Powered By Blogger

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 42

O Cemitério



Já em 1947, ou até antes desta data, como vamos ver a seguir, o caso do cemitério e do seu alargamento é posto em causa no próprio Código de Posturas, aprovado naquele ano e durante muito tempo em vigor, pelo menos até 1974 e alguns anos seguintes.
O Capítulo VIII, a partir do artº 39º, do Código de Posturas trata da regulamentação do cemitério. Não vou transcrever as diversas posturas regulamentares que ali constam quanto ao que ao cemitério dizia respeito, nomeadamente as taxas, construções, alinhamentos e outras questões, mas apenas fixarmo-nos no que uma nota de roda-pé faz questão de salientar. No artº 43º, § único, existe esta redacção: - Na fixação do alinhamento ter-se-á sempre em conta não só a estética, mas ainda o futuro alargamento do cemitério. (1)
Aquela nota (1), remete-nos para a seguinte redacção, em roda-pé, da autoria do prof. João Batista Fernandes Vidal.

«Se aqui tivesse imperado o espírito de bairrismo a pugnar pelos justos interesses da freguesia (em vez da delação, da inveja e do ódio político mal-sofrido, de alguns, que se uniram à inépcia acomodatícia da grei, para se mancomunarem com a injustiça e a mesquinha ambição de estranhos) e todos tivessem formado barreira em volta do nosso projecto de alargamento do cemitério (já lá vão bons trinta e tantos anos) não seria preciso agora novo alargamento. Infelizmente os homens da freguesia não o quizeram compreender assim, deixando perder uma ocasião como outra não volta a aparecer e nós, por falta de apoio do povo, tivemos que ceder. As consequências estão à vista: a necessidade de alargar de novo o cemitério. Mas como e para onde? Que respondam agora os causadores do mal feito. A nós, resta-nos a consolação de termos cumprido o nosso dever em benefício da freguesia. Se mais não conseguimos, não foi nossa a culpa. Valia a pena contar a história; mas, como é um pouco longa e muita gente ainda dela se deve lembrar, abstemo-nos de repeti-la.»

Não temos elementos que esta redacção, um tanto enigmática, possa clarificar de outra e melhor forma. Mas podemos afiançar, pela experiência vivida, que um dos últimos alargamentos do cemitério, para o lado nascente, terá ocorrido nos anos 50, séc. XX. Mais tarde volta a ser alargado, com toda aquela extensão que está adjacente do lado norte, em todo o seu comprimento, iniciada no mandato de António Simões Estima, nos anos 80, séc. XX, e que eu, na qualidade de secretário, também naquela década, participei na sua conclusão. Inclusivé a organização urbanística (chamemos-lhe assim) da sua implantação foi de minha autoria e do meu colega do executivo, António Manuel Portela dos Santos.
Ficamos sem saber as verdadeiras e justificativas razões que o prof. João Batista Fernandes Vidal tinha ou viveu naquele tempo para se referir assim a algum sector da sociedade Valonguense que terá obstado ao alargamento do cemitério. Fica este registo para a história...

Memórias

A fonte da Veiga


No lugar da Veiga, mesmo no que era o centro do lugar, onde me parece que existiu um cruzeiro, na convergência de duas ruas, uma que seguia em frente para o alto da Veiga, Cabeço Gordo, etc. e outra que dava para a direita que hoje constitui sentido obrigatório para o trânsito, onde morava, entre outros, o sr. Manuel Marques.
Na esquina dessa rua morava o sr. Augusto de Almeida Oliveira, pessoa com algumas facetas, entre elas a de caçador, cuja habitação se pode ver na foto que ilustra esta informação.
Afinal o que significa aquela foto, com uma fonte fictícia?
Explica-se que outrora havia ali uma fonte que servia de abastecimento público de água e, simultâneamente, de bebedouro para toda a espécie de gado, principalmente o gado bovino. A fonte fazia desaguar muito boa água dia e noite. A aparar essa água, havia uma pia feita de pedra. A fonte desapareceu, desconhecendo agora as suas causas. A pia fcou por lá, mas parece que já lá não está.
Dado o desaparecimento do que era a original fonte, o amigo Élio Dias de Oliveira, ainda na Veiga de volta da madeira, e porque tinha o material necessário e apropriado para o efeito, reproduz com todo o rigor o que faltava à pia que aparava essa água: A FONTE.
Já lá vão uns bons pares de anos que transferi para a fotografia a ideia do Élio. E a guardei. Por isso, mexendo nestas coisas, descobri a sua existência e aqui estou a partilhá-la com todos os que se interessam por ver aquilo que agora não existe nos nossos lugares e que constituem, talvez, algumas lembranças e nostalgias...

domingo, 30 de maio de 2010

Memórias

Históricas casas da freguesia

Ainda há poucos dias se trocavam impressões com algumas pessoas àcerca de edifícios antigos, que a história, a corrosão dos tempos, incúria e outros interesses indivíduais fizeram com que tivessem desaparecido. Neste aspecto a freguesia está a ficar pobre de vestígios históricos além daqueles que narram os livros. Queremos recordar alguns desses «monumentos», que os registamos em fotografías. Chegou a ventilar-se, na conversa, que se deveriam evitar que estas relíquias não deviam ser destruídas com as suas demolições e que as entidades concelhias deviam ter alguma possibilidade legal de tentar evitar destruições destas históricas habitações.
Recentemente algumas foram totalmente demolidas, embora com possíveis reconstruções copiando as fachadas respectivas, segundo as indicações que correm por aí. Assim o esperamos. Assim o cremos.
Para reviver o que eram ou foram algumas dessas habitações, lembrei-me de ir rebuscar algumas das fotos que guardamos e, nalguns casos, relembrar esses edifícios, que hoje já só constituem lembranças e nostalgias. Outros conservam-se de pé, porque, como árvores, é assim que eles morrem. Vamos ver algumas dessas imagens que guardamos por cá, quer dos desaparecidos quer dos que ainda se encontram de pé.
Destas, para além da sua apresentação arquitectónica, foram grandes casas agrícolas. Porque não tenho as fotografias de todas essas casas, pois é necessário ir ao local captar a sua imagem, sendo uma grande parte delas autênticos monumentos. Vamos vê-las.


Esta casa foi muito conhecida em Aguieira. Como ali tenho gravado, passou assim a ser conhecida mais recentemente. O seu último morador e proprietário foi Guilherme de Vasconcelos. Porém, esta casa chegou a ser propriedade da Quinta da Aguieira.

