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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Souza Baptista - 8

O início das obras na igreja

É conhecido que as obras da igreja paroquial, em 1945, tiveram a comparticipação total de Souza Baptista e a confirmação fomos encontrá-la nesta notícia que aqui reproduzimos. E por ela ficamos a saber que começaram no dia 24 de Maio daquele ano.
Pela curiosidade contida, acrescentamos mais uma digitalização de um agradecimento de um casal do Sobreiro, porque várias pessoas conseguiram reunificar um rebanho de sua propriedade, que lho tinham roubado ou disperso com essa intenção. Leia essa notícia, que vai perceber o que se passou.
Estas notícias fomos rebuscá-las ao semanário «Soberania do Povo» de 26 de Maio de 1945, através da Biblioteca Municipal Manuel Alegre, de Águeda, como se percebe.


A reprodução da notícia completa:
«Custeadas pelo conhecido benemérito desta freguesia, sr. Joaquim Soares de Souza Baptista, começaram no dia 24 do corrente as obras de reparação da nossa igreja.
Desde já muito felicitamos o nosso benemérito, desejando simplesmente que Deus o cumule das suas bênçãos e que os valonguinos lhe sejam reconhecidos.»
- «Continuam os assaltos a poleiros e currais de gado lanígero da região da Trofa e Valongo do Vouga.»


ROUBO DE OVELHAS:


A reprodução desta notícia:

Sobreiro de Valongo
AGRADECIMENTO

Muito penhorados, vimos, por este meio, agradecer a todas as pessoas que tiveram a bondade de recolher as nossas ovelhas, que os gatunos nos roubaram na madrugada do dia 20 e abandonaram pelas estradas; e em especial aos srs. Ernesto do Paço, António Manata, da Mourisca, Fernando Padeiro, também da Mourisca, e à srª Anunciação Chapeleira, de Arrancada.
A todos a nossa gratidão.
Sobreiro, 24.5.1945.
Joaquim Ferreira de Castro Veríssimo - Isaura da Silva Bastos.

*****

Assim se conhece e regista um acontecimento invulgar na freguesia, concretamente no lugar do Sobreiro, conforme publicado no semanário Soberania do Povo de 26 de Maio de 1945, como antes fica citado.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LXVII
 
Rainha D. Maria II, in Wikipédia.
Nome completo: Maria da Glória Joana Carlota
Leopoldina da Cruz Francisca Xavier de
Paula Isidora Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga
Os Cabrais tinham sido vencidos e começava uma época de regeneração política. O duque de Saldanha que ia já em retirada para a Galiza, praticamente desbaratado, recobrou forças e colocou-se à frente do movimento revolucionário que acabaria por triunfar.
Constituído o novo governo, pacificada a nação, lança-se um programa de tolerância política, de fomento económico, que devia levantar o país do atrazo e da prostração em que tinha até aí vivido.
A esse governo presidia o duque de Saldanha e faziam parte do ministério Rodrigo da Fonseca Magalhães e Fontes Pereira de Melo, este ministro pela primeira vez. Foi em 1851.
O governo mostrava-se seriamente empenhado no progresso e no adiantamento moral e material do país, resolvendo que a rainha visitasse as províncias do norte.
E meados de 1852, D. Maria II partia para o Porto. Os habitantes das terras que ela percorria aclamavam-na entusiasticamente. Cidades e vilas estiveram em festa à chegada da Boa Mãe, como a história lhe chama. No Porto os festejos foram brilhantíssimos.
Não havia ainda estradas boas nem caminhos de ferro, mas a cidade encheu-se de gente estranha que foi assistir à recepção feita à imperante pela briosa população das margens do Douro.
Ora, desta visita da rainha, invertem-se as previsões de Joaquim Álvaro na demanda com os Bandeira da Gama, por causa das órfãs. Nem ele poderia ter admitido tal plano urdido pelos seus adversários.
Joaquim Álvaro mantinha certo o seu triunfo, porque tinha por si a lei e o testamento de seu sogro, as autoridades locais eram-lhe favoráveis, pelo que as preocupações quase que tinham desaparecido.
Desta feita, os Bandeiras foram mais hábeis do que os Teles, formando um plano inteligente e simples que procuraram executar. Estavam saciados da justiça e dos tribunais, nos quais gastaram rios de dinheiro, aborrecidos e transtornados por tantas dilações e canseiras, pelo que nada queriam com os juízes que nunca lhes davam razão e lhes ganhavam nos emolumentos.
O novo plano de Torredeita foi organizado como no próximo capítulo se irá descrever.
 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LXVI

