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segunda-feira, 30 de março de 2009

POR TERRAS DO VOUGA - I

MACINHATA DO VOUGA - IGREJA PAROQUIAL



Penso que agora é chegado o momento de haver um espaço para mais algumas terras do Vouga, pois temos andado um tanto arredios deste espaço idílico proporcionado pelo Rio Vouga, pelo que hoje vamos dedicar esta página à freguesia de Macinhata do Vouga, mais concretamente à Igreja Matriz, cujo orago é S. Cristóvão. Fomos, como é costume, dar uma espreitadela ao Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Aveiro - Zona Sul - Lisboa - 1959 e adaptamos o que a seguir se descreve.
Diz o histórico livro que o actual edifício da Igreja Paroquial foi reconstruído no meado do século XIX e que foi obra de artífices locais, porque ficando amplo, não tem estilo definido. A torre, que fica à direita da fachada, foi alvo de uma sobreelevação de um andar de sineiras, no princípio do século XX. E as obras de melhoramento foram continuando.
O retábulo principal, coadjuvado por dois laterais seguiram um tipo do final setecentista. O principal mostra uma decoração em concheado. Os laterais não. Estes, como já aqui foi referido em páginas anteriores, vieram do convento de Serém, mas foram modificados e repintados a branco e ouro.

Foram rasgadas duas capelas no corpo, à altura dos ombros, e na da esquerda deram um retábulo de duas colunas e camarim, com a respectiva mesa, de motivos concheados.
Conserva-se no nicho da frontaria pequena escultura de calcário, do titular, S. Cristóvão, que vista de baixo, parece gótica, do princípio do século XVI.Entre as esculturas de madeira, de tipos e facturas comuns, mencionam-se: S. Cristóvão, repintado, e S. Gonçalo de Amarante, da segunda metade do século XVIII; Senhora da Conceição, de mãos postas e cabelo caído a envolver o busto, sobre o globo, dos fins do século XVII, com a antiga douragem mas renovada a pintura.Peça de merecimento é a custódia de prata dourada, da primeira metade do século XVII. Pertence ao tipo de templete, havendo duas colunas jónicas por lado, cúpula, hostiário ligeiramente ovalado e ornado só de quatro motivos curvilíneos e salientes, nó cilíndrico e com ligeiras atletas, pé maciço e sóbria decoração geral.
Levanta-se no adro um cruzeiro de pedestal oitavado, bem como são os três degraus. Se aquele tem a data de 1679, a parte superior é moderna.
No alto da povoação existe a capela de Nossa Senhora da Piedade, inteiramente renovada. No altar-mor e nos nichos laterais ao arco reempregaram colunas e pilastras de calcário, elementos desagregados de retábulo seiscentista. Parece que S. Tiago foi o titular antigo.
(Proximamente um resumo histórico)

quarta-feira, 25 de março de 2009

ARRANCADA-IRMANDADE DE Nª Sª CONCEIÇÃO-V

As páginas anteriores sobre a Irmandade de Nª Sª da Conceição, de Arrancada, contêm termos que para muitos talvez sejam desconhecidos. Sem pretender pesquisar cada uma das palavras ali utilizadas e que possam criar alguma dificuldade, vamos, pelo menos, destacar algumas delas e tentar elaborar uma pequena e resumida explicação.

PROTONOTÁRIO: - Aparece este termo, quando se dirige ao Dr. Ambrósio de Oliveira e Gama. Por certo que se tratava de um clérigo bastante culto e estudado, até pelas habilitações que sobre ele se referem. Assim, PROTONOTÁRIO, era um título honorífico atribuído pelo Papa a alguns sacerdotes, como aliás refiro numa das passagens sobre a Irmandade. Mas há ainda Protonotário apostólico, um Dignitário da Cúria Romana, incumbido do registo e expedição dos autos pontificiais. Este termo já era utilizado na antiguidade romana, por se tratar de uma Dignidade conferida ao principal notário dos imperadores (Notário-mor). Na Idade Média, era o nome dado aos arqui-chanceleres ou chefes de chancelaria.

BREVE: - É uma Carta Pastoral do Papa, de forma mais simples que as bulas. O BREVE mais antigo que se conhece é da autoria do Papa Bonifácio, que remonta a 1303. O BREVE é um escrito pontifício com uma decisão que não abrange nem é do interesse geral (universal) da Igreja. Por isso, BREVE é o documento do Papa que é dirigido particularmente a uma comunidade ou instituição, com algumas regras que estas deviam observar.