Esta casa chegou a estar integrada na Quinta da Aguieira. Foi desagregada e tornada propriedade particular de uma pessoa da família do Dr. Manuel José Homem de Mello. Foi conhecida por casal de S. José ou casa de Santa Zita, se não me engano. Chegou a ser o edifício onde funcionavam os serviços da sede do concelho de Aguieira.



Uma grande casa, em Aguieira, teve uma produção de vinhos da melhor qualidade. Esta imponente casa agrícola foi propriedade do Dr. Mário Pinho. Passou depois para seu filho Carlos Pinho, há poucos anos falecido em Albergaria. Consta-se por aí que há interessados nesta quinta para fins que desconheço.


Outra grande casa agrícola, propriedade do Dr. Augusto Santos, em Aguieira.

É inconfundível esta imagem. Quinta da Aguieira, famosa pelos ocupantes que teve e seus proprietários, pela história das Meninas Mascarenhas e dos vinhos ali produzidos. Toda aquela área de vinha e floresta é agora propriedade da Sociedade Agrícola da Quinta da Aveleda, com sede em Penafiel.


Desta casa já aqui falamos. Trata-se de um edifício da primeira metade do século XVIII. Foi demolido recentemente. Rumores há, confirmados ou não, que o proprietário vai ali fazer uma reconstrução, procurando restituir ao edifício as mesmas linhas que tinha antes da demolição. Vamos a ver. É em Brunhido.


Esta casa estava integrada na casa anterior. Ali funcionou uma mercearia durante muitos anos. Tal como a anterior foto a que estava ligada, foi demolida também.

Casa histórica em Brunhido. Da família Correia Simões. E mais conhecida pela Casa dos Talhos


Ainda em Brunhido, a casa da Audiência. O edifício onde funcionavam os Serviços Oficiais ao tempo do concelho de Brunhido. Esta casa também está parcialmente demolida. Consta que o seu actual proprietário tem a intenção de manter a mesma fachada.

Uma arqueitectura  do princípio do séc. XX em Carvalhal da Portela. Foi uma grande casa agrícola e o seu último proprietário, chamava-se Flórido Ferreira dos Santos. Hoje pertence a um dos dois herdeiros, mas não sei quem. Para o efeito pouco interessa agora. Ainda está de pé.

Uma casa com uma original fachada de apresentação, de mosaicos que cobrem a parede frontal. Dos herdeiros de Joaquim Ferreira Rachinhas, em Carvalhal da Portela.


Esta foi a residência de Joaquim Ferreira Rachinhas, de Carvalhal da Portela. Uma casa agrícola de relevo. Aqui residiu o arqueólogo que dirigiu os trabalhos das escavações e outros estudos arqueológicos do Cabeço do Vouga, recentemente falecido.

Uma outra casa colocada em local estratégio da época, para o desenvolvimento da actividade agrícola, ou seja, no meio do campo. Está no sítio denominado Boiça, cujo último proprietário foi  Augusto Fonseca Nogueira, ali residente e falecido e actualmente propriedade dos seus herdeiros.



Uma das casas mais representativas da freguesia, pelo seu estilo e antiguidade, (finais do séc. XVII, princípios do séc. XVIII) ainda em bom estado. Sita em Arrancada do Vouga, ali reside o seu proprietário que é o Sr. Alberto Henriques. Esta casa foi ainda propriedade do Visconde de Aguieira e nela se desenrolou uma parte da história das Meninas Mascarenhas.


Um dia, ao descer de Fermentões, ja quase ao fim da tarde, proporcionou-se ali uma visão apropriada para fotografar a encosta do lugar das Cavadas. Não estando com muita qualidade, dá a ideia de uma panorâmica daquele lugar.


O lugar da Veiga tem também algumas casas antigas. Esta é uma delas, onde residiu o Sr. Ângelo de Almeida Carvlhoso, onde se fabricava o famoso e maravilhoso pão da Veiga, além de outras casas.

Também uma das mais famosas casas da freguesia, pela arquitectura e pela história. Está situada no Sobreiro. Pertence aos herdeiros do sr. Joaquim Rodrigues Arede. Aqui residiu e tinha a sua agricultura Joaquim Mascarenhas de Mancelos Pacheco, o pai das Meninas Mascarenhas, que esteve na origem da famosa história que todos conhecemos.

Na Rua Conselheiro Rodrigues Bastos, ali a seguir ao cruzeiro de Arrancada, estão algumas casas  a merecer uma atenção pela sua antiguidade e arquitectura.

Esta casa merece uma referência especial, como as restantes. Está em Lanheses. O último residente, segundo creio, foi o sr. Alexandre Quaresma. Foi uma casa agrícola marcante neste local.


sábado, 29 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 41

Solidariedade resolve necessidades

É isso mesmo. A solidariedade já era, em 1913, palavra séria para resolver problemas sérios da população. Na acta da sessão de 9 de Fevereiro daquele ano, já era notória na freguesia uma união para a solução de problemas que diziam respeito a toda a população. Não estaremos muito longe da verdade, se atentarmos bem na redacção daquela acta, que refere assim:


«E aberta esta sessão, pelo referido presidente João Batista Fernandes Vidal, depois de lida, aprovada e assinada a acta da sessão anterior, e estando presente bastante povo desta freguesia, pelo mesmo presidente foi ponderado que havia assuntos de uma alta importância colectiva a resolver e que a Junta não tinha forças para os efectivar sem o concurso e a boa vontade de todos os cidadãos da freguesia, e que por isso os havia convocado, a ver se estavam dispostos a trabalhar com a mesma Junta na realização desses empreendimentos. E, depois de ter apontado esses assuntos e que são a efectivação da festa escolar da Árvore, a construção de prédios próprios para a instalação das Escolas oficiais da freguesia e a criação da estação do caminho de ferro na Carvalhosa, bem como as vias de comunicação para esta, tendo-se estabelecido nos cidadãos da freguesia uma corrente unânime em reclamar que a administração dos baldios fosse entregue à Junta para a efectivação desses e doutros melhoramentos igualmente urgentes, foi marcada uma sessão extraordinária para o dia dezasseis do corrente, para se tratar do dito assunto dos baldios, ficando no entanto desde já deliberado fazer-se a festa da Árvore.»

