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sexta-feira, 31 de julho de 2009

USOS E COSTUMES

AS VOLTAS QUE DÁ O LINHO [i]


Na área da freguesia de Valongo do Vouga, para além de outras culturas, o linho marcou, em tempos não muito remotos, um lugar de evidente preponderância no modo de vida e na sobrevivência familiar.
Agora nada resta a não ser algumas ferramentas próprias que eram utilizadas nas diversas operações antes de chegar ao tear, a descansar em alguns museus locais e das redondezas.
Mas ainda perduram nas memórias as voltas por que passava o linho, antes de andar sobre o corpo de cada homem, feito camisa, ou na cama, feito lençol e ainda em qualquer outra peça de vestuário ou de enfeites em móveis ou sobre as mesas feito toalha.
Quando chegava ao fim do ciclo após a sementeira, era arrancado e ripado. Ia para o “Sadanho” para ser ripada a cabeça onde estava a semente.
Em seguida é atado em molhos e colocado em vasilhas com água, onde ficava de molho durante uns oito dias. A seguir era posto a secar no “tendal”, levantava-se e amassava-se com o maçadoiro à maneira de ficar em estriga.
Depois era estaquinhado (com uma estaquinha). Separava-se a estopa do linho. A estopa era um fio mais grosseiro. Em seguida era fiado.
Após fiado e dobado em meadas, estas eram lavadas, batiam-se na pedra e coziam-se em barrela de cinza, excrementos (bosta) de bovino, urina e, penso, mais alguma coisa que os apontamentos não mencionam.
A seguir a esta operação eram lavadas, colocadas em camadas a corar, até ficarem brancas. Só então é que se podiam considerar aptas a ir para o tear. Do linho saíam ainda aplicações medicianis, como era o caso da linhaça.
A propósito de linho, calha mesmo contar uma lenda demonstrativa do muito trabalho e canseiras que provocava.
Havia uma mulher, que não gostando muito de trabalhar, nunca ia para o rio bater meadas de linho. O seu marido provocava-a com epítetos grosseiros, chegando mesmo à agressão física, a fim de a obrigar a ir para o rio como as outras mulheres o faziam.
Ela, de uma forma subtil, pega em alguns trapos que possuía e resolve ir batê-los para o rio. O marido, desconfiado, vai no seu encalço e a mulher lavava, batia, esfregava, enfim, fartava-se de dar voltas aos trapos. O marido vendo que eram só trapos e não o linho, vai junto dela e dá-lhe mais uma sova, dizendo:
“Março, marçagão, cura meadas e esteiras não”.
Esta lenda era contada para criar em todas as raparigas o hábito e o prazer de preparar o linho. Também se contava quando se queria apontar alguém demasiado lento ou que perdia muito tempo com qualquer coisa sem valor.

(Esta pequena história foi adaptada de um texto elaborado pela Dr.ª Helena Maria Morais de Oliveira, actualmente a residir em Albergaria-a-Velha e docente na Escola Secundária daquela vila, de uma recolha de etnografia e linguagem feita no lugar do Sabugal e Valongo, onde residia, para a disciplina de português do ano lectivo de 1979/1980, da Licenciatura que obteve na Universidade de Aveiro. Este trabalho, manuscrito, pois não havia naquele tempo computadores, tinha 90 páginas, com fotografias e foi classificado de Bom+, do qual nos foi facultada, em tempos, uma fotocópia, que agradecemos).
[i] Sobre o linho, desde a sementeira até ao tecido, clique aqui…

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