CABIDO: - Contrariamente ao que a palavra possa, à primeira impressão, sugerir, não se trata de uma pessoa, mas de um conjunto de pessoas. Se sinteticamente fosse explicado, dir-se-ia que é: um conjunto de cónegos de uma catedral. Indo um pouco mais além, há formas um pouco mais completas que definem a palavra como um “agrupamento de cónegos ou de outros sacerdotes, instituídos para assegurar o serviço religioso numa Igreja Catedral ou numa colegiada e, no primeiro caso, também para colaborar no governo de uma diocese.”

CÓNEGO: - Como a definição anterior deixa perceber, Cónego trata-se de um sacerdote membro de um cabido. Esta palavra deriva do grego kanonikós, que quer dizer «submetido à regra». Uma outra definição, também mais completa diz que é um “membro do clero secular que pertence a um cabido ou colegiada. Só os sacerdotes que se distinguem por ciência e santidade devem ser escolhidos para cónegos: Primitivamente, cónegos eram os clérigos submetidos a uma regra rígida, quase monástica.”
CONFRARIA: - Associação com fins religiosos e ainda associações antigas que eram constituídas por pessoas que tinham o mesmo ofício.
CONFRADE: - Tal como está explícito antes, o confrade é o membro da confraria. O dicionário acrescenta ainda que é o membro de uma Irmandade.

segunda-feira, 23 de março de 2009

ARRANCADA-IRMANDADE DE Nª Sª DA CONCEIÇÃO-IV

Para além do já publicado, apenas algumas notas meramente curiosas. Uma delas prende-se com a “idade” da Corporação, como se dizia então.
Serve-nos de referência a data do documento Pontifício, que assinala a sua fundação, em 9 de Setembro de 1610. Em bom rigor, talvez seja mais antiga, pois essa antiguidade poderá ser contada, segundo os critérios adoptados, desde a primeira reunião em que algumas pessoas decidiram organizar-se, formando a referida Corporação ou Irmandade. Na nossa opinião é aí que se dá a fundação. Mas não temos documentos. Aquela data será a da sua oficialização, legalização e reconhecimento oficial. De forma continuada será, certamente, a «Instituição» mais antiga da freguesia.
Depois há outros factos, de que muita gente se lembra, como era o caso, por exemplo, do que os Estatutos antigos chamavam o «andador». E um dos últimos (talvez não o último, porque penso que o sr. Arnaldo terá feito esse serviço) foi o Sr. Arlindo, que muitos conheceram e que era a pessoa que com uma pequena sineta percorria os principais lugares da freguesia, a pé, tocando-a de vez em quando.
Quando se via e ouvia esta sineta, de imediato as pessoas acercavam-se do Sr. Arlindo e ele informava que tinha falecido o “Confrade fulano” ou o “Irmão Beltrano” (fosse homem ou mulher). E informava a data do funeral e a hora. E era ver uma quantidade enorme de pessoas, de opas brancas, alinhadas pela berma da estrada desde a morada do defunto até ao cemitério. Se fosse membro da Irmandade, tinha ainda direito a ser transportado de “carreta”, como se chamava na altura. Era um veículo de quatro rodas, revestidas de borracha, como alguns coches e com dois volantes, um de travão e outro para controlar a direcção.
No final do cortejo fúnebre, chegou a existir, nas escadas da torre do adro da igreja, a chamada e registo dos presentes. Pois era preciso cumprir os Estatutos, ou seja, quem não respondesse à chamada, seria sujeito a uma multa.
Não vamos evidenciar as festas e o aniversário, que eram acontecimentos religiosos e sociais com bastante preponderância. Como me dizia pessoa das minhas relações recentemente, quando lhe dizia que a Irmandade é muito antiga, respondeu-me que além de antiga, está em vias de extinção. Cremos que não…

De notar ainda que neste pequeno resumo, que não é nem pretende ser uma história completa e exaustiva da Irmandade de Nª Sª da Conceição, há ainda dois pormenores que creio são bastante curiosos.
Primeiro: - A Irmandade, inicialmente, não era só de invocação de Nª Sª da Conceição, mas também de Santa Isabel, como diz o art.º 1.º dos Estatutos, “que nos primórdios da Irmandade foi também da sua invocação, deixando de ser homenageada em consequência da falta de recursos”. É interessante a redacção justificativa. Havia duas festas no ano, sendo uma a 2 de Julho (Dia da Visitação) e a outra, como sabemos, em 8 de Dezembro. Chegou a Irmandade a ter cerca de 600 membros.

