EDIÇÃO FAC-SIMILADA DE “TARRAFO”,
- O ÚNICO LIVRO PROIBIDO DE TODA A GUERRA COLONIALNo dia 15 de Junho findo, foi o lançamento do livro "Tarrafo-crónicas de um alferes na Guiné", de que é autor Armor Pires Mota, que faz o favor de nos dispensar a sua amizade de longos anos. Fui a Oliveira do Bairro, naquele dia. Primeiro, porque a amizade a isso me obrigava. Depois, porque dos livros do Armor e, principalmente, aqueles que tratam o tema GUERRA COLONIAL são-nos nostalgicamente caros. Não admira, quando calcorreámos aquelas terras vermelhas de pó, lama, suor e sangue no mesmo período - 1963/1965!
E este livro, obrigatoriamente, tinha de ser colocado na estante ao lado dos outros.
Li-o (devorei-o) mais rápido que uma rajada de G3. Porque está escrito em pequenos episódios, e, por isso mesmo, em diário, com datas (logicamente), locais e episódios. Este diário foi publicado no Jornal da Bairrada, para onde o Armor enviava os originais.
Quando regressou decidiu transformá-lo em livro e, como já disse no post de 30 de Abril, foi colocado à venda na Livraria Vieira da Cunha, em Aveiro. Pouco tempo depois, a PIDE apreendeu-os.
Outros exemplares estavam guardados no escritório do advogado Manuel Granjeia e outros ainda foram escondidos no caixão de milho de um amigo. Quando, um dia, o Armor regressava do trabalho, montado na sua bicicleta que utilizava desde a estação de Oiã, onde embarcava e desembarcava para e do trabalho (ia para Aveiro de comboio), encontrou duas pessoas, embrulhadas em gabardines, junto da casa de seu pai.
Já sabia quem eram porque tinha sido alertado por telefone. E lá lhes deu os livros que tinha em casa, deslocando-se depois, os três, numa carrinha, ao escritório daquele advogado. Este, aproveitou para fazer as suas alegações políticas e contra a guerra colonial. Mas teve que lhes entregar os restantes livros. Parece que ficou sem nenhum.
Esta história teve, afinal, um fim feliz, porque alguém conseguiu obter um livro original, todo ele riscado, sublinhado, pelos serviços de censura, com carimbos do Ministério da Defesa Nacional e de Confidencial. Há ainda anotações à margem das frases e dos parágrafos.
Foi uma relíquia, uma satisfação, transformadas, agora, nesta edição fac-similada e que a delegação da Liga dos Combatentes de Oliveira do Bairro ajudou, comemorando, assim, os 50 anos da mobilização do Armor (e minha) para a Guiné.
No regresso, fomos "empilhados" e viemos no mesmo barco, o «Niassa», que saiu de Bissau em 7 de Agosto e chegou a Lisboa em 14 do mesmo mês do ano de 1965.
Deixamos por aqui as digitalizações de um dos diários, que ocuparam quase quatro páginas. Outros episódios, tão ou mais dramáticos que este, estão espalhados ao longo do livro. Os acontecimentos foram mesmo nas datas indicadas ou logo a seguir àqueles. São mesmo filmes (em palavras) de cenas que nunca deviam ter acontecido.
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