Serve-nos de referência a data do documento Pontifício, que assinala a sua fundação, em 9 de Setembro de 1610. Em bom rigor, talvez seja mais antiga, pois essa antiguidade poderá ser contada, segundo os critérios adoptados, desde a primeira reunião em que algumas pessoas decidiram organizar-se, formando a referida Corporação ou Irmandade. Na nossa opinião é aí que se dá a fundação. Mas não temos documentos. Aquela data será a da sua oficialização, legalização e reconhecimento oficial. De forma continuada será, certamente, a «Instituição» mais antiga da freguesia.
Depois há outros factos, de que muita gente se lembra, como era o caso, por exemplo, do que os Estatutos antigos chamavam o «andador». E um dos últimos (talvez não o último, porque penso que o sr. Arnaldo terá feito esse serviço) foi o Sr. Arlindo, que muitos conheceram e que era a pessoa que com uma pequena sineta percorria os principais lugares da freguesia, a pé, tocando-a de vez em quando.
Quando se via e ouvia esta sineta, de imediato as pessoas acercavam-se do Sr. Arlindo e ele informava que tinha falecido o “Confrade fulano” ou o “Irmão Beltrano” (fosse homem ou mulher). E informava a data do funeral e a hora. E era ver uma quantidade enorme de pessoas, de opas brancas, alinhadas pela berma da estrada desde a morada do defunto até ao cemitério. Se fosse membro da Irmandade, tinha ainda direito a ser transportado de “carreta”, como se chamava na altura. Era um veículo de quatro rodas, revestidas de borracha, como alguns coches e com dois volantes, um de travão e outro para controlar a direcção.
No final do cortejo fúnebre, chegou a existir, nas escadas da torre do adro da igreja, a chamada e registo dos presentes. Pois era preciso cumprir os Estatutos, ou seja, quem não respondesse à chamada, seria sujeito a uma multa.
Não vamos evidenciar as festas e o aniversário, que eram acontecimentos religiosos e sociais com bastante preponderância. Como me dizia pessoa das minhas relações recentemente, quando lhe dizia que a Irmandade é muito antiga, respondeu-me que além de antiga, está em vias de extinção. Cremos que não…
De notar ainda que neste pequeno resumo, que não é nem pretende ser uma história completa e exaustiva da Irmandade de Nª Sª da Conceição, há ainda dois pormenores que creio são bastante curiosos.
Primeiro: - A Irmandade, inicialmente, não era só de invocação de Nª Sª da Conceição, mas também de Santa Isabel, como diz o art.º 1.º dos Estatutos, “que nos primórdios da Irmandade foi também da sua invocação, deixando de ser homenageada em consequência da falta de recursos”. É interessante a redacção justificativa. Havia duas festas no ano, sendo uma a 2 de Julho (Dia da Visitação) e a outra, como sabemos, em 8 de Dezembro. Chegou a Irmandade a ter cerca de 600 membros.
Segundo: - A descrição feita sobre as cerimónias fúnebres dos Confrades, dá a entender serem de certa sumptuosidade e até de alguma morosidade, isto é, seriam cerimónias bastante prolongadas: “fazem na dita capela três ofícios de nove lições cada um por cada defunto irmão, com a assistência de nove padres, a quem paga a mesma Irmandade, e dá cera para eles, e pontifical preto com sebastos de brocatel amarelo”, diz-se no capítulo I dos Estatutos.
Como ficou prometido, há ainda uma referência ao lugar de Arrancada, no livro “Corografia Portuguesa – Lisboa M.DCCVIII – P. António Carvalho da Costa” quando este trata do concelho de Guardão, (Caramulo), página 190, que na parte que interessa, diz o que a seguir se reproduz:
“eraõ tambem Freguezes os moradores de Agueda, que dista outras três legoas desta Igreja (de Nª Sª da Assunção, no concelho de Guardão-Caramulo) para o Poente, & os do lugar da Arrancada, que fica no mesmo emisferio. Consta isto, além da tradição, de hũa pedra, que está na porta travessa da Igreja, cujo letreyro já se naõ póde ler, porém o treslado della tirado autenticamente continha o referido.”
(Continua com pequenas explicações)
Sem comentários:
Enviar um comentário