Admite-se uma explicação prévia. Começar a falar-se do Natal com uma antecedência acentuada, mais já parece os hábitos comerciais que as organizações de consumo utilizam para começar a aquecer os apetites dos consumidores.
É que para terminar (por agora) esta revisita ao jornal «Valongo do Vouga», fui rebuscar um comentário de minha autoria, do número de Dezembro de 1996, com este título. Esta transcrição, apenas serve para antecipar aquilo que no Natal não se devia fazer, ou melhor, que se devia fazer no que concerne à sua essência. Vamos lá a ver o que eu dizia em Dezembro de 1996.
O Natal não é Natal!
Estamos no Natal. Era natural que aqui, nesta apequena coluna, sujeita a um pequeno espaço, tal qual aquele que Maria e José tiveram como resguardo numa noite, quando se deslocavam para Belém, para cumprir um dever, dimanado de um decreto do imperador romano César Augusto: o seu recenseamento.
Na realidade aquele quadro pobre, sem condições, onde o calor era apenas o provocado pela aglomeração dos animais ali guardados, devia fazer parar, para pensar, qualquer mortal que, nesta altura, passa a vida num corre-corre atrás de gastos, muitas vezes supérfluos, atrás de luzinhas e outras miragens, atrás de guloseimas e outras coisas de consumo que a vida moderna nos oferece sem medida.
No meio desta desenfreada e competitiva correria, muita gente «esquece-se» que o verdadeiro Natal, tal como o lemos na Bíblia ou noutro livro, mesmo histórico, não nos parece que a sua mensagem fosse esta e para ser assim vivida.
Se o Natal tem o conteúdo e o significado que é o de comemorar o nascimento de Cristo (para os cristãos), também pretende lembrar e comemorar a verdadeira família, em harmonia, na modéstia e não a «banhar-se» em enormes gastos, em muitas prendas, em «muito amor» que apenas se vive nesta época.
Nos restantes dias do ano, ninguém mais se lembra de aproximação uns dos outros, a família dispersa-se e esquecem-se um pouco os pobres e desprotegidos. Aqui cabia um outro tipo de palavras a demonstrar um antagonismo perverso.
Ninguém se lembra mais dos desprotegidos, dos doentes, do seropositivos, das lutas tribais a assassinar milhões de pessoas, como recentemente no Zaire e noutros locais do mundo [isto no ambiente e acontecimentos de 1996!].
Se as atitudes vividas entre uns e outros no Natal fossem contínuas e diariamente aplicadas nos restantes dias do ano, temos a certeza que o mundo teria mais paz, o ódio e as guerras seriam eliminados do planeta, o egoísmo seria apenas uma palavra esquecida no meio de um dicionário. Mas quando o Natal termina, volta tudo à estaca zero; reacendem-se lutas pessoais, os egoísmos ressuscitam bem como outros defeitos humanos do género, que apenas dividem e não congregam, as guerras retomam-se com mais ferocidade e não se olham a meios para atingir fins, muitas vezes inconfessáveis… pois caso contrário…
…O NATAL SERIA NATAL!
J. M. Ferreira
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