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domingo, 12 de maio de 2013

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO - LIX


O padre Fonseca que, recorde-se, morava no Beco, apresentou-se na Quinta do Cimo da Rua (como era designada, antigamente, a Quinta de Aguieira e assim citada, por aqui, várias vezes), sendo recebido pelo dr. Pinho. Este pô-lo ao corrente das suas ideias sobre o testamento que a moribunda esposa do futuro Visconde devia fazer.
O padre Fonseca, meditando, respondeu que ia primeiro ouvir a doente. E lá foi. O dr. Pinho seguiu-o até à entrada da porta do quarto vendo a cena que antes foi descrita.
 
Com esta foto pretende-se destacar a capela privativa
da Quinta de Aguieira, em primeiro plano, do lado direito.
Nela foram realizadas as exéquias fúnebres, antes de
ser organizado o funeral para o Sobreiro.
Quando o padre Fonseca se aproximou, D. Maria Mascarenhas recebeu-o com um sorriso e com palavras de agradecimento, como se transcreve:
"- O Sr. padre Fonseca! Como é admirável a sua dedicação e a sua generosidade!... A sua amizade não abandonou nunca a minha família. Recebi a sua bênção nupcial e vou receber as últimas consolações da nossa religião. O Sr. padre Fonseca aparece sempre, como os anjos protectores, nos momentos solenes. Agradecida! Agradecida!"
 
Diz o dr. Pinho que estas palavras foram pronunciadas em voz pausada...
Seguem-se algumas frases de um diálogo entre a doente e o padre José Fonseca, nomeadamente sobre seu marido, o Dr. Joaquim Álvaro, sobre o qual o padre Fonseca disse que é um homem que sofre mais que todos e espera as melhoras da esposa que adora, confiando na providência de Deus. Disse a doente:
 
-"Desejava que o Sr. padre Fonseca me aconselhasse. Já pedi ao Céu perdão para as minhas culpas, mas receio que, por minha morte, continuem as desavenças da minha família. Se essas desavenças se pudessem evitar!...
-" Não posso dizer a V. Ex.ª que os lastimosos conflitos entre a casa de Aguieira e a casa de Torredeita hão-de necessariamente terminar. Se dependesse de mim, haveria a paz e a harmonia nas duas nobres famílias.
-"Mas eu não poderei contribuir com alguma declaração ou algum pedido por mim assinado para essa paz tão desejada? Peço o seu conselho, Sr. padre José.
-"Esse pedido terá decerto um alto valor moral que influiria no espírito fidalgo dos seus parentes, minha senhora, se os ressentimentos mútuos não fossem tão profundos e tão recentes.
- "E não haverá meio de eu mostrar a minha gratidão a meu marido, a quem devo tantos carinhos e que foi para mim um verdadeiro pai?
- "Há... até certo ponto. V. Ex.ª tem viva sua mãe. Sua mãe é herdeira universal das filhas. Mas V. Ex.ª pode, pela lei, dispor da terça dos bens que possui em favor de seu marido ou de quem quiser. Até aqui pode alcançar a minha ignorância."
 
Não transcrevemos os restantes diálogos, por desnecessário. Está bem de ver, que foi feita de imediato uma escritura que contemplava esta disposição. O padre Fonseca ficou encarregado de escrever essa vontade, instituindo seu marido herdeiro da terça disponível dos bens.
O dr. Pinho ajudou na redacção, sendo chamado de imediato o tabelião de Vouga, que era João António Peres de Abreu, para aprovar o documento que havia sido rapidamente escrito.
Cumpriram-se todas as formalidades legais.
A doente, na plena liberdade do seu direito e conhecimento do acto que celebrava, «tomou a pena e assinou o testamento». O dr. Pinho foi uma das testemunhas.
Horas depois, a gentil senhora (transcreve-se), D. Maria Mascarenhas, falecia, chorada sinceramente pela família em cujos braços soltara o último suspiro. Nunca se esqueceu aquela cena dolorosa.
Joaquim Álvaro parecia louco de pena e aflição... e dor, acrescentamos.
 
(Continua)
 
 

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