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sexta-feira, 30 de abril de 2010

A região do Vouga




Um dia desta semana, com mais dois amigos, estive neste local surpreendente e maravilhoso, que a Junta de Freguesia de Silva Escura (se não me engano) e a Câmara de Sever do Vouga ali têm preservada esta pequena pérola da natureza, devidamente resguardada, sem indícios de poluição ou coisa que o valha.
Um local aprazível, com obras adequadas quer à segurança de utentes, quer o material aplicado em consonância com o ambiente e no qual fiz meia dúzia de cliques fotográficos. As infraestruturas necessárias ao lazer também não faltam ali. Um pequeno percalço, provocado pela humidade e pelas pedras, deixou-me sem vontade de ter continuado. Mas havemos de lá voltar...
Se é que precisa de comparar, deixo apenas esta pequena amostra do local que o vídeo reproduz. Mas há mais vídeos, inclusivé no grupo daquele, que pode ver. Interessantes.


A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - XV


Continuando a seguir a narrativa do Dr. José Joaquim da Silva Pinho, no livro com o título encimado, decidiu ir à frente, a Vila Nova de Gaia, afim de se encontrar com os cavaleiros Velosos da Cruz, com quem tinha sido já estabelecido arranjar-se protecção e esconderijo.
Dizia no post anterior que as suas intenções sairam goradas. Vamos ver o que aconteceu. Deixadas as meninas em Avintes, caía o crepúsculo quando o Dr. Silva Pinho descia o rio Douro de barco. A abordar o cais de Vila Nova de Gaia, diz ele que cometeu um grande erro; mandar de regresso os barqueiros. Já vamos ver o que ele chamou de imprevidência.


Com a história ainda em V.N.Gaia, não obtenho benefícios da publicidade, mas o vinho do Porto, nas suas caves, é o grande símbolo da actual cidade

Os Velosos residiam no sítio denominado «Palhacinhas», no alto da vila (actualmente cidade). Quando o Dr. Pinho chegou próximo da residência, viu todas as janelas iluminadas e pensou só em alguma festa que ali se realizava e que admitiu constituir uma certa contrariedade e a sua missão não ter o êxito planeado.
Chegou à porta, bateu e fez-se anunciar. Foi introduzido numa vasta sala, cheia de senhoras, que não diziam palavra e com semblantes de tristeza. Embora decorrendo o mês de Janeiro, havia ali um ambiente frio, mais parecendo uma tranquilidade fúnebre.
Finalmente apareceu a dona da casa a dizer que seu marido não o podia receber já, porque nessa tarde andando entretido a podar uma ramada na quinta, caiu de altura razoável, tendo fracturado duas costelas. Haviam por lá médicos em conferência e logo que esta acabasse falaria ao marido, ou a seu irmão, que era lente de Medicina, Francisco Veloso da Cruz.
Esta inesperada situação transtornou o Dr. Pinho, pelo que o remédio foi ter de gastar o tempo em conversa com as senhoras, tendo por tema o acidente daquela tarde com o dono da casa. Invadia o Dr. Pinho uma enorme ansiedade, porque estava preocupado por não poder contactar a comitiva de Joaquim Álvaro, que já estariam em cuidados por tanta demora.
Uma senhora, apercebendo-se disso foi prevenir a dona da casa. Esta veio e disse que logo que os médicos saissem falaria ao enfermo e aos irmãos. Pouco depois aparecia o dr. Francisco Veloso. Após meia hora de conversa, foi levado ao quarto do doente. Estavam lá todos os irmãos. E como não havia tempo a perder, fez um breve relato dos acontecimentos e tudo ficou esclarecido e planeado.
Combinou-se que o Dr. Pinho voltaria a Avintes, com duas capas de peles, muito em moda no tempo, para agasalhar as meninas. Todos deviam descer ao cais de Vila Nova, como se fossem esperar alguém de família que vinha da Régua. Mas para receber as meninas e sua comitiva, tentando, deste modo, não levantar suspeitas.
O Dr. Pinho partiu imediatamente e para o Porto foi o José Veloso da Cruz, um dos irmãos, a preparar local adequado e secreto para o esconderijo das meninas. Só que mais uma contrariedade atingiu o Dr. Pinho. Nunca imaginou que ali não houvessem barqueiros que transportassem um passageiro pelo rio. Quando chegou ao local, viu uns homens que talvez resolvessem a situação. Eram polícias e foi preso. Descrevendo,
um desconhecido, já de noite, com duas capas debaixo do braço, quando se abeirou dos homens, pensando que eram barqueiros, saiu-lhe a polícia, que admitiram tratar-se de um ladrão, com aquelas capas raras e caras.
E lá foi para a casa da guarda. Conseguiu, no entanto, ir para casa do administrador, porque ficaria melhor instalado e que era seu conhecido e amigo de Coimbra, mas não estava em casa. Ficou um cabo de sentinela à porta do administrador, o Dr. Pinho lá dentro com o secretário do administrador, de nome Carneiro, a interrogá-lo, suspeitoso e desconfiado.
Vamos ver como esta embrulhada vai evoluir...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A história local