Perante a resposta do povo ao chamamento da Junta de Freguesia, resta-nos agora verificar qual terá sido o resultado obtido através da história que possamos encontrar nas actas futuras. Mas há aqui, nestes actos daqueles longínquos anos, uma atitude positiva quando uma Junta se sente incapacitada para resolver alguns problemas, chama os habitantes e conversa com eles para, com um sentido comunitário, tentarem encontrar juntos as soluções que a todos dizem respeito.
Acho que, apesar de algum alto analfabetismo que então grassava na sociedade e principalmente nos meios rurais,  esta situação não tem comparação com a actualidade. Consideremos, no entanto, que tudo mudou nestes cem anos. Mal de nós se não mudava...
E uma questão interessante! O Dia da Árvore, que actualmente se comemora, era, pelo menos assim o deixa antever, uma iniciativa em embrião ou a dar os primeiros passos.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - XIX

Terá sido mais ou menos por estes sítios que as Meninas desembarcaram no Porto. Foto no blogue skyscrapercity.com


No último capítulo desta infindável história, tinha o Francisco Veloso, amigo de Joaquim Álvaro e de Silva Pinho, intercedido junto de um amigo, Alves Souto, para que este, junto doAdministrador, os liubertasse e às Meninas.
Joaquim Álvaro tinha ficado em Avintes à espera do Dr. Silva Pinho. Por isso a demora deste, por estar preso sem aquele saber, provocava alguma impaciência. Então o homem de Aguieira fretou dois barcos e meteu-se neles, junto com o abade de Romariz, que os acompanhava desde esta localidade e com as Meninas devidamente enroupadas e agasalhadas, indo com eles os criados Póvoas e Serra.
Joaquim Álvero bem espquisava o Douro à procura do Dr. Silva Pinho, mas nada. Até que chegou junto da ponte e ali se abrigou, esperando sem resultado.
No barco ficaram o abade e o criado Póvoas. Joaquim Álvaro seguiu para Gaia com o criado Serra, mas logo que se apeou foi preso e levado para casa do administrador, como já dissemos.
O Alves Souto, desejava ser agradável a Francisco Veloso, seu adversário político mas seu amigo pessoal, que foi logo a casa do administrador e a essa hora já Joauim Àlvaro e o Dr. Silva Pinho estavam deitados. Exposta a situação ao administrador, logo ali se organizaram as coisas de forma que o José Maria (administrador) e o Carneiro (secretário) se prestaram a tirá-los de tamanha embrulhada. Foi logo arranjado um barco, onde o secretário iria ter com as Meninas a Avintes e foi nessa altura que o Carneiro foi bater à porta do quarto dos dois amigos que estavam deitados na mesma cama em casa do administrador. 
O abade estivera muito tempo debaixo da ponte e o frio era mais que muito, Joaquim Álvaro não chegava  e a noite ia avançando. O abade decidiu regressar a Avintes, mas havia lá um regedor já desconfiado daqueles avanços e recuos. Este regedor chegou a prender o abade, as Meninas, os criados, mandando-os recolher num pátio, fechado mas sem cobertura, com guardas à vista, mas tendo pena das Meninas, que tiritavam de frio, deu-lhes de cear e acendu-lhes uma grande fogueira.
Estavam todos à volta da fogueira quando chega o Carneiro e os soltava dizendo que aquilo era com ele. O bom do abade regressou para o seu ermitério de Romariz, os criados para Aguieira e as Meninas desceram outra vez o rio.
Nesta altura já os Velosos tinham mandado o Silva, da rua de Cima do Muro, preparar alojamento secreto para os perseguidos pela família dos Bandeira. O Carneiro (secretário) desde que partiu para Avintes, ninguém mais dormiu, passando-se o resto da noite a conversar descontraidamente. Até que os calafates já trabalhavam nos estaleiros, e nos armazén dos vinhos os estrondos dos golpes dos tanoeiros faziam sentir que tivera início a labutação do dia. O sol começava a iluminar o zimbório do Seminário fronteiro e a cúpula do convento da Serra [do Pilar].
O tempo estava de feição, azul clarinho, transparente e pelo Douro deslizava com brandura um pequeno barco, que procurava atracar ao cais. Correram todos. Eram as nossas Meninas. Carneiro saltou fora e Joaquim Álvaro entrou no barco, tudo feito de forma rápida. O barco seguiu rio abaixo para margem direita.
Quer dizer que os fugitivos iam entrar na cidade, na qual ainda os esperavam as mais extraordinárias perseguições e as situações mais aflitivas.
O Dr. Silva Pinho, dizia (escrevia) que respirava, enfim, liberto da profunda opressão que durante cinco dias lhe atribulara o espírito.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 40

O Código de Posturas-IV
Pequenas histórias dos baldios

Os baldios passaram a ser, mais ou menos, isto. Porque florestais. Na falta de uma foto local, socorreu-me o blogue dos Bombeiros Voluntários de Vila Nova de Foz Côa, que registamos e agradecemos.



O que posso dizer sobre baldios é apenas uma minúscula parte de um todo que, colocado no tempo, representava um grande avanço nas economias locais, como dizia, na sua redacção entusiasmada, o prof. João Baptista Fernandes Vidal, no roda pé do Código de Posturas.
Quando, em 1976, fui eleito, coube-me por sorte, e não só, ter feito parte do executivo com todas as heranças que o Abril de 1974 nos tinha legado. Entre essas heranças autárquicas, estavam os baldios. A minha função de secretário "obrigava-me" a um contacto minucioso sobre este assunto.
Encontrei livros, escritos à mão, como seria natural, muito bem organizados (que ainda lá estão) com todo o levantamento dos terrenos baldios, principalmente aqueles que tinham sido arrematados (o livro das arrematações também lá está devidamente escriturado), qual livro de matrizes prediais em tudo idêntico aos livros de matrizes antigos e actuais dos Serviços de Finanças.
Posso afiançar, sem receio de errar muito, que eram milhares de hectares de terreno, por toda a freguesia, principalmente, na sua maioria, a área que se encontrava nos montes a partir de Brunhido, Redonda, Salgueiro, Moutedo, Cadaveira, Talegre, Valcovo, Ribeiro, Cadaveira, etc. omitindo aqueles sítios que tinham denominação própria mas todos ao redor destas localidades.
Exititam arrematações de enormes áreas feitas a pessoas da freguesia, funcionando o sistema no regime enfitêutico, o que significa que pela utilização do terreno, o arrematante pagava à Junta de Freguesia uma importância, estabelecida segundo uma determinada fórmula, a que se dava o nome de foro.
Ficamos agora por aqui na explicação deste tema, porque tínhamos de explicar o que era foro, o que era o regime de enfitêutico, etc. e tal.
Nos anos 40 até aos anos 70 do século XX, tais importâncias constituíam uma receita aceitável para os cofres e actividades da Junta. É neste conceito que gostaríamos de colocar o problema dos baldios que o prof. Vidal sabia que por este sistema resultaria em benefício em duas vertentes; uma na direcção da Junta (receitas) e outra no rendimento das árvores que os arrematantes dali tiravam, tiraram e tiram em seu benefício.
As perspectivas e objectivos que a medida oferecia, foi motivo para que muitas pessoas da freguesia, com alguma perspicácia, viram também. Por isso, toca de arrematar áreas enormes, muitas delas medidas a «olhómetro».
Com o advento do 25 de Abril, este problema foi objecto de alguma controvérsia, porque a situação, entendia-se na altura, não permitia um direito de propriedade aos seus arrematantes. Já havia ainda problemas de heranças. Antes de Abril de 1974, já a Junta baseada numa legislação que agora não recordo, procedia e permitia, por requerimento do arrematante interessado, à remissão desses terrenos conhecidos por foros, remissão essa que era feita por uma outra fórmula, passando assim as propriedades definitivamente para a posse plena dos citados arrematantes iniciais.
Por isso é que o prof. Vidal dizia naquelas notas que as pessoas, por meia dúzia de tostões, tinham adquirido valores substanciais com os foros que ele teve a feliz ideia de passarem para a posse da Junta por uma via legalíssima: A compra ao seu legítimo dono da altura, que era a Câmara Municipal.
Não vale a pena dizê-lo mas... imagine-se a riqueza que passou a representar para os proprietários desses terrenos adquiridos pela tal "meia dúzia de tostões". E penso que nada de ilegal foi feito.

