Era assim chamada uma rubrica da minha responsabilidade no jornal paroquial «Valongo do Vouga», do qual era director o Revº Pe. António Ferreira Tavares. Era mesmo a última coluna, da última página do jornal.
Penso que ainda não tinha dado a conhecer todos os apontamentos daquela rubrica, embora algumas já por aqui tivessem passado, em nostálgica recordação, nomeadamente esta, que apesar de ainda ser relativamente cedo para a o tema e época que se aproxima, aqui a quero recordar. O título era:
O Natal não é Natal!
E dizia assim:
Estamos no Natal. Era natural que aqui, nesta pequena coluna, sujeita a um pequeno espaço, tal qual aquele que Maria e José tiveram como resguardo numa noite, quando se deslocavam para Belém, para cumprir um dever, dimanado de um decreto do imperador romano César Augusto: o seu recenseamento.
Na realidade aquele quadro pobre, sem condições, onde o calor era apenas o provocado pela aglomeração dos animais ali guardados, devia fazer parar, para pensar, qualquer mortal que, nesta altura, passa a vida num corre-corre atrás de gastos, muitas vezes supérfluos, atrás de luzinhas e outras miragens, atrás de guloseimas e outras coisas de consumo que a vida moderna nos oferece a todos sem medida.
No meio desta desenfreada e competitiva correria, muita gente «se esquece» que o verdadeiro Natal, tal como o lemos na Bíblia ou noutro livro, mesmo histórico, não nos parece que a sua mensagem fosse esta e para ser assim vivida.
Se o Natal tem o conteúdo que é o de comemorar o Nascimento de Cristo (para os cristãos), também pretende lembrar e comemorar a verdadeira família, em harmonia, na modéstia e não a «banhar-se» em enormes gastos, em muitas prendas, em «muito amor» que apenas se vive nesta época.
Ns restantes dias do ano, ninguém mais se lembra da aproximação uns dos outros, a família dispersa-se, e esquecem-se um pouco os pobres e os desprotegidos. Aqui cabia bem um outro tipo de linguagem a demonstrar um antagonismo preverso.
Ninguém se lembra mais dos desprotegidos, dos doentes, dos sero-positivos, das lutaas tribais a assassinar milhões de pessoas, como recentemente no Zaire e noutros locais do mundo.
Se as atitudes vividas entre uns e outros no Natal fossem contínua e diariamente aplicadas nos restantes dias do ano, temos a certeza que o mundo teria mais paz, o ódio e as guerras seriam eliminados do planeta, o egoísmo seria apenas uma plavra esquecida no dicionário.
Mas quando o Natal termina, volta tudo à estaca zero; reacendem-se lutas pessoais, os egoísmos ressuscitam bem como outros defeitos humanos do género, que apenas dividem e não congregam, as guerras retomam-se com mais ferocidade e não se olham a meios para atingir os fins, muitas vezes inconfessáveia... pois caso contrário...
...O NATAL SERIA NATAL!
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Nota: - Isto foi escrito e publicado no número daquele periódico de Dezembro de 1996. Claro que está escrito de acordo com o ambiente vivido há quase vinte anos e há ali referências que podem estar desajustadas ou desactualizadas, como queiram. Neste espaço de tempo muita coisa mudou no mundo. Até nós...
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