que guardavam o corpo sepultado. Adiante...
Para finalizar este apontamento, respigamos da obra de Reza Aslan, este pequeno naco de prosa, porque se você me leu até aqui, vai ler, certamente, o resto e que diz:
«Apesar dos elementos mágicos que se podem identificar nalguns dos seus milagres [de Jesus], o facto é que em parte nenhuma dos evangelhos alguém acusa Jesus de realizar magia. Seria uma acusação fácil para os seus inimigos lhe  fazerem, uma acusação que teria acarretado uma sentença de morte imediata. Todavia, quando Jesus estava perante as autoridades romanas e judaicas para responder às acusações que lhes eram feitas, foi acusado de muitos delitos - sedição, blasfémia, rejeição da Lei de Moisés, recusar-se a pagar o tributo, ameaçar o Templo - mas ser mágico não era um deles.»
E mais abaixo: «Vale a pena assinalar que Jesus nunca exigiu pagamento pelos seus "serviços". Mágicos, curandeiros, milagreiros e exorcistas eram profissões especializadas e muito bem pagas na Palestina do século I.»
O autor do livro cita ainda esta parte bíblica, aquando do diálogo com Pedro, quando disse aos discípulos «curai os doentes, limpai os leprosos, levantai os mortos e expulsai os demónios. Recebestes [estas dádivas] sem pagamento. Distribuí-as sem pagamento!» (Mateus 10:8; Lucas 9:1-2)
E terminamos deste modo: «Não é simplesmente o trabalho de Jesus ser gratuito, ou as suas curas nem sempre empregarem métodos de mágico. É que os milagres de Jesus não são um fim em si mesmos. Pelo contrário, as suas acções servem um objectivo pedagógico. São um meio de transmitir uma mensagem muito específica aos Judeus.»

*****

Estamos convictos que estas desalinhavadas frases servirão, repetimos, para dizer que as aldrabices «inventadas» de que a história de Jesus é uma farsa, diria até, uma hipnose que a sociedade aceitou (ou de uma parte dela, como se tornou vulgar dizer-se), fica explanada mais uma ideia de que, afinal, Reza Aslan não apresenta uma opinião concreta da fantasia e das invenções atribuídas à «Vida e Obra de Jesus de Nazaré» e ficamos, assim, com este contributo, cujo pedido, honesto, sincero, humilde é que seja entendido como uma opinião, que se deve respeitar como respeitamos muitas outras. Dentro deste princípio é claro que terei de respeitar o contraditório. Dependendo do seu conteúdo.

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