terça-feira, 25 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 39

O Código de Posturas-III
A história dos baldios

Os baldios eram mais ou menos isto. Só que foram plantados pinheiros, muitos pinheiros e eucaliptos. Esta imagem é das Talhadas, no blogue http://bttalbi.blogspot.com/2009_04_01_archive.html, com a devida vénia


Continuamos na história do Código de Posturas da Junta de Freguesia, que estiveram em vigor desde Abril de 1947. Embora extenso, vamos referir um facto histórico com grandes repercussões na freguesia e relacionado com os baldios.
No capítulo II, com o título Património Paroquial, diz o art.º 2º: «Todos os terrenos baldios e de logradouro comum existentes na freguesia são bens próprios da Junta - porque os comprou - e constituem Património Paroquial.»
No final deste artigo há uma nota de rodapé, na qual se conta o seguinte:
«Façamos aqui um pouco de história, porque aos vindouros interessa saber a razão porque esta freguesia dispõe dos seus baldios, nos quais eles podem estender a vista no enlevo de viçosos talhões de arvoredo que ali possuam, a troco de uns míseros tostões que pagam à Junta, enquanto que às freguesias vizinhas não é dado gozar de tal regalia. Pois essa regalia de que hoje [1947] se goza nesta freguesia só se deve às nossas canseiras.
A questão da posse dos baldios vinha de longe e já no tempo da Monarquia, em 1883, uma Câmara houve que deliberou considerar paroquiais os baldios de Macinhata e Valongo. Mas outra Câmara veio que anulou aquela deliberação, por inconsistente, e os baldios continuaram em posse do Município.
Com o advento da República quis o acaso que, como agora, presidíssemos aos destinos desta Junta.
Como sabíamos de sobra que o melhor futuro da freguesia - que é pobre - estava na posse e aproveitamento dos seus baldios, encetámos a campanha pró-posse destes baldios, campanha em que encontrámos sempre o melhor auxílio do velho amigo, Snr. Casimiro de Oliveira Bastos, que então era secretário da Câmara Municipal de Águeda. Mas a verdade é que conversações, abaixo-assinados, representações, etc., tudo esbarrava com a mesma dificuldade: a falta de base legal para o reconhecimento dessa posse. Podia qualquer Câmara resolver esse reconhecimento. Mas, como tal resolução não tinha fundamento legal, outra Câmara viria anulá-lo, como já sucedeu no tempo da Monarquia.
O certo é que esta questão vinha-se arrastando havia já meia dúzia de anos sem se descobrir maneira de legalmente ser resolvida. Contudo, não desistimos de cogitar na maneira de resolver o problema que sempre considerámos de vida ou de morte para a vida económica da freguesia. Até que um dia ocorreu-nos uma ideia, ideia Providencial: A Junta compraria os baldios à Câmara!
Esta transacção era inteiramente legal, mediante o cumprimento de certas formalidades exigidas pelo Código Administrativo então vigente, aliás fáceis de realizar.
Corremos logo a expôr ao então presidente da Câmara e nosso amigo, Sr. Celestino da Silva Neto a nossa ideia, que ele achou genial, admirando que tal não tivesse lembrado a ninguém. (É a história do ovo de Colombo «Muitas coisas fáceis não lembram a toda a gente»).
Obtido o assentimento de toda a Câmara, logo se resolveu o negócio e, cumpridas todas as formalidades legais, tanto por parte da Junta como da Câmara, foram finalmente os baldios desta freguesia adjudicados à Junta, por escritura de 5 de Janeiro de 1917, pela quantia de 200$00 (duzentos escudos).
Dos enormes beneficíos que esta solução trouxe à vida económica da freguesia já hoje ninguém duvida. São muitos miulhares de contos que cá ficam e que, sem ela, veríamos ir para fora, como está sucedendo às freguesias vizinhas, cujos homens - como sempre os houve cá dentro - se permitiram de nos censurar aereamente pela solução que demos ao caso dos baldios. Hoje sentimo-nos largamente recompensados dessas censuras ao ouvir dizer aos mesmos ou aos seus conterrâneos: «As nossas freguesias não tiveram, como a de Valongo, quem cuidasse dos seus interesses e por isso lhe estamos agora a sofrer as consequências, porque os nossos baldios passaram à posse da Junta de Colonização Interna (Florestal), privando-nos assim das grandes regalias que os de Valongo estão fruindo com a posse dos seus».
É esta uma grande verdade, verdade que naquele tempo ninguém via, mas que nós nunca descurámos nem descansámos enquanto definitivamente não conseguimos ver resolvido o magno problema da posse dos baldios da freguesia.
E assim fica narrada, com verdade, a história dos baldios de Valongo do Vouga, para os curiosos que desjem conhecê-la.»

