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terça-feira, 9 de março de 2010

Coisas da Guiné - 25

Tínhamos, desde há muito, decidido que o que dissesse respeito à Guiné, por onde andamos nos anos sessenta, seria conhecido com o título de «COISAS DA GUINÉ»
Penso que não havia mal algum chamar-se assim. Mas também admito que ficará melhor passar a ser conhecida esta secção como «Curiosidades da Guiné», pois na realidade para todos nós (até para mim) a Guiné era sempre constituída por curiosidades. Por isso, vamos hoje relembrar uma dessas curiosidades daquelas gentes, que chegou a ser publicado no «Jornal da Caserna» (um jornal da CCaç. 462), em Outubro de 1964, com o título:


Hospital Militar em Bissau. Aqui não se faziam partos, porque todos os que, infelizmente, lá davam entrada eram militares. Só muitos anos depois é que passaram a existir mulheres nas Forças Armadas da Guiné, especialmente na Força Aérea, nas fnções de enfermeiras paraquedistas. Os que estão na foto, dois são da freguesia de Valongo e um terceiro da freguesia de Espinhel, do concelho de Águeda. Um deles, natural de Arrancada e o outro do Casainho, eram «funcionários do Hospital»
O PARTO NOS BIJAGÓS
Como sabemos, existem diversas raças de índigenas na Guiné. Cada qual tem os seus costumes próprios e também alguns que sendo comuns a várias outras raças, não deixam por isso de ter certas características que lhe dão individualidade. Muito resumidamente, vamos ver algumas noções curiosas àcerca do parto na raça Bijagó.
A parturiente tanto pode ser uma rapariga solteira (campune) como uma mulher casada (ocanto), como é óbvio.
Tratando-se da primeira, quando está nas proximidades do parto recolhe a casa e manda chamar algumas "mulheres grandes" que possam servir de parteiras.

Uma dessas mulheres, e enquanto a parturiente vai enumerando o nome dos indivíduos com quem manteve relações sexuais até à altura do parto, conserva-se ao lado da cama, tendo na mão um molho de palha a arder, na ânsia de afastar os maus espíritos.
Se a parturiente é uma mulher casada, tal enumeração não se dá, pois se parte do princípio que a mulher é fiel ao marido (?!).
A seguir ao parto o recém nascido é lavado com água do mar, limpo de todas as sujidades e esfregado com óleo de palma. Cerca de três dias depois a mãe é levada a uma praia e lavada com água do mar.
No entanto, o mais vulgar entre as raparigas solteiras (campunes) é a provocação do aborto. Como o nascimento dum filho a coloca numa posição social diferente, embora continue campune, ela prefere resolver o problema da forma mais simples: elimina-o.
Esta resolução, ao mesmo tempo que tira a preocupação à rapariga, evita também problemas ao rapaz se acaso ainda não foi ao fanado.
É que está decidido que os rapazes antes de irem ao fanado não podem ter relações sexuais e admitir a existência de um filho antes da época própria, é admitir uma fraude àquele princípio.
Além disso, todo o filho que nasça antes do fanado deixa de pertencer ao pai, e até à mãe, e passa a pertencer aos pais desta.
Cremos que é apenas nos Bijagós que este costume se segue como o descrevemos.

DOC
(Dr. Ramiro Fernandes de Figueiredo)
(Ex.alf.mil. médico da CCaç. 462-Guiné 1963/1965)

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