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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 6

 O Jantar aristocrático e o concerto de piano

    
Após a conversa sobre enlaces genealógicos, com que termina o episódio anterior, seguiu-se o jantar todo aristocrático no Marnel (Monte Reguengo) que pela descrição que se segue nos dá uma amostra do estilo de vida que então era vivido. Então a conversa foi assim:
    Mem cumprindo contristado a indicação de Dulce, deu o braço à mulher do Fonseca de Macinhata. Mas ao chegar à mesa ficou mais pesaroso ainda ao ver Dulce sentada entre Pero e Joaquim Teixeira. O lugar dele era entre Matilde Pigeiros e uma das Meneses da Trofa, quási em frente de Dulce.
       Três ou quatro vezes notou Mem que Dulce mostrava a mão crispada ao irmão, sorrindo e voltando-se em seguida a conversar com o Teixeira.
      Tanto a prima Matilde como a Marianinha Meneses se esforçaram a provocar-lhe conversa todo o jantar, sem conseguir dele, mais do que as atenções restritamente exigidas pela correcta delicadeza. Vasco que estava do outro lado da mesa um pouco mais afastado, fez algumas vezes sinais a Mem para o animar. Tudo foi inútil.
        Na altura do começo da sobremesa João Fernandes ergueu-se de taça em punho e fez-se um silêncio relativo. O dono da casa agradeceu a todos a honra que lhe davam e em nome dos habitantes permanentes das duas margens do Vouga brindou pelos hóspedes, pelos recém chegados a Jafafe, a Segadães e ao Marnel.
       O visconde fez sinal a Lopo e este respondeu ao brinde, em nome dos «da capital», fazendo uma saúde a D, Maria Flâmula.
        Pero, a quem o pai distribuíra esse papel, brindou, generalizando a todas as senhoras presentes, em frases rendilhadas e pretensiosas, a saúde feita à mãe e, como respondia a Lopo Mendes, fácil lhe foi personalizar na filha a sua saudação.
       Também ao outro filho distribuíra João Fernandes uma incumbência nas saúdes e logo a seguir ao irmão, Mem levantou-se pálido, um pouco trémulo, mas com voz firme começou. A todas as senhoras brindara o mano, a todas em geral, sem especializar qualquer delas, que todas iguais respeitos e considerações mereciam. Só ele, frisou, sentia a necessidade e tinha o direito de especializar. Era um dever de gratidão que gostosamente cumpria. Se não podiam estranhar-lhe que entre todas extremasse sua mãe, também não tinham de levar-lhe a mal que, tendo encontrado outra mãe a fazer-lhe quási esquecer as saudades da que ali deixara, a irmaná-lo durante meses aos próprios filhos em desvelos e atenções, ele aproveitasse aquele ensejo para lhe beijar a mão, reconhecido pela hospitalidade recebida em Lisboa. A todos os parentes de lá tinha de agradecer o acolhimento benévolo: aos condes de Pigeiros e às filhas, ao primo Lopo e à prima Dulce, permitissem-lhe, porém, que personificasse o seu reconhecimento, sem esquecer a exagerada e imerecida amizade do primo visconde, resumindo em pouquíssimas palavras o seu brinde à prima viscondessa, no que por certo ao seu coração seria mais grato:
       - Primos Ramiro e Vasco, à saúde da vossa mãe - terminou ele, indo beijar a mão da viscondessa que o recebeu nos braços.
     O brinde comovera muitos dos convivas; mas, ao voltar ao seu lugar, Mem só viu Dulce, sentada enquanto todos de pé brindavam a viscondessa e caindo-lhe as lágrimas abundantes, que nem tentava esconder.
      O visconde ficara de taça na mão trémula, muito comovido, e esperava serenidade que lhe permitisse falar.
     - Perdão, prima  Dulce, Fui impensadamente cruel, esquecendo a sua dor - disse Mem nesse intervalo.
     Um olhar velado pelas pelas lágrimas agradeceu a Mem que insistia:
     - Perdoe-me avivar-lhe a saudade de sua mãe.
   - Desde que me compreende, nada tenho a perdoar-lhe, só a agradecer-lhe - respondeu Dulce, mais calma.
       Pero para distraí-la tentou uma frase.
   -Desculpe-me, primo, não lhe dar agora atenção - obviou ela e voltou-se para o visconde que começava agradecendo a Mem e fazendo-lhe rasgado elogio em frases repassadas de sentimento.
      José Pinheiro viu o ar sentimental e comovente que os brindes iam tomando e a seguir ao visconde propôs uma saúde alegre, cheia de espírito, com ditos picantes para todos os rapazes presentes, em nome dos quais ele, o Benjamim daquela irmandade, falava por incumbência do Joaquim Teixeira, o pai de todos, como o dedo grande daquela mão de estúrdios, que era uma molhada de mocidades, ardentes umas, já ardidas outras, e indicava o Teixeira e o Figueiredo. A mocidade tinha direitos e um deles era a adoração do belo. E o belo o que tinha de mais belo eram as belas. A elas era o seu brinde, a todas sem excepção. Era preciso quebrar aquela torrente de sentimentalismo, opor um dique risonho, alacre, jocoso. A beleza impunha-se e à beleza triunfante rendia o seu preito. Não queria, porém, excitar ciúmes, armar  intrigas, levantar rivalidades. E aqui começou mostrando as belezas do rosto, do donaire, da mocidade, com certeiras referências a cada uma das raparigas. Cada qual que especializasse a sua adorada erguendo disfarçadamente a taça, com um olhar, um gesto de entendimento. Ele não queria lisonjear nenhuma, envaidecer qualquer mais do que as outras. Há, porém, uma beleza que perdura e se estende pela vida fora sem se apagar: é a beleza moral da respeitabilidade, principalmente quando coroa a merecida fama de encantos admiráveis; por isso ele brindava às meninas, todas, augurando-lhes que fossem, passados muitos anos, espelho de virtudes e tradição de beldade como o exemplo que lhes apontava, com toda a consideração do seu elevado respeito. E terminou, imitando Mem no final do seu brinde:
     - Diogo de Meneses, à saúde da tua mãe. 
    A velha D. Teresa fôra nos seus tempos uma formosura falada léguas em redor, conservando ainda no porte o solene aprumo característico das belezas consagradas, da finura escultural e da distinção de raça. Agradeceu risonha o engenhoso remate de José Pinheiro, que conseguira alegrar todos e estabelecer a série de brindes especiais trocados de lugar para lugar, cruzando-se sem flores de retórica, mas com expansões risonhas e ruidosas.
    Assim terminou o jantar, espalhando-se os convidados pelas salas, onde se servia o café e os licores.
   A noite entreteve-se com conversas e danças até que Vasco, instado pelas primas, acedeu a cantar alguns fados à guitarra, impondo a condição de também cantar a Matilde e de tocar a Dulce.
   Os fados agradaram muito a toda a assistência que ouviu com igual prazer uma romanza graciosa cantada pela Matilde Pigeiros na sua vozita fresca e de timbre suave.
   Como a irmã a tinha acompanhado ao piano pediram-lhe para tocar, mas a recusa de Mécia foi invencível. Não passava de acompanhamentos e danças e, estando ali a Dulce, não se atreveria a fingir de pianista. A Jafafinha, sim, tocava muito bem. Demais tinha prometido.
     Logo que lhe foram lembrar o compromisso, Dulce, sem se fazer rogada, sentou-se ao piano, correu o teclado num dedilhar de experiência e executou uma composição de autor moderno desconhecida de quási todos os ouvintes.
    Fizera-se um silêncio de expectativa. Logo aos primeiros compassos, mais ou menos, conforme os temperamentos e o grau de compreensão artística, todos se entregaram às emoções daquela música empolgante e cada um reconheceu que estava ali uma artista, com o poder de transmitir o seu sentimento e deixando, até nos menos apreciadores, o efeito de uma magistral execução.
      Foi esse o remate brilhante da festa de que todos se despediram, para no dia seguinte se encontrarem no passeio em honra de Leonor Meneses.»

