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domingo, 28 de outubro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LVII

Clique na imagem para aumentar. As gravuras possíveis das
Meninas Mascarenhas inseridas no livro publicado em
Abril de 1984, pelo jornal paroquial Valongo do Vouga,
do qual era director o padre António Ferreira Tavares.
Do lado esquerdo a protagonista desta história.
Do lado direito, a irmã, D. Casimira
O episódio anterior terminava com a descrição do previsto desenlace de D. Maria Mascarenhas. O narrador desta história preveniu Joaquim Álvaro que iria ficar viúvo. Este manifestava ainda algumas esperanças, mas quando lhe foi transmitido o diagnóstico fatal dos médicos, caiu-lhe nos braços em grande pranto e pronunciando monossílabos de desconsolação e amargura.
Confortado como foi possível, foi deixado só vertendo copioso pranto, não ouvindo ninguém.Quando foi achado mais calmo e menos desassossegado, trava-se este diálogo:
- É inacreditável que um homem que tantos transes sofreu na vida, lutando como os heróis, se amesquinhe e chore como uma mulher diante do túmulo entre-aberto de um anjo que não era deste mundo.
- É inacreditável, mas é verdade. Sofro imenso, meu amigo, e o meu desejo seria morrer também.
- Não se fale mais em tristezas irremediáveis. Chorou, afligiu-se e as suas lágrimas continuaram a sair-lhe dos olhos como um desafogo e como necessidade. Há tempo para tudo, para sofrer e para chorar. Depois, virão as saudades!
- As saudades começaram já e serão eternas, meu amigo.
- Mas eu tenho de ser calmo nesta hora difícil para o seu espírito, dr. Joaquim Álvaro, e preciso de reflectir por si.
- Reflectir por mim? O que quer dizer?
- Quero dizer que a srª D. Maria Mascarenhas, sua esposa, deve fazer o seu testamento...
- Pelo amor de Deus, cale-se dr. Pinho! É horrível isso, que me diz.
- Será, não duvido, mas há-de ser assim, se a enferma quiser, está claro...
- Mas não quero eu. Oponho-me terminantemente! Deixe morrer essa criança em paz, dr. Pinho.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Junta de Freguesia na história - 93

A electricidade na Freguesia
 
Este o local onde foi instalado o primeiro posto de transformação
de energia eléctrica na freguesia de Valongo do Vouga
Retomamos a pesquisa sobre factos da freguesia, que as actas da Junta guardam religiosamente. Nelas andam alguns factos que constituem, hoje, nacos históricos valiosos.
Estarei a exagerar nestas afirmações, admitindo-se até que alguns pensarão que tais factos nem são, por aí além, qualquer coisa de espantoso.  Para mim, são. Para os que não sabiam destes pequenos pormenores passados dentro de portas da sua freguesia, também devem ser.
Como chegou a electricidade à freguesia? É, de algum modo, bastante conhecida a história do início do abastecimento de energia eléctrica.
Hoje damos uma pequena amostra desse início. Tudo começou com Souza Baptista. E tudo começou, também, com a construção do primeiro posto de transformação de média para baixa tensão. Nos terrenos da Junta de Freguesia, na Póvoa, onde ainda hoje se encontra a primeira cabine onde foi instalado o posto de transformação, embora sofrendo algumas ampliações, adaptações e transformações.
Era dali que partiam as linhas (ainda de cobre) que abasteciam uma área bastante grande da freguesia. Hoje, essa energia está na freguesia (com excepção da parte serrana) com uma quantidade abastada de transformadores, para melhor abastecimento, distribuição e qualidade. Além de outros factores técnicos que evoluíram, mas dos quais nada percebemos.
A acta da sessão de 10 de Fevereiro de 1935, da Comissão Administrativa da Freguesia de Valongo do Vouga dizia isto:
 
«Mais deliberou esta Junta ceder o logradouro público junto à capela do Espírito Santo, na Póvoa, para ali ser edificada a cabine transformadora da energia eléctrica para a iluminação de algumas povoações desta freguesia, sem exigência por constituir um melhoramento de grande valor para esta freguesia, isto é, o terreno necessário apenas  para a referida cabine da Companhia Hidro-Eléctrica Portuguesa do Lindoso.»
 
Foi assim que começou a história do abastecimento de energia. Havia considerações a fazer, sobre aquela redacção, mas fica para a próxima. Em conclusão, em 1935 ainda não havia electricidade na freguesia. Mas iniciavam-se as obras para que isso fosse a realidade que o progresso nos concedia no início do séc. XX.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Brumas da Memória - 23

1966 - Inauguração dos Serviços Sociais
António Pereira Vidal & Filhos, Lda.
 
 
Mostramos mais uma página do programa do espectáculo realizado, comemorando a inauguração das instalações sociais daquela que foi conceituada empresa.
Porque se entende que tem algum interesse, pode clicar na imagem para aumentar e visualizar melhor o seu conteúdo.
Ressalvando a distância a que nos encontramos sobre este acontecimento, não vamos deixar de referir que, ou nos enganamos, ou haviam rumores que esta brincadeira, em verso, da autoria de Hernâni da Silva Gomes, foi inspirada num caso de amores que, parece, existiram naquele tempo. O que podemos afiançar, agora, é que já não sabemos, a ser verdade, quais os intervenientes nessa história de paixões. Parece que esta letra foi adptada a uma música muito conhecida, nos anos sessenta, séc. XX, cremos que de Madalena Iglésias. Se não for assim, peço desculpa...

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

História de Serém

Os Fataunços 
 
Surgiu há tempos na minha caixa de correio electrónico um mail que me pedia elementos de familiares dos Fataunços, que foram residentes em Serém. Lá me desloquei e através de pessoas que residem na localidade, fui confrontado com alguns factos que considero históricos.
Porquê Fataunços?
 