O Órgão da Igreja Paroquial

Estou por aqui a seleccionar algumas fotos que permitam a montagem de um slide, afim de apresentar alguns locais da freguesia. Com estas fotos, pretendemos mostrar (e contar) alguma coisa destas nossas terras.Entre elas vai surgir uma que merece um destaque histórico antecipado e particular.


É precisamente esta que antecede a ilustrar este post e que faz parte integrante da igreja paroquial.
Não sei se saberão - a maior parte das pessoas certamente que sabe - que este local serviu de suporte de um órgão que foi concedido por volta do ano de 1834, porque após a sua concessão não sabemos quanto tempo esteve à espera de se poderem ouvir os sons que terá produzido durante muitos anos.
Constava-se até que, da parte de fora da igreja, havia uma instalação de «bombagem» de ar suficiente para fazer funcionar o dito cujo.
E uma curiosidade, que  não é, certamente, para um grande número de pessoas, que periodicamente ali se desloca, ficam mesmo ao lado ou encostadas a uma placa que atesta a sua existência naquele local e que tem gravados os seguintes dizeres::


«Este orgão foi concedido por S.M.I. o Duque de Bragança, por decreto de 11 de Agosto de 1834 a requerim.to do Provedor do Concelho de Vouga João Baptista de Figueiredo Pacheco Telles»

Ainda não há muito tempo, muitas pessoas lembravam-se daquele órgão. Contudo, alguma incúria e outras causas que o tempo descura e os homens não cuidam, dele restam apenas uma placa, confirmativa da sua concessão e existência, e o púlpito, que a fotografia mostra. Seria o coro alto, como se define e onde o grupo de cantores se colocava. Não temos a certeza, mas é provável. Há quem saiba disto.

Gente destas terras - 24

António das Neves Martins de Barros

Dois artistas; o Sr. Barros, à esquerda, com o Pedro. Ao lado os artigos expostos pelo sr. Barros


O Sr. Barros, como era mais conhecido na freguesia, volta a ser focado, em face da sugestão e da ajuda, com as fotos, que me "emprestou" o meu amigo Filipe, responsável pelo blogue «valongodovouga blogs sapo pt».
Por outro lado, a intervenção do Filipe fez-me suscitar que, de certo modo, se justifica trazer para a história desta freguesia outras pessoas que se distinguiram em outras actividades. Mas agora tratamos de dar a conhecer um pouco da figura de António Barros.
Sempre viveu na Carvalhosa, e foi um artista, como o atesta a sua participação numa iniciativa levada a efeito há vários anos pela Casa do Povo de Valongo do Vouga, denominada «Artistas da nossa terra» e outras obras que deixou e em que colaborou. Nomeadamente e se não me engano, na elaboração e pinturas dos cenários da «Revista  Valongo à Vista».
Conheci os atributos do sr. Barros, ainda ele trabalhava numa cerâmica artística, no lugar de S. Pedro, arredores de Águeda, na qual fez, em barro, pelas suas mãos um círculo com cortes, semi-circulares, e no meio do qual desenhou o emblema do F.C. Porto. Penso que ainda anda por aí, metido nalguma gaveta, esse emblema de barro.
Depois disso, trabalhou durante muitos anos, numa empresa de Oliveira de Azemeis, mas creio que já como administrativo, para onde se deslocava de autocarro (quando havia autocarros a jeito!!!).
Conhecíamos ainda o sr. Barros, um homem dotado de grande personalidade, como outros que ainda vivem, com uma manifesta oposição política ao regime vigente, facto que lhe valeu alguns dissabores que a PIDE lhe provocou. Mas manteve-se sempre, durante a vida, fiel aos seus princípios.
Mas era solidário e amigo de ajudar e colaborar. O post anterior é prova de que, mesmo em relação à Igreja, na qual não se revia, ele dava sua colaboração sempre que para isso lhe fosse solicitado. É prova disso a referência que fiz aos casos do cabeçalho do jornal e da ilustração que deu ao livro de «As Meninas Mascarenhas».
Participou, como disse, na exposição de «Artistas da nossa terra», na Casa do Povo, como aqui ilustramos, junto de um outro mais jovem artista da nossa terra, Pedro Jorge Santos Fernandes, residente no Vale de Silvares.
Nesta exposição e com a ajuda do Filipe Nuno Valente e Santos de Gouveia Vidal, participaram ainda os seguintas «artistas» de Valongo do Vouga:
-Ana Paula Silva Domingues; Ana Teresa Arede Coelho; António Barros; António Duarte Pereira; António Manuel Duarte da Silva; António Pereira Arede; ATL Casa do Povo; Augusto José dos Santos Nogueira; Carolina Maria Corga Pereira; Centro de Dia da Casa do Povo; Edite Conceição Martins Marques Vidal; Escola EB2,3 de Valongo; Filipe Nuno Valente Santos Gouveia Vidal; José Nunes da Quinta; Júlia dos Santos Magalhães; Manuel Fernandes; Maria Clara Nunes Ferreira da Silva; Maria Conceição de Jesus Gomes; Nuno Filipe Oliveira Simões; Paula Cristina Corga Vidal Morais; Paulo Ferreira dos Santos; Pedro Jorge dos Santos Fernandes;
Fica este pequeno pedaço da nossa história recente, que mostrou algumas particularidades de conterrâneos nossos até aí, talvez, desconhecidas de muitos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
A capa do livro


