Quando entrei na escola, cerca de dois meses antes de completar sete anos, que era a idade legal de admissão no início do ensino oficial, com as quatro classes em funcionamento (da primeira à quarta classe), foi minha professora nas três primeiras, a D. Maria Alcina Pires Tavares, de Mourisca do Vouga.
Tenho o prazer de poder afirmar que apesar dos meus sessenta e tal, ainda tenho a felicidade de dizer que a minha professora ainda é deste mundo e vive "ao meu lado"!
Podia socorrer-me de algumas biografias que andam por aí publicadas, mas prefiro utilizar a recordação para exprimir por palavras pessoais, o que ainda recordo dela e do tempo de escola.
Sei também que estou muito em falta na retribuição da consideração em que me tem, pois por várias vezes me chegam ecos, através de terceiros, do seu interesse por mim e pela minha situação. «Então o meu Zezinho? Quero que venha aqui para almoçar comigo», exprime ela carinhosamente.
A D. Maria Alcina, durante muitos anos deu aulas em Arrancada do Vouga. E vinha a pé, da Mourisca, até à Quinta da Aguieira. Ali, manhã cedo, era esperada por quase todos os seus alunos de Aguieira e depois era por nós «escoltada» até à Boiça, daqui seguíamos os caminhos naturais pela berma das terras de cultivo, e íamos sair junto da actual Auto-Branco, onde existia aquela grande casa com cata-vento, idêntico a tantos outros que havia pela freguesia.
De acordo com o sistema então vigente, a D. Alcina dava aulas a duas classes. À primeira e à terceira. A D. Beatriz, de quem fui aluno na quarta classe dava aulas à segunda e à quarta. E eram tão numerosas, todas só de rapazes naquele tempo (!).
Para falar da D. Alcina, certamente e como se compreenderá, não cabem aqui as palavras todas. Ficam obstruídas no mais profundo âmago do sentimento humano. Não tinha, como outras e outros professores daquele tempo, quaisquer meios que se possam comparar aos actuais.
Mas, certamente por isso, havia que engenhar as coisas para as tornar eficientes e úteis, inventando e, pondo em destaque, acima de tudo, o interesse, a dedicação e algum, senão mesmo muito, amor à profissão.
E isto foi demonstrado pela D. Alcina e outras professoras. A preparação dos alunos, segundo estudos científicos hoje existentes, não eram os de agora. O aluno entrava na escola completamente "verde " (se se ajusta aqui o termo), sem haver qualquer preparação ou sequer uma primitiva ideia do que era «escola». Ou seja, o primeiro contacto com a escola era apenas feito aos sete anos! Antes disso, já eram os ninhos, jogar à bola, armar ratoeiras nas terras, e outras «preparações» do género.
A nossa entrada na escola era um choque medonho, num misto de curiosidade e medo. Por isso o tremendo insucesso escolar, quando agora é das coisas mais badalada, até tendo em vista outros interesses que nada condizem com o ensino.
O que quero dizer, é que encaixa perfeitamente o velho ditado que para se ensinar era necessário «fazer das tripas coração». Passavam-se muitos sacrifícios e privações, não havia material, não havia condições climáticas e outras (íamos para escola descalços e, muitas vezes, cheios de fome) e quando se fazia uma escrita (prova) era distribuída a tinta nos tinteiros de porcelana encaixados nas carteiras, em doses racionadas, que nos deixava logo ali desmotivados por tão pouca tinta que nos era entregue para o trabalho, com todos os miúdos a reclamar. E o trabalho tinha de ser feito, poupando a tinta. Quer dizer, que era centrada na poupança e não na prova, a nossa concentração. E o material escolar, pertença da escola, era um armário com peças geométricas e outras, de madeira, arrumadas a um canto.
Uma palavra para D. Beatriz. Era tida com uma disciplina um tanto rígida, mas que fez bem a muita gente daquele tempo, porque rebeldes já os havia. E na quarta classe que me foi ministrada por ela, apesar de tudo com a competência que também lhe era reconhecida, cujo exame íamos realizar à escola do Adro, em Águeda, que provocava um ambiente todo ele envolto em mistério e medo, a D. Beatriz teve a alegria de ver na sua classe três alunos, no exame dessa época (salvo erro em 1953), com a classificação de «distintos». Havia três tipos de classificação: reprovado, aprovado e aprovado com distinção. Foi o último ano em que isto funcionou na escola primária (ou do 1º ciclo como agora se diz).
Esses alunos, aprovados com distinção foram, eu, o João Vidal Xavier (infelizmente já falecido há pouco tempo) e o Chico (Francisco António da Silva Gomes dos Santos, filho do sr. Inspector Gomes dos Santos e da D. Maria Antónia, professora também em Arrancada ao tempo) que se encontra no Brasil.
Este post já vai longo. Mas fica muito para dizer sobre a D. Alcina e durante aqueles três primeiros anos escolares em que me aturou. E deve ser salientado que era professora por vocação, uma vez que antes de enveredar pelo ensino, tirou outros cursos tendo desempenhado as funções inerentes aos mesmos.