Esta interrogação foi esclarecida de imediato. Deriva de uma localidade, com este nome, situada próximo de S. Pedro do Sul, mas, administrativamente, pertencente ao concelho de Vouzela.
Alguns habitantes de Fataunços vieram para Serém, por cá ficaram e assim passaram a ser conhecidos.
A razão desta imigração, admite-se ter tido origem num fidalgo de nome Francisco Rodrigues da Silva Fataunços, pai de sete ou oito filhos, que veio para Serém proceder à cobrança dos tributos, em representação do condado de Lafões, do qual Serém fazia parte. O nome de alguns dos filhos eram a Maria, Engrácia, António, José, Augusto e Francisco, pelo que nos foi indicado.
O Francisco, com o nome completo de Francisco Rodrigues da Silva Reis, casou com Ana Tavares da Silva, governanta da casa, já viúva, do lugar de Serém.
Esta, do primeiro matrimónio, cujo marido foi ferroviário, era mãe de Leonel Tavares Dias da Silva, conceituado comerciante naquele lugar de Serém, conhecedor desta história, que no-la transmitiu.
O referido Francisco Rodrigues da Silva Reis faleceu no princípio dos anos sessenta (séc. XX)deixando um vasto legado a algumas instituições, nomeadamente às Misericórdias de Águeda e Albergaria-a-Velha.
Esta família tem ainda descendentes na freguesia da Trofa (Águeda) e de Alquerubim. (A-A-Velha).
Uma casa senhorial, onde habitaram os Fataunços, cuja imagem aqui se deixa, será do séc. XVI ou XVII, não sabemos bem, uma vez que foi reconstruída depois do terramoto de 1755, por ter ficado, emconsequência deste, bastante danificada.
Junto desta casa está assinalada, na esquina da parede do lado direito da foto, a Estrada Real, que por ali passava, bem como os Caminhos de Santiago. Leonel Tavares Dias da Silva, cujo estabelecimento fica mesmo no cruzamento daquelas ruas, parece que possui uma respeitável colecção de cartas e postais de todo o mundo, que lhe enviam os caminheiros de Santiago, aos quais comprova a sua passagem naquele local, com o carimbo que usa na sua actividade comercial e respectiva assinatura.
 
 
 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Creche Sintz Baptista

Comemorados já dois anos!
 
É verdade! Parece que foi ontem, mas já lá vão dois anos...
Inaugurada em 2 de Outubro de 2010, esta importante e modelar valência da Casa do Povo de Valongo do Vouga, começou a funcionar de forma oficial e organizada, recebendo os primeiros utentes (as crianças), no dia 18 de Outubro do mesmo ano.
Foi por isso ontem, numa forma singela e modesta, assinalada a data, pelas 18 horas, com muitas crianças e respectivos pais e familiares.
António Augusto Portilho, presidente da Direcção, fez uma ligeira alusão à data, e enalteceu a forma positiva de um balanço de dois anos, em que, de uma forma rápida, se passaram de 6 crianças, no início, para 60, actualmente.
Presentes ainda António Manuel F. Conceição, Engº Paulino Oliveira e João Pinto.
Depois as crianças deram os ares da sua graça, com música adequada à idade, terminando a efeméride com uns bolinhos e alguns suminhos...
E ficam por aqui algumas fotografias a comprovar.
 
 


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Casa do Povo de Valongo do Vouga- 22

... Em actividade

Dia Mundial da Alimentação
 
A palestra sobre alimentação
A Casa do Povo de Valongo do Vouga, nas várias vertentes que desenvolve, marca presença comemorativa e formativa em cada uma delas.
Houve, no dia 16, especialmente dirigida às crianças, uma actividade integrada no Dia Mundial da Alimentação, que foi orientada pela nutricionista Dr.ª Dinora Bastos.
 
11ª Casa Mágica
 
Clique na imagem para aumentar
 
Integrada nesta série e, por isso, conta já com 11 edições, vai ser proporcionado mais um Festival de Marionetas, que se realizará nos dias 23  de Novembro (6ª feira) 10h30, 14h30 e 21h30, no auditório da Casa do Povo.
O programa estende-se ainda pelos dias 24 de Novembro, sábado, pelas 21h30 e ainda no domingo, dia 25, pelas 16 horas.
Para quem gosta deste tipo de espectáculo, que não é, de modo nenhum, para enjeitar, fica toda a gente convidada. É só marcar e aparecer...

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aniversário das Terras do Marnel

Vamos entrar no 5º ano
 
 


É isso mesmo que uma vez já aqui propagandeei, palrei e gritei para o espaço cibernauta. Já cá ando há quatro anos. Vamos entrar no quinto ano de permanência por aqui.
Com altos e baixos, a ponto de ser chamado a atenção, fazendo-me sentir que estava adormecido. E com alguma razão o fizeram.
Sei que tenho andado um pouco anormal - quer dizer, com falta de regularidade.
O primeiro post foi no dia 9 de Outubro de 2008! Há tanto tempo já.......
Estou a dar os toques finais a um trabalho e depois voltarei com a referida regularidade. Não queria deixar passar despercebida a efeméride, mas vejam lá... ia-me esquecendo!
Valha-nos a Senhora da Memória!!!

sábado, 6 de outubro de 2012

Brumas da Memória - 22

1966 - Inauguração dos Serviços Sociais
António Pereira Vidal & Filhos, Lda.

 
O programa que aqui temos postado, relacionado com este evento de 1966, de uma das maiores empresas existentes na freguesia e no concelho, para não dizer mesmo do distrito de Aveiro, incluimos no anterior a peça nº 2, com o título SANT'ANTÓNIO D'ARRANCADA. Foi omitida a peça nº 1, intitulada HINO DO PESSOAL, com que abria o espectáculo.
Penso que também deve ser recordado o seu conteúdo, quase 50 anos depois! E com o mesmo poder avivar memórias de outros tempos e tentar compará-los com os actuais.
 


Clicar na imagem para aumentar
 
 

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Dia do Idoso

Na Casa do Povo de Valongo do Vouga


 
No dia 1 de Outubro é celebrado o Dia Mundial do Iodoso. A Casa do Povo de Valongo do Vouga, lembrou o evento reunindo os utentes do Centro de Dia e do CATL, comemorando em conjunto este dia.
Embora de faixas etárias com distâncias substanciais, os grupos tornaram-se homogéneos pela dinâmica impregnada. As duas gerações, estiveram em perfeita harmonia na confraternização, uns lembrando tempos antigos e, outros, tomando contacto com as histórias, um tanto ancestrais, que redundam sempre, para os mais pequenos, em alegre curiosidade. Nada se modifica ou transforma, complementa-se.
Foi um dia divertido, com um lanche surpresa entre os meninos do CATL e os utentes do Centro de Dia.

sábado, 29 de setembro de 2012

Folclore Local - 4

Componentes do grupo em 1990

Tenho uma lista com os nomes dos que constituíam o grupo de folclore da Casa do Povo, escrita à máquina, com indicação do ano de 1990. A seguir vamos recordá-los, perguntando ao mesmo tempo: onde está esta gente? Que é feito daquelas crianças, hoje adultos, e dos adultos que serviam de apoio?
A lista que possuo tem, dum lado, os elementos masculinos e, do outro, os femininos. E recorda-se a sua identificação:

TOCATA, CANTO E APOIO:
ELEMENTOS MASCULINOS
-António Manuel dos Santos Ferreira
-Elísio Augusto Martins Ferreira (está riscado)
-Fernando Jorge Santos Gonçalves (deixou de aparecer)
-Fernando José Henriques Tavares
-Guilherme de Arede Francisco
-Luis Miguel Rod. Figueiredo
-Manuel Tomás
-Pedro Jorge Nunes Ferreira
-Augusto Martins Barbosa
ELEMENTOS FEMININOS:
-Ana Paula Simões Arede
-Isilda Maria Duarte Pereira
-Maria da Luz Arede da Cruz
-Rosinda Simões Santos Paula
-Maria de Fátima Santos Ferreira (deixou de aparecer)