D. Maria II, em gravura da Wikipédia.
Coroada em 11 de Julho de 1828, teve um
reinado desde 26 de Maio de 1834 a 15 de
Novembro de 1853.
A narrativa desta história tem um interlúdio centrado na passagem da rainha por Vouga, para depois entrar numa descrição histórica, relacionada com a política que o país vivia, e que se descreve no próximo post.
A passagem da rainha foi pela estrada real de Vouga, na ponte que ruiu há pouco tempo, em direcção ao Porto.
Estas festas reais foram invocadas para desculpabilizar a família de Torredeita e de Aguieira. Aguieira falou nelas. Torredeita também falou. Mas interrogava-se: Qual das partes foi mais hábil e mais feliz?
Joaquim Álvaro sentia-se seguro e certo que tinha o êxito das suas intenções assegurado, de que se falava muito. Dizia-se que ele desejava casar com a sua cunhada Casimira, logo que esta atingisse a idade legal de contrair matrimónio, por corresponder ao pensamento intimo  de seu falecido primo, o fidalgo do Sobreiro.
Este, Joaquim Mascarenhas, se tinha ordenado a aliança do primo com sua filha mais velha, certissimamente havia de querer que se realizasse o casamento de sua filha mais nova, morta a primogénita, e malograda a união que tanto recomendara no seu testamento.
Com este tipo de boas reflexões, Joaquim Álvaro, logicamente, parece que se podia defender bem das acusações que lhe iam ser feitas. Tendo o sobrinho Dr. Guilherme Teles à frente da administração do concelho de Vouga, pensava considerar-se intangível na sua segurança individual e na defesa dos seus direitos de tutor.
Por isso sossegou e limitava-se a entreter, por intermédio da irmã, a expectativa de uma conciliação, em que ele mesmo não acreditava. Ele bem sabia que por trás de D. Maria Carolina, a mãe das órfãs, estavam seus irmãos, que a aconselhavam e dirigiam, mas nunca supôs que um golpe audacioso viesse perturbá-lo no seu descanso e no trato dos negócios da sua casa.
Tinha terminado o período sangrento da luta civil. A paz reinava, enfim, em Portugal.
A partir daqui inicia-se a descrição histórica das lutas e da situação política referida no início.

sábado, 22 de junho de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LXIV
 
A correspondência referida no post anterior, que foi transcrita pelo Dr. José Joaquim da Silva Pinho, constitui um total de 13 cartas, todas elas de Torredeita e, na sua maior parte, escritas por D. Maria Carolina Bandeira da Gama.
Uma vez que esta página cita situações de fidalguia,
fica esta imagem do brazão existente na parede do edifício
da Quinta de Aguieira, à entrada para os jardins do lado sul.
A última não tem data, mas a penúltima é datada de 18 de Maio de 1852. Relacionada com a data da carta que transcrevemos, foram vários meses de troca de correspondência, sem resultado.
De um lado, D. Maria Casimira propunha à sua prima de Aguieira, D. Ana Teles, a compostura das duas famílias mediante um acordo previamente negociado. De Aguieira as respostas eram vagas, com nítida intenção de protelar a situação.
Falecida D. Maria Mascarenhas, estava ainda em Aguieira a Casimirinha, que passaria mal de saúde. Isto mais afligiu sua mãe Maria Carolina. Dizia assim o Dr. Pinho:
 
«Os Bandeira compreenderam bem o plano de Aguieira e, mantendo-se na linha das súplicas e condescendências, cuidaram empregar outros meios.
Joaquim Álvaro tinha cometido uma grave falta.
Não tendo aparecido uma absoluta recusa à ida para um recolhimento da mãe e da filha, entrara em negociações para ser indemnizado das grandes despesas que tinha feito na emigração e nos conflitos das duas famílias.
Ele não devia nunca falar na questão de dinheiro.»
 
Se, por um lado, era verdade que essas despesas consideráveis existiram, esgotando o pecúlio valioso de D. Casimira de Rebordinho, seria um pormenor para ser tratado mais tarde, como mandava a boa regra da fidalguia.
Torredeita não tinha forma de recusar a Aguieira uma justa e elevada indemnização, se fosse restituída a Menina aos cuidados da mãe.
D. Maria Carolina representou admiravelmente o seu simpático papel, escrevia o Dr. Pinho. Ela pediu, suplicou, humilhou-se mesmo.
 
(Continua)

sábado, 15 de junho de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LXIII

Ainda não refeito da sua dor, o recém viúvo Joaquim Álvaro, tratava de preparar a defesa dos seus direitos de tutor da irmã da falecida, Casimira. E queria encontrar em Aguieira e nos arredores alguns apoios que lhe pudessem valer em qualquer circunstância imprevista. Para isso tratou da nomeação do seu sobrinho, Dr. Guilherme Teles, formado em medicina, para administrador do concelho de Vouga.
Em Novembro e Dezembro de 1851, os Bandeiras não fizeram nenhuma queixa nem qualquer reclamação, relacionada com a herança da falecida. Podiam requerer o inventário judicial dos bens de D. Maria Mascarenhas, afim de ser entregue à mãe a parte que lhe pertencia, mas nenhuma acção fora apresentada em juízo.
A luta destas famílias tinha sido acesa e incessante durante tantos anos e a fadiga dava lugar à quietude das posições que antes guerreiramente tinham sido desenvolvidas por ambas as partes, «porfia que talvez se houvesse evitado se não se estadeassem tamanhos aparatos de força, de influência e valentias, porque tanto na ordem física como na ordem moral à intensidade da acção corresponda à violência da reacção.», escrevia o Dr. Silva Pinho.
«Os de Torredeita estavam, certamente, fatigados de tantos conflitos, e desejavam um acordo que não ficasse mal ao seu brio. A visita de D. Maria Carolina à Quinta da Cruz não ficou improfícua. Em Aguieira, em Fevereiro de 1852, três meses depois da morte de D. Maria Mascarenhas, recebeu-se esta carta:
 
Ilmº e Exmº Sr.
Joaquim Álvaro Teles Pacheco:
 
Meu prezadíssimo sr. e afilhado da minha veneração e respeito. Por me parecer muito acertado haja uma conciliação entre V. Ex.ª e a Exmª sr.ª D. Carolina, me animo a pedir-lhe haja de anuir à dita resposta que a dita senhora remete, o que eu deveras estimarei por me interessar seriamente no bem sossego de todas V. Exªs. Desejo que V. Ex.ª goze de uma feliz saúde, com suas Exmªs. manas e mano a quem atenciosamente me recomendo, e V. Exªs. aceitem de minha sobrinha respeitosos recados.
 
