Por bem da Língua
Inspector Gomes dos Santos
Voltamos com mais um capítulo do livro do Insp. Gomes dos Santos, porque ficou alguma coisa (talvez mais do que muita) para dizer.
Um dos pormenores que havia a divulgar é que este seu livro de fazer ensinar a escrever bem e correcto, é mais comparável ao nosso conhecido e relativamente actualizado Prontuário Ortográfico que, penso, a maioria terá por casa.
Mas há uma diferença; é que o Prontuário, de 18 de Março de 1997, dá-nos conta das palavras, da fonética, regras, acentuações, sílabas e tantas outras regras de bem escrever. Por Bem da Língua, conta histórias, dizendo com elas como é que se escrevem as palavras, o que significam e o que traduzem quando escritas de uma forma ou de outra.
Lembrei-me desta comparação, que refuto de bastante interesse e curiosidade.
Por bem da Língua, já referi, foi concluído no Natal de 1959 e ficou transformado em livro em 1960.
Para ilustrar o que antes se refere, quero deixar aqui duas ou três histórias do Insp. Gomes dos Santos, inseridas neste «seu prontuário», algumas até com certa piada.
a) - Eu fui o que bebi menos
- Um amigo que ouviu, como eu, numa camioneta, esta frase a um homem do povo, da Mealhada, perguntou-me se era correcta.
Respondi que não é a forma gramatical e culta, visto que essa seria:
- Eu fui o (ou aquele) que bebeu menos.
Mas é perfeita e corrente dentro da índole popular.
O pronome eu (que serve sempre de sujeito) atrai a forma verbal concordante bebi. Eu bebi.
b) - Uma lei nova e uma nova lei, não serão uma e a mesma coisa?
«O Século» do dia 10-12-1959 publicou um artigo de fundo, assim intitulado:
«A caça precisa de nova lei,
que seja uma lei nova.»
Como em português é facultativa a colocação do adjectivo (antes ou depois do substantivo) a significação deveria ser a mesma.
Todavia, aqui, nova lei significa outra lei; e a expressão "que seja uma lei nova" quer dizer uma lei actual.
Portanto, - uma outra lei, actualizada, ou adequada às necessidades presentes.
Pode, pois, modificar subtilmente o sentido, a colocação do adjectivo.
É o caso do homem grande (corpulento), e do grande homem (ilustre, valioso).
E com estas, por cá nos ficamos...
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