DANÇA:
ELEMENTOS MASCULINOS
-Alexandre Miguel Bastos Silva
-António Manuel Varela da Fonseca
-Carlos Manuel Dom. Barrocas
-Carlos Manuel Pereira da Silva (foi para o Canadá)
-Helder Daniel Gomes Pinheiro
-Helder Jorge Almeida Tomás
-Nuno André Nunes Rebelo
-Nuno Filipe Martins Ferreira
-Paulo Sérgio Matos Liberal
-Pedro Alexandre Cruz Dias
-Sérgio Augusto Gomes Pinheiro
-Luis Manuel Novais Ferreira (manuscrito na lista)
-Paulo Sérgio Santos Tavares (manuscrito na lista)
ELEMENTOS FEMININOS:
-Claudia Manuela Alves de Oliveira
-Cristina Maria Simões Arede
-Joana Patricia Santos Ferreira
-Lurdes Margarida Martins Lopes
-Maria de Fátima Santos Ferreira
-Maria Celeste Pereira Martins de Almeida
-Otilia Maria de Almeida Tomás
-Patricia Margarida Bastos da Silva
-Paula Cristina J. Oliveira
-Sandra Raquel Oliveira Tavares
-Sónia Raquel Soares de Almeida
-Suzana Raquel Domingues Barrocas
-Sandra Sofia Santos Gomes (manuscrito na lista)
-Edna Elvina Zingra da Silva (manuscrito na lista)

Penso que é razoável poder afirmar-se que foram estes os componentes do grupo, que dele faziam parte, logo após a fundação. A indicação de nome manuscrito, quer dizer foi acrescentado à mão na lista acima referida. Na foto estão a maior parte dos componentes identificados e foi tirada em 1989, pela Foto-Pop, de Águeda. Alguns destes ainda por lá andam...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

As crónicas de Adolfo Portela - 7

Preconceitos e o sobrenatural


Foto retirada da internet
Blog Veludarte.blogspot.com
Com todo o seu cortejo de superstições e preconceitos, a invocação do sobrenatural e o esconjuro do demónio são feitos por processos curiosos. E, como até nas mais simples passagens da vida caseira, o espírito do povo não se dispensa de topar com prejuízos de toda a ordem, é preciso logo, por seu próprio governo, tratar de os varrer depressa a poder dos mais eficazes exorcismos.
Assim, ao deitarem-se os ovos às galinhas chocas, escolhe-se para esta tarefa melindrosa um rapazinho da casa ou da vizinhança, o qual, com a fralda de fora pega dos ovos e, um por um, os vai colocando na cesta do choco. Entretanto, a cada ovo que arruma no palhiço do ninheiro, é preciso que o pequeno vá recitando em voz alta:
 
Rezemos uma Salvé-Rainha
Em louvor de S. Salvador,
Para que saiam tudo frangas
E um só galador!
 
Em coro, por todos os assistentes, são rezadas tantas salvé-rainhas quantos são os ovos a chocar. Entretanto se adrega de calhar que S. Salvador não satisfaça os rogos de quem lhe reza, saindo a ninhada toda em pintainhos machos, o povo, como prémio de consolação, não deixa de lhe agradecer o contratempo, porque uma ninhada de muitos frangos é indício de boda próxima na família.
 
(Adolfo Portela, no livro «Águeda - crónicas, paisagens, tradições», edição de Soberania do Povo, Editora, S.A.)
 

Folclore Local - 3


Quero bem à minha sogra

Relacionado com o folclore e até algumas tradições, acabei por "descobrir" que tenho por cá uma pasta com bastantes manuscritos, que me foram 'oferecidos' pela Izilda Maria, que teve o trabalhão de passar à mão uma série de cantigas da região, que ela tão bem interpretava quando vocalista do Grupo de Folclore, na altura infantil, da Casa do Povo de Valongo do Vouga.
Esta cantiga, que fazia parte das que a Izilda cantava, creio eu, constava-se na altura que a sua recolha foi feita no lugar da Veiga, junto de D. Zulmira Marques, esposa de Ângelo de Almeida Carvalhoso, pelo arqº Rui Aguiar, fazendo parte do reportório do «Cancioneiro de Águeda». A D. Zulmira que foi afamada padeira como outras que constituíram o grupo e construíram a fama do paladoso pão da Veiga. Agora em decadência crescente. Talvez ao mesmo tempo e com o mesmo destino que as oficinas de pregos que ali existiram em grande número.
Essa cantiga tinha a seguinte composição:
Casa onde morou D. Zulmira Marques, a partir da
esquerda da foto de rés do chão e 1º andar


Quero bem à minha sogra,
Que me criou meu marido  
Ai, ai, ai, que me criou meu marido.  
Quero bem ao Deus do céu,
Que mo tinha prometido
Ai, ai, ai, que mo tinha prometido                                                 
O meu amor eras tu,
Se te não foras gabar,
Ai, ai, ai se te não foras gabar.
Pela boca morre o peixe
Quem te manda a ti falar,
Ai, ai, ai, quem te manda a ti falar.

O meu amor de brioso,
Não me come quase nada,
Ai, ai, ai, não me come quase nada.
Come só dezoito broas
E um alguidar de salada,
Ai, ai, ai, e um alguidar de salada.

Aqui d'el rei quem me acode,
A quem não sabe nadar,
Ai, ai, ai, a quem não sabe nadar.
Às meninas dos meus olhos,
Que se afogam com chorar,
Ai, ai, ai, que se afogam com chorar.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LVI
 
As paredes deste solar são, agora, as únicas
testemunhas dos dolorosos factos aqui narrados
Depois da deslocação à Quinta da Cruz, de D. Maria Carolina, mãe das meninas Mascarenhas, entramos numa fase da narrativa bastante triste, dramática, sentimental e de momentos dolorosos. Por isso, em vez de resumir e restringir o seu conteúdo, penso que se deve fazer a transcrição, o mais próximo possível da realidade contida no livro. E este diz:
 
Mas, mal passado um ano de casamento, o céu de felicidade que envolvia o solar de Aguieira ia-se cobrindo de núvens. Uma vaga tristeza enchia os corações. D. Maria Mascarenhas, a noiva de Joaquim Álvaro, empalidecia e parecia adoecer.
Os seus olhos rasgados e límpidos tinham, às vezes, lágrimas, e na sua boca  inocente esboçava-se um sorriso de melancolia e resignação.
Joaquim Álvaro olhava para a esposa e sentia-se constrangido e aflito. Todas as pessoas da família se mostravam receosas, comunicando-se os seus pensamentos íntimos e dolorosos.
D. Maria foi sempre de débil compleição. A sua delicada figura denunciava facilmente a constituição anémica e linfática das criaturas condenadas a uma existência rápida na terra.
Ela mal se queixava, sofrendo as suas mágoas e a sua doença. Acudiram os médicos com os seus conselhos e os seus remédios, mas D. Maria piorava constantemente.
Joaquim Álvaro perdeu o ânimo e adivinhava uma desgraça, mas, os carinhos, os cuidados, as incessantes canseiras não abandonavam a doentinha.
Nunca houve princesa ou rainha mais ternamente tratada por tantos corações dedicados e aflitos. Mas D. Maria Mascarenhas ia morrer.
A tísica não perdoava e fazia mais uma vítima.
A morte caminhava depressa.
 