                                                                                                                                                     (Continua)



terça-feira, 27 de outubro de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 5

O jantar em cortejo



    O jantar veio impedir o jogo (da troca de prendas que no anterior post se comenta) e a condução solene das senhoras para a sala do refeitório foi iniciada por João Fernandes dando o braço à condessa de Pigeiros, seguindo logo atrás de D. Flâmula pelo braço do visconde. D. Pero conduzia a viscondessa, Lopo Mendes a velha D. Teresa, mãe das primas da Trofa e de Diogo de Meneses, e D. Mem ofereceu o braço a Dulce. 
- Leve a D. Francisca Fonseca, primo Mem.
  - E a prima?  
 - Eu não sou de cerimónias. Vou...
    - Quem me prefere? - quis saber Mem.

    -Vou sozinha - sorriu-lhe Dulce e o seu olhar velou-se com um dos véus de incerta doçura que por vezes o amorteciam e lhe davam uma expressão de indizível suavidade.
    Diogo de Meneses que ouvira a conversa aproximou-se:
    - Excelentíssima prima, a teimosia é na casa da Trofa apanágio de família. Duarte de Lemos, indo pela ponte de Coimbra, ao ver avançar do outro extremo o rei intruso Filipe de Castela, atirou-se ao rio para não ter de o cortejar. Conceda-me que a conduza à mesa, se não quer que me atire do eirado das donas abaixo.
    Dulce, desculpando-se num aceno de cabeça para Mem, respondeu:
    - Aceito, primo, na certeza de que não tem por mim a aversão de seu avô pelo usurpador.
    - Pelo contrário, toda a simpatia e respeito. Entre a Trofa e Jafafe são velhas as amizades e constantes as ligações. A avó de seu pai... a condessa...
    - Ambas eram condessas - interrompeu Dulce que percebera o motivo da hesitação. - Uma era a condessa de Prisbislau Sazawa...
  -Referia-me à condessa de Jafafe - explicou pressuroso Diogo de Meneses evitando manifestar qualquer alusão à bastardia de Lopo.
Diogo espantava-se que que a cigana lhe saísse condessa.
    - A avó D. Ana era da casa da Trofa, bem o sei - respondera Dulce.
    E a conversa seguiu sobre enlaces genealógicos.



segunda-feira, 19 de outubro de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 4

A Conferência Histórica do Marnel


    Enveredamos, nesta narrativa, por uma vereda da história local, que nos legou o Dr. Vaz Ferreira nesta interessante obra dos "Senhores do Marnel". Melhor que tudo atentemos na prosa que se segue:


    «Enquanto os convites se cruzavam (para a festa da receção à Leonor, como atrás é descrito) e se ultimavam as combinações para o dia seguinte, as meninas tinham-se agrupado no eirado da donas naquelas fúteis conversas que parecem o chilrear da pardalada ao alvorecer da manhã.
    Dulce encostada a uma das colunas do ângulo do terraço ouvia Mem referir-lhe as tradições históricas do Vouga e as lendas de feitos heróicos de Goesto Ansures. A propósito da ermida fronteira à varanda do quarto dele,  falou das batalhas do Marnel  e por fim Dulce respondeu-lhe:
    - É pena que só eu oiça coisas tão interessantes e que o primo sabe dizer tão bem.
    - Só à prima tenho o prazer em dizê-las - confessou Mem fitando-a, mas baixou os olhos embaraçado como arrependido da sua frase e por isso não viu Dulce corar ligeiramente.
    O silêncio desse mútuo enleio prolongava-se e ela rompeu-o:
    - Era um lindo tema para uma conferência... Pretexto para nos reunirmos todos.
    - Aborreceu-a ouvir-me?
    -Tanto que lhe estou pedindo para o ouvir outra vez.
    Mem levantou os olhos e viu-a, serena já, com um sorriso meigo e uma expressão suave no olhar brando e caricioso.
    - Se tem empenho nisso - condescendeu ele.
    - Empenho não. Mas lembrava essa diversão um pouco menos banal.
    - Estou às suas ordens.
    - Não me disse que um dos combates foi em Junho? Solenizemos o aniversário.
    - Tendo a sua colaboração, com todo o gosto.
    - Como poderei eu colaborar?
    - Tocando uma música guerreira no piano. Aquela tomada de Moscovo que já lhe ouvi, por exemplo.
    - O 1812 de Tchaikowski?
    - Com a marselhesa dispersa entre o estridor da marcha...
    - A que viria aí a marselhesa? Se fosse o Hino da Carta...
    - Ou o Rei chegou.



    Dulce sorriu alegre, os seus olhos fulgiram num súbito relâmpago quebrado por um véu de suave placidez.
    - Seja - disse ela. - Aceito a colaboração. Temos tempo ainda para me preparar.
    - Que conspirata é esta aqui no cantinho? - perguntou-lhes Vasco, aproximando-se.
    - Combinávamos uma festa - disse a Jafafinha.
    - A serenata?
    - Não. Uma conferência - pormenorizou Mem.
    - Da Leonor?
    - Não. Do primo Mem.
    - Tua!
    - Não me achas capaz?...
    - Inspirado pela Dulce és capaz de grandes feitos!
    - Ao contrário, foi ele que me inspirou - respondeu Dulce, a desviar a intenção da frase.
    - Ah! É uma conferência entre os dois.
    - Em que ambos colaboramos. Eu digo e a prima toca.
    - E eu ouço.
    - Ouvem todos - corrigiu Dulce.
    - Tu podes cantar - aventou Mem. 
    - Cantar o quê? Só se o tema for o fado.
    - Não é. Mas...
    - Eu não presto para mais nada.
    - Presta sim, primo. Mesmo no fado nos pode cantar uma das lendas do Vouga.
    - Isto é outra coisa. Agrada-me a ideia.
    E começaram combinando a forma de ligar a música à conferência, prometendo guardarem segredo para maior ser o efeito pela surpresa. 
    Foram os três, de uma das janelas do salão godo, ver o sítio da batalha, as passagens do Marnel e as pontes onde estava um dos exércitos e defronte as alturas de Pedaçães de onde o inimigo atacara. Mem explicou os detalhes e as circunstâncias que conhecia do combate. Dulce e Vasco ouviam-no atentos».

(Continua)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 3

    Após a chegada do telegrama da Leonor, dando conta do seu interesse em vir passar umas férias ao Marnel, são apresentados os nomes de algumas figuras da região, dando uma ideia do que representavam no meio Assim, respigam-se  daquelas amarelecidas páginas que nos legou Vaz Ferreira e vamos ver como foi:

    «Veio no dia do jantar do Monte Reguengo e a novidade da chegada de Leonor foi acolhida com alegria por todos. Os rapazes planearam  uma cavalgata a Aveiro para fazerem solene recepção à escritora cujos artigos e poesias eram lidos e apreciados em terras do Vouga. O visconde aplaudiu a manifestação. Outros dos presentes associaram-se a ela, como os dois Lemos de Alquerubim, o João Figueiredo do Brunhido, o Manuel Fonseca de Macinhata, o Diogo de Meneses da Trofa, o António Soares de Serém, o Manuel Vaz de Melo de Vila Verde, o José Pinheiro de Arrancada e até o Joaquim Teixeira de Pedaçães, solteirão já dos seus cinquenta janeiros, mas que arranchava sempre alegremente com a rapaziada. O doutor Veiga da Palhaça bem quereria acompanhá-los mas impossibilitava-o o ter de dar o seu giro médico.

    As senhoras desejaram também a sua parte na festa e ficou assente que iriam em trens esperar o cortejo à ponte de S. João de Loure para fazerem à prima as honras do Vouga.

    Até os quatro padres presentes: o cónego Melo, próximo vizinho do Monte Reguengo, o reitor de Valongo, o abade de Lamas e o pároco de Macinhata combinaram incorporar-se no cortejo. Ficou este último, a quem a tradição conservava o título de abade de Serém, encarregado de arranjar carro e ir buscar os outros. O que todos queriam era aproveitar pretextos para divertimentos.

- E na volta - disse João de Figueiredo - os rapazes vão até ao Brunhido comer uma bacalhoada e um caldo verde na minha quinta do Paço. É claro que a clerezia acompanha os rapazes. Em se tratando de comezaina os eclesiásticos acamaradam sempre. As senhoras não posso convidar porque...

