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sábado, 17 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - XII

Igreja de Fermedo (Arouca)



Na última postagem desta história, tínhamos deixado os principais protagonistas com o vislumbre da legalidade da sua identificação praticamente resolvida. Até já se dirigiam para os seus cavalos, quando encontram no pátio da casa de D. Margarida Coelho da Rocha um bando de gente, com maus aspecto, feições rudes, mal apresentados, de condição duvidosa e não-sei-mais-quê.
Antes disto, a dita D. Margarida passou a ser toda mesuras com os seus visitantes, até que, (o que queriam era fugir dali o mais rápido possível e chegar ao Porto), toda cheia de atenções, com ar de arrependida, dorida, etc. e tal, convidando-os a almoçar, cujo almoço eram uns apetitosos rojões. Contrariados lá foram, até porque estava tudo pronto, as meninas vestidas e aptas a prosseguir viagem.
Lá foram almoçar. Durante o almoço o ambiente era pesado, pouca conversa existiu, a não ser de circunstância, mas consideraram que, apesar da noite tempestuosa que tinham passado, sempre eram hóspedes e a boa educação aconselhava que fossem amáveis.
O almoço terminou e o Dr. José Joaquim da Silva Pinho foi o primeiro a sair, vendo da varanda que dava para o pátio os criados e os cavalos prontos para a marcha. Só faltavam os viajantes.
De repente deu de caras com algumas figuras extravagantes, quatro homens mal arranjados, com aspecto sujo, com espingarda ao ombro e demonstrando - como dizia o Dr. Pinho - modos bastante atrevidos. Um deles - transcrevo do livro - mesmo do pátio e no momento em que Joaquim Álvaro e o abade apareciam na varanda, levantou a voz rude e fez esta intimação:
- Sei que estão aqui as Meninas Bandeiras que sua mãe procura por toda a parte e foram roubadas de um convento de Aveiro. Ficam os senhores presos, mais elas, até se dar notícia aos srs. Bandeira.
Foi uma surpresa e mais uma contrariedade enorme. Como era possível esta afirmação? Ficaram os protagonistas petrificados. O Dr. Pinho fez um esforço para dissimular e conseguiu retorquir:
- Quem é que ousa dirigir-se-nos dessa maneira? Com que autoridade nos interroga e prende?
- Com a força da lei e a autoridade da justiça.
- Da justiça!...
- Da justiça, sim senhor! Saibam que eu sou o escrivão ordinário de Fermedo, e está ali o sr. Juiz.
- Pois não parece. É inacreditável!
- Nós, ambos, representamos a justiça. Eu sou o Osório, sobrinho do abade da Foz, tão cabralista como meu tio, e fui nomeado pelo duque de Saldanha quando tinha o seu quartel-general em Oliveira de Azeméis, como lugar-Tenente da rainha nas províncias do norte.
Trocaram-se ainda mais umas frases entre o Dr. Pinho e o auto-identificado Osório, que parecia um maltrapilho, como diz o advogado amigo de Joaquim Álvaro.
O Juiz antes referido é descrito pelo Dr. José Joaquim da Silva Pinho como um figurão, grosseiro e velho, chapéu na cabeça, fatiota de burel, polainas de cavador, sapatorros de sola pregada, de brochas gradas, um montanhês, parecendo um bandido. Era o ordinário juiz de Fermedo, cara de bruto e mau, mãos sujas, não proferindo uma única palavra, pois quem falava era o escrivão.
Lá se acalmaram os ânimos e o Dr. Pinho convidou-os a conversar lá em cima na varanda, por causa da bulha de palavreado que se estava a desenvolver.
Vamos contar mais este facto que se passou na varanda e a forma ardiolsa como se desenvencilharam do teimoso escrivão, que os queria prender apenas 24 horas e ir ao Porto chamar o Bandeira da Gama para ver se as meninas eram ou não suas sobrinhas. E, dizia ele, já com bonomia: Vinte e quatro horas passam num instante...

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