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domingo, 21 de julho de 2013

Os Senhores do Marnel - 4

A estrada real em Carvalhal da Portela

Ao desembocar na estrada real, a do Carvalhal da Portela, havia uma venda, a cuja porta chegou uma rapariga para ver quem vinha no carro.

Pelas descrições, o autor do livro «Os Senhores do Marnel»,
colocava neste local a 'tasca' da Ritinha e de seu pai, o Niza,
onde havia o cruzamento das estradas de Vouga-Macinhata
 e Valongo. As barreiras de cimento, eliminaram a estrada,
por causa da passagem de nível da via férrea. O que existe
actualmente é de tempos mais contemporâneos... ou seja,
não existia...
- Fazes-me favor, Ritinha, - disse Pero chamando-a, depois de ter mandado parar o cocheiro.
A rapariga aproximou-se, embrulhando no avental os braços arremangados, risonha na sua carita rubicunda e fresca, emoldurada em cabelos escuros e fartos, e volveu os olhos castanhos e vivos para as senhoras a quem cumprimentava, baixando-se nas repetidas cortesias aldeãs.
- Muito boas tardes, minhas senhoras.
- Boas tardes, menina.
- Boas tardes, Ritinha - correspondeu Leonor, repetindo o nome que ouvira ao primo, para conquistar a simpatia daquela mocetona bonita, porque não há dezoito anos feios e, alegre, porque rara é a tristeza em tal idade.
- Olha, Ritinha. Tem paciência, manda-me aí alguém lá a casa dizer ao António, ao criado da cocheira, que vá buscar o meu pigarço a Macinhata, a casa do senhor Fonseca, que o leve  ao ferrador e depois mo vá pôr em Segadães. Percebeste bem?
- Percebi, sim, senhor morgado. Então não havera de perceber.
- Que o leve ao ferrador e depois a Segadães - repetiu D. Pero.
- Desferrou-se-lhe? Logo meu pai disse quando aqui passou: o morgadinho... assim dizemos na ausência... É perdoar! Pois meu pai disse logo: não vai longe o morgadinho; leva uma das ferraduras a bater.
- Das do cavalo, salvo seja - riu Leonor de maneira que a Ritinha não ouvisse.
- Então não te esqueças, manda lá depressa.
- Vou já mandar o pequeno. Nanja que me esqueça. Basta ser o pedido de quem é.
- Obrigado, Ritinha. Em paga dou-te um beijo à volta - acrescentou D. Pero, quando o trem já se afastava.
A rapariga acenou negativamente brandindo o braço no ar, mas olhou-o rindo, como se o braço dissesse: - sape, gato - e os olhos: - quem mo dera. -

Fonte: Os Senhores do Marnel, de Vaz Ferreira, 1925, Imprensa Libânio da Silva, Lisboa.
 

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