Talvez aqui volte ao tema… um dia.
Tenho o prazer de poder afirmar que apesar dos meus sessenta e tal, ainda tenho a felicidade de dizer que a minha professora ainda é deste mundo e vive "ao meu lado"!
Podia socorrer-me de algumas biografias que andam por aí publicadas, mas prefiro utilizar a recordação para exprimir por palavras pessoais, o que ainda recordo dela e do tempo de escola.
Sei também que estou muito em falta na retribuição da consideração em que me tem, pois por várias vezes me chegam ecos, através de terceiros, do seu interesse por mim e pela minha situação. «Então o meu Zezinho? Quero que venha aqui para almoçar comigo», exprime ela carinhosamente.
A D. Maria Alcina, durante muitos anos deu aulas em Arrancada do Vouga. E vinha a pé, da Mourisca, até à Quinta da Aguieira. Ali, manhã cedo, era esperada por quase todos os seus alunos de Aguieira e depois era por nós «escoltada» até à Boiça, daqui seguíamos os caminhos naturais pela berma das terras de cultivo, e íamos sair junto da actual Auto-Branco, onde existia aquela grande casa com cata-vento, idêntico a tantos outros que havia pela freguesia.
De acordo com o sistema então vigente, a D. Alcina dava aulas a duas classes. À primeira e à terceira. A D. Beatriz, de quem fui aluno na quarta classe dava aulas à segunda e à quarta. E eram tão numerosas, todas só de rapazes naquele tempo (!).
Para falar da D. Alcina, certamente e como se compreenderá, não cabem aqui as palavras todas. Ficam obstruídas no mais profundo âmago do sentimento humano. Não tinha, como outras e outros professores daquele tempo, quaisquer meios que se possam comparar aos actuais.
Mas, certamente por isso, havia que engenhar as coisas para as tornar eficientes e úteis, inventando e, pondo em destaque, acima de tudo, o interesse, a dedicação e algum, senão mesmo muito, amor à profissão.
E isto foi demonstrado pela D. Alcina e outras professoras. A preparação dos alunos, segundo estudos científicos hoje existentes, não eram os de agora. O aluno entrava na escola completamente "verde " (se se ajusta aqui o termo), sem haver qualquer preparação ou sequer uma primitiva ideia do que era «escola». Ou seja, o primeiro contacto com a escola era apenas feito aos sete anos! Antes disso, já eram os ninhos, jogar à bola, armar ratoeiras nas terras, e outras «preparações» do género.
A nossa entrada na escola era um choque medonho, num misto de curiosidade e medo. Por isso o tremendo insucesso escolar, quando agora é das coisas mais badalada, até tendo em vista outros interesses que nada condizem com o ensino.
O que quero dizer, é que encaixa perfeitamente o velho ditado que para se ensinar era necessário «fazer das tripas coração». Passavam-se muitos sacrifícios e privações, não havia material, não havia condições climáticas e outras (íamos para escola descalços e, muitas vezes, cheios de fome) e quando se fazia uma escrita (prova) era distribuída a tinta nos tinteiros de porcelana encaixados nas carteiras, em doses racionadas, que nos deixava logo ali desmotivados por tão pouca tinta que nos era entregue para o trabalho, com todos os miúdos a reclamar. E o trabalho tinha de ser feito, poupando a tinta. Quer dizer, que era centrada na poupança e não na prova, a nossa concentração. E o material escolar, pertença da escola, era um armário com peças geométricas e outras, de madeira, arrumadas a um canto.
Uma palavra para D. Beatriz. Era tida com uma disciplina um tanto rígida, mas que fez bem a muita gente daquele tempo, porque rebeldes já os havia. E na quarta classe que me foi ministrada por ela, apesar de tudo com a competência que também lhe era reconhecida, cujo exame íamos realizar à escola do Adro, em Águeda, que provocava um ambiente todo ele envolto em mistério e medo, a D. Beatriz teve a alegria de ver na sua classe três alunos, no exame dessa época (salvo erro em 1953), com a classificação de «distintos». Havia três tipos de classificação: reprovado, aprovado e aprovado com distinção. Foi o último ano em que isto funcionou na escola primária (ou do 1º ciclo como agora se diz).
Esses alunos, aprovados com distinção foram, eu, o João Vidal Xavier (infelizmente já falecido há pouco tempo) e o Chico (Francisco António da Silva Gomes dos Santos, filho do sr. Inspector Gomes dos Santos e da D. Maria Antónia, professora também em Arrancada ao tempo) que se encontra no Brasil.
Este post já vai longo. Mas fica muito para dizer sobre a D. Alcina e durante aqueles três primeiros anos escolares em que me aturou. E deve ser salientado que era professora por vocação, uma vez que antes de enveredar pelo ensino, tirou outros cursos tendo desempenhado as funções inerentes aos mesmos.
Talvez aqui volte ao tema… um dia.
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