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sábado, 8 de setembro de 2012

Onde a serra começa

CADAVEIRA: Terra longe do mundo (Parte I)

Sobre este assunto, há que relembrar um pouco que nos idos anos de 1971 participamos em reportagens do jornal Soberania do Povo, no qual exercia as funções de chefe de redacção um particular amigo, Armor Pires Mota. Durante uma série de semanas, calcorreávamos as serras e os caminhos de pedra e lama, que davam a locais onde sobreviviam pessoas, cujos acessos e distâncias nos pareciam enormes, e o seu conhecimento era quase nulo, porque ninguém visitava as gentes que por ali habitava. Não haviam meios, entre eles, estradas, água, electricidade, quando hoje as primeiras  até têm rotundas e mais rotundas.
Fazia parte deste lote de lugarejos - era mesmo assim que se apelidavam, não pela originalidade, mas em termos pejorativos - porque longe de tudo e de todos e de todas as coisas mínimas que outros aglomerados mais populosos já tinham.
Recordados esses tempos, em que através do jornalismo se fazia sacudir as consciências e se reivindicava dos poderes instituídos o que era básico para a população. Vamos dividir esta transcrição de uma reportagem, publicada naquele semanário em 17 de Abril do ano referido. Outra parte será postada separadamente para não aborrecer... e começava assim:
 
*****
 
Imagem de Santo Amaro do blogue
Camacha.wordpress.com
Atacado um caminho nem sempre muito favorável, cheio de barrancos e, por vezes, de raízes gordas, que o solo é bastante forte, a avaliar pelo verde esmagador e absoluto dos pinheiros novos e dos eucaliptos, atingimos, alcandorada num pequeno monte, a Cadaveira, que nos recebeu com uns vagos perfumes de mimosas secas, entre o ladrido atrevidote de dois cães, que nos farejaram os calcanhares, sem, todavia, ousarem qualquer proeza.
 
Milagres velhos
 
A capela de Santo Amaro (1) denuncia a pobreza do povoado. O chão é atapetado de junco.«Antigamente era uma grande festa. Agora há outras viagens mais longe e a sítios mais bonitos. O povo já não se lança a terras como esta. O Santo Amaro tinha muitos milagres e promessas. Acorria aqui muita gente, todos os anos. Hoje, menos. Não temos estrada....» - diz-nos a Sr.ª Gilda Fernandes. E dentro do pequeno templo «antigo como os mouros»: «Estes são os milagres velhos de Santo Amaro» - e mostrava-nos na mão algumas figuras de cera de pernas e braços humanos, bem como bois e cavalos e porcos, enegrecidos pelo tempo. Continuou a Sr.ª Gilda:
«Não temos uma fonte pública. A gente vai a uma poça, é mesmo uma poça, onde se mete o cântaro.» Quisemos ver. Fica um pouco abaixo da povoação.
«A Câmara prometeu-nos a fonte. Isto não é nada. Entram sapos, rãs, entra tudo. A água é boa, mas está aqui, não está lá em cima. No inverno dá. No verão, não. Os que não têm poços e só eu é que tenho, vão-se às poças das corgas, onde as há. A água nasce da rocha, onde foi cavado um pequeno tanque. O Sr. Engº Bastos Xavier também prometeu ajudar.»
 
(Continua)

(1) - Da capela, apenas existe o local. Foi destruída por um violento incêndio, que aqui já foi reportado, e devastou a freguesia - e outras - em Agosto de 1972.

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