O Presépio da Igreja de Valongo do Vouga
A um cantinho da igreja
O presépio era feito
Pelas mãos do sacristão
Com devoção e respeito.
Com alguma antecedência
O musgo se apanhava
Cada um, seu pedacinho
Ao sacristão se levava.
Depois, ele e os ajudantes
Nesse canto o espalhavam
Fazendo montes e vales
Um lindo aspecto lhe davam.
Ao olhar os tons do musgo
Ficava-se com uma ideia
Que se estava a vislumbrar
Um pedaço da Judéia.
Depois, por montes e vales
O serrim lá se espalhava
A fingir que eram estradas
Que ao presépio nos levava.
Aqui e ali dispersas,
Dum modo às vezes bizarro
Eram então colocadas
As figurinhas de barro.
Lá bem no cimo dum monte
Como a dominar a grei
Com imponência e majestade
Ficava o palácio do Rei.
Pastoreando os rebanhos
Montes subindo e descendo
As figuras dos pastores
Iam também aparecendo.
Com cordeirinhos aos ombros
Ou nas flautas tocando
As figuras de mercadores
P'las ruas iam ficando.
E no sítio mais longínquo
É que os Reis-Magos ficavam
Sempre à procura da estrela
Só a seis de Janeiro chegavam.
E lá no alto, pendurada
Estava a estrela-Luz
A indicar o caminho
Até ao Menino Jesus.
S. José e Nossa Senhora
E os animais também
Estavam lá no Presépio
Na lapinha de Belém.
E no dia de Natal
Com o fato domingueiro
Para beijar o "Menino"
Todos queriam ser o primeiro.
Quem dera poder voltar
Outra vez a ser criança
E ver de novo o Presépio
Que ainda guardo na lembrança.
Do livro de poesia de Júlia Magalhães "Ponto Final"
Editado em 2009 pela autora
Gravura digitalizada do mesmo livro, que representa
O Presépio da Igreja de Valongo do Vouga, a que este
poema se refere.
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