Deixamos o episódio XXXV com a chegada a Aguieira do Dr. Joaquim Álvaro, vindo do Porto, de certo modo clandestino, a fim de passar uns dias de descanso. Mas voltemos às peripécias do Dr. José Joaquim da Silva Pinho, autor da narrativa de «As Meninas Mascarenhas».
Dizia ele que em Vila Nova de Gaia tinha passado dois dias de repouso e até uma quase consolação, pois tinha necessidade de algum repouso, após ter passado tantas fadigas e emoções, para continuar só a luta terrível na defesa das órfãs perseguidas. Mas ao terceiro dia, algo de estranho aconteceu. Estava no seu quarto, na hospedaria da D. Mariana, quando ouve bater à porta. Vamos transcrever o diálogo que se travou:
- Quem é? perguntei.
- Sou eu, sr. doutor, respondeu a dona da hospedaria.
- Há novidade, srª Mariana?
- Uma alegre novidade, sr. dr. Pinho.
- Diga, diga depressa.
- Está na sala um sujeito e duas senhoras que lhe desejam falar. Por sinal, sr. doutor, que elas são novas e bonitas.
- Não lhe disseram quem eram?
- Não disseram.
- Bem. Vou-me levantar para receber essa visita.
Pronto, vestiu-se rapidamente e foi logo directo à sala. Mal entrou sentiu-se abraçado por uma pessoa desconhecida, que exclamou:
- Oh, meu querido amigo, quanto folgo em o tornar a ver.
- Mas eu não tenho o prazer de o conhecer.
- V. Sª não me conhece, sr. doutor? Veja lá!...
O dr. Pinho lá fitou o seu interlocutor, um homem ainda moço barba talhada à moderna, vestindo bem, boas botas de polimento, chapéu alto de dois mil e quatrocentos reis, modos finos e educados, etc.
O dr. Pinho continuou por uns instantes bastante confuso e era desagradável a situação, embaraçada, estar diante de uma pessoa que nos chama amigo sem que se saiba a quem se fala.
- Perdão, meu caro sr., mas não me recordo de o ter visto.
- Nem o sr. doutor conhece outra coisa. Foi ainda há dias que nos encontrámos em Cabeçais, na quinta de Covelas. Então não se lembra do Osório, deste seu amigo que está presente e que ardia em desejos de o tornar a ver?
O dr. Pinho dizia que ia caindo fulminado.
Era realmente o Osório, que vira maltrapilho em Covelas, e que, agora, lhe aparecia asseado e janota em Vila Nova de Gaia. Tratava-se de uma transformação completa e até a fala minhota, que ele arrastava desastradamente na pavorosa noite de Cabeçais, até essa aborrecida fala se tinha modificado, mais parecendo pessoa de educação esmerada.
Sentou-se absorto e confundido e teve de apresentar algumas desculpas.
A evolução desta inesperada visita vê-la-emos proximamente.
(Foto retirada da net, no centro de Cabeçais-Arouca)
(Foto retirada da net, no centro de Cabeçais-Arouca)
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