Sou de V. Ex.ª
Madrinha vener.ª e obrg.ª
 
Quinta da Cruz, 9 de Fevereiro de 1852
Maria da Piedade de Azevedo e Costa»
 
Nota: Seguem-se, no livro, transcrições de várias cartas, da autoria desta Maria da Piedade e depois de D. Maria Carolina Bandeira da Gama, mãe das Meninas Mascarenhas. Não as vamos reproduzir por se considerar desnecessário. Foi transcrita esta apenas para mostrar o trato e linguagem que eram utilizadas na época, a forma como se tratavam por escrito e, talvez até no relacionamento pessoal. Curiosos os termos utilizados, destacando-se a elegância e eloquência que colocavam nesses relacionamentos escritos.

terça-feira, 28 de maio de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO LXI

Alguns locais pitorescos de Macinhata do Vouga
O funeral da desditosa menina Mascarenhas, fecha, quanto a nós, um doloroso e prolongado capítulo de peripécias, aventuras e desventuras, mas cumprindo-se o testamento do morgado de Sobreiro-Chão, que consistia em casar a filha mais velha com Joaquim Álvaro, abastado senhor de Aguieira, com o solar e quinta do mesmo nome. Mas a narrativa continua...
Quem acompanhou os folhetins que aqui temos postado, reparou, com toda a certeza, que o seu autor, o advogado José Joaquim da Silva Pinho, do lugar de Jafafe, freguesia de Macinhata do Vouga, foi um grande, fiel e dedicado amigo de Joaquim Álvaro, que o acompanhou em todos os lances aflitivos de um drama pungente.
Podemos até acrescentar, que não terá existido exemplo de maior amizade e dedicação muito conhecidos, principalmente naquela época, em cujos acontecimentos o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, muitas vezes, colocou a sua própria vida em risco.
Ele mesmo escreveu que se tinha 'apaixonado' pela pessoa de Joaquim Álvaro e sentia prazer em mostrar-se paladino da sua causa. Eram dois amigos íntimos, dois companheiros constantes, quase irmãos. Mas tudo isto se dissolveu, naquele tempo como hoje, por causa da política. E o Dr. Pinho explica.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

As Meninas Mascarenhas

O Livro - LX
 
Ao fundo o solar da família Mascarenhas.
Em primeiro plano, à esquerda, a pequena
capela referida no texto.
D . Maria Mascarenhas, como era tratada e conhecida uma das Meninas Mascarenhas, acabava de falecer, como foi referido na página anterior sobre esta história.
Imagine-se o ambiente vivido pelos familiares que habitavam a casa do Cimo da Rua, principalmente da Casimirinha, a irmã e companheira da desditosa Maria Mascarenhas, que soltava gritos que se desfaziam em soluços e prantos de amargura.
Dizia o dr. Pinho que o funeral, para o qual foi encarregado de o organizar e dirigir, foi majestoso. «Quando o féretro, envolvido em seda e flores, saía do solar de Aguieira, a multidão gritava clamores e tinha nos olhos lágrimas que vinham do coração.», escreveu o dr. Pinho.
Isto aconteceu em princípio de Novembro de 1851, apenas tinham caído algumas chuvas e o solo estava a começar a ficar atapetado das folhas secas que desciam das árvores tocadas pelos ventos do Outono. Ainda não tinha nevado.
É feita uma descrição trágico-poética do tempo que fazia no dia do funeral, salientando-se até que «os sinos cantavam ao longe uma sonata terrível, fazendo ruídos de desolação e morte.»
O delicado corpo foi conduzido até à capela de Nossa Senhora das Necessidades, no Sobreiro, onde foi sepultado, envolto em rosas e jasmins, «junto ao vetusto palácio em que viveram numerosas gerações de homens e senhoras da boa raça dos Mascarenhas.»
Como é conhecido, aquele é um templo quase humilde, ficando ornado com a sepultura sagrada da mais velha das duas Meninas, tão bem nascida e criada, tão mal fadada da vida e do destino, escrevia o dr. Pinho.
Quem ali for, em romaria piedosa, pode ler sobre a campa de pedra branca a seguinte inscrição:
 
Pormenor mais próximo da capela de
Nossa Senhora das Necessidades.

AQUI JAZ
D. Maria Mascarenhas Bandeira Teles Mancelos Pacheco, que nasceu a 31 de Agosto de 1838 e faleceu a 7 de Novembro de 1851.

Anjo que a Deus pertencia
Pouco a terra habitou.
Nos céus tinha a pátria sua.
Para os céus alfim voou.
 
