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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Brumas da Memória - 44

As Ferrarias no Baixo Vouga

Introdução
Imagem retirada da Internet (Google). Os pregos apresentados
fazem parte de um catálogo de vendas e nele se diz que têm
mais de 150 anos
Hoje vamos falar um pouco sobre as Ferrarias do Baixo Vouga. Inicio informando que o meu livro actual é de um aguedense por adopção e ilustre historiador, Dr. Deniz Ramos, cujos escritos  são sempre um prazer e uma curiosidade em ler.
Esse livro, a que deu o título «O PERCURSO DA INDUSTRIALIZAÇÃO EM ÁGUEDA», edição da Associação Empresarial de Águeda (AEA), 2014, insere uma parte interessante sobre as localidades a norte da cidade, onde predominava a arte de trabalhar o ferro. Muita gente sabe da proliferada existência das fábricas de pregos, tachas e artigos de ferro para diversos fins, nomeadamente para a construção naval que se fabricavam na freguesia de Valongo do Vouga, como abaixo se descreve.
Claro que iremos destacar, com a vénia ao autor, devida a este tipo de trabalho, as passagens mais significativas da freguesia, enveredando depois por outras curiosidades que a leitura nos possa vir a suscitar. Vamos então ver o que havia:

*****

Como diz o autor, o forte adensamento das ferrarias, a partir do século XVIII, estavam principalmente centradas nos lugares da Trofa, Carvalhosa, Mourisca, Arrancada, Aguieira e Crastovães. Numa nota pessoal que aqui inserimos, o lugar da Veiga, também com bastante preponderância nesta indústria, teria, no século XVIII, alguma implantação e actividade. Abaixo ficam alguns resquícios dessa existência, talvez posterior.
As tropas napoleónicas no decurso das invasões francesas acabaram por destruir muitas das ferrarias, arruinando outras ao desorganizarem-se os circuitos comerciais. Após essas invasões, a Real Junta do Comércio deu instruções aos Corregedores das províncias para que fosse realizado um levantamento da situação, elaborando e remetendo mapas com os dados em que se encontravam algumas actividades, a 20 de Setembro de 1811, em que foram identificadas, pela primeira vez, as ferrarias do Baixo Vouga, a sua localização, proprietários, produtos fabricados e situação económica.
Neste ano, 14 das 18 ferrarias existentes já se encontravam em decadência, cuja causa fora provocada pela instabilidade na região do Vouga aquando das invasões.
A situação inverte-se positivamente anos mais tarde, como mostram os expressivos números conhecidos. Em 26 oficinas da freguesia de Valongo do Vouga, laboravam 97 oficiais e 30 aprendizes e nas 15 da Trofa do Vouga, 36 oficiais, 22 aprendizes e 2 serventes. Esta actividade apresentava já elevados níveis de estrutura industrial, assistindo-se à concentração do capital e dos meios de produção nas mãos de um reduzido número de proprietários, que igualmente chamavam a si a comercialização dos produtos.
Por exemplo, o capitão José Simões, foi proprietário de 7 oficinas em Arrancada, Veiga, Lanheses e Outeiro e José João possuía 4 em Aguieira. Em 1865, embora o seu número tivesse decrescido, em 17 oficinas de obra de ferro existentes no concelho dava-se ainda ocupação a 528 trabalhadores.
Nelas executava-se uma variada gama de pregos, tachas, e cravos, de acordo com os fins a que eram destinados.
Num levantamento feito em Mourisca do Vouga, que teve a interferência de José Maria Marques, para o Museu Etnográfico da Região do Vouga, entre 1915 e 1935 envolviam 29 artistas e 9 comerciantes, conhecendo-se alguns dos produtos fabricados: cravos de 8 a 16 polegadas, para a ferra do gado cavalar e das vacas, que para os bois havia a brocha do boi; o tachão, da mesma medida, para os tamancos de homem e a tacha mais maneirinha para os socos das mulheres; pregos para a construção naval (todo o tipo de barcos de rio, moliceiros, mercantéis e chatas, além de bacalhoeiros e embarcações para a pesca costeira) e prego miúdo, o tremoçado, para os mais diversos fins. As oficinas eram dotadas de de forjas de foles fixos, que os aprendizes accionavam com o pé ou manualmente. As ferramentas mais usadas eram a estaca, o tais, a talhadeira, a craveira, o zaine, o medronho, o malhete, a cunha, a patilha e os indispensáveis martelos e vassouras.

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