Segundo: - A descrição feita sobre as cerimónias fúnebres dos Confrades, dá a entender serem de certa sumptuosidade e até de alguma morosidade, isto é, seriam cerimónias bastante prolongadas: “fazem na dita capela três ofícios de nove lições cada um por cada defunto irmão, com a assistência de nove padres, a quem paga a mesma Irmandade, e dá cera para eles, e pontifical preto com sebastos de brocatel amarelo”, diz-se no capítulo I dos Estatutos.
Como ficou prometido, há ainda uma referência ao lugar de Arrancada, no livro “Corografia Portuguesa – Lisboa M.DCCVIII – P. António Carvalho da Costa” quando este trata do concelho de Guardão, (Caramulo), página 190, que na parte que interessa, diz o que a seguir se reproduz:

“eraõ tambem Freguezes os moradores de Agueda, que dista outras três legoas desta Igreja (de Nª Sª da Assunção, no concelho de Guardão-Caramulo) para o Poente, & os do lugar da Arrancada, que fica no mesmo emisferio. Consta isto, além da tradição, de hũa pedra, que está na porta travessa da Igreja, cujo letreyro já se naõ póde ler, porém o treslado della tirado autenticamente continha o referido.”

(Continua com pequenas explicações)

domingo, 22 de março de 2009

ARRANCADA-IRMANDADE DE Nª Sª DA CONCEIÇÃO-III

CÓPIA DO BREVE CONCEDIDO AOS CONFRADES DE NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO DE ARRANCADA EM 9 DE SETEMBRO DE 1610
Paulo, Bispo, Servo dos Servos de Deus, a todos os fieis Cristãos, que as presentes letras virem, saúde e bênção apostólica.
Tendo nós cuidado com grandes desejos da salvação do rebanho do Senhor entregue a nosso cuidado pela Divina disposição, ainda que com poucos merecimentos; Convidamos de boa vontade com mercês espirituais, a saber:
Indulgência e remissões de pecados a todos os fieis Cristãos a exercitar obras pias e de merecimentos para que apagada a mácula de seus pecados pelo exercício das mesmas obras, mereça, chegar mais facilmente aos gostos da Eterna Bemaventurança. E como assim, conforme se nos expôs, na Paroquial Igreja no lugar de Arrancada, Bispado de Coimbra, está instituída uma pia e devota Confraria de fieis Cristãos homens e mulheres debaixo da invocação da Conceição Bemaventurada Virgem Maria para louvor de Deus Todo Poderoso, Canonicamente, contudo não por homens de uma especial arte, cujos Confrades amados filhos se desejam exercitar em boas obras; portanto para que os mesmos, e os que pelo tempo forem Confrades da dita Confraria sejam muito mais convidados a se meterem na Confraria desta maneira; e a dita Igreja será tida em devida veneração. Confiando nós na misericórdia der Deus Todo Poderoso, e na autoridade dos seus Bemaventurados Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, concedemos e damos a todos os fieis Cristãos
homens e mulheres verdadeiramente confessados e arrependidos, que daqui em diante entrarem na dita Confraria no dia primeiro da sua entrada, se tomarem do SS. Sacramento da Comunhão, e aos mesmos, e aos que agora são, e pelo tempo forem Confrades da dita Confraria também verdadeiramente confessados, arrependidos e comungados, se isto se puder fazer comodamente, aliás pelo menos Contrictos invocando na hora da sua morte o nome de Jesus, de coração, se não puderem com a bôca. De mais disto aos mesmos Confrades também verdadeiramente confessados, arrependidos e comungados, que visitarem devotadamente todos os anos a dita Igreja na festa da mesma Conceição da Bemaventurada Virgem Maria desde as primeiras Vesperas, até ao pôr do sol, do dia da festa, e aí rezarem orações a Deus pela exaltação da Santa Madre Igreja, e extirpação das heresias, e pela paz entre os Principes Cristãos, e pela saúde do Romano Pontífice indulgência plenária e remissão de todos os seus pecados por autoridade apostólica, pelo teor das presentes pela autoridade e teor sobreditos, perdoamos misericordiosamente em Deus a todos os Confrades, que dos mesmo modo Confessados, arrependidos, e recebido o SS. Sacram,ento da Comunhão visitarem devotadamente a dita Igreja nas festas do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, e da mesma Bemaventurada Virgem Maria, e nas festas de Santo António de Pádua, e dos Santos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo, e aí rezarem, como acima, sete anos, e outras tantas quarentenas. Finalmente aos mesmos Confrades, quantas vezes forem presentes aos Ofícios Divinos, que se celebrarem na dita Igreja pelo costume dos Confrades ou dos ajuntamentos públicos, ou secretos por exercitar qualquer Obra pia, ou agasalhar os pobres peregrinos ou fizerem paz com os inimigos, ou acompanharem o SS. Sacramento da Comunhão enquanto o levam a algum enfermo, ou os que não puderem fazer isto, dado o sinal de sino, rezarem de joelhos um Padre Nosso e uma Avé Maria pelo mesmo enfermo, ou forem presentes às procissões ordinárias e extraordinárias, quaisquer que sejam que se celebrem de licença do Prelado, e a sepultar os mortos, rezarem o Padre Nosso e a Avé Maria cinco vezes pelas almas dos Confrades defuntos que morreram em caridade de espírito, ou reduzirem algum errado ao caminho da Salvação, ou ensinarem aos ignorantes os Mandamentos de Deus, e as coisas que são para a salvação, tantas vezes por qualquer das sobreditas Obras pias, sessenta dias de penitência a êles impostas, ou por êles de qualquer modo devidas pelas presentes, que hão-de durar para sempre: mas queremos que se a dita Confraria for incorporada, ou ao diante se incorporar a alguma outra Confraria, ou por qualquer outra razão seja unida por alcançar ou participar as indulgências dela, ou aliás de qualquer modo se institua, as primeiras e quaisquer outras letras tornando as presentes desta maneira de nenhum modo lhe aproveitem, mas desde então sejam nulas por isso mesmo, e que se aos ditos Confrades for concedida por nós alguma outra indulgência que haja durar para sempre, ou por tempo certo ainda não passado por razão das causas sobreditas, ou de outra maneira, as mesmas presentes letras de nenhuma força ou momento sejam.
Dadas em Roma junto a S. Marcos, no ano da encarnação do Senhor de mil seiscentos e dez, aos nove de Setembro, aos seis anos do nosso Pontificado.

