Escavações do Cabeço do Vouga |
«Entre os bens de sua mulher, tomara o doutor João Fernandes conta de ruínas e casas solarengas, mas velhas e inabitáveis, em Lamas, de algumas terras nos arredores, de matos, charnecas, vinhas, campos e lameiros, para os lados do Marnel, avultando uma quinta denominada de Monte-Reguengo, numa eminência da lomba do Cabeço do Vouga, não longe da extremidade nordeste dêle, onde se ergue a ermida da Vitória que dantes era da invocação do Espírito Santo.
O Cabeço sobresai entre o Vouga e o pântano às proeminências vizinhas: o monte de Pedaçães para lá do Marnel e o morro de Bêlhe com a sua pedreira cortada a pique na margem direita do rio.
Se ali fôra a muito antiga basílica de Santa Maria, na encosta da esquerda, e junto dela o mosteiro, muito perto e no alto devia ter existido o castellum Marnelis, defendendo os santos edifícios e a civitas Marnelae adjacente. Os senhores do Marnel ali deviam ter tido o seu altivo paço solarengo, de-certo sucedendo ao castelo reedificado sôbre os escombros dêle.»
Igreja de Lamas no morro do Marnel |
«Da estrada para a banda do rio assenta a vila de Lamas.
Para o oriente abrange a vista as vinhas e margens do Vouga, as férteis terras de Valongo e de Brunhido, o vale onde corre o Alfusqueiro e a entrada graciosa de Macinhata, perdendo-se o rio estrangulado entre montanhas para lá de Jafafe e de Açores e rodeando o horisonte a lomba gorda do Arestal, os dentelados e agudos cumes da serra das Talhadas e os vultos grandiosos do Caramulo e do Buçaco que fecha ao sul o quadro, depois de extensos pinheirais.»
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Brunhido. Rua da Audiência. Junto do poste o edificio da administração do antigo concelho |
É uma delícia verificar, nas palavras, estas imagens de outrora de uma das mais férteis e paisagísticas terras do Vouga. Todo o romance se passa na zona do Marnel, onde não faltam referências a Jafafe (e às Jafafinhas, umas meninas de família que o romance apresenta, como figurantes de uma história e até ao petisco que talvez tenha sido a grande atracção gastronómica de Brunhido: O BACALHAU. Há um diálogo entre os personagens, que a certa altura termina nestes brados:
- E agora, cavaleiros da rosinha do Vouga - bradou João de Figueiredo, - ao bacalhau de Brunhido.
- Ao bacalhau, ao bacalhau - gritaram todos.
Nota: Como se percebe em algumas palavras, foi respeitada a redacção da época.
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