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quinta-feira, 22 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas

O Livro - XIII



Uma vez que a história se aproxima do norte, nada melhor que o brazão de V.N. Gaia

O resumo
Vamos continuar a respigar do livro com o título mencionado, uma narrativa, recorde-se, de um advogado que residia em Jafafe, de seu nome José Joaquim da Silva Pinho, que viveu e acompanhou esta história que decorreu no século XIX.
Ficamos em Covelas, junto a Fermedo, e já próximo de Arouca, onde as meninas, transportadas pelo seu tutor, Joaquim Álvaro Teles de Figueiredo Pacheco, procurava fugir à perseguição que lhes era movida pelos seus familiares, os tios das mesmas, Bandeira da Gama, de Torredeita-Tondela (Campo de Besteiros).
Naquele tempo as pessoas, mesmo dentro do país, deviam circular munidas de passaporte. E o Dr. Joaquim Álvaro, bem como o seu amigo, Dr. José Joaquim da Silva Pinho, não o levavam, porque não convinha.
Pelo caminho surgiram os imprevistos. Desenvencilhados de uma situação, outra surgiu, ainda em Covelas, protagonizadas pelo escrivão e pelo juiz de Fermedo. Destes, era porta voz o escrivão. O Juiz nada dizia ou fazia. Ambos mal apresentados, sujos e de botarras calçadas, como se diz no livro, queriam prender os viajantes e comitiva durante vinte e quatro horas, até que chegassem do Porto os Bandeiras da Gama, porque, diziam, estarem ali as Meninas que foram roubadas do Convento de Sá em Aveiro e que deveriam ser por eles reconhecidas como suas sobrinhas.

Corrupção já em 1846?!
Mas talvez em 1846, ou próximo deste ano, havia corrupção. Ou seja, após uma discussão travada desde a varanda da casa de D. Margarida Coelho da Rocha, para o pátio, o Dr. Pinho convidou o escrivão a dialogar lá em cima, por causa da barulheira que a conversa provocava, estando distantes uns dos outros. É pelo menos essa a ilacção que se retira da narrativa.
Recomeça aqui a história desde que a deixamos no post anterior.
No cimo da varanda, há um diálogo interessante, que não vamos perder tempo em descrever, até que o escrivão afirma que quer ver os documentos das meninas. E foram dentro de casa daquela senhora, o Dr. Joaquim Álvaro, tutor, e o escrivão, Osório e o Dr. Silva Pinho. Lá dentro, o futuro Visconde de Aguieira, enche-se de coragem e pergunta ao escrivão que os documentos não lhe interessam.
- Não me importo, é certo. - respondeu o escrivão.
- Quer dinheiro, não é verdade? Fale e fixe o preço à nossa liberdade!... Cartas na mesa! Jogo franco... De quanto precisa? - respondeu Joaquim Álvaro.
O escrivão lá disse o valor que queria, Joaquim Álvaro respondeu que era demais, o Osório disse que não e que ainda teria que agradecer o preço módico. Posto isto, do cinto de Joaquim Álvaro saiu uma quantia de sedutoras peças de ouro, de D. Maria I, de duas caras, que tinham sido entregues, na sua maioria, por D. Casimira Mascarenhas, de Rebordinho, tia das meninas. Entregou-as ao escrivão, o Dr. Pinho sabia a quantia, mas não a divulga no livro, mas ainda as descreve com estas palavras: «era de arregalar o olho».
.......
A partida e o alívio
Feito o negócio, voltaram à varanda e o escrivão, suvina e cínico, em voz alta, com desplante de velhaco, disse ao juiz na sua dicção minhota:
- Sr. Juiz, vi os documentos destes senhores e reconheço que estas não são as Meninas Bandeiras. Podem por isso, ir ao seu caminho, se o sr. juiz der licença.
O juiz sentenciou bruscamente:
- Visto isso, podem ir.
Estes diálogos foram retirados do livro tal qual estão escritos. E ainda se acrescenta esta passagem:
«Estas eram as palavras de um alarve, mas foram palavras de redenção. Foram feitas, de forma rápida, as despedidas. O Osório (escrivão), com muitas cortesias, modos de respeito, voltando-se para Joaquim Álvaro e para mim, fazia votos de boa viagem. Tinha o bolso pesado e quente e o semblante alegre de um homem abonado.»
Cumprimentaram cerimoniosamente D. Margarida, mostrando mais mágoa que agradecimentos, ansiosos por abandonarem aqueles sítios e partiram na direcção de Avintes, na margem do Rio Douro, com passo estugado e olhando sempre para trás, com receio que outro Osório os embaraçasse e obrigasse Joaquim Álvaro a despejar o cinto das peças de ouro nas suas algibeiras vazias.
A seguir, outras peripécias, na chegada ao Douro (Avintes), pelo caminho de Canedo (Vila Nova de Gaia), embora libertos dos incidentes de Covelas.

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