Para não alongar a leitura deste episódio, prometemos vir aqui com a transcrição da segunda parte, desde a visita do padre José da Fonseca, do Beco, a feitura de um testamento e, passadas algumas horas, após este escrito e legalizado com a presença do tabelião de Vouga, D. Maria Mascarenhas falece, destacando-se depois a descrição do funeral e da sua sepultura no lugar do Sobreiro.
 
(Continua)
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Os Senhores do Marnel - 3

A origem


Não, não vou aqui e agora explicar como é que começa o livro «Os Senhores do Marnel», melhor dizendo, não vou explanar o seu desenvolvimento.
Isso fá-lo-ei ao longo do tempo e aproveitando as características que melhor despertem a curiosidade de todos: minha e dos amigos visitadores e interessados por estas coisas.
De momento, deixo apenas a digitalização da capa do livro que nos postes anteriores já está devidamente desenvolvido, pelo que acho desnecessário e dispensável a repetição.
Anteriormente tinha focado que a história deste livro tem um desenvolvimento em ambiente local, sendo alguns nomes conhecidos de localidades dos arredores, onde tem lugar as imagens escritas. Além das que já apontei, gostaria de acrescentar, além de Brunhido, Carvalhal, Segadães, Jafafe, Marnel, Lamas, Vouga, ainda as de Fermentões, Arrancada e, por agora, não me lembro de mais. À medida que aqui for desvendando mais alguma coisa, delas faremos referência, porque, caso contrário, ficaria a história truncada e sem sentido. Se o nome dessas localidades fosse omitido.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Senhores do Marnel - 2

O Niza
 
(Continuação do poste anterior)
 
 
O livro  «Os Senhores do Marnel», tem uma pormenorizada descrição do local e de um personagem que o coloca nos píncaros dos mestres da poda de videiras, e sempre com o nome da sua vila natal - NIZA - na ponta da língua, a propósito de tudo e de nada, radicalizou-se na alcunha de Niza, a substituir-lhe o nome, ainda mesmo para aqueles que na sua presença o tratavam por ti «Manuel Antoino».
A seguir vem uma perfeita descrição física de espadaúdo, hirsuto bigode preto, lábio roliço, orelhas pequenas mas carnudas, pescoço forte, braços curtos e pernas entroncadas, além de outros predicados da sua apresentação física e fisionómica.
Tinha começado a sua vida a podar vinhas no Alto Alentejo, depois meteu-se a negociar em vinhos, percorrendo também o Baixo Alentejo e o Algarve, até que, um dia, deu-lhe na veneta vir até à Bairrada, em busca de um carrascão encorpado para lotar com um palhete adelgaçado. Os olhos gaiatos de uma moçoila prenderam-no por aqui, negociando, podando, agenciando a vida. Casou e fixou-se perto do Vouga no cruzamento das estradas.
A sua fama como podador estendeu-se a toda a região. Dela tirou partido o ti Manuel Antoino, ou, melhor, o Niza, cobrando-se bem porque não faltava quem lhe disputasse os trabalhos da especialidade.
Entretanto viuvara e era a filha que tomava conta da loja no tal cruzamento de estradas, ajudada por um rapazito, enquanto ele ia cuidar das vinhas e ganhar-lhe o dote, como ele dizia. A filha era conhecida pela Ritinha, que se habituara a servir os fregueses e a lidar com todos eles, mas sob as instruções que o Niza lhe transmitia. Devia tratá-los sempre com sobranceria, que realçava no seu risonho semblante e na sua alegre vivacidade.
«Quando os fidalgos dos arredores passavam na estrada  ou iam por acaso à venda, a Ritinha requintava em amabilidades e a alegria duplicava-lhe, talvez por eles dizerem uns galanteios quadrando milhor ao seu feitio vaidoso e às suas aspirações e devaneios.»
Esta passagem do livro pretende destacar o apreço em que o fidalgo Vasco de Segadães lhe tinha as cantigas mais envaidecia a Ritinha e, como ele trouxesse à venda de Carvalhal muitos dos primos e companheiros, o Niza, a instâncias da filha, transformou um quarto pegado com a loja em gabinete, onde esses fregueses distinctos (respeitada a grafia da época) estivessem à vontade sem serem acotovelados pelos carreiros e aldeões que estacionavam na venda ou lá iam beber dois ou despejar de sociedade as meias canadas, passando a caneca de mão em mão e de bôca em bôca.
Aí se davam as tocatas, descantes e ceias alegres da rapaziada fina dos arredores e lá era o ponto de reunião dos cavaleiros do Vouga.
 
(Continua)


Os Senhores do Marnel - 1

Em Carvalhal da Portela
 
 

A história faz crer ser este o local da taberna
Aquele é mesmo o título de um livro. O seu autor é Vaz Ferreira (Dr. Henrique Vaz de Andrade de Basto Ferreira), que terá residido por Santa Maria da Feira, foi director da «Gazeta Feirense» e  a ilustração aqui apresentada é a reprodução de um quadro a óleo da autoria de Pedro Salgado, existente no Museu-Biblioteca da Feira. Estas notas e a reprodução é do site AVEIRO E O SEU DISTRITO - Galerias de Figuras.
 
Já tivémos, em tempos um pouco mais afastados, oportunidade de ter lido os Senhores do Marnel. E dele já aqui fizémos referência. É bastante interessante, com um enredo ficcionado, mas com bastantes episódios e notas históricas no que à região diz respeito, envolvendo o Marnel, como o título indicia, e ainda Lamas do Vouga, Cabeço de Vouga, Carvalhal da Portela, Jafafe, Segadães e não sei se mais algum. E também Brunhido e o seu bacalhau...
 
Vaz Ferreira
A descrição de algumas dessas romanceadas descrições fazem crer que o cruzamento da estrada de Vouga-Carvalhal-Macinhata-Valongo, precisamente na encruzilhada destas, naquele lugar de Carvalhal da Portela, foram citadas com histórias interessantes, pois na referida encruzilhada e no evoluir do romance, havia ali uma tasca, fundada por um alentejano que aqui veio parar por causa do seu negócio com o vinho. Refere deste modo a história, apenas numa pequena parte, porque o restante vamos deixá-lo para depois.
 