- És como eu solteirão impenitente - interrompeu o Teixeira.

- Impenitente não - ripostou o Figueiredo. - Provisório, por enquanto.

- Quando é a boda? - perguntou logo o folgazão José Pinheiro

- E os primos de Lisboa - continuou o Figueiredo - vão conhecer a quinta histórica onde o conde D. Pedro escreveu talvez o seu Nobiliário.

- Foi daqui que ele partiu - interveio enfático Manuel Vaz de Melo, - com o meu parente D. Antão Vaz de Almada, para a fatal jornada de Aljubarrota.

- Cala-te aí, desgraçado - atalhou Francisco de Lemos. - Trocas sempre tudo. Metes os pés pelas mãos. Se o primo doutor te ouvisse...

Ouvi, ouvi - respondeu João Fernandes - O primo Manuel Vaz confunde D. Pedro, conde de Barcelos, filho natural do rei D. Dinis e de D. Grácia de Sacavém com o duque de Coimbra, também D. Pedro e filho de D. João 1.º. Esse é que morreu na Alfarrobeira e não em Aljubarrota. O seu companheiro, ascentente (sic) (ascendente?) da casa de Vila Verde, foi o conde de Avranches (sic) (Abranches) D. Álvaro Vaz de Almada. D. Antão Vaz de Almada foi um dos conjurados de 1640 e viveu dois séculos mais tarde. O primo Manuel Vaz sabe muito bem tudo isto; mas às vezes troca um pouco os nomes.

- É isso mesmo - aquiesceu o de Vila Verde.

- Não há dúvida - continuou explicando o doutor João Fernandes - que o conde D. Pedro habitou no Brunhido e nos paços que aqui possuía contraiu um empréstimo de cem mil libras portuguesas a D. Teresa Annez, doando por sua morte os seus bens de Eixo, Requeixo e Lamas ao mosteiro de S . Tirso. Se a quinta era a do Paço, hoje do nosso amigo e primo, é que se não sabe bem, apesar de o dizer a tradição.

- Mas é sem dúvida alguma - teimou João de Figueiredo.

- Não lhe ponho eu a dúvida - retorquiu o doutor. - Só referi a dos enfronhados nessa matéria.

Lopo Mendes tinha convidado as famílias de Segadães e do Marnel para jantarem em Jafafe, mas deu plena liberdade aos primos para optarem pela bacalhoada no Brunhido. Substituí-los-iam a mulher do Fonseca de Macinhata e a mãe e as irmãs do Diogo da Trofa que eram as mais aparentadas com Leonor de Meneses.»


                                                                                                                        (Continua)

                                                                                                                                                                                                         

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 2

    Do romance que nos post's anteriores nos temos referido, existe este capítulo, que não deixamos de transcrever, por acharmos que o mesmo tem lisonjeiras referências às terras do Vouga.  Do mesmo constam estas passagens:


«Pelo caminho, Lopo Mendes disse à filha que era pena estarem tão longe dos primos Pigeiros (em outras passagens este local está identificado por Pigueiros). Ele, preso com os trabalhos da quinta, não podia sempre acompanhá-la e privava-a assim de conviver, de se distrair. Se tivesse uma senhora para andar com ela... Já se lembrara de tomar uma miss ou uma alemã, só para dama de companhia.
Dulce não quis, não tinha jeito de acamaradar com pessoas desconhecidas, indiferentes. Demais não se divertiria longe do pai.
Este insistiu, alvitrava trazer uma das Pigeiros para Jafafe, alternadamente. Entre as primas não se lembrava de qualquer que viesse para a quinta passar com eles o verão? Não tinha uma amiga que convidasse?
- Não pense nisso, meu pai. Estamos muito bem assim.
- Mas viverás num deserto, aborreces-te e tornas-te mais triste, sem teres em que empregar os teus dias.
- O meu piano basta - respondeu a filha.
- Não te quero mona. Quero ver sorrir essa boca, brilhar esses olhos. Quero-te alegre, viva, mexida, como é próprio da tua idade.
- Não preciso disso para ser feliz - murmurou Dulce.
Passado algum tempo, quási ao chegarem a casa, Lopo sorriu-se, olhou para a filha, pousou a mão nas dela e disse:
- Achei.
- O quê, meu pai?
- Companhia para ti.
- Quem?
- A Leonor Meneses.
- A prima Leonor?
- Não gostas dela?
- Gosto. Mas ...
- Não te agrada tê-la cá?
- Agrada, sou amiga dela. O que não sei é se virá. Tem lá a sua vida ...
- Até há-de gostar. Vou escrever-lhe. Queres?
- Pois sim.

