As estrumeiras
Quando folheio as páginas das actas antigas da Junta de Freguesia, há episódios e factos que nos fazem pensar maduramente nas condições de vida dos primeiros anos do século XX, que são aqueles que estamos a visitar nas referidas páginas.
Aliás, era uma das curiosidades, que ainda chegamos a viver, assistindo à transformação provocada pelo evoluir dos tempos e das próprias condições que hoje são já quimeras autênticas, que pretendíamos vir a encontrar nesta pesquisa (se é que lhe podemos chamar assim, tecnicamente falando) a que nos propomos, encontrando factos e episódios que actualmente seriam inadmissíveis.
Não eram assim, mas quase, as estrumeiras de 1912
É o caso das estrumeiras. Não existiam fertilizantes e os únicos que foram «inventados» para ajudar à agricultura, era o estrume, a matéria orgânica, transportados para a terra que havia de receber as sementes, fossem qual fossem.
Conheci nos anos 50, do século XX, os primeiros produtos quimícos, principalmente os fertilizantes e afins.
Então as pessoas e até as grandes casas agrícolas tinham todas uma área grande onde colocavam o mato que iam buscar aos pinhais, em locais apropriados e este mato e restos de outras plantas putrificavam ali, até ficarem em condições de serem transportados para as terras de cultivo. As grandes casas, como era o caso da Quinta da Aguieira, tinham instalações próprias, que se designavam por nitreiras, onde se «produziam» estas matérias orgânicas.
Por isso, após esta longa recordação história, eis o que a Junta de Freguesia deliberou na sua sessão de 8 de Dezembro de 1912, que transcrevemos:
"Atendendo as justas reclamações do povo em geral e duma comissão que veio a esta sessão pedir para que fossem levantadas as estrumeiras em todas as vias de comunicação pública, não só pelo que danificam a higiene, mas ainda pelo que prejudicam o trânsito, deliberou esta Junta de Paróquia oficiar à Câmara Municipal, para que esta mande levantar todas as estrumeiras nas referidas condições."
Esta situação contém ainda matéria para outros comentários sobre a situação, nomedamente deixando a entender que as ruas seriam, naquele tempo, grandes e autênticas «fábricas» de matéria orgânica, com todas as consequências que as mesmas provocavam, certamente.
Sem comentários:
Enviar um comentário