*****

Como acima referimos, esta é uma nota de roda pé, inserida no Código de Posturas da Junta de Freguesia, de 1947, da autoria do prof. João Baptista Fernandes Vidal, que em 1917 era presidente da Junta ou da Comissão Administrativa. Penso que é de voltar a este tema, para, segundo o meu ponto de vista, descrever algumas facetas ainda vividas na autarquia a propósito destes baldios.
Não tenho a certeza, também não cuidei em confirmar se esta história já aqui terá sido narrada ou não. Se o foi, repete-se para recordar. Se não foi, ainda bem, aqui fica para conhecer.

domingo, 23 de maio de 2010

Atleta Valonguense no atletismo

Mónica Silva no Douro Vinhateiro

Realizou-se hoje, na cidade do Peso da Régua, a meia maratona denominada Douro Vinhateiro. Eram cerca de oito mil participantes, a caminhar, a saltitar, a correr e a praticar atletismo mesmo a sério.
Pode ver aqui mais pormenores desta prova.
A prova disputou-se de manhã pelas onze horas e a sua transmissão em diferido foi realizada no Canal 2 da RTP durante a tarde.
Naquele canal acompanhei a prova, com alguma curiosidade, só que, contrariamente ao que muita gente já sabia, eu não tinha conhecimento, quer da prova, quer da classificação, porque já tinha sido de manhã e etc. e tal.
Vi tudinho, do princípio ao fim, e, a certa altura, foi realçado os quarenta anos de Fernanda Ribeiro, apresentando-se numa excelente forma, chegando a liderar, durante vários quilómetros, a prova no escalão femininos.
Nos masculinos, entre os seis primeiros, quatro foram para Quenianos, ficando em segundo Rui Pedro Silva, do Maratona (uma excelente prova) e o sexto foi ocupado por Paulo Gomes, da Conforlimpa.
A certa altura alerto os meus comparsas que a transmissão foca-se nos femininos, com Fernanda Ribeiro e Inês Monteiro, lado a lado durante bastante tempo, e as imagens focam uma atleta, numa rotunda, que me faz exclamar: É A MÓNICA!!!
E era. Vai alguém ao meu lado e pergunta:-A Mónica do Ernesto? Isso, respondi.
E nesta prova, a Mónica classificou-se em quinto lugar. A vencedora foi Inês Monteiro, logo seguida de Fernanda Ribeiro.
A Mónica é da freguesia, para quem não sabia, começou a prática desta modalidade na Casa do Povo de Valongo do Vouga, com a qual, ainda miúda, venceu muitas e variadas provas, passou depois pela  ADRECUS, foi para a cidade do Porto, fazendo parte da secção de atletismo do F.C. Porto, encontrando-se actualmente ao serviço do Maratona. De destacar ainda que foi medalha de ouro nos jogos da lusofonia, nos dez mil metros, ao tempo em Macau, nos quais, entre outras atletas de nomeada, participou também Fernanda Ribeiro, segunda classificada.
O comentador referiu-se a esta atleta em termos promissores, fazendo salientar a sua juventude, entrelinhando que ainda se podia esperar algo mais da Mónica. Daqui, deste cantinho, esperemos e desejamos o melhor futuro para a Mónica.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 38

O Código de Posturas-II

Voltamos a este tema, porque ele contém factos curiosos, talvez impensáveis admiti-los em 1947. Após o artigo onde consta a sua aprovação pela Câmara Municipal de Águeda, e lendo este Código numa óptica de disciplina e de civismo, constatamos que ele contém uma validade e expressão fora do comum para aquele tempo.
Quase o podemos titular de um Código de Posturas bastante avançado e progressista para uma época em que tudo faltava. Gostaríamos de o poder transcrever nesta matéria a que nos referimos, mas ocupa um espaço importante.
É o capítulo XI, como Suplemento, em que surge a Associação de Defesa Rural Mútua. Em que consistia esta Associação?
No Artº 51º dizia que tinha por finalidade uma mais eficaz defesa da propriedade, pelo que a Junta, de acordo com os produtores agrícolas que assim o queiram, poderá organizar a Associação de Defesa Rural Mútua.
Dela fazim parte os produtores agrícolas de reconhecida honestidade e de todos os lugares da freguesia.
A sua missão era agir de maneira a pôr cobro à continuação do desenfreado assalto à propriedade alheia, que está tomando um incremento assustador.
A sua acção - que era permanente - exercia-se principalmente em rondas e rusgas nocturnas, nas quais devia sempre tomar parte dois ou mais homens, para melhor eficiência do seu trabalho.
A Associação tinha uma direcção de três membros: presidente, secretário e Tesoureiro. Em cada lugar havia sempre um delegado da direcção, que dirigia os serviços de vigilância desse lugar, de acordo com as instruções recebidas e as necessidades do serviço. Havia ainda os livros próprios para inscrição de sócios, com descarga de cotas, livro de registo de receita e despesa, livro de actas, livro de registo dos delitos e dos seus autores e cadastro policial da freguesia.
Para estas despesas, os associados pagavam o minímo de 1$oo mensal.
Uma disposição curiosa: Os sócios têm competência para autuar os transgressores destas Posturas, devendo enviar os autos à junta para os efeitos legais.
Os serviços eram organizados por forma a que todos os sócios produtores sejam obrigados ao contributo das rondas proporcional à sua propriedade a vigiar, em área e dificuldade.

*****

Deste enunciado se poderá confirmar que isto eram autênticas milicias montadas para vigiar e guardar as propriedades que eram profusamente e constantemente assediadas e assaltadas, roubando-se-lhes o que lá havia. E isto por forma legal, com pagamento de cotas e rondas realizadas e organizadas. Em 1947, existir isto numas Posturas da Junta, era completamente impensável.
E bem me parece que, actualmente, temos de voltar a organizar este tipo de vigilâncias organizadas, a ver se se consegur atenuar o acesso a larápios, que, em pleno dia, são apanhados pelos próprios donos dentro das suas residências.
Além desta situação, havemos de voltar a uma outra que consta naquele Código de Posturas e que se relacionam com a protecção da natureza, em especial dos animais e sua utilização, aves, plantas e outros seres vivos. Nestas posturas havia um autêntica Sociedade Protectora dos Animais. Havemos de ver...


