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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Soberania do Povo

Àcerca do livro de Adolfo Portela «Águeda, crónica, paisagens, tradições» é interessante, historicamente falando, deixar aqui um nadinha do que aquele escritor da Terra deixou sobre o início da publicação do jornal «Soberania do Povo». O primeiro número saiu em 1 de Janeiro de 1879.
«As tradições da velha política de Águeda - com os ódios, lá ao fundo, a ferverem, e o João Ribeiro a despachar comunicados para o Campeão...(1) - dissiparam-se de todo, ao aparecer na rua um rapaz da terra, a apregoar:
- É a Soberania do Povo!
Estava feita a revolução - uma revolução profunda nos processos e na literatura da política de Águeda.
O pregoeiro da gazeta nova trazia na garganta, sem o saber, um vibrante clarim a anunciar uma alvorada de triunfo. - Aleluia!»

E mais aidante...
«Não era só um campeão (1) novo que aparecia nas boticas. Não. Era o ensinamento e a proclamação de um direito, a afirmar-se num grito de revolta.
Os Paços do Concelho - onde uma Câmara estava a matar o tempo com palestras ociosas, encoimando os inimigos para lisonjear os amigos - eram também uma casa do povo e não só um palacete para hospedar as vaidades e os orgulhos de quem quer que fosse.»

É uma delícia ler estas crónicas do século XIX da velha Águeda e apreciar sobremaneira aquilo que as palavras deixam reflectir de como era a vida da vila e das suas gentes, importantes, morgados, até...
Vamos passar um pouco adiante, embora muito mais haveria a transcrever...
«Entre um barqueiro e um cavador, chegou a compreender-se isto: o recenseamento político não é um rol de nomes, é um cadastro de cidadãos; o voto não é um foro a pagar, é um direito a registar e a respeitar.
- É a Soberania do Povo!
E para terminar:
«Ainda se distinguiam lá ao longe, os derradeiros compassos dos hinos guerreiros, com que as filarmónicas partidárias da nossa terra se acometiam. Os silveiros e os canários tentavam mostrar os dentes, ainda. O serpentão do Salvador Galheta rouquejava de lá, com as bombas perras do azebre.
Mas tudo isso ia desfalecer em breve, ao cantar rebelde dos hinos novos.
- É a Soberania do Povo!
(E o Zé Chicha, que era já, a esse tempo, uma relíquia histórica do velho partidarismo regional, mordia o bigode significativamente...)»

(1) - O Campeão que o autor alude no texto era o título de um jornal que antecedeu a Soberania do Povo.

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