À sua memória consagra este padrão de eterna saudade seu marido bacharel Joaquim Álvaro Teles de Figueiredo Pacheco.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LVIII



Foi no interior deste edifício que se viveram as lancinantes e 
dramáticas cenas dos últimos momentos de vida de uma das
Meninas Mascarenhas. Fotografia já aqui postada
várias vezes.
Após a última postagem em Outubro de 2012, parece oportuno, para não dizer que se deve demonstrar um pouco mais de respeito para com os leitores, deixando mais alguma coisa a partir do momento em que a última página sobre este assunto ficou numa situação dolorosa pela perda eminente de D. Maria Mascarenhas. O dr. José Joaquim da Silva Pinho tinha sugerido que, perante o desenlace que se adivinhava, era prudente que a moribunda deixasse um testamento, ao que se opunha o dr. Joaquim Álvaro (futuro Visconde de Aguieira).
E deixamos a situação na frase com que terminou a acesa troca de impressões entre este e o dr. Pinho, quando lhe disse que não podia obedecer e que procederia como entendesse ser mais justo.
No ambiente de dor que se vivia naquele momento, Joaquim Álvaro já pouca atenção, nem ouvia o dr. Pinho, continuando no seu pranto de choro e lastimando-se verdadeiramente acabrunhado e infeliz.
Após o ter deixado só, chegam, entretanto, suas irmãs para lhe fazerem companhia e o dr. Pinho lá foi cuidar da realização da sua ideia, porque, dizia, «a ideia foi minha e ninguém a inspirou. Resolvi chamar a Aguieira o padre José da Fonseca, que vivia na povoação do Beco, que veio imediatamente. O padre Fonseca era o tipo do bom sacerdote cristão, grave, virtuoso, austero e digno.»

domingo, 28 de outubro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LVII

Clique na imagem para aumentar. As gravuras possíveis das
Meninas Mascarenhas inseridas no livro publicado em
Abril de 1984, pelo jornal paroquial Valongo do Vouga,
do qual era director o padre António Ferreira Tavares.
Do lado esquerdo a protagonista desta história.
Do lado direito, a irmã, D. Casimira
O episódio anterior terminava com a descrição do previsto desenlace de D. Maria Mascarenhas. O narrador desta história preveniu Joaquim Álvaro que iria ficar viúvo. Este manifestava ainda algumas esperanças, mas quando lhe foi transmitido o diagnóstico fatal dos médicos, caiu-lhe nos braços em grande pranto e pronunciando monossílabos de desconsolação e amargura.
Confortado como foi possível, foi deixado só vertendo copioso pranto, não ouvindo ninguém.Quando foi achado mais calmo e menos desassossegado, trava-se este diálogo:
- É inacreditável que um homem que tantos transes sofreu na vida, lutando como os heróis, se amesquinhe e chore como uma mulher diante do túmulo entre-aberto de um anjo que não era deste mundo.
- É inacreditável, mas é verdade. Sofro imenso, meu amigo, e o meu desejo seria morrer também.
- Não se fale mais em tristezas irremediáveis. Chorou, afligiu-se e as suas lágrimas continuaram a sair-lhe dos olhos como um desafogo e como necessidade. Há tempo para tudo, para sofrer e para chorar. Depois, virão as saudades!
- As saudades começaram já e serão eternas, meu amigo.
- Mas eu tenho de ser calmo nesta hora difícil para o seu espírito, dr. Joaquim Álvaro, e preciso de reflectir por si.
- Reflectir por mim? O que quer dizer?
- Quero dizer que a srª D. Maria Mascarenhas, sua esposa, deve fazer o seu testamento...
- Pelo amor de Deus, cale-se dr. Pinho! É horrível isso, que me diz.
- Será, não duvido, mas há-de ser assim, se a enferma quiser, está claro...
- Mas não quero eu. Oponho-me terminantemente! Deixe morrer essa criança em paz, dr. Pinho.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LVI
 
As paredes deste solar são, agora, as únicas
testemunhas dos dolorosos factos aqui narrados
Depois da deslocação à Quinta da Cruz, de D. Maria Carolina, mãe das meninas Mascarenhas, entramos numa fase da narrativa bastante triste, dramática, sentimental e de momentos dolorosos. Por isso, em vez de resumir e restringir o seu conteúdo, penso que se deve fazer a transcrição, o mais próximo possível da realidade contida no livro. E este diz:
 
Mas, mal passado um ano de casamento, o céu de felicidade que envolvia o solar de Aguieira ia-se cobrindo de núvens. Uma vaga tristeza enchia os corações. D. Maria Mascarenhas, a noiva de Joaquim Álvaro, empalidecia e parecia adoecer.
Os seus olhos rasgados e límpidos tinham, às vezes, lágrimas, e na sua boca  inocente esboçava-se um sorriso de melancolia e resignação.
Joaquim Álvaro olhava para a esposa e sentia-se constrangido e aflito. Todas as pessoas da família se mostravam receosas, comunicando-se os seus pensamentos íntimos e dolorosos.
D. Maria foi sempre de débil compleição. A sua delicada figura denunciava facilmente a constituição anémica e linfática das criaturas condenadas a uma existência rápida na terra.
Ela mal se queixava, sofrendo as suas mágoas e a sua doença. Acudiram os médicos com os seus conselhos e os seus remédios, mas D. Maria piorava constantemente.
Joaquim Álvaro perdeu o ânimo e adivinhava uma desgraça, mas, os carinhos, os cuidados, as incessantes canseiras não abandonavam a doentinha.
Nunca houve princesa ou rainha mais ternamente tratada por tantos corações dedicados e aflitos. Mas D. Maria Mascarenhas ia morrer.
A tísica não perdoava e fazia mais uma vítima.
A morte caminhava depressa.
 