Notas:
1) Sabemos que estas coisas de história são, por vezes, extensas. Em publicações bloguistas não é aconselhável. Mas se fosse reduzida a descrição deste documento, ficaria certamente bastante “danificada” e "amputada" a essência do que se pretende conhecer e historiar.
2) Além de outros pormenores, de referir que foi respeitada a ortografia utilizada na época, conforme se encontra no original (séc. XX, ano de 1944).
3) Ficamos cientes que a fundação da Irmandade de Nª Sª da Conceição, em Arrancada, completa 400 anos no próximo ano 2010. Não seria interessante assinalar a efeméride com um programa adequado?
4) - Oportunamente, mais pormenores curiosos (ou não).

sábado, 21 de março de 2009

ARRANCADA-IRMANDADE DE Nª Sª DA CONCEIÇÃO-II

A história do capítulo I dos Estatutos da Irmandade de Nª Sª da Conceição, impressos em 1944, e que vai na continuidade do que foi apresentado na página anterior do blogue que está a visitar, continuando a citar Ambrósio de Oliveira e Gama, que teve o título honorífico de ‘Protonotário’ e foi pároco da freguesia de Valongo do Vouga, diz ainda:
«Tem este lugar 209 fogos, 479 pessoas maiores, 100 menores e 46 ausentes; 17 clérigos, 13 presentes e 4 ausentes, e são por todas as pessoas 642.»
«… Ambrósio de Oliveira e Gama, graduado na faculdade dos Sagrados Cânones pela Universidade de Coimbra, Ben.do em a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos de Vª de V.de. do Patriarcado de Lisboa ocidental, e Arcipreste desta sua Igreja e anexa de S. Tiago do Préstimo e todo o seu distrito, por provisão do Ilmº e Revmº Cabido da Santa Sé deste dito bispado de Coimbra, Sede Episcopal Vacante.»
(De informações paroquiais em 1721).

Estatuto, o de 1648, pelo qual se regeu a Irmandade até 1715, quando foi substituído por outro escrito pelo referido pároco, Dr. Ambrósio de Oliveira e Gama, homem culto e cuidadoso, que, logo após haver tomado posse da Igreja, reconstituiu com acerto a escrituração paroquial, antes de factura bastante deficiente.
Sofreram os dois documentos preceituais várias alterações no decorrer do tempo, e em 1861 novo estatuto foi organizado, e este substituído pelo de 1883, aprovado pelo Governador Civil de então, em 13 de Dezembro do referido ano, o qual foi coordenado e escrito pelo professor João Baptista Fernandes de Sousa, inteligente e prestável cidadão, a quem os contemporâneos tributaram elevada consideração. Representa este último estatuto modelar conjunto de prescrições, pelo qual a Irmandade se conduziu até hoje, e que somente a nova situação trazida pelo Concordata recentemente assinada obriga a substituir, por se tornar agora a Corporação apenas dependente das autoridades eclesiásticas. (Citamos a História constante dos Estatutos e relembra-se que isto foi escrito em 1944).

