Já não recordo as origens e os motivos, mas sei que um dia descobri no Museu Etnográfico de Mourisca, do Grupo de Folclore da Região do Vouga, uma saia que pessoa amiga, na altura responsável por aquele museu, me mostrou e informou que era uma saia original usada pelas mulheres, em Arrancada do Vouga, aí pelo século XVIII.
Esta passagem aguçou-me de tal modo a curiosidade que não descansei enquanto não obtive do malogrado José Maria Marques (uma das grandes figuras do folclore português, tragicamente desaparecido num acidente de viação, em França, quando regressava da Bélgica, com o Grupo da Região do Vouga, apenas para relembrar) deu autorização para a retirar daquele local (atitude impensável, naquele tempo, por variadíssimas razões que facilmente se deduzem, nomeadamente o valor que a peça representa), com vista a poder conseguir uma reconstituição dessa saia.
Não havia tecido igual ou parecido. Mas havia a possibilidade de, em aparência, poder reproduzir uma saia idêntica, pelo menos em padrão e restantes características. Porque arranjar fio ou tecido igual era completamente impossível.
Com a colaboração da firma António Pereira Vidal & Filhos, Lda., na pessoa do Sr. António Manuel, foi-me conseguido fio de tonalidades aparentes à saia em questão. Conseguido esse fio, fui falar com a nossa saudosa tia Ilda Duarte, da Veiga, que com aquele material lá teceu o pano.
Com aquele pano e com mais outro material necessário, a D. Adozinda, do lugar do Paço, ainda hoje na Casa do Povo de Valongo do Vouga, pelo original, confeccionou umas três ou quatro peças, com as mesmas características. No mais curto espaço de tempo, devolvi o original ao Museu Etnográfico da Região do Vouga, oferecendo ainda, uma das reproduções. As restantes peças reproduzidas, ficaram na Casa do Povo e são actualmente usadas pelas pessoas do grupo de folclore que esta Instituição patrocina e da qual faz parte.
Para quem olhar para a saia, parece que nada de especial tem na sua apresentação. É aqui que se pode ver a diferença, para quem com ela lidar. Era uma saia caída, com cós muito forte, que aperta lateralmente através de uma fita (talvez parecida com nastro) e no fundo da saia um tecido forte e grosso, pesado, para que a saia pudesse, como se diz em confecção, “cair” pelo corpo e bem.
Dessa peças reproduzidas possuo algumas fotografias que aqui deixo para consulta dos admiradores e curiosos destas coisas das tradições. Nessas fotos está uma pessoa muito conhecida em Valongo que uma vez veio a minha casa, e como eu andava de volta deste assunto, pedi-lhe para vestir uma e poder tirar a fotografia que ficasse para a posteridade e a quem, agora, agradeço, porque sinto o benefício do meu pedido e do seu gesto.
E vem a propósito dizer ainda que a certa altura “descobri” que o Sr. Eugénio Fernandes Gomes, nas estantes da sua loja em Valongo, que foi muito conhecida e frequentada, tinha umas peças de cotim, que já não se encontrava em lado nenhum. Feita a proposta a uma das Direcções da Casa do Povo então em exercício (já não lembro qual, mas as actas devem tê-lo registado) foi adquirido todo esse cotim ao Sr. Eugénio e entregue na Instituição, com vista à confecção e reprodução de trajes, nos quais este tecido era aplicado.
domingo, 19 de julho de 2009
USOS E COSTUMES
SAIAS DAS MULHERES DE ARRANCADA-SÉCULO XVIII
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