As Meninas Mascarenhas
O livro - II
A história que começamos a contar há já uns tempos atrás, sobre a família das meninas Mascarenhas, que residiram no lugar do Sobreiro, a qual foi transformada em livro escrito pelo Dr. José Joaquim da Silva Pinho, do lugar de Jafafe, amigo íntimo do Visconde de Aguieira e daqui passou para um livro por iniciativa editorial do Jornal «Valongo do Vouga» de que foi director o Rev. Padre António Ferreira Tavares.
Após o introito histórico, avançamos com um breve resumo. O morgado do Sobreiro, Joaquim de Mascarenhas Mancelos Pacheco, casado com Maria Carolina Bandeira da Gama, cuja família era oriunda de Vale de Besteiros, Tondela.
Este livro é um manancial histórico e apaixonante com emoções até à comoção que se viveu naquele tempo. Decorria oano de 1846. Como já afirmei aqui, impossível, por várias razões, entre elas as de volume do texto, transcrever essa história completa. E também por uma questão de respeito pelos autores.
Vamos, assim, dando esporádicos apontamentos, entre eles, este:
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«Joaquim Mascarenhas tinha índole diversa das inclinações da esposa, e dizia que os irmãos dela, se pudessem, pela natural influência do sangue e da criação, tentariam algum esforço para subjugarem o seu espírito de mulher, obrigando-a a sair para uma vida social mais agitada e moderna. Os irmãos de D. Maria Carolina eram rapazes briosos, estouvados, cheios de ardor e ímpetos, que marcavam um lugar escolhido e singular em toda a parte onde estavam.
O nome dos Bandeiras chegou aos nossos dias envolvida em um estranho ambiente de irrequieta audácia que o fazia simpático até no ânimo das pessoas que só o conheciam de ouvir contar proesas e façanhas de uma mocidade ardente e vitoriosa. Os Bandeiras são fidalgos de excelente raça. Vem muito detrás a nobreza da sua família. Bandeira, na heráldica portuguesa, quer dizer valor, desprendimento e heroísmo. Conhece-se a linda história do seu grande avô, o escudeiro Gonçalo Pires, esse esforçado paladino da honra e da pátria que obrou na batalha de Toro a acção prodigiosa de arrancar das mãos dos castelhanos a bandeira de Portugal que Duarte de Almeida, o seu intrépido alferes, defendera destemidamente em um turbilhão de lanças, sustentando o estandarte Real na mão direita, cortada por uma cutilada, e depois na esquerda, também cortada, e depois preso nos dentes, resistindo, resistindo sempre, até cair no campo da luta, quase morto. Os castelhanos levaram a bandeira portuguesa para o seu arraial como troféu de vitória, mas o bravo escudeiro arrebatou-a das mãos dos inimigos e regressou ao seio das legiões de Afonso V empunhando o lábaro glorioso da sua pátria. Foi um rasgo sublime o feito desse valoroso Gonçalo Pires que recebeu em pleno campo de batalha, pela voz do rei que a comandava, o direito de usar do sobrenome generoso de Bandeira. Gonçalo Pires da Bandeira é um dos melhores nomes da história militar portuguesa.»
A seguir a este naco de história, pretendemos passar mais à frente, e resumir as peripécias das Meninas, filhas de Joaquim Mascarenhas, que fez com que o Visconde de Aguieira jurasse no leito de morte daquele, que seria o seu tutor e que casaria com a Maria Mascarenhas. Vamos tentar recomeçar por aqui, após a saída agitada do convento de Sá, em Aveiro, hoje quartel da GNR, onde as meninas foram recolhidas durante algum tempo, a fim de receberem uma educação conducentes ao seu tempo e condição social. Aquele local de Aveiro, era, naquele tempo, considerado arredores da então vila.
A tutoria das meninas foi a causa da maior disputa familiar jamais verificada na freguesia de Valongo do Vouga e arredores. E até, também, em Torredeita. Houve negociações entre as famílias, mas nenhuma delas condescendeu às respectivas propostas. Deste modo, como dizia o Dr. José Joaquim da Silva Pinho na narrativa que escreveu, «Era uma luta que se iniciava e que, depois, se desenvolveu em lances de perigo e assombro. Ambas as partes faziam preparativos de guerra. Ambas compreendiam a situação. O facto culminante era a posse das órfãs. Quem ficasse com elas venceria.»
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