Manuel António Lopes, que assim se chamava o taberneiro pai da Ritinha não nascera naqueles sítios, viera de longe, lá do Alentejo, de uma terra que ele gabava sempre ao compará-la com a Bairrada e com todo o distrito de Aveiro, como punha em paralelo o Vouga com outro mais afamado rio, o Tejo que corria perto dos campos da sua Niza.

(Continua, porque ficando só por aqui retirava-lhe o sumo da história)
 

sábado, 15 de setembro de 2012

Casa do Povo de Valongo do Vouga - 21

A inauguração e a balbúrdia do volfrâmio
 
Como disse antes, trago aqui a história da intervenção do Inspector Gomes dos Santos, que pronunciou no dia 28 de Junho de 1942, data da inauguração da Casa do Povo.
Como antes já tinha referido, atente-se bem nas palavras publicadas e atribuídas ao Inspector Gomes dos Santos, no que à distribuição dos bens diz respeito. E o exemplo que ele apresenta sobre a história de alguém que compra uma caneta, é a prova evidente de que a cultura, mesmo em 1942, não era tida e achada como essencial na evolução de uma sociedade. Transcrevemos a parte que interessa:
 
(Soberania do Povo de 4 de Julho de 1942)
O sr. Arménio Gomes dos Santos, Inspector Escolar, iniciou em seguida o seu discurso. Sóbrio, cheio de conceitos, formoso na exposição, nele foi posta em evidência a necessidade da intervenção do Governo na organização económica do país. O orador referiu-se ao desequilíbrio que provocaria no meio social português os lucros excessivos e a miséria degradante. E a reforçar o seu conceito aponta a «balbúrdia do volfrâmio». Cita a propósito, um caso muito edificante, ocorrido em Viana do Castelo. Um volframista adquiriu uma pena de tinta permanente por 400$00; e, quando o comerciante lhe deu os parabéns por poder adquirir objecto tão útil e de tanto valor, o homenzinho respondeu ingenuamente:
- «Ah! mas eu não sei escrever...»
 
*****
 
A situação apontada pelo Inspector Gomes dos Santos, já em 1942, dos lucros excessivos em contraste com a miséria gritante e degradante que se vivia, nas devidas proporções, ou sem elas, é quase a mesma que se vive agora. Mas tresanda naquelas palavras algo que, para o tempo, não se sabe como é que passou pelo crivo.
Por outro lado, a questão do volfrâmio que, toda a gente sabe, deu riquezas ilegais a muitos, através do contrabando que vagabundeava por todo o lado.
O que acima reproduzimos é o que se apresenta ao lado na digitalização parcial do que foi publicado na altura da sessão solene de inauguração da Casa do Povo.



Casa do Povo de Valongo do Vouga - 20

A inauguração que não aconteceu
 
Fotocópia da Soberania Maio de 1942
A notícia transcrita está dentro da cercadura
vermelha. Clique na imagem para aumentar
Este sub-título não tem intenção pejorativa. Apenas histórica, porque admitimos que de um pormenor que sucedeu, poucos terão conhecimento dele.
A Casa do Povo, como é conhecido e confirmado pelas publicações registadas nos jornais da época, foi inaugurada em 28 de Junho de 1942. Teve um realçado destaque na imprensa e socorrendo-nos das fotocópias da Soberania do Povo de 4 de Julho de 1942, os factos ocorridos foram ali minuciosamente descritos. Tal efeméride foi há pouco tempo registada pelos actuais corpos sociais, precisamente no mesmo dia 28 de Junho, mas de 2012, como é natural.
Não é sobre a inauguração que nos vamos debruçar.
O que queremos destacar é que o mesmo jornal, de 9 de Maio de 1942, dizia assim:
 
*****
 
Casa do Povo de Valongo do Vouga
 
Possivelmente, a inauguração da Casa do Povo de Valongo do Vouga não se realiza na data indicada - 28 de Maio; espera-se, porém,  que o seja em um dos primeiros domingos de Junho próximo.
O respectivo plano de realizações é vastíssimo; honra quem o elaborou e muito diz do bairrismo do povo de Valongo, porquanto ele seria inexequível se a contribuição dos futuros sócios não correspondesse à capacidade populacional.
Na devida oportunidade daremos o relevo merecido ao acontecimento; todavia, para já, divulgaremos que faz parte desse magnífico plano, a construção de um bairro de moradias para trabalhadores e que serão entregues aos sócios segundo sorteio a seu tempo levado a efeito; de um completo arranjo de caminhos vicinais; a extinção da mendicidade na freguesia; protecção na enfermidade ao trabalhador; a sua mulher, em estado de gravidez, cuidados e assistência; à criança, carinhoso amparo, etc., etc.
A sede satisfaz, em pleno, às necessidades; e muito nos apraz dizer que nela se está construindo amplo salão de espectáculos, com cómodos camarotes e duas francas escadas de acesso. Esmalta a frontaria do bom edifício um lindo painel,  da Fábrica do Outeiro. 
 
*****
 
Este o painel adaptado do original
Desta notícia destacam-se alguns factos; um, é que a inauguração estava prevista para 28 de Maio de 1942. E não será exagero ou atrevimento poder admitir-se que haveria a intenção de fazer coincidir a data com o 28 de Maio de 1926. Conjecturas interpretativas da história...
Havia «um plano», chamemos-lhe programa, que realçasse o acontecimento e lhe desse o brilho merecido para uma época em que não havia nada. Estava ali, ainda, um esboço de um programa de acção social; habitação, acabar com a mendicidade, preponderante na época; assistência e subsídio em caso de doença; assistência na maternidade e, talvez, a intenção de uma primeira creche, que pouco se conhecia por este nome.
Destaque para o salão de espectáculos que todos conhecemos ou a sua maior parte, agora remodelado. E o painel frontal da sede da Casa do Povo, com os símbolos inerentes à acção social que não existia e nem o Estado a concedia, com este pormenor: este painel foi feito na Fábrica do Outeiro, em Águeda.
Em próxima página, traremos aqui uma história contada por Inspector Gomes dos Santos, no dia da inauguração e que tem acentuado relacionamento com a cultura e educação e o contrabando do volfrâmio, que na página anterior se evidencia. Atente-se na linguagem do Inspector Gomes dos Santos, quase inaceitável naquele tempo político.
 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A mina das Talhadas