No próximo capítulo iremos abordar a cópia do breve concedido aos confrades de Nossa Senhora da Conceição de Arrancada, pelo Papa Paulo V, datado de Roma a 9 de Setembro de 1610. É curioso este documento, não só pela antiguidade como também pelo estilo de escrita e pelos termos que então eram utilizados para fins eclesiásticos e doutrinários. Por isso, vale a pena a sua leitura.


Um pormenor interessante está no facto da descrição do lugar de Arrancada, com o seu número de fogos e habitantes, coincide exactamente com a que é feita na página 161 do livro que nos tem servido de referência, ‘Corografia Portugueza e Descripçam Topografica do famoso Reyno de Portugal, Tomo Segundo, P. Antonio Carvalho da Costa – Lisboa – Anno de M.DCCVIII’, quando aquelas informações paroquiais acima citadas são referidas a 1721.
Guardamos ainda para outra oportunidade uma referência a Arrancada que consta no livro antes citado quando se refere a outro concelho.

sexta-feira, 20 de março de 2009

ARRANCADA-IRMANDADE DE Nª Sª DA CONCEIÇÃO-I

Como abaixo se reproduz, retirado do livro "Corografia Portuguesa - Tomo Segundo - do P. António Carvalho da Costa - Lisboa MDCCVIII" - o texto sobre a existência de Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, em Arrancada do Vouga, é antiquíssima. Vamos transcrever, como costumamos fazer, o que ali está escrito, respeitando a redacção da época.

"Os lugares pertencentes à dita Villa, & Freguesia de Vallongo saõ os seguintes.
Arrancada tem duzentos e nove visinhos, alem de onze Sacerdotes com o lugar da Aldea; tem huma Ermida de N. Senhora da Conceyçaõ, onde há hũa Irmãdade muito authorizada, & nesta Ermida se fazem os Officios dos Irmãos. Tem mais no cimo do dito lugar outra de Santo Antonio, & no meyo do lugar hum Cruzeyro com sua abobada, & imagem de Cristo, ao pé do qual se arremataõ as fazendas, q se haviaõ de vender no pelourinho de Vouga, & se faz só no lugar de Arrancada por costume antigo."

Naquela época, a expressão de que “há uma Irmandade muito autorizada e nesta Ermida se fazem os ofícios dos Irmãos”, leva a crer que o autor da obra de Corografia Portuguesa, P. António Carvalho da Costa, Tomo Segundo, acima citado, quereria certamente dar a entender que se tratava de uma importante Irmandade e, com o termo, “muito autorizada”, talvez enaltecendo ainda a sua antiguidade e os fins com que tinha sido criada.
E concerteza que esta suposição encontra abrigo e confirmação nos Estatutos, cujos 500 exemplares foram impressos na PAP. VENEZA, Rua Jardim do Regedor, 49 – LISBOA, trabalho este datado de 20-9-1944, a que não será alheia a interferência de Souza Baptista, cujos Estatutos, no capítulo I começam com uma…

HISTÓRIA

Que diz assim:

"A Irmandade de N. Senhora da Conceição, com sede na capela da mesma invocação, em Arrancada do Vouga, freguesia de Valongo do Vouga, concelho de Águeda e diocese de Aveiro, haverá tido por seu primeiro estatuto o breve do Santo Padre Paulo Quinto, dado em Roma em 1610, que ao fim desta nota vai transcrito, ao qual deve ter sucedido o aprovado em 1648, de que nos dá notícia o Protonotário Ambrósio de Oliveira e Gama, pároco de Valongo, na informação paroquial que escreveu em 1721, cujos dizeres na parte concernente a Arrancada, são como segue:

"No lugar de Arrancada há duas capelas, uma de Stº António, com retábulo de talha doirada, e outra de Nossa Senhora da Conceição, com três altares, o maior com retábulo de talha doirada e com tribuna, onde está a imagem de Nossa Senhora estofada, e os retábulos dos colaterais são de pedra. Nesta capela há uma irmandade da dita Senhora, com estatutos aprovados pelo Senhor Ordinário em 31 de Agosto de 1648, e consta hoje de 600 irmãos, que todos trazem suas véstias brancas com murças e capelinhas da mesma cor; tem tumba própria com pano de veludo negro, com barra de tela branca, com franjinhas e franjão de oiro, e, quando vão acompanhar os seus irmãos defuntos, levam guião negro e bandeira como da Misericórdia, e tem também 26 clérigos irmãos, que todos acompanham com suas sobrepelizes a Irmandade, sem que por esta assistência e acompanhamento os herdeiros do defunto lhes dêem cousa alguma; fazem na dita capela três ofícios de nove lições cada um por cada defunto irmão, com a assistência de nove padres, a quem paga a mesma Irmandade, e dá cera para eles, e pontifical preto com sebastos de brocatel amarelo; fazem duas festas no ano: uma em dia da Visitação, a 2 de Julho, a que assistem todos os irmãos, e outra em dia de Nossa Senhora da Conceição, a 8 de Dezembro, e a nove um aniversário por todos os irmãos defuntos, a que assistem todos os irmãos seculares de véstia e eclesiásticos com suas sobrepelizes a cantar, e no mesmo dia dizem todos missa pelos ditos defuntos, a quem paga a mesma Irmandade, no fim do qual aniversário fazem eleição dos novos mordomos e oficiais da Mesa, que consta de Juiz, Escrivão, Tesoureiro e dois deputados e um andador».

