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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Senhores do Marnel - 2

O Niza
 
(Continuação do poste anterior)
 
 
O livro  «Os Senhores do Marnel», tem uma pormenorizada descrição do local e de um personagem que o coloca nos píncaros dos mestres da poda de videiras, e sempre com o nome da sua vila natal - NIZA - na ponta da língua, a propósito de tudo e de nada, radicalizou-se na alcunha de Niza, a substituir-lhe o nome, ainda mesmo para aqueles que na sua presença o tratavam por ti «Manuel Antoino».
A seguir vem uma perfeita descrição física de espadaúdo, hirsuto bigode preto, lábio roliço, orelhas pequenas mas carnudas, pescoço forte, braços curtos e pernas entroncadas, além de outros predicados da sua apresentação física e fisionómica.
Tinha começado a sua vida a podar vinhas no Alto Alentejo, depois meteu-se a negociar em vinhos, percorrendo também o Baixo Alentejo e o Algarve, até que, um dia, deu-lhe na veneta vir até à Bairrada, em busca de um carrascão encorpado para lotar com um palhete adelgaçado. Os olhos gaiatos de uma moçoila prenderam-no por aqui, negociando, podando, agenciando a vida. Casou e fixou-se perto do Vouga no cruzamento das estradas.
A sua fama como podador estendeu-se a toda a região. Dela tirou partido o ti Manuel Antoino, ou, melhor, o Niza, cobrando-se bem porque não faltava quem lhe disputasse os trabalhos da especialidade.
Entretanto viuvara e era a filha que tomava conta da loja no tal cruzamento de estradas, ajudada por um rapazito, enquanto ele ia cuidar das vinhas e ganhar-lhe o dote, como ele dizia. A filha era conhecida pela Ritinha, que se habituara a servir os fregueses e a lidar com todos eles, mas sob as instruções que o Niza lhe transmitia. Devia tratá-los sempre com sobranceria, que realçava no seu risonho semblante e na sua alegre vivacidade.
«Quando os fidalgos dos arredores passavam na estrada  ou iam por acaso à venda, a Ritinha requintava em amabilidades e a alegria duplicava-lhe, talvez por eles dizerem uns galanteios quadrando milhor ao seu feitio vaidoso e às suas aspirações e devaneios.»
Esta passagem do livro pretende destacar o apreço em que o fidalgo Vasco de Segadães lhe tinha as cantigas mais envaidecia a Ritinha e, como ele trouxesse à venda de Carvalhal muitos dos primos e companheiros, o Niza, a instâncias da filha, transformou um quarto pegado com a loja em gabinete, onde esses fregueses distinctos (respeitada a grafia da época) estivessem à vontade sem serem acotovelados pelos carreiros e aldeões que estacionavam na venda ou lá iam beber dois ou despejar de sociedade as meias canadas, passando a caneca de mão em mão e de bôca em bôca.
Aí se davam as tocatas, descantes e ceias alegres da rapaziada fina dos arredores e lá era o ponto de reunião dos cavaleiros do Vouga.
 
(Continua)


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