As coisas da vida

História de fim de vida



Acabei de saber que faleceu a srª D. Maria Pereira de Jesus, que nasceu em 2 de Dezembro de 1930. Morava na Covão. Constituiu família com José de Matos Pinheiro, ainda vivo, mais conhecido pelo «Formiga», por ser filho de Manuel Pinheiro Formiga e de Maria José Matos, de Aguieira. Conheci-os a todos.
Deste casal há alguns filhos, que não vejo há já vários anos.
A srª D. Maria Pereira de Jesus era natural da vizinha freguesia de Lamas.
Perguntarão porque é que trago para aqui o falecimento desta pessoa. Haverá alguma razão ou um motivo considerado importante? Do meu ponto de vista há, sim senhor...
Nos anos 50 do séc. XX conheci a srª Maria, ainda em Lamas. Com mais outros companheiros costumávamos, aos domingos, fazer os nossos passeios. E um deles, em certo dia, foi até Lamas, ponte de Vouga e arredores. Tinha na altura uma velha máquina fotográfica que trabalhava, às vezes, como podia. Fazíamos e fizemos várias fotografias, das quais algumas já aqui tiveram postura. Dessas fotografias, guardo uma, que agora, quando tomo conhecimento do falecimento da srª Maria (por sinal com muito boas relações com a minha mãe) liguei imediatamente o fatídico acontecimento à existência desta fotografia, que agora reproduzo por digitalização.
Nela, é possível, do lado esquerdo, na fonte de Lamas, ver a srª Maria e José Matos Pinheiro, do lado contrário, quando este fazia, talvez, as primeiras abordagens de namoro. Ao lado da srª Maria, um pequeno grupo de jovens moças, que agora não consigo identificar, mas que eram, naquele tempo, as guardiãs das raparigas, quando algum rapaz se abeirava de uma delas.
Deixo esta pequena recordação, ao mesmo tempo que presto a minha homenagem a uma pessoa do povo, simples (extensiva à família), que teve uma vida vivida com algumas dificuldades, como era a vida de um tempo que não queremos que volte.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 37

O Código de Posturas-I


Sem nos afastarmos muito desta série, deixamos a leitura das actas antigas da Junta de Freguesia, segundo a sua cronologia na respectiva data, para falar um pouco de uma outra história, num tempo mais recente: O Código de Posturas da Junta de Freguesia.
Foi em 1947 que a Junta de Freguesia passa a ter uma legislação própria, que é conhecida com aquele nome. Era presidente da Junta o prof. João Baptista Fernandes Vidal, que já em 1912-1913 e por ai adiante já tinha exercido essas funções.
Este Código de Posturas tem particularidades históricas e, antes de as referenciar aqui mais em pormenor, dele destacamos a que se refere ao caso dos baldios, que constavam de áreas enormes de floresta, as quais se estendiam, principalmente, na zona da Redonda, Salgueiro, Moutedo, Cadaveira, Valcovo, restando agora uns poucos de metros quadrados numa mata, que é propriedade da Junta de Freguesia, pela qual passa o rio Marnel, sita a sul de Valcovo.
Deste Código de Posturas, apenas referiremos, por agora, que foi aprovado pela Junta de Freguesia em 9 de Fevereiro de 1947, publicadas para conhecimento público do seu conteúdo, enviado ao Presidente da Câmara, que comunicou por ofício de 12 de Abril de 1947, que por despacho de 11 daquele mês e ano, foi este mesmo código aprovado.
Esta história fica gravada pelo conteúdo do artigo 50º, que refere que «cumpridas todas as formalidades legais, foram estas Posturas definitivamente aprovadas em sessão de 13-4-47.» Há mais uma série de factos históricos, que o mesmo artigo menciona, mas que ficam para uma próxima oportunidade.
Falta evidenciar um facto histórico. A capa que é apresentada digitalmente, foi-me cedida, em fotocópia, pelo Sr. António Rosa da Silva Magalhães, pessoa de elevado prestígio social e cultural que muitos terão conhecido no lugar de Fermentões.


Como são os animais

Uma gata com civismo


Hoje deu-me para isto...
Falar de animais. Não é para destoar. Apenas para amainar o ambiente sério em que tenho vivido, com histórias e mais histórias, embora todas elas relacionadas com estas Terras.
Cá em casa há gatos... pois, não há gato, há gatos...
Uns mais espevitados, outros mais dados aos donos, uns com um determinado feitio e outros com dados peculiares e, talvez, considerados inéditos ou anormais para os humanos.
É assim;
Uma gata, que faleceu há pouco tempo, de velhinha, a «Pituxa», tinha um feitio e um hábito peculiar. Como é normal nestes felinos, que são muito independentes, «descarregava» as suas necessidades fisiológicas no local que lhe estava determinado.
Mas, em certas alturas, estando próxima da casa de banho e se lhe dava a dita cuja vontade, saltava para a sanita, virava-se para dentro dela e toca de descarregar o líquido fisiológico que nós, humanos, também costumamos fazer.
Estas atitudes da gata provocou-me cá uma curiosidade que muito trabalho me deu até a poder «apanhar» em flagrante delito na dita sanita, através de uma fotografia. E tanto andei que consegui obter a prova do «crime» que até muitos humanos, normalmente, transgridem ou desrespeitam com total menosprezo pelos outros e pelo ambiente. E aqui fica uma dessas fotos que prova o que acabo de explanar.
Feito o respectivo despejo, a gata virava-se para a sanita, cheirava e só depois de se deitar a água do autoclismo, é que ela saltava e com o rabito no ar lá dava uma corridita toda contente pelo seu feito.
Já uma vez usei esta foto, noutro local, como notícia. Mas para quem não sabia...
Sei que não é caso único!

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vangelis - Sempre a beleza musical



Sempre admirador de boa música, aqui temos uma prenda que dou a mim mesmo, e cujas versões são sempre de êxtase, de admiração, de agradabilidade, de encantamento.
Desculpem, mas quando andava peloYouTube, dei com esta versão de quatro minutos, que considero encantadores.
O enlevo em que a música nos transporta. Apreciem e vivam...


A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - XVIII

Ponte de D. Luis de: blog.ratestogo.com/.../. Foi por aqui que andou o Dr. Silva Pinho, Visconde, as Meninas, etc.