(Continua)

quinta-feira, 12 de março de 2009

LENDA DA PONTE DO RIO ALFUSQUEIRO

O diabo nem sempre leva a melhor sobre o homem… (pelas consultas feitas e pesquisas realizadas sobre a lenda da ponte do Rio Alfusqueiro, invariavelmente é assim que começa esta lenda, geralmente muito conhecida mas, ultimamente, pouco falada. Digo eu…)
Claro que essa ajuda é preponderante se vier de alguma boa fada…
A lenda que ainda se conta sobre a velha ponte de cantaria sobre o Rio Alfusqueiro, ali abaixo de A-dos-Ferreiros, a meio caminho do lugar da sede de freguesia, o Préstimo, cujo rio é afluente do Águeda.
Uma pessoa que conheço, referindo-se a esta lenda, acrescenta uma frase curiosa: “poderíamos até dizer que é um tempo em que o Diabo ainda precisava de andar pela terra a negociar almas”.
Assim, aquela ponte era imprescindível para permitir a passagem para os que residiam ou se deslocavam àquelas serranias e foi um cristão que se comprometeu a fazê-la mas verificou, quando pretendeu dar-lhe início, que era enorme e temerária a obra em que se envolvera.
Neste momento de aflição do cristão, surge-lhe o diabo em pessoa a informá-lo que ele e os seus demónios ajudantes se encarregariam da empreitada. Mas, como negócios são negócios, havia a questão do pagamento. Ficou assente que a moeda utilizada seria a alma do cristão.
A escritura, diz outra versão que consultei, foi assinada com o próprio sangue do cristão. E nela ficou consignado que a obra deveria estar pronta à meia-noite do dia de Natal desse ano, ao cantar do galo. O cristão lá ia verificando o andamento da obra, aliás de magnífica arquitectura e começava a dar sinais de temeridade pelo negócio em que se envolvera.
Se a este cristão, no percurso da sua vida lhe apareceu o diabo, porque não aparecer uma boa fada? E terá sido isto o que aconteceu.
Essa fada instruiu o cristão na maneira de se ver livre deste compromisso, não deixando de ter a ponte que tanto ambicionava e necessitava. A fada deu-lhe um ovo e disse:
- A obra ficará pronta à meia-noite em ponto. Vais junto da ponte e ficas atento aos últimos trabalhos e assim que o diabo colocar a última pedra, atira o ovo ao longo da ponte e vais ver que tudo corre bem...
E a lenda conta ainda que estava o diabo e os seus ajudantes a colocar a última pedra de remate, quando o cristão atira o ovo pelo chão ao longo do tabuleiro da ponte, este rolou, bateu numa pedra e quebrou-se. Nesse momento, saiu dentro do ovo um belíssimo galo de plumagens admiráveis, que começou a cantar enquanto batiam as badaladas da meia-noite.
E assim, por uma questão de segundos, o diabo da ponte do Alfusqueiro perdeu a aposta e o cristão manteve a sua vida.

Versões há a dizer que o diabo, furioso, fugiu a sete pés pela escuridão da noite, escondendo-se floresta dentro, para preparar umas tempestades, nunca mais sendo visto. Uma outra versão diz que o diabo deu um estoiro de tal ordem que nunca mais por ali passou.
Seja como for, como tenho costela do Préstimo (não sabiam, era?), aqui fica a Lenda da Ponte do Rio Alfusqueiro, que aqui ilustro com fotos recentes, não sem acrescentar, que quando ia ao Préstimo (e não havia a estrada que há hoje, pois passava encostada ao longo do monte que fica mesmo à saída da ponte, para quem vem do Préstimo, do lado direito, que nem de bicicleta se podia subir até chegar à entrada de A-dos-Ferreiros) parece que as pessoas demonstravam algum receio em por lá passar noite dentro. Mas não posso confirmar… a não ser falar com algumas pessoas do Préstimo mais idosas…

segunda-feira, 9 de março de 2009

REVISTA "VALONGO À VISTA"

Em maré de recordação da revista «Valongo à Vista», como dizia antes na apresentação da canção do Moínho e da pauta musical composta especialmente para o efeito, como também referi, não sendo muito longo, a seguir se transcreve o quadro "O MOLEIRO", tal como está escrito.


