"Guerra" com rio da Alombada
Uma acta da sessão ordinária de 8 de Abril de 1900, cuja Junta era constituída pelo Revº prior João António Nunes Callado, presidente, José Correia de Bastos e António da Fonseca Viadal, vogais efectivos e ainda João Baptista Fernandes de Sousa, vogal secretário, diz que:
«Compareceu logo um grande número de moradores d'esta freguezia a denunciar que alguns habitantes do logar e freguezia de Paradella, do concelho de Sever do Vouga, tentam desviar o curso das aguas do rio d'Allombada, apanhando-as todas na sua corrente, e conduzindo-as por uma mina subterranea e fechada a uma grande distancia d'aquelle rio, com o fim de as empregar na rega de terrenos proprios e outros fins particulares. E esta Junta, que sabe que o rio da Allombada é um dos maiores affluentes do rio Vouga; que no seu longo percurso, atravez das freguezias de Paradella, concelho de Sever do Vouga, e da de Macinhata, no d'Agueda, e por muito proximo também da freguezia das Talhadas e d'alguns logares d'esta de Valongo, faz laborar grande numero de engenhos, pertencentes aos povos d'estas quatro freguezias, nas quaes moem o pão de que se alimentam, desde tempos immemoriaes; que rega tambem grande quantidade de predios que os moradores d'estas freguezias possuem nas margens d'aquelle rio; que as suas aguas vão avolumar consideravelmente as do rio Vouga, concorrendo assim muito poderosamente para o mais facil e commodo transporte, que por este rio se faz das inummeras mercadorias, como são os productos metallurgicos das importantes minas do Braçal e das Talhadas, das enormes quantidades de madeiras, lenha, matto, pedra que esta região fornece para a cidade d'Aveiro, Ilhavo e Vista Alegre, e para todo o litoral do districto em geral, não esquecendo ainda muitos productos agricolas, que da parte da Beira Alta descem ao caes de Pecegueiro, e d'aqui seguem rio abaixo a abastecer muitas praças e mercados d'este districto, como tambem pelo mesmo rio sobe immensa quantidade de sal para os povos marginaes até a Beira Alta:
Deliberou tomar na maior consideração a justissima reclamação dos seus comparochianos, que se vêem ameaçados nos seus direitos adquiridos d'esde á seculos, e levar este facto ao conhecimento do Excellentissimo senhor director das Obras Publicas d'este districto d'Aveiro, afim de que, pela repartição competente, sejam embaraçados aquelles que tão audaciosamente tentam tirar, por muito ou pouco tempo, a agua do rio d'Allombada.
E deliberou tambem que d'esta acta se tirasse copia que será remettida ao Excelentissimo senhor director das Obras Publicas d'este districto d'Aveiro para o predito fim.
Não havendo mais de que tratar deu o presidente por fechada a sessão, etc., etc., etc....»
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Confesso que não sabia deste facto histórico narrado nesta acta. O que parece ser evidente é que queriam, e não sei se o conseguiram definitivamente ou não, desviar o curso do rio de Alombada, que todos conhecem.
Os seus fautores, terão sido os habitantes de Paradela. Não conhecemos, e isso seria curioso, quais terão sido as reacções dos habitantes de outros lugares e freguesias.
Na freguesia de Valongo damos conta que esta acta é um documento indiscutível e indelevel de que alguma coisa se terá passado quanto ao desvio do curso das águas daquele rio.
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