Confortado como foi possível, foi deixado só vertendo copioso pranto, não ouvindo ninguém.Quando foi achado mais calmo e menos desassossegado, trava-se este diálogo:
- É inacreditável que um homem que tantos transes sofreu na vida, lutando como os heróis, se amesquinhe e chore como uma mulher diante do túmulo entre-aberto de um anjo que não era deste mundo.
- É inacreditável, mas é verdade. Sofro imenso, meu amigo, e o meu desejo seria morrer também.
- Não se fale mais em tristezas irremediáveis. Chorou, afligiu-se e as suas lágrimas continuaram a sair-lhe dos olhos como um desafogo e como necessidade. Há tempo para tudo, para sofrer e para chorar. Depois, virão as saudades!
- As saudades começaram já e serão eternas, meu amigo.
- Mas eu tenho de ser calmo nesta hora difícil para o seu espírito, dr. Joaquim Álvaro, e preciso de reflectir por si.
- Reflectir por mim? O que quer dizer?
- Quero dizer que a srª D. Maria Mascarenhas, sua esposa, deve fazer o seu testamento...
- Pelo amor de Deus, cale-se dr. Pinho! É horrível isso, que me diz.
- Será, não duvido, mas há-de ser assim, se a enferma quiser, está claro...
- Mas não quero eu. Oponho-me terminantemente! Deixe morrer essa criança em paz, dr. Pinho.