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quarta-feira, 24 de março de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - IX
.......
No capítulo VIII, deixamos a história na conversa do Dr. Silva Pinho e o Visconde com D. Margarida Coelho da Rocha e das respostas desconfiadas desta para com os seus visitantes, caracterizadas, em relação aos factos, pelas palavras - «Tenho uma ideia»....

Escola EB1 de Cabeçais, freguesia de Fermedo, local onde passaram as Meninas Mascarenhas, retirada do site daquela escola

*****
Depois de Pacheco Teles ter dito que era o tutor das meninas e que elas erão perseguidas, surge esta pergunta:
- Mas o que pretendem os senhores?
- Pousada por uma noite nesta casa. De manhã, continuaremos a nossa viagem.
E assim aconteceu no meio de um ambiente de desconfiança e mistério por parte das pessoas daquela casa. Existiram mais explicações e D. Margarida mostrava-se menos desassossegada. Arranjados os aposentos e apressada a ceia, deixou-os a sós, «menos constrangida vinha de vez em quando até junto deles, interrogando-os mais com os olhos espantados que com a palavra desconfiada.»
Veio a ceia, por sinal apetitosa e suculenta e de seguida foram todos descansar, sendo a própria D. Margarida a acompanhá-los aos respectivos quartos que destinou às pessoas da comitiva.
«As meninas ficaram numa cama; eu e Joaquim Álvaro ficámos noutro compartimento, dormindo juntos. Seriam dez horas dessa noite terrível. Estávamos fatigados e o sono veio depressa.»
Mas o sono e os sonhos que talvez viessem a ter foram brutalmente interrompidos quando se ouviu a detonação de armas de fogo. A seguir, ouviu-se outra, à mistura de rumores e gritos raivosos e passos apressados de gente, fora de casa. Levantaram-se ambos.
Referia o Dr. Silva Pinho: «O que seria? As detonações das espingardas e a algazarra continuaram.» Passaram alguns minutos, até que, perante o silêncio seguem-se várias pancadas à porta do quarto onde esperavam por um reparador sono e gritando-se, alto e bom som, que estavam presos à ordem de el-Rei.
O Dr. Silva Pinho, como deixou entender, sabia o latim, de que resultou um exame proveitoso na Universidade, lembrou-se de um verso de Vergílio, na «Eneida», que dizia:
«Frigidus horror mihi membra quati» - que significa na tradução que o livro, em nota de roda-pé, esclarece: «Um horror frio agita-me os membros».
Perante estes inesperados acontecimentos, instalou-se algum desânimo, pareciam perdidos porque até a resistência seria impossível, porquanto a casa estaria cercada, o quarto invadido por homens de espingarda aperrada, e logo choveram as perguntas quem eram, donde vinham, para onde iam e se traziam passaporte!
No meio desta inesperada confusão, a primeira reacção e ideia, foi dizer que a D. Margarida podia confirmar serem pessoas de paz, podendo ser a sua fiadora de identidade. Na resposta de D. Margarida, veio a derrocada completa, quando disse:
«Esses senhores disseram-me donde vinham e a que família pertenciam. Pessoalmente não os conheço. Por isso não posso afiançar a sua identidade.»
Todos sucumbiram perante esta resposta.... e até esqueceu a carta de apresentação da sua amiga Matilde Máxima, de Soutelo, acrescento eu!

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