Para não alongar a leitura deste episódio, prometemos vir aqui com a transcrição da segunda parte, desde a visita do padre José da Fonseca, do Beco, a feitura de um testamento e, passadas algumas horas, após este escrito e legalizado com a presença do tabelião de Vouga, D. Maria Mascarenhas falece, destacando-se depois a descrição do funeral e da sua sepultura no lugar do Sobreiro.
 
(Continua)
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LV

Palacete da Quinta de Vilar de Besteiros, cremos que
recuperado pela Câmara Municipal de Tondela
O anterior capítulo desta história, ficou, há dias, numa curta descrição de uma mãe que se via privada, abandonada, do horrível martírio de não ver, ao menos, uma das suas filhas.
D. Maria Carolina, a viúva do morgado de Sobreiro-Chão, já tinha vivido relações de íntima amizade com os senhores de Aguieira, no tempo em que residiu no Sobreiro, onde ambas as famílias se encontravam com facilidade e promoviam um convívio agradável, indo a família de Aguieira ao Sobreiro e a do Sobreiro a Aguieira passar uma tarde ou uma noite, deslocando-se nos seus pesados carroções puxados pelos bovinos.
É claro que D. Maria Carolina pensou várias vezes dirigir-se directamente à sua amiga e prima, D. Ana Teles, a pedir-lhe auxílio para poder satisfazer a sua ansiedade e ardente desejo de que pudesse ver restituída a Casimirinha à sua companhia.
Uma frase do Dr. José Joaquim Silva Pinho: «Sabe-se o que é o coração de uma boa mãe.»
D. Maria Carolina tinha a noção de que do outro lado do Caramulo estava a sua saudosa filha e não se conformava com a ideia de nunca mais a poder ver ou ter junto de si.
Através do ruído que os processos dos tribunais tinham provocado, nada tinha conseguido. Tinha gasto rios de dinheiro, tinha passado e sofrido desgostos e dessarranjos pessoais e familiares e não tinha conseguido poder ter as suas filhas, que o destino fatal de um testamento lhe arrebatara, pelo que imaginou tentar os meios mais brandos e assim talvez se tornassem mais eficazes.
Sonhou mil e uma maneiras e outros expedientes e resolveu aceitar um que lhe pareceu de mais fácil resolução. D. Maria Carolina era parente e amiga da família da Quinta da Cruz, em Besteiros, nas faldas da serra do Caramulo e havia uma senhora dessa família que era madrinha de baptismo do seu genro e tutor da Casimira, Dr. Joaquim Álvaro, de Aguieira.
Um dia, a desesperada mãe, ou aconselhada por seus irmãos, ou só pelo seu desespero, montou a cavalo acompanhada de um pagem e foi à Quinta da Cruz conversar sobre as suas freimas com a prima Piedade, dizia a narrativa do Dr. Silva Pinho.
 
(Continua)

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sobreiro

Casa e capela

Deambulava pelas leituras de livros, neste caso do Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Aveiro - Zona Sul - 1959, e reparei numa pequena descrição do lugar do Sobreiro, desta freguesia, que talvez não tenha aqui sido descrita. Achei curioso e eis essa descrição:

A casa e a capela que o texto menciona

«Na pequena povoação, já na zona de xisto, destaca-se esta casa, com aspecto de abandono. Construção da primeira metade do século XVIII, ainda de vãos rectangulares, as janelas de avental e todas as cantarias de granito. O maciço do corpo principal dispõe-se perpendicularmente à rua, tendo um outro na extremidade oposta, pequeno, cortando para a esquerda.
A este lado anexa-se a capela da mais antiga época, dedicada a Nossa Senhora das Necessidades, do século XVII. Plano rectangular e aspecto das ermidas regionais, com emprego de grês nas cantarias.
A entrada, de dintel e cornija, está acompanhada de postigos e óculo singelo; pirâmides dominam os cunhais e uma sineirita graciosa sobrepõe-se ao ângulo da empena. A servir de degrau, uma campa de granito mostra ainda algumas letras.
Retábulozinho do terceiro quartel do século XVII, de madeira dourada; quatro colunas a enquadrarem três panos, sendo elas caneladas e com os terços envolvidos de enrolamentos de acanto. Pequeno remate, com baixo-relevo de Jesus, José, Maria.
As esculturas não têm interesse, à excepção da padroeira. Letreiro na sua base esclarece: NOSA SRA DAS NECESSIDADES 1627.
Obra de calcário coimbrão que, sem ser de grande nível, é muito graciosa e rara. A Virgem dá o seio ao menino e sustém-no de modo a apresentá-lo graciosamente aos fiéis.
Uma campa elucida acerca dos antigos proprietários; a de D. Maria Mascarenhas Bandeira Teles de Mancelos Pacheco (31-VIII-1838; 7-XI-1855), mandada colocar pelo viúvo Joaquim Álvaro Teles Figueiredo Pacheco. Uma quadra singela completa o epitáfio da pobre senhora, falecida novinha.
O povo consagra grande devoção à imagem, pendendo das paredes ex-votos de cera, em grande número.»




segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Evolução negativa?