    Leonor de Meneses era uma rapariga maior dos trinta, sem pai, nem mãe, nem irmãos, vivendo parcamente, mas sem deixar a sociedade a que pertencia pela família, à custa dos seus trabalhos literários. Escrevia com o anagrama El Noro em revistas e jornais, fazia traduções, publicava volumezinhos de versos e crónicas e assim se sustentava numa independência sem altivez e numa modéstia sem humildade. Na roda de inúteis que a cercava, orgulhava-se de trabalhar; intelectual entre cretinos, não se pejava de ser pobre entre ricos. Se não a requestavam pela mocidade, nem pela beleza, consideravam-na pelo seu merecimento e gostavam da sua conversação fácil, variada e culta. Assim não a entristeceu o transpor solteira a idade dos amores, nem o sentir-se só na existência. Colocada entre duas gerações de primos, tratava por tu os pais e os filhos e era igualmente amiga das mães e das filhas.
    Lopo Mendes apreciava-a e conhecia-lhe o carácter. Era assim a carta dele:

    «Estamos instalados na quinta de Entre-Jafafes, nas pitorescas margens do Vouga. Em Segadães, a duas léguas daqui, estão os viscondes, a condessa de Pigueiros e as filhas. Os rapazes estão no Marnel, a meio caminho de Segadães, com a prima Flâmula, o marido e os filhos, e por estas redondezas, todas lindas, abundam primos e primas alegres, hospitaleiros e desejosos de divertir-se. Os teus trabalhos literários, se te não dão a possibilidade de umas férias, devem lucrar com a mudança de cenário para estes lindos sítios, poéticos, históricos e inspiradores.
    Prepara-se um verão de convivência e distracções.
    Por isto me atrevo não só a fazer-te um convite, mas a pedir-te um grande favor.
  Vem, querida prima, até cá para fazeres à minha Dulce a companhia que não posso dar-lhe, assoberbado com os trabalhos que resolvi tomar a peito, da administração dos nossos campos.
   Queres dar-nos este prazer? Se quiseres irei buscar-te a Lisboa quando me indicares.
    Ficar-te-á sempre grato o
                                                                                            teu primo e
                                                                                        sincero admirador
                                                                                            Lopo Mendes»

    A resposta foi, dias depois, um telegrama lacónico:

    «Chego depois de amanhã rápido Aveiro
    Leonor».


                                                                                                                (Continua)



quinta-feira, 30 de julho de 2020

OS SENHORES DO MARNEL - 1



Igreja de Santa Maria de Lamas, já depois da que existiu na margem esquerda do Marnel


Este título é da autoria de Vaz Ferreira, editado em 1925, pela Imprensa Libânio da Silva, em Lisboa. Sabe-se que o autor residiu em Santa Maria da Feira, onde se admite terá desempenhado as funções de Notário, segundo o que ouvimos por aí.
E, com data de 17 de Junho de 1942, o Arquivo do Distrito de Aveiro, que se publicava, faz inserir, de sua Autoria, uma nota sobre um hipotético lapso na identificação de um facto histórico, não deixando de referir as escavações de Souza Baptista no Cabeço do Marnel, da fundação do Convento de Serém, bem como da beleza das margens do Marnel e do mal tratado rio Vouga.
É ainda de sua autoria o romance histórico com o título encimado, que nos propomos aqui transcrever algumas passagens, porque nos dão imagens surpreendentes do que eram os lugares de Lamas, Pedaçães, Segadães, Fontinha, Carvalhal da Portela, Brunhido, Arrancada, Jafafe e outras que agora nos escapam.
Para quem queira sonhar com o que era paisagem de outrora nas redondezas, principalmente aquela que nos proporcionam aquelas localidades, ficará com uma pálida ideia de que no princípio do século XX seriam muito diferentes.

NOTA: - A Apresentação do blogue está um pouco diferente. Aqui terei de registar uma ajuda de alguém que sabe disto mais que nós, a quem agradecemos. Mas o trabalho vai continuar...

A este assunto voltaremos.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

RECORDAÇÕES DO MARNEL - I

Autor: - Joaquim Soares de Sousa Baptista

Proveniente da uma publicação periódica, emitida pelo Arquivo do Distrito de Aveiro, já referida anteriormente, na qual pontificavam profusos apontamentos históricos, de ilustres colaboradores aveirenses, dos quais destacamos, Augusto Soares de Souza Baptista, que foi residente em Pedaçães, após bastantes anos emigrado no Brasil seguindo as pisadas de seu irmão  Joaquim Soares de Souza Baptista, antes epigrafado e que assinalou a sua presença naquela publicação com interessantes  factos históricos, que se recordam nestas transcrições, tentadas por scanner informático. Por este processo, tentou-se  fazer a «colagem», mas a qualidade que permite a sua leitura é bastante deficiente. Vamos ver o que se segue...

*****

        «Para além, o anfiteatro de Macinhata com seu branco casario espreguiçado ao longo da bem lançada encosta rematada pela edificação ampla onde inúmeras crianças vêm ao ensino das primeiras letras. A poente da planície ergue-se o tabuleiro da Mesa, localidade que este nome obteria em consequência de algum dólmen ali existente, e ora desaparecido, ou pela conformação do montículo em que demora, que a do móvel com igual chamadoiro faz recordar. Montículo prolongado em sucessiva maior altura pela colina de Serém, onde ainda podem observar-se restos do antigo convento e alguns poucos dos vetustos vegetais que pertenceram ao povoamento da que foi a grande e pitoresca mata do referido recolhimento, edifício;  edifício e povoamento hoje substituídos por moderna construção e jardinagem floral e pomareira, limitadas a poente pela estrada nº 10 (?), que em diagonal rasga a vertente, a meio do dorso ou alto desta mostrando-se elegante estância de repouso de onde se desfruta uma das mais belas perspectivas entre as sem conta que Portugal oferece ao turista.

    Para sul, declive menos áspero se desenrola, em cujas largas depressões abundante material tosco e trabalhado com inúmeros objectos de uso caseiro tem sido recolhido, remanescente atestado das fidalgas moradias dos Senhores do Marnel, e desde o seu sopé atoalham as águas hectométrica planície que o separa da outra banda, onde se ergue o monte do Toural em cuja base perduram ainda minguados restos da velha igreja de Santa Maria do Marnel (da qual nos restam algumas fotos que esperamos poder aqui «colar»).

