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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

As Meninas Mascarenhas

O Livro - XXIX

No episódio anterior ficámos com o Dr. Resende bastante amesquinhado e magoado diante do cidadão francês, a quem aquele vasculhou toda a sua casa à procura das Meninas Mascarenhas e do seu tutor. O Dr. Resende funcionava muito por interesses materiais, mas agora era o seu orgulho colocado no mais ridículo das situações equívocas e diante daquele cidadão francês deu ares de distraído e resignado, mas fervia dentro de si o despeito.

Solar de Vilar de Besteiros, conforme blogue da Eb1 de Vilar de Besteiros
http://www.eb1-vilar-besteiros-tondela.rcts.pt/anossa.htm

Disse a meia voz que este não é o último capítulo do livro. O entrecho continuará, devendo ser interessante o seu epílogo. Saiu cortejando o dono da casa, que não o olhava de frente e nem correspondeu à cortesia, porque o Dr. Resende para se associar a uma perseguição odiosa e receber, em troca, alguma vantagem material. Era uma mercancia e um aviltamento, acrescenta o Dr. José Joaquim da Silva Pinho.
O Dr. Resende foi da Rua de Belomonte, onde morava o Pedro Ransam, à Rua do Bonjardim, à Estalagem Real, onde o Pedro Bandeira da Gama, um dos mais impetuosos e audaz cavalheiro de Torredeita o esperava. Transcrevemos este diálogo, logo que o Dr. Resende entrou no quarto do Bandeira da Gama:

.......
- Então?!
- Então, nada! - respondeu o médico.
- Não encontrou as minhas sobrinhas?
- Nem as suas sobrinhas, nem Joaquim Álvaro. A busca não deu resultado.
- Mas as minhaas sobrinhas estavam em casa do Ransam, não se pode duvidar. A casa foi cercada de tropa e polícia. Nem o tutor nem as duas órfãs podiam ter passado, em pleno dia, através das fileiras de soldados que enchiam a rua. Não lhes era fácil a fuga pelo telhado, e não me consta que elas hajam aprendido a voar. Como explica o Dr. Resende tudo isto?
- V. Sª formula uma pergunta estranha. Não sei explicar um facto que me preocupa e está envolvido em grande mistério.
- Vê-se, então, que o nosso plano, que o seu plano, falhou!...
- Falhou desta vez; mas os planos modificam-se, reconstituem-se e aperfeiçoam-se. O que é preciso é ter serenidade e espírito prático das coisas. Esperemos algumas horas, esperemos alguns dias. V. Sª desanima?
- Se me falta a coragem, sr. doutor!... Não me falta, não me faltará nunca. Podem sucumbir todos os da minha família, os meu amigos e auxiliares esmorecerão, talvez, na áspera luta em que trago empenhado todo o meu brio; mas eu não terei hora de descanso e irei sempre para a frente.
- Comigo pode V. Sª contar. O que convém é reflectir. É preciso dar parte ao governador civil do que aconteceu, e é preciso continuar a campanha. O direito, a razão, as simpatias públicas estão por V. Sª e por sua irmã. O direito ainda é uma grande força.
No fim deste diálogo, o fidalgo de Torredeita e o médico de Aveiro resolveram sair da estalagem, dirigindo-se à Praça Nova e para os lados de Belomonte, a ver se ouviam alguns comentários a respeito desta situação, como lhes chama o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, ouvir os soalheiros portuenses.
Iam à descoberta e vigilantes sobre alguma coisa que se tivesse dito ou qualquer facto que servisse aos seus gorados planos. Iam, em certa medida, e não era para menos, irresolutos e abatidos, mas sempre confiantes no destino.

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