A escola do Sobreiro


Há pouco mais de trinta anos que ali, para os lados do Sobreiro, se manifestavam intenções, reclamações e outras acções do género para poder ter uma escola primária (como se diz agora, EB1) a fim  de as crianças, como acontecia connosco nos tempos de escola, até para Águeda o fazia, não se deslocassem a pé até Arrancada.
Estes pequenos factos, já históricos, fazem-nos meditar na evolução que se operou em tão pouco tempo. Também me parece que outros, em épocas mais recuadas, tenham feito o mesmo raciocínio. Mas existem factores que parecem ser de evidenciar.
Um deles, relacionado com a demografia e a natalidade.
Por força desta situação, a escola fechou portas.
Quando a educação é uma premência e uma urgência, constatamos que se fecham escolas, argumentando-se que o sistema deve ser mudado para bem da educação e da evolução (?). É natural que seja verdade... o futuro o dirá.
Mas a história que temos em mãos é a da escola do Sobreiro, lugar ali empoleirado acima da capela de Santo António. Claro que há outras que, na freguesia, desapareceram. Caso do lugar do Salgueiro, pelos mesmos motivos.
Em nome da evolução, agora há transportes para todas as crianças. Há refeições quentes e adequadas que são servidas sem que estas saiam da escola. Quantas vezes eu sentia fome, queria comer e não tinha. Mas, claro está, que estas coisas não podiam continuar como eu as senti e vivi. E com estas minhas queixinhas o que é que eu resolvo ou acrescento para ajudar a evolução?
Realmente a nostalgia é uma doença dos diabos...
Mas ainda bem que as coisas mudaram. Muitas contestações, mas mudaram!
Há ainda outros pormenores nesta história da escola do Sobreiro. Clique na imagem e tente ler. Porque foi retirado do jornal «Valongo do Vouga» de Julho de 1979. Há tão pouco tempo!!!!!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O livro - III

Rio Vouga próximo do Carvoeiro

Contar aqui a história passada no século XIX na freguesia, que envolveu duas ilustres famílias da aristocracia de então, as famílias Bandeira da Gama e do Visconde de Aguieira, seria quase impossível suportar aqui a sua leitura.
Com devida vénia que estes casos merecem, vamos hoje apontar apenas um pormenor. As meninas Mascarenhas foram internadas em Aveiro no Convento de Sá. A família dessas meninas, pela influência que tinham nas autoridades, conseguiram vir até Aveiro convictos que pelas vias consideradas legais levariam as meninas na sua companhia para Vilar de Besteiros.
Mas da casa de Aguieira soube-se desta intenção e, no mesmo dia em que os Bandeira da Gama se deslocaram a Aveiro, da csa de Aguieira, ainda muito cedo, foram ao convento e conseguiram trazer as Meninas Mascarenhas, antes que os Bandeira chegassem.
Vieram pelos pinhais, em direcção a Eixo, com peripécias de perseguição pelo meio, refugiaram-se na vila de Eixo em casa de amigos.
Há até um episódio interessante, que parece merecer destaque. Chegados a Eixo, de noite, o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, que acompanhou sempre os lances mais importantes desta aventura, chamava por um amigo e este não respondia. Não queria expor-se em público à noite e toca de saltar um muro, para, pelas traseiras, ir até ao amigo. Só que, quando se agarrou ao muro, não sabia que este estava impregnado de vidros e deu cabo das mãos.
Mas conseguiu o contacto e lá andou ligado durante uns tempos.
Daqui foram até Requeixo e só nesta localidade é que se metem ao rio Águeda, quando a tropa já andava pela Ponte da Rata a fiscalizar quem passava e ver se chegava algum barco dos lados de Aveiro. O que é certo é que o barco, com as Meninas Mascarenhas a bordo, passou com aquela tropa toda a fiscalizar. Mas como o barco descia o rio Águeda, nada fazia supor que fossem os figitivos de Aveiro. E passaram à vontade até à confluência do rio Vouga.
Aqui, o barco ruma Vouga acima, até que chegam a Carvoeiro, ao sítio do Rodo, atracaram o barco à margem direita, junto ao Penedo, à espera e quando o sol surgisse no horizonte, partiriam.
Da estadia no Rodo, vamos dissertar um pouco sobre um facto que envolve aquele advogado, autor desta História, com um homem de Brunhido.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A história local

