O LIVRO - XLV
Foi deixada, em 23 de Maio passado, uma ideia sobre o fim da permanência, no Porto, do Dr. José Joaquim da Silva Pinho com a chegada à sua casa de Jafafe.
E dizia ele que regressava depois de dias de tortura de uma aventura de romance. Retornava ao seu lugar de repouso e paz.
Reabriu o seu escritório, continuou, portanto, a exercer a sua profissão de advogado e ainda existia, como ele diz, o concelho de Vouga e um julgado ordinário, cuja sede era em Arrancada do Vouga.
Aqui se deslocava com frequência e não faltava a nenhuma audiência no tribunal, duas vezes por semana. O curioso, era a distância entre Arrancada e Jafafe, comparada com as condições hoje existentes. Por isso, ele denunciava que quando estas deslocações se verificavam, pernoitava em Aguieira, que era a povoação próxima de Arrancada e mais longe de Jafafe.
Em Aguieira passva longas horas a conversar com Joaquim Álvaro (o futuro Visconde de Aguieira), saindo ambos à noite, por ser mais discreto, pelos caminhos e pelas florestas da Quinta.
O que ambos diziam - cita o Dr. José Joaquim da Silva Pinho - nas suas expansões amigas, prevendo o futuro, nem ele nem o Dr. Pinho se recordam, à data da feitura desta narrativa, tão sinceras e tão leais eram!
Mas as injúrias e alguns desacatos à família Pacheco Teles não tinham cessado. Esta família era motivo de uma perseguição das autoridades concelhias e seus sequazes, e o Dr. Pinho teve que sustentar uma enérgica oposição a tais actos dos representantes do governo e contrários às leis vigentes.
Fala-se, a parir de certa altura, na necessidade da emigração, mas ia-se adiando esta decisão. Até que os irmãos Velosos, do Porto, comunicaram para Aguieira que uma barca inglesa, de que era consignatário Pedro Ransam (que aqui já foi citado por várias vezes), estava prestes a largar para Bordéus e se Joaquim Álvaro mantinha o propósito de se retirar para o estrangeiro, a ocasião não podia ser mais propícia. Convocou-se um conselho de família e foi resolvido que Joaquim Álvaro devia seguir esta solução. Trataram-se dos pormenores da viagem e no dia em que a barca saía a barra do Porto estavam as Meninas e o seu tutor, à beira do mar, perto de Valadares, junto à capela do Senhor da Pedra, à espera da barca.
Ao início da tarde, um belo navio, bem arqueado, pintado de vermelho, velas enfunadas, saía a barra e tomava o rumo do sul. Por alturas do Senhor da Pedra, o barco abrandava e as velas foram arreadas. A embarcação ficou parada sobre as águas e um lindo bote foi descido do convés, com quatro tripulantes, dirigindo-se à praia.
O mar estava muito encapelado, com ondas alterosas e os marinheiros lutavam desesperadamente para passar por cima das vagas altivas e só depois de um grande esforço dos seus braços de bronze conseguiram chegar a terra.
As órfãs ficaram pálidas de medo, e Joaquim Álvaro hesitava entregar-se e as órfãs ao acaso de uma pequena travessia com o mar encapelado e pondo em risco as suas queridas pupilas.
Vamos ver em próximo post como as coisas correram...
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