Foto do site Aveiro e o seu distrito
aqui

  Toda a gente sabe que nos limites do lugar e sede de freguesia das Talhadas existiram minas donde se extraía volfrâmio, no princípio do século XX, ou antes (não cuidei da confirmação), que transformaram - e bastante - a vida de toda a região, nomeadamente das gentes serranas. Estou a descrever esta situação de cor e salteado, porque nos anos 40, daquele século, ainda eu era criança, ouvia histórias que se tinham passado e que terão sido origem de enriquecimento de muita gente, mas também causa de alguma desgraça, quando aquele minério era disputado em plena II Grande Guerra (1939-1945), através do contrabando. O grande cliente deste minério, dizia-se e confirma-se, era a Alemanha.
Este, após tratado, destinava-se à produção de armamento pesado e dele muito necessitava aquele país, na altura dominado por Hitler.
Após esta pequena resenha histórica, vamos tentar, também, do que nos resta, rememorar o que aquelas minas originaram. No Hino do Concelho de Águeda, de Adolfo Portela, a que nos referimos através de um trabalho escolar de umas alunas que passaram pela 'Marques de Castilho', sobre a história de Águeda, estas não se esqueceram de ali mencionar, entre outros factos, a revolta organizada em Águeda contra as minas das Talhadas.
Foram ao pormenor de digitalizar uma pequena parte da primeira página do jornal Soberania do Povo, de 9 de Fevereiro de 1924, no qual se incitava o povo a uma manifestação de protesto contra as minas das Talhadas, porque as águas residuais danificavam, destruíam, tudo o que era cultura agrícola e píscicola. Ainda não era conhecida a palavra poluição.
Havia ainda um folheto dirigido «AO POVO!», subscrito por uma série de personalidades importantes daquele tempo, dizendo que «as águas venenosas das minas das Talhadas exterminaram o peixe dos rios Águeda e Alfusqueiro e já vão matando também o peixe do rio Vouga. Impedem que estes rios se repovoem. Impedem a produção de feijão e abóbora e a abundância de pastagens nos nossos campos.»
Seguem-se mais considerações sobre esta situação, sendo o panfleto datado de 29 de Janeiro de 1924. O que se sabe a seguir é que o povo de Águeda e fora dela, em grandes aglomerados, foi até às Talhadas e destruiu as minas de volfrâmio, cujos resquícios e ruínas ainda por lá se podem apreciar.
As personalidades que se identificavam no panfleto de convite a um comício a realizar no domingo, dia 3 de Fevereiro de 1924, na Praça Conde Sucena, desta vila, às 2 horas da tarde, eram as seguintes:
Conde da Borralha, Dr. António Breda, Dr. António Homem de Mello, Dr. António Tavares da Silva, Armando Castella, Dr. Eugénio Ribeiro, Dr. Fernando Ferreira Baptista, Dr. Jayme Ribeiro, Dr. João Elysio Sucena e João da Silva Neto.
 

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Hino da Soberania

Clique na imagem para aumentar

Já que estamos em maré é de hinos, vai mais uma história sobre os mesmos. No meio de uma pasta de arquivo com coisas sobre história, sobre folclore e outros papeis que parecem ser de pouca importância, encontrei uma folha fotocopiada, já recortada, porque alguém lhe retirou alguma coisa de interesse, com uma partitura musical, cuja composição, como se pode ver, é o «Hymno da Soberania do Povo».
Esta composição musical, cuja autor terá sido um «José d'Águeda», talvez um pseudónimo, como se diz no recorte do jornal a seguir apresentado, tem, do lado direito, no final da música, em letras miudinhas, a data de 1-1-904.
Isto quererá dizer que esta composição terá sido feita a propósito ou de propósito para assinalar um dos aniversários deste mais antigo semanário do país, que, como se sabe, foi fundado em 1 de Janeiro de 1879.
A referência a este facto e a publicação da composição musical decorreu no número de 1 de Janeiro de 1979, data que aniversariava e assinalava a entrada nos cento e um anos de publicação e existência. Fica por aqui para os desconhecedores e mais distraídos, o que constitui um documento histórico e, talvez, a singularidade que representava, muito raro neste género de organizações, que era a existência de um hino composto especialmente para o jornal. Curioso ou não, isto é um naco de história daquele periódico, como muitos que por aí abundam.
Mas falta um pormenor que desconhecemos. É a letra do Hino. Se a encontrarmos, como aconteceu com o Hino de Águeda, aqui voltaremos.
Com os meus parcos e defeituosos ou nulos conhecimentos de música vou tentar traduzir a sonoridade da melodia. Porque de outro modo a mais não me atrevo...
 
Recanto de Águeda-Um aspecto da Praça do Município
 
 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Mais um companheiro

Acabei de adicionar na barra lateral mais um COMPANHEIRO DE JORNADA. Chama-se AUTO CARAVANA. E pode ser visitado aqui.
Descobri-o quando andava em busca de coisas novas. Não conheço, não sei quem é...
Só sei que é um visitador e, talvez, vicioso viajante  deste mundo. Despertou-me. Criou-me curiosidade.
É fantástico o número de locais que já visitou e anda a visitar pelo mundo. De auto caravana.
Não direi mais. Se tiver a curiosidade que tive, clique ao lado nos COMPANHEIROS DE JORNADA - Auto Caravana, ou então onde antes está assinalado. Está recheado de boas imagens dos locais por onde passa, sempre com umas histórias para contar.
 

Hino do concelho de Águeda (2)

Aspecto de Águeda, na Praça do Município
Estava prometido aqui voltar sobre este título.
E voltei mais rápido do que o esperado.
De um trabalho escolar de três jovens alunas, ao tempo, feito para a disciplina de Português/Francês, encontramos o hino que nos andava a provocar curiosidades e interrogações.
A este trabalho nos dedicaremos mais tarde. No que respeita ao Hino do Concelho de Águeda, e uma vez que o exemplar em nosso poder já deve ser fotocópia de fotocópia, está a seguir apresentado com o grafismo no devido lugar e, certamente, tal como foi escrito o original.
Falta dizer, que, como muitos o saberão, o seu autor foi Adolfo Portela. Música de Querubim António de Assis. Se não fosse aquele trabalho, ignorávamos ainda esta situação.
Falta dizer que este trabalho foi da autoria desta equipa: Patrícia Carla Dias Fernandes, Isilda Maria Duarte Pereira e Sandrine Herculano. Destas, a memória fixou muito bem, por muitos e bons motivos, a nossa conterrânea Isilda Maria Duarte Pereira, que na especialidade da sua licenciatura, está a leccionar no Algarve, (Portimão ou arredores).
A digitalização, donde parece ter sido já feita fotocópia do original daquele Hino, é esta:


Clique na imagem par aumentar

domingo, 9 de setembro de 2012

Hino do Concelho de Águeda

No meio de uns papeis, devidamente encadernado com lombada de plástico, em tempos recentes muito usadas, em folhas brancas de papel A4, manuscrito com a minha letra, encontrei o que pode ler a seguir. Não me recordo donde copiei isto, e já me tinha «esquecido» que existia. Não cuidei, agora, de saber se isto existe, se é ou não oficial, enfim essas coisas que devíamos saber. Ou procurar saber... senão dá asneira. Esperemos que não, porque garanto que vou procurar saber mais coisas. Depois voltarei aqui sobre isto...