As Meninas Mascarenhas

O livro - II


A história que começamos a contar há já uns tempos atrás, sobre a família das meninas Mascarenhas, que residiram no lugar do Sobreiro, a qual foi transformada em livro escrito pelo Dr. José Joaquim da Silva Pinho, do lugar de Jafafe, amigo íntimo do Visconde de Aguieira e daqui passou para um livro por iniciativa editorial do Jornal «Valongo do Vouga» de que foi director o Rev. Padre António Ferreira Tavares.
Após o introito histórico, avançamos com um breve resumo. O morgado do Sobreiro, Joaquim de Mascarenhas Mancelos Pacheco, casado com Maria Carolina Bandeira da Gama, cuja família era oriunda de Vale de Besteiros, Tondela.
Este livro é um manancial histórico e apaixonante com emoções até à comoção que se viveu naquele tempo. Decorria oano de 1846. Como já afirmei aqui, impossível, por várias razões, entre elas as de volume do texto, transcrever essa história completa. E também por uma questão de respeito pelos autores.
Vamos, assim, dando esporádicos apontamentos, entre eles, este:

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«Joaquim Mascarenhas tinha índole diversa das inclinações da esposa, e dizia que os irmãos dela, se pudessem, pela natural influência do sangue e da criação, tentariam algum esforço para subjugarem o seu espírito de mulher, obrigando-a a sair para uma vida social mais agitada e moderna. Os irmãos de D. Maria Carolina eram rapazes briosos, estouvados, cheios de ardor e ímpetos, que marcavam um lugar escolhido e singular em toda a parte onde estavam.
O nome dos Bandeiras chegou aos nossos dias envolvida em um estranho ambiente de irrequieta audácia que o fazia simpático até no ânimo das pessoas que só o conheciam de ouvir contar proesas e façanhas de uma mocidade ardente e vitoriosa. Os Bandeiras são fidalgos de excelente raça. Vem muito detrás a nobreza da sua família. Bandeira, na heráldica portuguesa, quer dizer valor, desprendimento e heroísmo. Conhece-se a linda história do seu grande avô, o escudeiro Gonçalo Pires, esse esforçado paladino da honra e da pátria que obrou na batalha de Toro a acção prodigiosa de arrancar das mãos dos castelhanos a bandeira de Portugal que Duarte de Almeida, o seu intrépido alferes, defendera destemidamente em um turbilhão de lanças, sustentando o estandarte Real na mão direita, cortada por uma cutilada, e depois na esquerda, também cortada, e depois preso nos dentes, resistindo, resistindo sempre, até cair no campo da luta, quase morto. Os castelhanos levaram a bandeira portuguesa para o seu arraial como troféu de vitória, mas o bravo escudeiro arrebatou-a das mãos dos inimigos e regressou ao seio das legiões de Afonso V empunhando o lábaro glorioso da sua pátria. Foi um rasgo sublime o feito desse valoroso Gonçalo Pires que recebeu em pleno campo de batalha, pela voz do rei que a comandava, o direito de usar do sobrenome generoso de Bandeira. Gonçalo Pires da Bandeira é um dos melhores nomes da história militar portuguesa.»

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A seguir a este naco de história, pretendemos passar mais à frente, e resumir as peripécias das Meninas, filhas de Joaquim Mascarenhas, que fez com que o Visconde de Aguieira jurasse no leito de morte daquele, que seria o seu tutor e que casaria com a Maria Mascarenhas. Vamos tentar recomeçar por aqui, após a saída agitada do convento de Sá, em Aveiro, hoje quartel da GNR, onde as meninas foram recolhidas durante algum tempo, a fim de receberem uma educação conducentes ao seu tempo e condição social. Aquele local de Aveiro, era, naquele tempo, considerado arredores da então vila.
A tutoria das meninas foi a causa da maior disputa familiar jamais verificada na freguesia de Valongo do Vouga e arredores. E até, também, em Torredeita. Houve negociações entre as famílias, mas nenhuma delas condescendeu às respectivas propostas. Deste modo, como dizia o Dr. José Joaquim da Silva Pinho na narrativa que escreveu, «Era uma luta que se iniciava e que, depois, se desenvolveu em lances de perigo e assombro. Ambas as partes faziam preparativos de guerra. Ambas compreendiam a situação. O facto culminante era a posse das órfãs. Quem ficasse com elas venceria.»

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A história local

Casa e capela no Sobreiro onde moravam as Meninas Mascarenhas

As Meninas Mascarenhas
O livro - I
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Vista da Quinta d'Aguieira, onde já eram célebres os famosos vinhos no séc. XIX

Este livro foi editado pelo periódico paroquial «Valongo do Vouga», em Abril de 1984, de que era director o Pe. António Ferreira Tavares. Vislumbrando algumas linhas dessa história verídica da freguesia, foi seu autor o advogado Dr. José Joaquim da Silva Pinho, que residiu no lugar de Jafafe, da vizinha freguesia de Macinhata do Vouga.

Na página 325 deste livro, que tem por título «As Meninas Mascarenhas», consta esta última frase: «Jafafe, Março de 1882.» Significa que nesta data aquele causídico acabou de escrever tão interessante, quanto dramática e até um pouco trágica, história. Já lá vão 127 anos!

