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sábado, 1 de agosto de 2009

USOS E COSTUMES

A ESCARPELADELA (OU DESFOLHADA)

A escarpeladela era um acontecimento esperado ansiosamente por todos quantos apreciam uma noitada passada entre amigos e na maior reinação.
Convidam-se os amigos para a escarpeladela, a qual se verifica sempre à noite. As pessoas fazem uma roda e sentam-se no chão em cima de sacos de pano ou outra coisa qualquer, alumiados por uma lâmpada. A cena passa-se no cabanal ou no pátio da casa ou ainda junto da eira e da barraca que lhe ficava adjacente.
Aí começa a festa, pois assim se pode chamar à escarpeladela. Cantava-se ao desafio e diziam-se piadas maliciosas e devidamente apimentadas para apurar a noite.
Durante a escarpeladela, vivia-se uma certa ansiedade, porque ao surgir uma espiga vermelha (tão desejada, por vezes entre raparigas), há os abraços e os beijos.
Em tempos apareciam, de surpresa, os serandeiros, uns homens disfarçados e mascarados, para meter sustos e medo às raparigas novas. Agora já não há serandeiros, as escarpeladelas quase desapareceram (se não mesmo extintas), mas ao menos ficou a alegria e a recordação de tempos de confraternização pura e simples, tempos de reinação de cariz muito popular.
Em jeito de remate e para confirmar o que as escarpeladelas podiam provocar, registe-se um facto relacionado com um casal, já ambos falecidos (que serviram de fonte de recolha deste e de outros pormenores da vida popular que aqui se vivia), que foi numa escarpeladela que se conheceram mais de perto e ela por ele ficou “embeiçada”… e tudo por causa de uma espiga vermelha!


Como bem se percebeu, utilizou-se apenas a palavra escarpeladela para definir o que, em termos populares, também era conhecido pelas DESFOLHADAS…

(Texto adaptado de um trabalho de pesquisa feito pela Dr.ª Helena Maria Morais de Oliveira, no lugar do Sabugal e Valongo do Vouga, para a disciplina de português do primeiro ano da licenciatura obtida na Universidade de Aveiro, no ano lectivo de 1979/1980, classificada de BOM+, manuscrita, com 90 páginas. Não havia computadores e respectivo software de tratamento de texto, além da máquina de escrever).

Sobre Serandeiros (ou Sarandeiros, noutras terras), por exemplo, numa freguesia de Ovar, lugar de Arada, são conhecidas umas quadras interessantes sobre estas figuras que costumavam surgir de surpresa e com aspecto sinistro e atemorizador, e que dizem assim:
Ver blogue neste endereço: http://www.eb1-preguica-n3.rcts.pt/site_antigo/terra.htm
Aragem que leva fumo
Leva aquele serandeiro,
Porque assim tão importuno
Não tem aqui qualquer paleio

OU:
Serandeiro de gabão,
Feito de peles de ovelhas,
Sai-te daqui para fora,
Senão ficas sem orelhas

Na primeira quadra a rima não está muito de acordo com as normas e o ouvido. É que 'serandeiro' não rima com 'paleio'. Mas nestas coisas, o popular é que manda. Sem querer desvirtuar o que pode ser correcto, parece que ficava melhor ali poleiro. E até tinha outro sentido de acordo com o que antes é dito; de tão importuno que não tens aqui 'poleiro' onde pousar...

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