A imprensa de Águeda
Sempre que leio alguma coisa de «Águeda-crónica, paisagens, tradições» de Adolfo Portela, há-de aparecer sempre uns nacos de prosa bem disposta, além de histórica, mas também pitoresca e, na sua maioria, jocosa quanto baste para nos fazer sorrir, ao imaginar as figuras que a sua escrita deixa retratar. Já por aqui referimos essas situações jocosas e com algum (bastante) sentido satírico.
Sempre que leio alguma coisa de «Águeda-crónica, paisagens, tradições» de Adolfo Portela, há-de aparecer sempre uns nacos de prosa bem disposta, além de histórica, mas também pitoresca e, na sua maioria, jocosa quanto baste para nos fazer sorrir, ao imaginar as figuras que a sua escrita deixa retratar. Já por aqui referimos essas situações jocosas e com algum (bastante) sentido satírico.
Tomamos a liberdade de retirar deste livro do insígne escritor e poeta de Águeda, da edição produzida pela Soberania do Povo Editora, SA, esta passagem àcerca da imprensa de Águeda. Páginas 154 - 155 desta edição.
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6. A arraia miúda da imprensa de Águeda.
Muita parra e pouca uva...
Quer ao lado, quer no cortejo do Fogo Vermelho, outras gazetas vieram a lume, na preocupação de imitarem o seu espírito leve e gracioso, ou com o propósito oculto - quem sabe lá?... - de honrar a terra, na personalidade equívoca e mal apercebida dos seus redactores. Com epígrafes mais ou menos extravagantes, tivemos os Pingalim (1883), Vesicatório (1884), Petiz Buliçoso (1885), Trinta Diabos (1886), Brados (1887), Aguedense (1888), Timbre (1891) Povo (1894); e, então, para compor o ramo, a Fé Católica, a rezar o seu terço beato para as bandas da Borralha. Houve ainda o Judas, num sábado de aleluia, a querer espertar num quarto de hora de bom humor toda aquela alegria esfuziante que deu lenda ao Fogo Vermelho.
E houve ainda... Mas não se chega a averiguar com precisão o nome, a data, e o programa de todos quantos jornalecos miúdos houve pela nossa terra. Era um, em cada ano; e, se os ventos não mudassem de rumo. Águeda, por aquele andar, bateria o record da imprensa jornalística, como algum dia bateu o record da americanice no seu noticiário pitoresco.
Não chegou a isso; e bom foi. Quase toda aquela arraia miúda da imprensa da terra entrou na vida, coxa de corpo e de espirito. Quando um jornal se dizia «independente, jocoso e noticiário», era certo que não noticiava nada, nem tinha graça, nem independência nenhuma; quando outro fazia acreditar que «não metia colher no caldeirão da política» logo a gente ficava sabendo que o novo galucho das milícias jornalísticas jamais seria capaz de matar a fome com outra espécie de rancho.
E, por aqui fora, tudo nasceu e tudo morreu, em breves minutos, sem um espirro que se ouvisse à porta da rua.
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Era esta a prosa de Adolfo Portela no que se refere à imprensa de Águeda no século XIX, princípio do século XX. Ou é da minha vista ou esta crónica tem semelhanças com alguma actualidade recente. Macacos me mordam!
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