Não é só uma história mas o contacto para se perceber e conhecer a vida, os costumes, hábitos e, principalmente, os enredos palacianos de uma aristocracia própria do tempo.
As questões que colocaram desavindas duas famílias aristocratas, uma do Sobreiro e outra de Aguieira, tiveram como causa e protagonistas duas crianças, filhas de um Morgado que residia no primeiro lugar, e que este nomeia para tutor, após a sua morte, o seu primo, que viria a ser, mais tarde, o Visconde de Aguieira. Deixava explicitamente determinado no testamento que o próprio Visconde deveria até casar com uma delas, a Maria Mascarenhas.
Há divergências da parte da família materna que procura a todo o transe colocar as filhas sob sua custódia.
Esta história criou bastante curiosidade nas redondezas e até no país, tendo servido de inspiração para o escritor Camilo Castelo Branco, que sobre elas escreveu um romance a que deu o título de «As Meninas Roubadas». Joaquim Álvaro Teles de Figueiredo Pacheco, o nome completo do Visconde, assumiu a sua responsabilidade testamentária após a morte de seu primo e aí começaram os problemas. Vamos ver este naco de prosa do livro referido, na página 26:
«O tutor previa os acontecimentos e acautelava-se. O seu primeiro cuidado foi afastar as suas tuteladas dos sítios de Besteiros [residência dos familiares da mãe das Meninas] onde estavam mais sujeitas à acção violenta de seus tios. Depois, resolveria que destino teriam.
Uma madrugada próxima partia para Aguieira a acompanhar as duas Meninas, que entregou às senhoras da casa, suas irmãs.
Em Aguieira houve uma espécie de conselho familiar composto pelos irmãos e por alguns amigos de Joaquim Álvaro. Eu assisti também. Estava em Jafafe num pinhal miúdo, de espingarda ao ombro, à espera das perdizes. Um criado de Aguieira chegou. Dizia-me que fosse ao Cimo da Rua que havia por lá novidade. Montei a cavalo e fui.»

As Meninas chamavam-se Maria e Casimira de Mascarenhas Teles Mancelos Pacheco e seus pais eram o morgado Joaquim Mascarenhas de Mancelos Pacheco e Maria Carolina Bandeira da Gama, que, como se disse, residiam na maior parte do tempo no lugar do Sobreiro, embora tivessem outra opulenta casa, e onde também chegavam a residir, no lugar de Besteiros, concelho de Tondela.
A esta história voltaremos, pelas curiosidades e pelos enredos que sobre estas mesmas famílias se foram desenvolvendo. Procuraremos, na medida do possível, sintetizar e focar as passagens mais marcantes desta história.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Gente destas terras - VIII

Frei António Pereira
(Sobreiro - 1625 - 1695)


1657-01-06 — Professou no Convento de Azeitão – em 1657 e não em 1567, como algures saiu impresso – o insigne aveirense Frei António Pereira, filho de Gaspar dos Reis e de D. Antónia Pereira de Carvalho, senhora de uma família muito distinta. O ilustre dominicano, que foi mestre e pregador conceituado e exerceu diversos cargos importantes na sua Ordem, nas Ordens Militares e no Tribunal da Inquisição, recusou a dignidade episcopal em que pretenderam investi-lo (Rangel de Quadros, Aveirenses Notáveis, I, fls. 62-63; E. Pereira e G. Rodrigues, Portugal-Diccionario, V, pg. 579) – A. É neste site que se encontra esta anotação, que pode ver aqui.

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António Simões Estima, de «Ualle Longum a Valongo do Vouga» - subsídios monográficos, página 283, refere:

Frei António Pereira
Nasceu na Quinta do Sobreiro, cerca do ano de 1625, filho de Gaspar dos Reis Vidal e de Antónia Pereira de Carvalho, sobrinho do padre Agostinho de Sancto António, fundador da capela da N. S. das Necessidades e irmão do Dr. João Pereira de Carvalho. Foi um religioso da Ordem dos Pregadores.
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Pela redacção acima mencionada, não se sabe a data exacta de nascimento. Admite-se apenas o ano de 1625. Já a definição encontrada no site acima indicado, aponta elementos perfeitamente coincidentes com os da monografia de António Estima. Portanto parece não haver dúvida que se fala da mesma pessoa. Só que a primeira citação não apresenta qual a origem da sua naturalidade, além de o apelidar de «insígne aveirense».
Na realidade, António Estima menciona que veio a falecer por volta do ano de 1695 (novamente não há uma data precisa). «Da Biblioteca Lusitana, consta o seguinte acerca deste religioso: “natural da Villa de Aveiro, filho de Gaspar dos Reys, e Antónia Pereira de Carvalho, Religioso da Ordem dos Pregadores, cujo Instituto professou no Covento de Azeitão a 6 de Janeiro de 1657. Partio por Missionário para a Congregação da India Oriental”, …»

No lugar do Sobreiro há uma capela de invocação a Nossa Senhora das Necessidades, do século XVII. Poder-se-á concluir que se Frei António nasceu por volta de 1625, ainda dentro do primeiro quartel daquele século, e se a capela terá sido fundada pelo seu tio padre Agostinho de Sancto António, esta terá ficado concluída por volta daquele ano, como o atesta a data da imagem inserida na sua base – 1627. Ou seja, foi construída há mais de 380 anos e é próxima da data do provável nascimento de Frei António. Foi visita de romeiros que todos os anos vinham de Ilhavo até ao Sobreiro, a 8 de Setembro. Nossa Senhora das Necessidades, porque «pedidos de chuva feitos à Senhora do Sobreiro serão satisfeitos», menciona António Estima numa alusão descrita no jornal da paróquia «Valongo do Vouga».

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