O MOLEIRO


(Com uma calça arregaçada até ao joelho e outra até meio da perna, uma garrafa em cada bolso do casaco, carapuça na cabeça, descalço e enfarinhado, entra no palco o moleiro).

Compère: - (àparte); Ora aí vem um tipo que logo à primeira se vê que é moleiro. Com moleiros e carvoeiros, não há que errar. (Alto): Ó lá, seu calça arregaçada, então como vai a vida?
Moleiro: - Mal, meu amigo, o tempo dos mestres-de-farinha já lá vai. Foi chão que deu uvas. Hoje não se endireita a cabeça.
Comp: - Tem razão, meu amigo. Foi o progresso, foram as máquinas a vapor que vos prejudicaram. Razão tinha um filósofo para dizer que o progresso era a morte da felicidade!
Moleiro: - Não será tanto assim. Antes da guerra, chegava para todos. Moía-se o que se pode dizer "à farta". Hoje o caso está muito bicudo... É o cabo dos trabalhos para se pôr o moínho a andar...
Comp: - E a respeito de grãozinho? Quero-que-é-dele, não é assim?
Moleiro: - Some-se na espiga. E nem admira. Dantes eram os pardais que davam nele. Hoje são os pardais... e os pardalões...
Comp: - Tem razão. E que pardalões...
Moleiro: - Ah! Só Deus sabe a paixão que eu tenho do tempo que lá vai... (puxa da garrafa) O que me vale é esta, para espairecer!... (bebe)
Comp: - Você vem munido, hein!... Logo duas, uma em cada bolso!...
Moleiro: - Eu lhe explico. Uma, do mais brando, do mais sentimental, é para espalhar saudades do passado. Outra, do mais rascante, é para ganhar coragem para o futuro!
Comp: - Olhe que essa é boa, e original! (mudando de tom): Ai, então não querem lá ver que estou também assim a sentir a modos de falta de coragem para o futuro?!... Olhe, meu amigo, é tal a falta de coragem que sinto, que até nem coragem tenho para me conter sem lhe pedir a prova desse "rascantezinho"...
Moleiro: - Ora essa! Aí o tem, e casque-lhe, homem!
Comp: - (bebe, dando palmadinhas no peito e fazendo um prolongado ah!... de consolação). - Eh! rapazes, isto aquece cá por dentro, que nem uma fogueira de S. João!...
Moleiro: - Ai, e este, então, faz-me sonhar... Sonhar com os tempos passados!... Saía uma pessoa pela tardinha para o Alfusqueiro, com os machinhos carregados. Moenda não faltava, porque nesse tempo tudo se moía, até mesmo a paciência dos fregueses. Dava gosto viver. Compravam-se terras e punha-se o dinheiro a juros. Imagine que dois colegas meus, quando foi recolhida a moeda por ocasião da implantação da República, chegaram a levar a Águeda um burro carregado de moedas de cinco tostões de prata!... - E olhe que isto é autêntico.
Comp: - Também já ouvi falar nisso. Mas diga-me cá: como se podia juntar assim tanta moeda?
Moleiro: - Sabe que de grão em grão enche a galinha o papo. Muito trabalhinho e muita economia. E depois não é só isso. Nós dantes tínhamos um responso que dava um resultadão. Conhece-o?
Comp: - Para lhe dizer a verdade, não sei qual seja.
Moleiro: - Pois até admira, porque ele é muito popular. Mas eu lhe conto. É o seguinte:

Duas maquias me dava este saco:
Duas me deve, quatro lhe rapo!
Vem a minha Maria, tira a sua maquia;
Vem o meu João tira o seu quinhão;
Vem o moço tira para o tremoço;

- Zurra que zurra,
Ainda falta a maquia da burra.

Fica p'ra aí, fole, p'ró canto,
Que logo largas outro tanto.

Ah! Se não fosse por a Deus temer,
Nem o dono do saco tornaria a ver!

Mas, se ele me chamar ladrão,
Não verá lá saco, nem grão!...