São as águas do rio Marnel. Melhor: do rio do Marnel.

Quer dizer: no que se espraia ou desagua em um marnel, pois Rio Marnel não seria cousa de compreender.
De facto, parece não oferecer dúvida que ao tempo ainda do domínio árabe, as águas do mar, por extenso braço, chegaram até Vouga, localidade a poente da qual viriam reunir-se-lhes as marnelinas através do apertado lamaçal ocasionado pelo estorvo que ao escoamento destas últimas opunha o levantamento do fundo do braço, em consequência do assoreamento neste processado pelo caudal do Vouga; levantamento que, embora atenuado pelo afundimento provocado pela subida da costa marítima, que deu lugar ao aparecimento, mais tarde, da pateira da Boca, no Marnel, e da de Fermentelos, no Cértoma, uma e outra em crescente estendimento, continua em nossos dias, obrigando o Marnel a prolongar seu leito junto à aba da colina de Pedaçães até alcançar altura ou nível em que àquele caudal possa confluir, o que actualmente só consegue a meio caminho da Fontinha, seja a uns dois quilómetros a jusante da primitiva foz.»





Fotos que retratam resquícios de um altar, que ali se conserva à custa de algumas crendices





sexta-feira, 13 de março de 2020

AUGUSTO SOARES DE SOUZA BAPTISTA - 3

-Continuação do post nº 2 descritivo da chegada ao Brasil, em 1919, do Dr. Souza Baptista, que consta num livrinho que nos serve de suporte, antes evidenciado e que aqui foi destacado em 13 e 14 de Outubro passado:

Panorâmica vista de Pedaçães para o Marnel, 
avistando-se ao longe a igreja de Santa Maria de Lamas

- "Pouco a pouco, fui alargando o círculo das minhas relações. A minha profissão abria-me as portas ao contacto com todas as categorias sociais.
 Como andarilho, percorri todos os recantos da cidade, das favelas aos bairros ricos da burguesia. Guiado por Euclides e por muitos outros expoentes da inteligência brasileira, poderosa e promissora, espelhando, pela graça de Deus, a exuberância da terra em que nasce e cresce, conheci os sertões do Brasil. Vi o homem trémulo de febre e de cansaço abrindo caminhos na floresta densa em busca da seringueira perdida a imensa riqueza Amazónica; vi-o rasgar o corpo por entre os espinhos da caatinga torturada pela seca, para fugir à morte impiedosa; vi-o na vida farta e  voluptuosa dos Senhores de Engenho e dos seus meninos; nas lutas pela posse da terra e na imaginosa hora trágica do cacau, em que a riqueza das tintas e o mistério das sombras buscaram intencionalmente as fronteiras do sofrimento humano, - como aviso  terrível de horas mais trágicas a vir; vi-o, mais além na vida descuidada dos senhores do café e na vida apertada dos que o cultivam; conheci, enfim, a liberdade bravia do homem do sul, estendendo os braços para a imensidão das suas campinas, onde Deus permite que a riqueza cresça mesmo contra a lei do suor do rosto.

 Eu já trazia de Portugal um Brasil pintado na minha imaginação. Lá estavam as fronteiras, os rios e os lagos, montanhas e planícies, estados e suas capitais; país imenso de imensas riquezas, habitado por um povo livre e independente, que falava o português e era  católico, apostólico romano. Pátria de Clóvis Beviláqua, de notabílíssima cultura jurídica, de Rui Barbosa, cujos discursos eram lidos em todo o mundo, de poetas e oradores, de sábios e inventores. O Brasil era um país como os outros países grandes, cujos nomes o mapa ensinava."

Notas:
1) - A foto que ilustra este apontamento é da igreja de Santa Maria de Lamas, obtida de Pedaçães, onde residiu o Dr. Augusto Baptista.
2) - Foi presidente interino do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, entre 1959/1960.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

SOUZA BAPTISTA - 11

SOUSA BAPTISTA


 A freguesia de Valongo do Vouga, viu nascer e crescer no seu seio HOMENS que espalharam na sua Terra e no mundo as virtudes que podiam constituir um código de conduta jamais inigualável.
A  identificação lateral desta fotografia é de Joaquim Soares de Sousa Baptista. Sobre o Homem e a sua história e das suas obras que tiveram sempre no horizonte e na conduta da sua vida os seus semelhantes, principalmente os mais necessitados.
Dele já muito se falou e escreveu, mas talvez muita coisa terá ficado escondida em vez de exposta nos escaparates da história, mesmo depois de quase século e meio após a data do seu nascimento (1874).
Um figura que sempre nos fascinou e sobre a qual continuamos a pesquisar factos que serão, disso estamos quase certos, desconhecidos de uma grande parte de Valonguenses.


*****


COMO E QUANDO EMIGROU PARA O BRASIL

Sabe-se que após a conclusão do curso de Regente agrícola, na escola de Coimbra, emigrou para o Brasil (in "Valongo do Vouga.net"). O objectivo era encontrar-se com seu irmão António, com vista a dirigir uma grande exploração agrícola.
Após porfiados esforços não encontramos a data em que tal terá acontecido. Mas existem elementos que comprovam que em 15 de Janeiro de 1896 (teria cerca de 22 anos de idade)  já estava no Estado de Mina Gerais, conforme o «Órgão Official dos Poderes do Estado», daquela data, que publica um ofício que nos denuncia o seguinte:

«Ao mesmo sr. transmitiu-se o officio que lhe é dirigido pelo director da colónia do Barreiro, consultando si pode effectuar ao regente agrícola sr. Joaquim Soares de Souza Baptista o pagamento dos seus vencimentos.»

