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sábado, 19 de setembro de 2009

Gente destas terras - XI

Os livros de
Júlia dos Santos Magalhães

Neste post que espero não seja o último, mas que fica a “capitalizar” a publicação de outros, quando os momentos se exaltam e, assim, se justifique voltar aqui sobre este tema, apresentamos a digitalização da capa dos livros da autoria de Júlia dos Santos Magalhães, poetisa popular, que transbordam melancolia, recordações, saudade sentida de tempos idos que nunca se esquecem e ainda a demonstrar uma dose acentuada de rejuvenescimento, apesar da sua situação etária a demonstrar a vitalidade de fazer inveja a muitos, mais jovens.
Tecer alguns comentários aos livros, entre os quais deve ser mencionado também Os Contos d’Avó, editado em 2007, que não surge na digitalização porque não o temos neste momento, havia muito a dizer. Sobre este último aqui viremos “mostrá-lo”, pelo que ficam alguns excertos dos prefácios inseridos nos restantes, que abaixo distinguimos e transcrevemos.

Estado de Alma em poesia
Edição de 2001


Da autoria de Manuela Esteves, directora da IPSS «Os Pioneiros – Associação de Pais de Mourisca do Vouga», pessoa que muito apoiou e incentivou Júlia Magalhães a editar este livro, bem como a Instituição que representa e com o alto patrocínio do Rotary Club de Águeda, refere estas passagens que seleccionamos:
«Estado de Alma em Poesia é o título do primeiro livro de poesia da trabalhadora têxtil e poetisa popular Júlia de Magalhães, de Valongo do Vouga. (…)
Júlia de Magalhães, desde miúda, passava horas na companhia de pessoas idosas a escutar, mais que falar, pois seduziam-na os segredos da vida. Assim lhe foi transmitido o gosto pelos valores humanos e culturais. Frequentou sempre a Igreja Católica como pessoa muito devota, foi catequista e participou nas lides da paróquia, nos coros e teatros para os quais fazia as letras. A “musa” que estava dentro de si fez dela pessoa dedicada à escrita em rima, o que não era muito natural na sua aldeia. (…)
Porém como qualquer pessoa e em qualquer idade, tem os seus sonhos, muito peculiarmente o de editar um livro com os poemas que foi escrevendo ao longo da vida. Uns alegres, outros melancólicos, conforme o seu estado de alma.»
...

Pedras Soltas
Edição de 2004

Esta edição, na continuidade da edição de 2001, insere-se também na «literatura tradicional de cariz popular tem a sua génese nas origens da própria Humanidade, origens perdias nos confins da História, e está associada a rituais mágicos e religiosos, assim como à transmissão dos conhecimentos.» é assim que inicia uma Introdução em jeito de prefácio, da autoria de Ana Margarida Ramos. E acrescenta:
«… estes textos caracterizam-se formalmente por traços de grande simplicidade, como são a predominância da quadra (como os que aqui surgem incluídos), mas raramente da sextilha, da redondilha, além da ritma cruzada, que marcam grande parte dos cancioneiros populares.» (…)
Salientamos ainda o corolário de um sentimento expresso nas palavras e nas quadras de Júlia Magalhães, citando ainda Ana Margarida Ramos:
«Os elementos naturais são objecto de contemplação, mas também de cenário dos trabalhos e dos dias, dos divertimentos e das dores do sujeito poético. Verifica-se claramente uma forte inserção da poetisa no seu espaço e no seu meio (assim como alguns dos seus habitantes, que recorda e quase parece venerar), fortemente exaltados nos seus textos.»

Ponto Final
Edição de 2009

Tal como os anteriores, o prefácio deste livro é iniciado com um título sugestivo: PALAVRAS DESNECESSÁRIAS, da autoria do conceituado historiador Deniz Ramos. Inicia deste modo e prende-nos de imediato na leitura com este apontamento:
«Ao ler os versos e os textos poéticos do último livro da D. Júlia Magalhães, foi como se estivesse a recolher na concha das mãos a água pura da nascente. O que já é privilégio de poucos, pois os hábitos consumistas fragilizam-nos, há muito, paladares e gostos. E leitor que sou de muitos livros, diria mesmo, leitor compulsivo, acreditem que o meu aprazimento foi genuíno. Na oralidade e singeleza da sua escrita, despida de artifícios falaciosos e ruídos eruditos, e encantatória nessa pureza, foi exactamente essa a sensação tão desacostumada, de saciar a sede em água límpida de fonte laustral.
Não conhecia muito de perto a autora, mas, ao lê-la, acabaria por confirmar que nem sempre os poetas são fingidores. O próprio título do seu primeiro livro, Estado de Alma em Poesia, parece indiciá-lo. É poesia que vem realmente da alma, a depurar sentimentos múltiplos e íntimos e, na melhor tradição da sabedoria popular, a desafiar memórias do viver comunitário ancestral, poesia como que ajoelhada em confessionário ou com bata de mestre-escola em catequese moralizadora.»
E finaliza assim:
«Os fiéis leitores de D. Júlia Magalhães não precisariam de estímulos para levar até ao fim a leitura das dezenas de versos e memóriuas do seu Ponto Final, que não será final, desejo-o eu. Por isso, desnecessárias, de tão redundantes, estas minhas palavras.»

*****

Uma nota final:
Gostaria de transcrever na íntegra estes prefácios. Ficaria esta apresentação muito mais enriquecida. Mas não é possível pela sua extensão. Já aqui referi que textos muito longos em blogue, dificilmente serão lidos. Mas neste caso não tenho alternativa de os fazer mais curtos. Se assim fosse, retirava-lhes muito do que se pretende mostrar e confirmar sobre gente destas terras.
Falta dizer uma coisa: as terras de Valongo e, principalmente, o Rio Marnel destacam-se e são exaltados nos livros de Júlia Magalhães, além de outros factos acima referidos das tradições, da vida e dos locais quase desaparecidos...

Sem comentários:

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