Joaquim Álvaro, futuro Visconde da Aguieira e o Dr. José Joaquim da Silva Pinho acabaram por se encontrar na casa do Administrador de Gaia, detidos pelo secretário deste, de nome Carneiro.
Já foi descrito que este Carneiro com as suas doenças e o seu quarto transformado em botica, acabou por ver detidos, na casa do administrador, os dois amigos protagonistas desta história, até que o Administrador chega a casa, vindo Porto de um baile. Era meia noite.
José Maria, o Administrador, foi agradável na recepção do amigo que em Coimbra tinham ambos passado bons momentos. O Dr. Silva Pinho expôs rapidamente a situação, mas José Maria entendeu que àquela hora não era possível tratar de nada. Convidou-os a pernoitarem na sua casa. Aceitaram.
O Dr. Silva Pinho e o Dr. Joaquim Álvaro sujeitaram-se a dormir na mesma cama. Mas em vez de descansarem, passaram a noite em cochichos baixos, pois era notório que da parte de fora do quarto se procurava ouvir o que diziam. É que essa noite foi convertida numa dolorosa e pungente vigília.
Até que eram já duas horas e meia da madrugada, velavam ainda, quando na sala ao lado se sentiram passos rápidos e até o tinir de uma espada que, parecia, se arrastava pelo soalho. Bateram fortemente à porta do quarto. Era o Carneiro com uma grande espada ferrugenta, talvez maior que a espada de D. Afonso Henriques, gracejava o Dr. Silva Pinho no seu livro, uma pistola de cavalaria à cinta, botas altas até ao joelho, embrulhado num grande capote e em tom de mágoa, disse a ambos os ocupantes do quarto:
- Porque não foram francos, seus diabos?! Já sabemos de tudo. Sou eu quem vai salvar as Meninas.
Levantaram-se de repente, o secretário pediu esclarecimentos, que lhe foram dados, saindo e pouco depois entrando num barco ligeiro, partiu pelo Douro acima.
O Dr. Silva Pinho faz uma resenha daquilo que se passou na véspera, após a sua prisão pelo Carneiro, com a família Veloso, a espera desta pela dita «família da Régua», que não era nada da Régua senão a vinda das Meninas Mascarenhas, a sua espera, a fadiga, o frio, voltando para casa. Mas Francisco Veloso não se ficou pelo regresso. Andou por ali, fez perguntas a quem encontrava, mas ninguém lhe dizia nada que interessasse. Até que foi à polícia e conseguiu saber que na véspera tinha sido preso um sujeito que às 10 horas desembarcava no cais, que antes tinha sido preso um outro indivíduo que vinha de Vila Nova de Gaia e ia embarcar para o Porto e que estes dois homens estavam em custódia na casa do administrador.
Francisco Veloso achou aqui o fio da meada de todos estes transtornos e tratou logo de remediar a situação. Patuleia intransigente, de política oposta à do administrador, com quem tinha relações cortadas, recorreu a Alves Souto, de Vila Nova de Gaia para o salvar desta situação. Expondo-lhe clara e lealmente os factos, pediu-lhe que fosse falar ao administrador para os libertar e às duas Meninas.
E as coisas lá desenrolaram até encontrarem novos episódios rocambolescos e nada previsíveis. Mas curiosos e apaixonantes...


sábado, 15 de maio de 2010

A Junta de Freguesia na história - 36

Eleições Republicanas


Existe uma narrativa que, a esta distância, nos faz meditar como eram as coisas no princípio do século XX e quando a República dava os primeiros passos.
As Juntas de Freguesia, designadas por Juntas de Paróquia (que já o eram na Monarquia, havendo, de vez em quando, o nome de 'Junta de Paróquia do Santíssimo Sacramento'), ao tempo da República, e talvez na ausência de legislação adequada, eram constituídas por Comissões Administrativas.
Parece que a Comissão Administrativa de que temos vindo a falar terá terminado o seu mandato. Isto é o que se depreende da referida narrativa que encontrei na acta da sessão de 12 de Janeiro de 1913, quando se reunem umas quantas pessoas e, entre elas, se faz uma eleição.
Começa aqui, creio, o início do sufrágio directo para a eleição de órgãos, neste caso, da Junta de Freguesia. Mas esta eleição era ainda restrita, pois nela só intervinham os membros, qual actual Assembleia de Freguesia, ou Assembleia Municipal, em que entre si elegem alguns cargos autárquicos.
Então, a esta conclusão se pode chegar pela transcrição de parte do conteúdo da referida acta, que reza deste modo:

«...depois de lida, aprovada e assinada a acta da sessão anterior, procedeu-se à eleição para presidente e vice-presidente, no presente ano, desta Comissão Administrativa, saindo eleitos, respectivamente, os cidadãos João Batista Fernandes Vidal e Albano Ferreira da Costa.
Em seguida assumiu logo as funções do cargo para que fora eleito o cidadão João Batista Fernandes Vidal, agradecendo aos seus colegas a honra com que o haviam mdistinguido, declarando que, extremo cumpridos da lei e defensor dos interesses gerais do povo, como é, procuraria sempre corresponder à confiança que nele têem depositado e continuam a depositar.
Depois foi deliberado nomear para exercer as funções de secretário desta Comissão o cidadão Alberto d'Almeida Duarte Sucena, por haver sido eleito vice-presidente o cidadão Albano Ferreira da Costa, que exercia aquele lugar.»

E aqui fica mais uma amostra da vida autárquica daquele tempo, na freguesia de Valongo do Vouga, que não era designada desta forma, mas Junta de Páróquia e não Autarquia.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A visita do Papa

Papa despediu-se no Porto


O Papa Bento XVI despediu-se hoje, no aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Desde o dia 11 que assistimos a uma completa e constante visão dos acontecimentos através da televisão.
Não fui socorrer-me de qualquer meio de comunicação social para aqui fazer eco do que vi e vivi pela televisão sobre a visita do Papa desde aquele dia.
É apenas o meu modesto depoimento que me faz registar este facto aqui, cuja repercussão é mesmo muito modesta e discreta. Mas é uma opinião.
Penso que havia um certo mundo de olhos e ouvidos atentos a esta visita e o que dela poderia resultar. Os meios de comunicação de outros países não se viram muito, mas estavam cá. E emitiram opinião.
Desta mesma visita, há pelo menos diversos objectivos que, no meu entender, terão sido benéficos. Por um lado, colocou Portugal na alta roda da informação, do prestígio e da atenção de muitos, tornando-o conhecido e não como uma província de Espanha. Segundo, a figura, as palavras, desta visita apostólica, foram disparadas em várias direcções, sobre diversos temas.
Destacamos, segundo o nosso ponto de vista, a abordagem sobre a paz mundial, os problemas que têm afectado a Igreja sobre os casos de pedofilia, a solidariedade e a actividade social num dos piores momentos que o mundo vive, o papel da igreja nestas mesmas áreas, que são visíveis, e, apesar de tudo, estes factos foram os «recados» disparados em várias direcções, principalmente fazendo ver que «o mundo não é só de alguns, nem regalo saboroso de uns poucos. É espaço de todos, construção de todos, dom a todos. Não é palco de palhaços, nem pista de marionetas. Há lugar para todos que não queiram ser sozinhos e não amuem por outros também serem gente.», como diz D. António Marcelino, Bispo Emérito de Aveiro, num artigo com o título «Jardim de narcisos, sociedade empobrecida»   no jornal diocesano «Correio do Vouga».

