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sábado, 25 de setembro de 2010

As Meninas Mascarenhas

O LIVRO XXXI


Há quase um mês que não tínhamos voltado aos capítulos, adaptados, da história das Meninas Mascarenhas, cujo livro foi editado pelo jornal paroquial «Valongo do Vouga» de que era Director o Rev. Pe. António Ferreira Tavares. O último foi no dia 31 de Agosto findo. Ficamos no esconderijo que madame Mesnier tinha "montado" para poder salvar o Dr. Joaquim Álvaro, que tinha aguentado com três colchões às costas. E terminávamos a dizer que tinham batido à porta e que, certamente, era a polícia. E era...

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Não sabemos se a cama era idêntica ou não. Esta é do séc. XIX do blog Emule.com.br

Madame Mesnier tinha mandado abrir todas  as portas dos diversos compartimentos que o edifício possuía. Comandava esta patrulha o Dr. Resende, amigo dos Bandeiras, médico, de Aveiro e bastante conhecedor da família Pacheco Teles, de Aguieira. Aquela cidadã francesa acompanhou o chefe da patrulha policial na sua busca.
Viram tudo o que pretenderam e quando chegaram àquele compartimento, a senhora adiantou-se na informação e disse que aquele era o seu quarto de dormir. O Dr. Resende olhou apenas e não entrou, seguindo a pesquisa.
Mas, um pouco mais tarde, ao descer do andar superior e passando de novo à porta do quarto antes visto, o Resende, sem pedir licença e sem qualquer explicação à dona da casa, entrou e começou a remexer e a revistar o guarda-fatos, o sofá e debaixo da cama. A dona da casa assistia demonstrando aparente ar de indiferença, aguentando o que sentia rugir no seu peito.

Então o exame tornou-se mais apertado e o Dr. Resende levantou o primeiro colchão. Em seguida levantou o segundo e a cama começou a ficar um pouco desarrumada e amarrotada, quase totalmente descomposta. Ele ia a deitar a mão ao terceiro colchão e é intercedido nesse momento por madame Mesnier que, demonstrando alguma encolerização, estende o braço e exclama o que a seguir respigamos:
- Basta! Não se devassa assim o leito de uma senhora estrangeira! Só neste país é que isso é permitido. Em França não se procede deste modo. Oh! a galanteria portuguesa!... a galanteria portuguesa!...
Perante esta reacção, o Dr. Resende que se mostrava um homem com apresentação de trato fino e educado, desejava, mesmo assim, passar por cavalheiro e leal, e logo que acabou de ouvir aquela voz indignada e sentida de madame Mesnier, recuou na sua atitude, fez um gesto de arrependimento e de desculpa. E transcrevemos a resposta:
- Minha senhora, o seu desgosto e a sua cólera são justificados. Esqueci-me, por um momento, de que estava nos aposentos de uma senhora. Essa senhora é bastante generosa para me perdoar uma irreflexão do meu espírito conturbado.
O médico fez os gestos de cortesia da época e lá se foi. Madame Mesnier tinha triunfado! E o seu plano, que tinha sido rapidamente concebido teve um brilhante êxito. Joaquim Álvaro, saído da incómoda mas segura posição mostrava-se contentíssimo, agradecendo àquela senhora e dizendo que nunca mais se esqueceria de que o salvou de uma situação apertada e arriscada.
Madame Mesnier é que pediu desculpa por tê-lo obrigado a passar um longo quarto de hora debaixo de colchões, arriscando a vida por asfixia. Pedia desculpa pela crueldade, acrescentou.
Continua o diálogo de agradecimentos entre os dois e dizia o Dr. José Joaquim da Silva Pinho na sua narrativa deste episódio, que não se faz ideia da sua alegria ao ouvir contar isto numa linguagem animada e fácil de Francisco Veloso da Cruz, residente em Vila Nova de Gaia que, recorde-se, era amigo deste e do Dr. Joaquim Álvaro.

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