Tínhamos, desde há muito, decidido que o que dissesse respeito à Guiné, por onde andamos nos anos sessenta, seria conhecido com o título de «COISAS DA GUINÉ»
Penso que não havia mal algum chamar-se assim. Mas também admito que ficará melhor passar a ser conhecida esta secção como «Curiosidades da Guiné», pois na realidade para todos nós (até para mim) a Guiné era sempre constituída por curiosidades. Por isso, vamos hoje relembrar uma dessas curiosidades daquelas gentes, que chegou a ser publicado no «Jornal da Caserna» (um jornal da CCaç. 462), em Outubro de 1964, com o título:
Hospital Militar em Bissau. Aqui não se faziam partos, porque todos os que, infelizmente, lá davam entrada eram militares. Só muitos anos depois é que passaram a existir mulheres nas Forças Armadas da Guiné, especialmente na Força Aérea, nas fnções de enfermeiras paraquedistas. Os que estão na foto, dois são da freguesia de Valongo e um terceiro da freguesia de Espinhel, do concelho de Águeda. Um deles, natural de Arrancada e o outro do Casainho, eram «funcionários do Hospital»
O PARTO NOS BIJAGÓS
Como sabemos, existem diversas raças de índigenas na Guiné. Cada qual tem os seus costumes próprios e também alguns que sendo comuns a várias outras raças, não deixam por isso de ter certas características que lhe dão individualidade. Muito resumidamente, vamos ver algumas noções curiosas àcerca do parto na raça Bijagó.A parturiente tanto pode ser uma rapariga solteira (campune) como uma mulher casada (ocanto), como é óbvio.
Tratando-se da primeira, quando está nas proximidades do parto recolhe a casa e manda chamar algumas "mulheres grandes" que possam servir de parteiras.
Uma dessas mulheres, e enquanto a parturiente vai enumerando o nome dos indivíduos com quem manteve relações sexuais até à altura do parto, conserva-se ao lado da cama, tendo na mão um molho de palha a arder, na ânsia de afastar os maus espíritos.
Se a parturiente é uma mulher casada, tal enumeração não se dá, pois se parte do princípio que a mulher é fiel ao marido (?!).
A seguir ao parto o recém nascido é lavado com água do mar, limpo de todas as sujidades e esfregado com óleo de palma. Cerca de três dias depois a mãe é levada a uma praia e lavada com água do mar.
No entanto, o mais vulgar entre as raparigas solteiras (campunes) é a provocação do aborto. Como o nascimento dum filho a coloca numa posição social diferente, embora continue campune, ela prefere resolver o problema da forma mais simples: elimina-o.
Esta resolução, ao mesmo tempo que tira a preocupação à rapariga, evita também problemas ao rapaz se acaso ainda não foi ao fanado.
É que está decidido que os rapazes antes de irem ao fanado não podem ter relações sexuais e admitir a existência de um filho antes da época própria, é admitir uma fraude àquele princípio.
Além disso, todo o filho que nasça antes do fanado deixa de pertencer ao pai, e até à mãe, e passa a pertencer aos pais desta.
Cremos que é apenas nos Bijagós que este costume se segue como o descrevemos.
DOC
(Dr. Ramiro Fernandes de Figueiredo)
(Ex.alf.mil. médico da CCaç. 462-Guiné 1963/1965)
(Dr. Ramiro Fernandes de Figueiredo)
(Ex.alf.mil. médico da CCaç. 462-Guiné 1963/1965)
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