Se houver justificação para enaltecer, que se faça em vida, é, pelo menos, a minha modesta opinião.
É esta a intenção que me move, aqui, neste pequeno espaço, mas demasiadamente grande para não se saber até onde vai a figura e obra de Júlia dos Santos Magalhães. Mas estou ciente que vai surpreender e rememorizar outros que estão longe destas terras e que nos "visitam".
E com a tarefa facilitada tendo à mão um espólio bastante completo e praticamente actual, não necessitando de quaisquer elementos mais para aqui traçar, nos post’s que forem necessários, baseado no trabalho que em 5 de Novembro de 1999 tinha feito para o semanário «Região de Águeda», que considero notório, sobre esta figura de cariz e com origens marcadamente populares, nas áreas a que se dedicou por vocação.
Melhor que mais considerações, ficam aqui explanados, na biografia que a própria escreveu e que naquele periódico se encontra, que digitalizamos de acordo com as possibilidades que temos, os primeiros traços da sua vida, demonstrativa de um carisma que a poucos é dado possuir e desenvolver. Aqui voltaremos.
Parte da página do «Região de Águeda» dedicada a Júlia Magalhães
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A minha história
(Dizia a D. Júlia)
Nasci em 5 de Maio de 1927, no Porto. Meu pai foi Francisco de Magalhães e minha mãe Benvinda Lopes dos Santos. Sei que foi naquele dia que nasci, embora meu pai apenas legalizasse a situação passados oito ou dez dias. Por isso no Bilhete de Identidade está outra data.
Meu pai tinha as suas origens no Minho, em Cabeceiras de Basto e minha mãe em Macinhata do Vouga.
Após meu pai ter regressado da primeira guerra mundial, veio para o Porto e ingressou na Polícia de Segurança Pública. Minha mãe ficou órfã de seus pais ainda muito cedo e veio para o Porto como empregada doméstica e foi lá que ambos se conheceram e uniram seus destinos.
As minhas origens estão no Porto, visto ter sido primogénita, mas sendo tripeira, sinto-me mais Valonguense, embora sinta grande carinho pela minha cidade.
Meu pai, por motivos de saúde, foi reformado da PSP e como minha mãe tinha família na freguesia de Valongo do Vouga, compraram casa no lugar de Brunhido, onde passei a residir desde os oito anos de idade.
Ingressei no ensino primário no Porto e como naquele tempo a escola não era obrigatória, existiu um interregno de um ano, por motivos familiares, mas no ano seguinte retomei a escola, quase sempre fugindo de minha mãe, porque adorava estudar.
Frequentei a escola de Arrancada, pois naquele tempo ainda não havia escola em Valongo. Quando fiz o exame da terceira classe, chamado na altura de exame do primeiro grau, fui obrigada a abandonar a escola, pois a falta de recursos familiares obrigava-me a trabalhar.
Foi-me vedado o que mais gostava na vida: estudar.
Mas a minha “vingança” foi ler, ler, ler…
Lia tudo o que me aparecia, mas gostei sempre de boa literatura. É a esse gosto que devo, em grande parte, o pouco que sei. Carrego até ao fim dos meus dias a mágoa de não ter ido mais longe e saber mais…
Fui empregada doméstica até ingressar nos quadros da firma António Pereira Vidal & Filhos, Lda., na qual trabalhei durante trinta anos. Passei à situação de pensionista por falta de saúde. Daí para cá, faço a minha modesta e pacata vida de doente e de pessoa idosa.
Quanto à escrita e à poesia, sempre gostei de escrever em papelinhos, conforme o estado de espírito e guardava-os numa gaveta até ao dia em que havia limpeza e ia tudo para o lume.
Mais tarde o saudoso Inspector Gomes dos Santos, ilustre pedagogo e escritor da nossa Terra, que conhecendo-me bem, me incentivava a escrever e a guardar. É a ele que devo algo mais do Dom que possuo. Em sua memória a minha prece de gratidão.
Este um ligeiro esboço da minha vida, que será e é igual à de tantas outras pessoas. Mas esta é a minha modesta biografia.
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