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - XVII

Já que este episódio menciona a comarca de Vouga, nada melhor que ilustrar com o Tribunal da Comarca de Águeda

Deixamos o Dr. Silva Pinho preso na casa do administrador do concelho de Gaia, preocupado com o seu amigo Dr. Joaquim Álvaro e as Meninas, pois ali detido não tinha hipóteses de os contactar e dar-lhe conhecimento da situação.
Por outro lado, Joaquim Álvaro devia estar numa grande aflição, sem saber o que tinha acontecido ao amigo. Não lhe restava alternativa que não fosse conversar om o secretário do administrador, contar e recontar-lhe o que tinha acontecido, quem era, lamentando o transtorno que causava a sua detenção. Mas este era inflexível. O secretário levou o Dr. Pinho para o seu quarto. Não resisto a transcrever o que dizia o Dr. Pinho no seu livro.
«Disse-me que estava doente. A alcov parecia uma botica: garrafas de cevada e grama de infusão, caixas de pílulas de copaíba de cheiro nauseabundo, pomadas, ligaduras, bacias de banho. Façam os homens competentes o diagnóstico da moléstia. A conversação continuou na alcova, diversa, interrompida, mas menos animada.»
Aconteceu no entretanto mais uma contrariedade. Soaram as dez horas da noite e bateu-se à porta da rua com uma força fora do habitual. Eram os mesmos guardas que o haviam prendido. E diziam que estava ali outro sujeito que acabavam de prender no cais, que estava acompanhado de um criado, cujo preso estava na posse de dois maços de cartuchos e duas pistolas. O Dr. Pinho pressentiu e acertou. Era o Dr. Joaquim Álvaro.
O Carneiro, secretário do administrador, mostrou-se irritado; duas prisões num curto espaço de tempo era demais. O preso, assomou no topo da escada, erecto, pálido. Tentou dizer alguma coisa e respondeu às perguntas do secretário que vinha de Avintes e era dos lados de Águeda.
O secretário percebeu que estava perante pessoa distinta, ofereceu-lhe hospedagem, que Joaquim Álvaro agradeceu reconhecido, indo o criado para a casa da guarda.
O pior foi quando deparou com o Dr. Pinho, ficando surpreendido mas soube dissimular, fingindo que não o conhecia, facto que o Carneiro terá compreendido, apenas tendo trocado um cumprimentoseco e breve, impressionando o secretário Carneiro, que disparou de imediato:
- Como diabo se não conhecem os senhores, se um é de Vouga e outro de Águeda, que são terras limítrofes e pertencentes à mesma comarca?!
Vamos ver como se desenrola este imbróglio...

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A propósito de estrume

Fabricar combustível

Quem não se lembra desta publicidade? Esta ainda existe 'colada' em mosaicos numa parede, próximo de Viseu, conforme blogue expub.wordpress.com/2009/10/05/nitrato-do-chile/. Veja ainda o blogue, que tem uma explicação sobre este assunto, bastante interessante, chamado sai-tedaqui.blogspot.com/

No anterior post falamos de estrume e de estrumeiras. Vem a propósito dizer o que, com toda a certeza, todos sabem: a matéria orgânica é geradora de combustível.
Ora, como dizia neste post, as grandes casas agrícolas, como era o caso da Quinta da Aguieira, a casa agrícola do Dr. Augusto Santos, também em Aguieira, a casa agrícola de Sousa Baptista, em Arrancada e tantas outras, que as havia, quer na Veiga, na Arrancada, Paço, Brunhido, Carvalhosa, Carvalhal da Portela, nos lugares das chamadas Póvoas, tinham estas casas áreas substanciais para produzir a matéria orgânica que permitisse a fertilização das suas terras.
Mas lembro-me ainda que na Quinta da Aguieira tinham enormes instalações próprias para colocar grandes quantidades de detritos, mato, e outros materiais que seriam apodrecidos e onde iam desaguar, por canalização própria, todas as águas residuais da residência e das instalações animais.
Um dia alguém se lembrou (creio que o então proprietário da Quinta, Fernando de Vasconcelos e Sá) de ir «buscar» o gás que estava a ser produzido em instalações subterrâneas, algumas cobertas com placas de cimento, bastando para isso colocar, para ser absorvido, uma entrada própria.
Com esta conduta, o gás chegava por uma canalização normal até à cozinha e aqui, nos bicos de uma espécie de fogão, ligava-se, acendia-se um fósforo, e a chama aparecia para cozinhar.
Coisas de há muitos anos, quando não havia resíduos nos pinhais, porque era tudo muito rapadinho, dado que tais resíduos, a lenha, era o gás da cozinha daquele tempo.


A Junta de Freguesia na história - 35

As estrumeiras


Quando folheio as páginas das actas antigas da Junta de Freguesia, há episódios e factos que nos fazem pensar maduramente nas condições de vida dos primeiros anos do século XX, que são aqueles que estamos a visitar nas referidas páginas.
Aliás, era uma das curiosidades, que ainda chegamos a viver, assistindo à transformação provocada pelo evoluir dos tempos e das próprias condições que hoje são já quimeras autênticas, que pretendíamos vir a encontrar nesta pesquisa (se é que lhe podemos chamar assim, tecnicamente falando) a que nos propomos, encontrando factos e episódios que actualmente seriam inadmissíveis.

Não eram assim, mas quase, as estrumeiras de 1912

É o caso das estrumeiras. Não existiam fertilizantes e os únicos que foram «inventados» para ajudar à agricultura, era o estrume, a matéria orgânica, transportados para a terra que havia de receber as sementes, fossem qual fossem.
Conheci nos anos 50, do século XX, os primeiros produtos quimícos, principalmente os fertilizantes e afins.
Então as pessoas e até as grandes casas agrícolas tinham todas uma área grande onde colocavam o mato que iam buscar aos pinhais, em locais apropriados e este mato e restos de outras plantas putrificavam ali, até ficarem em condições de serem transportados para as terras de cultivo. As grandes casas, como era o caso da Quinta da Aguieira, tinham instalações próprias, que se designavam por nitreiras, onde se «produziam» estas matérias orgânicas.
Por isso, após esta longa recordação história, eis o que a Junta de Freguesia deliberou na sua sessão de 8 de Dezembro de 1912, que transcrevemos:

"Atendendo as justas reclamações do povo em geral e duma comissão que veio a esta sessão pedir para que fossem levantadas as estrumeiras em todas as vias de comunicação pública, não só pelo que danificam a higiene, mas ainda pelo que prejudicam o trânsito, deliberou esta Junta de Paróquia oficiar à Câmara Municipal, para que esta mande levantar todas as estrumeiras nas referidas condições."

Esta situação contém ainda matéria para outros comentários sobre a situação, nomedamente deixando a entender que as ruas seriam, naquele tempo, grandes e autênticas «fábricas» de matéria orgânica, com todas as consequências que as mesmas provocavam, certamente.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...