*****
O MESMO LOCAL DE ÁGUEDA
Agora
 

Antigamente

HINO DO CONCELHO DE ÁGUEDA

Pastor velho de trás serra
Desce do vale não te demores
Pasta o gado em nossa Terra
Que é terra dos teus amores

Águeda velha raminho
De cheiroso roseiral
Águeda nova beijinho
Das Terras de Portugal

Refrão: .....
 
Terra Santa, o sol doirado
Fez poisar em nosso lar
Trigo loiro no beirado
Cálix de oiro no altar

Marinhante que vais à vela
Das partes da beira-mar
Arriba à nossa courela
Que o chão é bom de amanhar
 
Águeda velha do rio
Bota as redes pescadores
Águeda velha com brio
Por amor dos teus amores
 
Refrão.............................

Vindimeiros, cavadores
Erguei as mãos para o céu
É um alfobre de amores
A terra que Deus nos deu

Águeda velha na ponte
Águeda nova na praça
Águeda-a-Linda de fronte
Do olhar de quem por cá passa.

Refrão repetido....................

(Tal e qual como está)

sábado, 8 de setembro de 2012

Praise the Lord

Porquê esta vídeo? E esta música?
Porque a encontrei e gostei. É fantástico, um numeroso grupo de pessoas apresentar-se desta forma. Perfeitos. Não há mais comentários a fazer. Para quem gosta, ouça e delicie-se!

Onde a serra começa

CADAVEIRA: Terra longe do mundo (Parte II)

(Continuação)
 
A segunda parte do que está antes deste, foi assim:
 
CADAVEIRA
NÃO PODE TER AMANHÃ (Em 1971)
 
Capela de Santo Amaro na Cadaveira.
Hoje só há ruínas e escombros ou nem isso
Todos sabemos que os homens de amanhã são as crianças de hoje. Cadaveira não pode ter amanhã. Uma única criança que lá existe [hoje com mais de cinquenta anos] não pode perpetuar ali a vida dos séculos. A vida vai-se escoando, como por misteriosa ampulheta do tempo. É filho da Sr.ª Gilda Fernandes. Tem dez anos. Vai à escola do Salgueiro. Conversámos com ele: Demoro pouco menos de uma hora. A minha mãe, de inverno, vai comigo até às casas da Gândara, porque saio de noite. Disseram-me que havia lobos. E tenho medo.Vocês não têm? Quero estudar, ser engenheiro electrotécnico...
A escola do Salgueiro. Estivemos lá. Não falta o asseio e a limpeza, um recreio largo, amplo e saudável. Uma única nota discordante pregada na parede, até para os menos atentos: não figuram lá os actuais governantes do país. Porquê? Perguntamos nós. A professora Emília Lopes Teixeira, que tem dado o seu melhor esforço para a cultura das crianças dos lugares em volta, oficiou duas vezes para a Câmara, mas em vão. Uma anomalia que, infelizmente, não é única.
A única criança da Cadaveira quer estudar, mas os problemas surgem: não temos meio de transporte. Não há camioneta da carreira no Moutedo. Só em A-dos-Ferreiros, mas vai para Águeda muito cedo e chega muito tarde. Agora, que miséria, a que miséria chegámos. nem podemos atravessar o rio Marnel, pois o pontão estreito, onde não passavam carros, só a pé, caiu. E não haverá quem se disponha a substituí-lo?
 
ISOLADOS DO MUNDO
 
Dos campos, chega-nos o Sr. Américo Fernandes, que ajuda a conversa: Quando o vento nordeste não bate os terrenos, a batata é boa. As vinhas dão-se bem, mas não há quem as cave. Isto de puxar à enxada não dá dinheiro. E de relance sobre os problemas: A fonte é um chafurdo, sobretudo no inverno. É miserável. De verão, a água, chapéu. Temos um caminho de cabras, caminho de pé posto. Para passar é um castigo. Se houver uma pessoa que parta a espinha, tem de morrer sem médico. A minha tia que partiu uma perna, teve de ir de carro de bois até ao Moutedo.
E rebentam mais lamentos do outro lado: Vivemos isolados do mundo. Apetece fugir daqui para fora. Se não fossem os terrenos a prenderem-nos... Por minha vontade, ia já hoje - concluiu a mulher.
Um velhote se chega - Este é o lugar mais antigo de toda a freguesia. Conheci isto só com três moradores. Hoje tem onze.
Cadaveira, que, pelo nome, sugere um lugar antiquíssimo, cemitério de povos remotos ou coisa do género, hoje [em Abril de 1971] tem onze moradores, que não são o bastante para eternizar esta terra. Cadaveira não tem um acesso fácil e tem sede de verão, porque não tem uma fonte e tem de ir, de tarecos e cântaros à ilharga, buscar a água às poças das corgas. Cadaveira quer resistir ao tempo. Mas, se melhores dias não chegarem para esta gente, os pinheiros hão-de gemer, um dia, não muito longínquo, à partida do último camponês.
 
*****
 
Este é um fiel retrato escrito do que era a Cadaveira há pouco mais de quarenta anos. Que fez história numa reportagem publicada no semanário Soberania do Povo de 17 de Abril de 1971. Os intervenientes nesta reportagem, onde estão?
Pouco tempo depois, foi fustigada, quase eliminada do mapa da freguesia, pela catástrofe do incêndio de Agosto de 1972. Foram horas de pavor, cujas chamas lamberam literalmente a capela de Santo Amaro, ceifando também a vida de uma idosa, cujo nome já não recordo.
Do jornal paroquial Valongo do Vouga, de Abril de 1974, retiramos a imagem que ilustra este facto. A capela ainda inteira. Ainda se realizaram tentativas para a fazer renascer das cinzas, mas nunca passou disso, apesar de algumas promessas por entidades que poderiam ter ajudado. Dedicada a Santo Amaro, como na página anterior citamos, tinha uma festa que se realizava a 15 de Janeiro de cada ano.
 
 

Onde a serra começa

CADAVEIRA: Terra longe do mundo (Parte I)

Sobre este assunto, há que relembrar um pouco que nos idos anos de 1971 participamos em reportagens do jornal Soberania do Povo, no qual exercia as funções de chefe de redacção um particular amigo, Armor Pires Mota. Durante uma série de semanas, calcorreávamos as serras e os caminhos de pedra e lama, que davam a locais onde sobreviviam pessoas, cujos acessos e distâncias nos pareciam enormes, e o seu conhecimento era quase nulo, porque ninguém visitava as gentes que por ali habitava. Não haviam meios, entre eles, estradas, água, electricidade, quando hoje as primeiras  até têm rotundas e mais rotundas.
Fazia parte deste lote de lugarejos - era mesmo assim que se apelidavam, não pela originalidade, mas em termos pejorativos - porque longe de tudo e de todos e de todas as coisas mínimas que outros aglomerados mais populosos já tinham.
Recordados esses tempos, em que através do jornalismo se fazia sacudir as consciências e se reivindicava dos poderes instituídos o que era básico para a população. Vamos dividir esta transcrição de uma reportagem, publicada naquele semanário em 17 de Abril do ano referido. Outra parte será postada separadamente para não aborrecer... e começava assim:
 
*****
 
Imagem de Santo Amaro do blogue
Camacha.wordpress.com
Atacado um caminho nem sempre muito favorável, cheio de barrancos e, por vezes, de raízes gordas, que o solo é bastante forte, a avaliar pelo verde esmagador e absoluto dos pinheiros novos e dos eucaliptos, atingimos, alcandorada num pequeno monte, a Cadaveira, que nos recebeu com uns vagos perfumes de mimosas secas, entre o ladrido atrevidote de dois cães, que nos farejaram os calcanhares, sem, todavia, ousarem qualquer proeza.
 
