Foto retirada da internet Blog Veludarte.blogspot.com |
Com todo o seu cortejo de superstições e preconceitos, a invocação do sobrenatural e o esconjuro do demónio são feitos por processos curiosos. E, como até nas mais simples passagens da vida caseira, o espírito do povo não se dispensa de topar com prejuízos de toda a ordem, é preciso logo, por seu próprio governo, tratar de os varrer depressa a poder dos mais eficazes exorcismos.
Assim, ao deitarem-se os ovos às galinhas chocas, escolhe-se para esta tarefa melindrosa um rapazinho da casa ou da vizinhança, o qual, com a fralda de fora pega dos ovos e, um por um, os vai colocando na cesta do choco. Entretanto, a cada ovo que arruma no palhiço do ninheiro, é preciso que o pequeno vá recitando em voz alta:
Rezemos uma Salvé-Rainha
Em louvor de S. Salvador,
Para que saiam tudo frangas
E um só galador!
Em coro, por todos os assistentes, são rezadas tantas salvé-rainhas quantos são os ovos a chocar. Entretanto se adrega de calhar que S. Salvador não satisfaça os rogos de quem lhe reza, saindo a ninhada toda em pintainhos machos, o povo, como prémio de consolação, não deixa de lhe agradecer o contratempo, porque uma ninhada de muitos frangos é indício de boda próxima na família.
(Adolfo Portela, no livro «Águeda - crónicas, paisagens, tradições», edição de Soberania do Povo, Editora, S.A.)
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