O FADO NA MADRUGADA
Ingoré, Guiné, ambiente de guerra.
Já aqui disse que a minha guerra na Guiné, foi mais o turismo e o pó que se entranhava nas narinas, na pele, na roupa e em tudo quanto era sítio, do que os bombardeamentos, as emboscadas que nunca sofremos (salvo uma “brincadeira” que não sabemos os porquês e que um dia, se se justificar, contarei), os tiros que não demos nem os que nem sequer ouvimos.
Vá-se lá saber porquê. Estávamos lá e não fomos nem mais nem menos que os nossos outros camaradas que também lá estiveram e não podem dizer o mesmo.
Mas, mesmo assim a Guiné, como se diz, também foi sentida, vivida, com paixão, pelas coisas boas, porquanto também nós, sem tiros, estávamos na guerra para construir a paz…
Parece conveniente justificar: é que as populações – mais uma vez as populações – foram sempre a nossa preocupação, na sua vida, no seu modo de vida, nas suas necessidades, sem desrespeitar o que de mais genuíno lhes pertencia… hábitos, costumes, crenças, etc., etc.
Sempre houve, aquilo que se convencionou chamar-se, na altura, psico-social. Isto quer dizer que aquela gente necessitava de nós, no momento mau porque passaram. E nós necessitávamos delas para poder demonstrar a abismal diferença entre guerra e paz, entre vida e morte. Mas compreendíamos, na intimidade, os porquês desta guerra inaceitável e injustificável, como o tempo o demonstrou.
Já aqui disse que a minha guerra na Guiné, foi mais o turismo e o pó que se entranhava nas narinas, na pele, na roupa e em tudo quanto era sítio, do que os bombardeamentos, as emboscadas que nunca sofremos (salvo uma “brincadeira” que não sabemos os porquês e que um dia, se se justificar, contarei), os tiros que não demos nem os que nem sequer ouvimos.
Vá-se lá saber porquê. Estávamos lá e não fomos nem mais nem menos que os nossos outros camaradas que também lá estiveram e não podem dizer o mesmo.
Mas, mesmo assim a Guiné, como se diz, também foi sentida, vivida, com paixão, pelas coisas boas, porquanto também nós, sem tiros, estávamos na guerra para construir a paz…
Parece conveniente justificar: é que as populações – mais uma vez as populações – foram sempre a nossa preocupação, na sua vida, no seu modo de vida, nas suas necessidades, sem desrespeitar o que de mais genuíno lhes pertencia… hábitos, costumes, crenças, etc., etc.
Sempre houve, aquilo que se convencionou chamar-se, na altura, psico-social. Isto quer dizer que aquela gente necessitava de nós, no momento mau porque passaram. E nós necessitávamos delas para poder demonstrar a abismal diferença entre guerra e paz, entre vida e morte. Mas compreendíamos, na intimidade, os porquês desta guerra inaceitável e injustificável, como o tempo o demonstrou.
Esta era a torre que o texto refere
Desviei-me um pouco da história que me trouxe aqui. Vamos a ela.
Aquilo que se chamava aquartelamento, em Ingoré, sem luz (só os petromax funcionavam), chegou a ter electricidade durante um ou dois meses e depois os geradores “pifaram” de tal modo, já nem sei porquê, que nunca mais tivemos iluminação eléctrica.
Mas havia a segurança montada, como não podia deixar de ser. Havia uns cibes espetados no chão, com os quais se fez uma torre de vigia (nem sei para quê, pois um bazucada deitava aquela treta e o respectivo pessoal num instante a beijar o chão, isto digo eu, mas dava jeito e provocava uma certa sensação de segurança).
Nessa segurança, de acordo com o local, havia um esquema, como se sabe. No mesmo, havia um posto de vigia que ficava mesmo nas traseiras onde dormia o comandante da companhia. Faça favor de não pôr aqui malícia…
Certo dia, o camarada que ali cumpria a sua folha de serviço, às tantas da madrugada (que bonita canção alentejana, quando fala na madrugada) e toca, para aliviar algum “flato” que o incomodava ou porque se sentia inspirado àquela hora própria de cantar o fado, de entabular cantarolando um qualquer, que já não sei qual foi, mesmo sem acompanhamento de viola ou guitarra. Talvez com os gestos das mãos e dos dedos a G3 as substituísse, mas já não sei...
O que sei é que a sua voz, mesmo melodiosa, acordou o seu comandante.
E este não esteve pelos ajustes, não gostou mesmo de ouvir cantar o fado àquela hora da matina, e toca de, na Ordem de Serviço que se seguiu, sentenciar, sem apelo nem agravo, uns dias de detenção (detenção na Guiné, meus amigos!) como prémio para o tom afinado com que acordou o capitão da companhia!
Tristes fados, tristes sinas…
Aquilo que se chamava aquartelamento, em Ingoré, sem luz (só os petromax funcionavam), chegou a ter electricidade durante um ou dois meses e depois os geradores “pifaram” de tal modo, já nem sei porquê, que nunca mais tivemos iluminação eléctrica.
Mas havia a segurança montada, como não podia deixar de ser. Havia uns cibes espetados no chão, com os quais se fez uma torre de vigia (nem sei para quê, pois um bazucada deitava aquela treta e o respectivo pessoal num instante a beijar o chão, isto digo eu, mas dava jeito e provocava uma certa sensação de segurança).
Nessa segurança, de acordo com o local, havia um esquema, como se sabe. No mesmo, havia um posto de vigia que ficava mesmo nas traseiras onde dormia o comandante da companhia. Faça favor de não pôr aqui malícia…
Certo dia, o camarada que ali cumpria a sua folha de serviço, às tantas da madrugada (que bonita canção alentejana, quando fala na madrugada) e toca, para aliviar algum “flato” que o incomodava ou porque se sentia inspirado àquela hora própria de cantar o fado, de entabular cantarolando um qualquer, que já não sei qual foi, mesmo sem acompanhamento de viola ou guitarra. Talvez com os gestos das mãos e dos dedos a G3 as substituísse, mas já não sei...
O que sei é que a sua voz, mesmo melodiosa, acordou o seu comandante.
E este não esteve pelos ajustes, não gostou mesmo de ouvir cantar o fado àquela hora da matina, e toca de, na Ordem de Serviço que se seguiu, sentenciar, sem apelo nem agravo, uns dias de detenção (detenção na Guiné, meus amigos!) como prémio para o tom afinado com que acordou o capitão da companhia!
Tristes fados, tristes sinas…
Sem comentários:
Enviar um comentário