Comp: - Por isso... você fala com tantas saudades do tempo passado!... Isso então ainda era melhor do que uma mina de volfrâmio! Mas águas passadas não moem moínhos... Espaireça, homem, espaireça!
Moleiro: - Assim farei. (bebe) E tome você lá também um pouco de coragem, para o futuro. (Bebem os dois)
Comp: - Está-me agora a lembrar uma adivinha. Vou ver se é capaz de ma decifrar.
Moleiro: - Diga lá então.
Comp: - O que é que é, que, quando tem água, bebe vinho; e, quando não tem água, bebe água?
Moleiro (Reflexivo): Quando tem água bebe vinho? E quando não tem água bebe água?! Mas isso não pode ser! É uma coisa disparatada!
Comp: - Pois é assim mesmo como lhe disse. Quando não tem água é que bebe água.
Moleiro: - Essa agora!!! Não percebo.
Comp: - Pois é muito fácil como vai já ver. Ora diga-me: O seu moínho mói sem água?
Moleiro: - Não, senhor.
Comp: - Então, quando tem água, mói, e, moendo, arranja dinheiro para o vinho. Por isso é que, quando tem água, bebe vinho. Pelo contrário, quando o rio seca, o moínho não mói, e, já se deixa ver, não há "qunque" para o pifão. E por isso mesmo é que, não havendo água, tem que beber água...
Moleiro: - Já entendo. A adivinha quere dizer o moleiro, e está realmente bem feita.
Comp: - Olhe, estou cá a pensar na sua situação. Se fosse a si, deixava esse ofício que mal lhe dá para viver.
Moleiro: - Eu, deixar a minha arte? Trocá-la por outra? Oh! Nunca! É que o sr. nem sequer pensou ainda na enternecedora beleza e poesia dos moínhos. A água parece que fala e canta na levada, e não há diadema mais belo do que os milhões de pérolazinhas irisadas que o rodízio faz! A mó, então, parece que embala um menino de peito, rom-rom-rom... rom-rom-rom... Sobre ela, o tangedor, sempre a bater, parece que diz: tero-lero-lero... tero-lero-lero...
Ah! moínho do meu coração! Quero-te como quis ao meu primeiro amor, à minha Mar'Zé!
Ah! se o sr. ouvisse a canção do moínho, o sr. havia de sentir, como eu sinto, a modos que um nó cá por dentro...
Comp: - Pois, já agora, não se me dava de a ouvir...
Moleiro: - E olhe que é já! (Para dentro) Eh! T'Ma'Tereza!... Botem de lá essa canção do moínho!...

(As moleirinhas, de taleigos à cabeça, entram cantando):

(Segue-se a canção do moínho) na página que antecede.

Nota: - Quanto à transcrição, não esperem os meus companheiros e visitadores bloguistas por mais "material", para não retirar expectativas ao trabalho que está a ser desenvolvido sobre este e outros assuntos da freguesia.

quarta-feira, 4 de março de 2009

REVISTA "VALONGO À VISTA"

Já que estamos em maré de recordação da revista «Valongo à Vista» e porque me é fácil apresentar alguns nacos do seu conteúdo, aqui ficam duas iamgens digitalizadas que espero sejam perceptíveis.

É o original da partitura musical que, como se pode ver, está assinada por Manuel da Fonseca Morais e datada de 25/3/43 (tal e qual), e que musicava a canção do moinho, correspondendo ao quadro sobre o «O Moleiro».

E a seguir podemos ver a letra que, como temos dito, é da autoria do Inspector Gomes dos Santos.
Ficam, para já, mais estas duas curiosidades.

Creio, porém, que é oportuno aqui deixar esclarecido um facto que julgo importante, mesmo após ter feita a publicação deste apontamento. Relaciona-se com o nome de alguns "actores locais" que participaram na apresentação deste espectáculo.

Os nomes apontados, apenas se referem aos elementos que estão nas fotos que no artigo anterior me referi. Todos sabemos que havia mais pessoas além das que foram fotografadas. Por isso, fiz uma pesquisa aos nomes dos intervenientes nos diversos quadros e encontrei a seguinte lista, que, talvez até, esclareça algumas interrogações entretanto colocadas.

Pela ordem em que tenho organizadas as fotocópias, são os seguintes os "actores" que encontrei:

- Manuel Lopes

- Cândido Corga

- Manuel Fernandes (Manuel Biscoito)

- Ester Lopes

- Albertina Rodrigues

- Odete Vasconcelos

- Maria Arede (talvez Maria Rita, irmã de Bruno Herculano, facto a esclarecer)

- Fernando Miúdo

- José Maçoida (José Almeida ou José Patocha (?))

- Norberto

- Gabriel Corga (já falecido aquando da obtenção de fotocópias)

- Mabília



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