Por aqui se pode deduzir que Souza Baptista terá sido funcionário do Estado Brasileiro (em Minas Gerais), provavelmente nas zonas de Ouro Preto ou Belo Horizonte, onde aquele órgão oficial do Estado Brasileiro era editado e publicado, no qual eram registadas todas todas as actividades do referido estado, no aspecto administrativo, financeiro e outras.

Se a saúde, a vontade e a motivação estiverem em astral acessível e normal, aqui voltaremos com os resultados de outras histórias de pesquisas que temos feito.
Ao mesmo tempo também serão dedicados pequenos resumos de histórias de outros notáveis Valonguenses que à sua terra prestaram relevantes serviços ou foram protagonistas de outras histórias que marcaram a vida local.




segunda-feira, 14 de outubro de 2019

AUGUSTO SOARES DE SOUSA BAPTISTA-2

MAIO DE 1919 - A VIAGEM PARA O BRASIL

Da brochura citada no post que antecede, foi feita uma ligeira apresentação de uma parte da história do Dr. Augusto Soares de Sousa Baptista, com pormenorizadas descrições de factos passados em terras do Brasil. Foi referido que a brochura, de pouco mais de 40 páginas, é toda dedicada a este ilustre português,  de Pedaçães, constituindo uma colectânea dos discursos e das homenagens que lhe foram dedicadas, em reconhecimento do muito que fez em favor da colónia portuguesa naquele imenso país que em 1500 Álvares Cabral deu a conhecer ao mundo.
Os pormenores são difíceis  de localizar e é necessário que as pesquisas se tornem minuciosas para que através de um acontecimento, um facto descritivo, se possam aliar e interligar outros factos e acontecimentos que podem não estar devidamente explícitos. Há algumas dificuldades em confirmar o que buscamos nessas pesquisas. Dito de outro modo, é preciso ler muito e tudo o que sobre um tema se possa ter desenvolvido.
É assim com este conterrâneo.
Quando é que o Dr. Augusto de Sousa Baptista foi para o Brasil? Como se terá desenvencilhado e organizado a sua vida logo após a chegada?
Encontramos naquele brochura a resposta a estas e muitas outras perguntas.
Deixamos algumas linhas donde se pode imaginar o que terão sido os seus primeiros tempos de permanência no Brasil. Da página 26, respigamos estas curiosidades:

*****
Zona do Largo da Carioca em 1910 (Foto do blogue "Um Professor de História"

"Discurso pronunciado pelo Dr. Sousa Baptista, em 30 de Janeiro de 1957, quando da homenagem prestada em sua honra por um grupo de brasileiros". Disse Sousa Baptista:

«A dois de Maio de 1919, ao cair da tarde, cheguei ao Rio de Janeiro. Viagem demorada, de 17 dias, entre céu e mar, sem ponta de terra à vista. O «Highland Ladie» (era, concerteza, o nome do navio) navegava sempre longe das costas, receoso das minas errantes que a grande guerra semeara no Atlântico. Mar deserto, dias monótonos e infindáveis, sem convívio nem conforto; ânsia de chegar. O «Highland» não encostou. Trazia doença a bordo. Uma lancha trouxe-me à Praça 15 (As pesquisas indicam Praça XV). Paguei dez mil réis por mim e por minha mulher. A filha (Irene Baptista) com três anos apenas, foi dispensada de o fazer.
Ninguém a esperar-me, nenhum conhecido no desembarque. Por informações, fui encontrar meus irmãos (António e Joaquim) no largo da Carioca. O vapor só era esperado no dia seguinte.
No dia 3, então feriado nacional, fui procurar as minhas malas à Alfândega. Não haviam desembarcado. O «Highland» tinha-as levado para a Argentina, donde nunca mais voltaram. E assim fiquei no Rio de Janeiro com a roupa que trazia vestida. Uma sombra de mau preságio escureceu-me o pensamento.
Assim começaram os meus dias no Brasil. Ao princípio disseram-me os irmãos: podes validar aqui o curso e exercer a tua profissão. Mas eu sabia que outros eram a sua necessidade e desejos. Não fora para isso que me chamaram.
Durante dez anos o meio comercial não conheceu a minha condição. Recebeu-me confiadamente, livre de suspeitas. Integrado nele, fiz-me comerciante e fui como os outros comerciantes: a mesma vida, a mesma mentalidade, a mesma maneira de falar, as mesmas vaidades e ambições. Se fosse escritor, já tinha escrito as memórias de ocorrências humorísticas de então, para aliviar agora as tristezas da velhice, que vai correndo, e que teima, infelizmente, em acabar. Ao chegar, era homem de trinta anos. Já tinham passado as fervuras da mocidade. Nesta idade os ossos estão formados e a personalidade definida. O receio da inadaptação entibiava as minhas resoluções e descoloria a minha palavra.»