Milagres velhos
 
A capela de Santo Amaro (1) denuncia a pobreza do povoado. O chão é atapetado de junco.«Antigamente era uma grande festa. Agora há outras viagens mais longe e a sítios mais bonitos. O povo já não se lança a terras como esta. O Santo Amaro tinha muitos milagres e promessas. Acorria aqui muita gente, todos os anos. Hoje, menos. Não temos estrada....» - diz-nos a Sr.ª Gilda Fernandes. E dentro do pequeno templo «antigo como os mouros»: «Estes são os milagres velhos de Santo Amaro» - e mostrava-nos na mão algumas figuras de cera de pernas e braços humanos, bem como bois e cavalos e porcos, enegrecidos pelo tempo. Continuou a Sr.ª Gilda:
«Não temos uma fonte pública. A gente vai a uma poça, é mesmo uma poça, onde se mete o cântaro.» Quisemos ver. Fica um pouco abaixo da povoação.
«A Câmara prometeu-nos a fonte. Isto não é nada. Entram sapos, rãs, entra tudo. A água é boa, mas está aqui, não está lá em cima. No inverno dá. No verão, não. Os que não têm poços e só eu é que tenho, vão-se às poças das corgas, onde as há. A água nasce da rocha, onde foi cavado um pequeno tanque. O Sr. Engº Bastos Xavier também prometeu ajudar.»
 
(Continua)

(1) - Da capela, apenas existe o local. Foi destruída por um violento incêndio, que aqui já foi reportado, e devastou a freguesia - e outras - em Agosto de 1972.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LV

Palacete da Quinta de Vilar de Besteiros, cremos que
recuperado pela Câmara Municipal de Tondela
O anterior capítulo desta história, ficou, há dias, numa curta descrição de uma mãe que se via privada, abandonada, do horrível martírio de não ver, ao menos, uma das suas filhas.
D. Maria Carolina, a viúva do morgado de Sobreiro-Chão, já tinha vivido relações de íntima amizade com os senhores de Aguieira, no tempo em que residiu no Sobreiro, onde ambas as famílias se encontravam com facilidade e promoviam um convívio agradável, indo a família de Aguieira ao Sobreiro e a do Sobreiro a Aguieira passar uma tarde ou uma noite, deslocando-se nos seus pesados carroções puxados pelos bovinos.
É claro que D. Maria Carolina pensou várias vezes dirigir-se directamente à sua amiga e prima, D. Ana Teles, a pedir-lhe auxílio para poder satisfazer a sua ansiedade e ardente desejo de que pudesse ver restituída a Casimirinha à sua companhia.
Uma frase do Dr. José Joaquim Silva Pinho: «Sabe-se o que é o coração de uma boa mãe.»
D. Maria Carolina tinha a noção de que do outro lado do Caramulo estava a sua saudosa filha e não se conformava com a ideia de nunca mais a poder ver ou ter junto de si.
Através do ruído que os processos dos tribunais tinham provocado, nada tinha conseguido. Tinha gasto rios de dinheiro, tinha passado e sofrido desgostos e dessarranjos pessoais e familiares e não tinha conseguido poder ter as suas filhas, que o destino fatal de um testamento lhe arrebatara, pelo que imaginou tentar os meios mais brandos e assim talvez se tornassem mais eficazes.
Sonhou mil e uma maneiras e outros expedientes e resolveu aceitar um que lhe pareceu de mais fácil resolução. D. Maria Carolina era parente e amiga da família da Quinta da Cruz, em Besteiros, nas faldas da serra do Caramulo e havia uma senhora dessa família que era madrinha de baptismo do seu genro e tutor da Casimira, Dr. Joaquim Álvaro, de Aguieira.
Um dia, a desesperada mãe, ou aconselhada por seus irmãos, ou só pelo seu desespero, montou a cavalo acompanhada de um pagem e foi à Quinta da Cruz conversar sobre as suas freimas com a prima Piedade, dizia a narrativa do Dr. Silva Pinho.
 
(Continua)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Folclore Local - 2

As recolhas em 1989

1989 - Na eira de José Henriques da Silva-Carvalhosa
Continuo a passar os olhos pelos manuscritos que guardo, com apontamentos que agora não sou capaz de decifrar bem, pois tratam-se de pequenas frase que, naquele tempo, serviam para rememorar alguns factos, juntamente com os outros elementos da equipa, alguns deles que já não estão entre nós.
Ressalvando estes pequenos pormenores, agora importantes, vamos ver o que se consegue decifrar.
Numa das folhas tenho um título que abaixo descrevo, com uma quadra apenas. Pelos apontamentos que estão a seguir, trata-se, talvez, do princípio do conteúdo de uma «moda de roda, uns atrás dos outros, com gestos de quem está a dobar fio de lã». Esta frase e outras que por aí vão surgir, são agora completadas para formar algum sentido para se compreender.
Tenho ainda escritas as palavras «Paredes e Cedrim», o que quer dizer que a cantiga seria oriunda destas localidades que não estão muito longe uma da outra.
A cantiga, que não se deve ficar só por esta quadra, tinha, pelo menos, para a iniciar, esta composição, que tem mesmo um cheirinho muito popular, muito do povo.
 
Vamos lá dobar meadinhas de ouro
 
Vamos lá dobar
Meadinhas de ouro
Caiu-me o novelo
Ficou-me o pé d'ouro
 
Verifica-se que a própria rima parece ou pouco forçada, deslocada, quase se diria sem sentido. Mas o povo procurava, melhor ou pior, que a rima lá estivesse. Também agora, pela escrita, não sei se será «pé d'ouro» ou «pó d'ouro». Penso que a primeira hipótese faz mais sentido.
Há uma descrição de uma dança, de que nos ocuparemos no próximo post, pois parece-me que a mesma se refere a uma moda de roda, conhecida pela «Carvalha da Barroca», que trouxémos da Silveira e que ainda hoje o grupo da Casa do Povo a tem adoptado, se não me engano.
 

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