Segue assim, este terceiro trecho de uma das crónicas e de tantas outras que no livro estão...
Vista parcial da cidade de Águeda |
«Na terceira passagem, figura o Senhor Pereira do latim, ou melhor, a sua criada Luzia, beata célebre da terra, que na beatice não ganhou menos celebridade do que o amo na palmatória. Falecido o mestre Pereira, a Luzia, aproveitando o enterro de um amigo dele que teve lugar alguns dias depois, foi-se até ao cemitério, na companhia da saudade, como dizem os poemas... - e, com licença do respectivo coveiro, introduziu no esquife do defunto uma moeda de cinco tostões...
- Diga lá ao Senhor Pereira que é para o rapé; ouviu?...
E recolheu a casa, toda muito tranquila e muito de bem com a sua alma, por ter ficado na certeza de que o Senhor Pereira agradeceria aquele presente, que outro de melhor estimação não podia dar-se a um tabaqueiro vicioso como ele fora em vida.
Olhem se a Luzia se lembrava de o presentear também com dois ou três dos seus antigos discípulos de latim, em cujas mãos a palmatória do amo pudesse matar o outro vício que ele tinha!.... Como seria difícil fazer a escolha de quem melhor a merecia, lá iria por certo toda uma geração de estudantes de Águeda fazer companhia ao Senhor Pereira! E nessa geração (parece que ainda tenho as mãos dormentes!) cabia o primeiro lugar ao desgraçado estudantinho de latim de 1879, que neste momento aqui está a contar a passagem da caixa do rapé...
Mas a senhora Luzia não se lembrou disso, e é natural também que o Senhor Pereira nunca lho fizesse lembrado. E, então, como águas passadas não moem moinho, atiremos com a palmatória do Senhor Pereira ao fogo do inferno, e que Deus Nosso Senhor lhe deixe tomar a sua pitada em sossego...»
-Continua, para finalizar este capítulo
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