(Continua)

Notas:
1- Deste texto, não é difícil concluir-se que a data de embarque em Portugal terá sido, provavelmente, em 16 de Abril do ano de 1919, tendo em conta os 17 dias de viagem citados. Nesta data já lá estavam seus irmãos (António e Joaquim, este regressado em 1927) A data da emigração deste estamos a tentar localizar.
2 - É  factual que a viagem foi no navio antes identificado.
3 - Apesar da Grande Guerra ter terminado em 1918, os cuidados sobre a existência de minas era tida em conta de muitas cautelas.
4 - Nota-se que teve de andar a perguntar onde moravam os seus irmãos, que, diz, foi encontrar no Largo da Carioca.
5 - Quando, no dia seguinte, procurou as suas malas, já tinham rumado à Argentina. Ficou no Rio de Janeiro com a roupa que trazia vestida. E «assim começaram os meus dias no Brasil».Vamos continuar a pesquisa...

domingo, 13 de outubro de 2019

AUGUSTO SOARES DE SOUSA BAPTISTA-1


Retornar às Origens

 É mesmo caso para dizer que este título se justifica. Estando este blogue inactivo há já algum tempo teve, posteriormente, uma ligeira actividade neste mundo blogueiro pelos  inícios de 2017, voltando a ficar em hibernação.

Ponte Medieval sobre o Marnel

Há propósitos (e alguma vontade) de o fazer ressuscitar, porque conseguimos obter abundante história local, da autoria dos irmãos Sousa Baptista (Joaquim e Augusto), e, por sorte, de elementos sobre o mesmo tema, da autoria de Augusto Soares de Sousa Baptista, que como é dito e sabido, irmão daquele, acrescendo elementos curiosos e inéditos numa edição de 1958, das «Publicações do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro», que obtivemos, nas nossas pesquisas, por intermédio de um alfarrabista:

                                       Um cantinho frente à Capela do Mosteiro, em Serem

TÍTULO: - AUGUSTO SOARES DE SOUSA BAPTISTA - Português do Brasil - Rio de Janeiro * 1958.

 

 Trata-se de um opúsculo de 44 páginas, todo ele com conteúdo que versa e enaltece a actividade deste português na Pátria irmã do Brasil. Só lendo se pode avaliar o que representou a sua actividade em Terras de Santa Cruz, em prol da Pátria Brasileira, que ao longo de séculos foi adoptada como segunda Pátria por uma enorme quantidade de portugueses emigrados. Não nos parece que se a sua acção naquelas inóspitas terras não fosse o que a sua escrita deixa traduzir, a linguagem não seria, certamente, a que tivemos oportunidade de ler naquele (quase) minúsculo livrinho.

O seu conteúdo vai traduzir-se em textos (bastantes) que é nossa intenção deixar aqui postados e, mesmo assim, omitindo-se outros que em nossa opinião não serão de grande destaque. É de crer e mesmo assim só de imaginar a qualidade do conteúdo em que aquela figura é enaltecida.
Por curiosidade, deixamos uma amostra da página 5 (a primeira que dá início à história deste português que residiu em Pedaçães, deste concelho). Transcreve-se:


EXPLICAÇÃO

O Dr. Augusto Soares de Sousa Baptista  foi alvo, em 30 de Janeiro de 1957, da maior manifestação de apreço que um português do Brasil já recebeu por parte dos brasileiros.
Ministros de Estado, Senadores, Deputados, membros da Academia Brasileira de Letras, Generais, Almirantes, Brigadeiros do  Ar, membros do Poder Judiciário, figuras eminentes da política, da cultura e da inteligência brasileiras, além de representantes de todos os sectores da vida deste hospitaleiro País, se congregaram num grande banquete e, pelos seus mais variados intérpretes, disseram ao Dr. Sousa Baptista o que ele tem sido e representa na Comunidade Luso-Brasileira. Nessa manifestação, achavam-se presentes delegações de  todas as instituições portuguesas e luso-brasileiras, cujos sentimentos foram admiravelmente interpretados pelo Snr. Albino Souza Cruz, no discurso também incluído nesta publicação. 
Da parte dos portugueses, tem o Dr. Sousa Baptista recebido sucessivas e expressivas provas de acatamento, respeito e reconhecimento pela sua extraordinária e dedicada actuação no seio da colónia portuguesa.

*****

A este assunto e importante naco de história local voltaremos com mais novidades, senão para todos, pelo menos para uma maioria de curiosos locais, a quem antecipadamente agradecemos uma hipotética  colaboração sobre qualquer coisa que não esteja em conformidade com a história real destes factos.

 


terça-feira, 7 de novembro de 2017

Como era a escola nos séc. XIX e princípio de XX

O CASAMENTO DAS PROFESSORAS

Um nosso muito prezado amigo enviou-nos uma aceitável remessa de documentos relacionados com a actividade escolar dos tempos áureos, que vamos postando por aqui, pelas curiosidades que contêm e pelas, diríamos, aberrantes condições IMPOSTAS com completa falta de respeito pelas liberdades individuais. Frase feita, que muito se ouve... mas verdadeira...
Sabíamos disto. Mas este documento veio recordar-nos, ao que podemos chamar, as aberrações de tais imposições. É natural que, sem se compreender, houvesse a intenção de dignificar e valorizar as funções do professor(a). Conhecemos as regras e o respeito que nos mereciam os professores(as). Mas chegar a este ponto que o documento transcrito deixa registado, não será de todo compreensível e aceitável.
Valha-nos a santa paciência de um tempo, de uma época, de uma (in) cultura.

Há quem se recorde da capa deste LIVRO DE LEITURA DA 3ª CLASSE! Cheguei a usá-lo...
  

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