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terça-feira, 10 de agosto de 2010

As Meninas Mascarenhas

O Livro - XXVIII


Ficámo-nos, no post anterior, pela regresso ao governo civil de um mandantário dos Bandeira da Gama, o Dr. Resende, após o encontro deste com o cônsul francês.
Logo que chegou, juntou-se ao Pedro Bandeira no governo civil onde aguardava pelas suas sobrinhas. Ambos dirigiram-se ao Visconde de Valongo, o então Governador Civil, que de imediato os recebeu e a quem foi exposta a situação.

Porque aquilo que se passava era uma representação perfeita,
nada melhor a ilustrar que esta foto do blogue
http://portografia.blogspot.com/2007_03_01_archive.html

Foi-lhe solicitada a sua intervenção, escudando-se na teoria de que a recusa de Ransam significava que na sua casa estavam escondidas as sobrinhas e o seu tutor. O Governador Civil bem coçava na cabeça pobre de cabelos e de miolos - dizia o Dr. José Joaquim da Silva Pinho - demorando a dar uma resposta e, de repente, fingindo que lhe tinha ocorrido uma providencial ideia, disse:
- O Sr. Dr. Resende fala bem, mas eu digo que as coisas mudaram bastante. Até aqui tínhamos a entender-nos só com gente portuguesa, mas agora trata-se de uma requisição feita a um diplomata estrangeiro, e há uma diferença nas relações dos funcionários com os nossos administrados das relações que precisamos ter com o corpo consular estrangeiro. Não sei, não sei como isso há-de ser.

O Pedro Bandeira dirigindo-se ao Governador Civil fez-lhe ver que ficava inutilizada toda a acampanha, com as suas dúvidas descabidas!...
Mas não acabam aqui as conjecturas, que dão indícios de pouca habilidade e uma falta de conhecimentos indesculpável. O Governador Civil chama um funcionário e pergunta se, sem perigo de conflito diplomático, pode oficiar ao cônsul francês para pedir autorização para que a polícia entre em casa de um cidadãos de seu país, para fazer uma busca policial.
E o funcionário, demonstrando conhecimentos bastantes, diz que não há risco de nenhum conflito e que os termos seria o Governador pedir, por ofício, a autorização que o Dr. Resende e o Bandeira da Gama solicitavam. Se assim é, vamos já fazer o ofício para eu assinar e é serviço urgente, dizia já ufano o Governador.
Pouco depois o ofício estava pronto e assinado, entregando-o ao agente da polícia. Pedro Bandeira e Francisco Resende lá foram ao consulado francês, partindo à desfilada. Mas lido o ofício do Governador, o cônsul demonstrou alguma dúvida, hesitou em conceder a autorização, mas depois pôs o «placet» necessário num papel que a polícia foi apresentar ao dono da casa sitiada.
Ransam, cidadão francês, viu a licença do seu cônsul e não colocou a mínima oposição, franqueando a porta e a polícia entrou imediatamente. O Dr. Resende ia à frente com ares de comandante. Foi tudo pesquisado, vigiado, ele é que fazia tudo e perguntava, mandava abrir compartimentos e móveis, nada ficando por examinar, até os colchões das camas foram remexidos.
Foi feita uma busca minuciosa, completa, nada ficando por bisbilhotar, uma busca quase grosseira, demorada. O médico de Aveiro dava msotras de impaciência, de nervoso, como que ficando fora de si. E exclamava, como se transcreve:
- Mas, é impossível... As meninas estão aqui, o Joaquim Álvaro também cá está. Onde se escondem?
E continuava a busca, cada vez mais cautelosa, com mais insistência, batiam nas paredes e tabiques, como que auscultando o som denunciador de algum disfarce ou falsete ardilmente construído nas paredes, que ocultassem pessoas e objectos.
O resultado foi completamente negativo. O Dr. Resende tinha quase a certeza que era completamente iludido, mas não possuía outros meios de poder esclarecer e de achar as Meninas Mascarenhas e o seu tutor. Corria o mês de Janeiro, havia frio e o Dr. Resende suava.
Já numa grande aflição conjecturava sobre o que iria dizer ao Pedro Bandeira e ao Governador Civil. O que havia de dizer ao cônsul de França que teve uma grande repugnância em autorizar aquela busca? A vaidade do Resende estava amarfanhada, melhor, magoada, como escrevia do Dr. José Joaquim da Silva Pinho.
Havemos de, proximamente, contar mais alguma coisa...

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