Temos andado por aqui a relatar em folhetins alguns factos pitorescos da história de duas famílias, que teve por base a custódia de duas meninas, conhecidas pelo apelido de Mascarenhas. O livro foi editado a 'coberto' do jornal «Valongo do Vouga» que, como temos informado, era seu director o Pe. António Ferreira Tavares.
A capa do livro é a que está antes digitalizada, para que seja conhecida de toda a gente que passa por aqui. Mas a intenção quer ir mais além desta resumida informação. Por isso, é que se coloca uma característica especial, porque tudo no livro é original, até a capa. Quem foi o autor do desenho dessa capa?
E é por isso que hoje mesmo nos lembramos de trazer ao conhecimento público, o que terá sido feito noutra altura e em outras circunstâncias, a informação do autor dessa capa, cujos desenhos alusivos ao tema principal que o livro contém, foi depois transformado numa tipografia.
E dizemos como foi. O Pe. Tavares queria fazer a publicação do livro. Era necessário haver alguém com a veia para o desenho. A partir daí foi um instante, quando uns anos antes tinha sido por mim sugerido que o cabeçalho do jornal acima referido fosse desenhado também por alguém com jeito e arte.
E a pessoa contactada, que prontamente acedeu ao pedido feito, no caso do jornal e, posteriormente, no livro, foi um conterrâneo já desaparecido do nosso convívio e a quem prestamos, por esta forma, uma singela homenagem, lembrando-o através destas duas pequenas e modestas intervenções. Chamava-se António das Neves Martins de Barros, morava na Carvalhosa e foi ele mesmo o executor, como só ele sabia fazer, do desenho do cabeçalho e do título do jornal e do tema para o livro das «Meninas Mascarenhas».
Penso que tem algum interesse e curiosidade trazer aqui esta informação e a imagem da digitalização.

domingo, 25 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - XIV

Vamos continuar a dar nota de alguns casos pitorescos de um caso que apaixonou o povo do século XIX na freguesia de Valongo do Vouga e areedores.
Na senda da sua fuga para o Porto, a comitiva chefiada pelo Dr. Joaquim Álvaro Teles de Figueiredo Pacheco lá ia galgando quilómetros a caminho de Avintes, por Canedo. Já libertos dos incidentes de Covelas e neste meio tempo apenas foram trocadas impressões, feitas algumas conjecturas, comentários sobre a situação política de então, em época de revoltas, uma delas, muito conhecida pela revolta da «Maria da Fonte» tinha terminado há pouco tempo. Os assaltos eram uma norma, começando a realçar-se a acção do José do Telhado.

Uma vista inconfundível de V. N. Gaia, com a ponte de D. Luis ao fundo

A viagem até Avintes foi feita à volta de conversas sobre estes temas e outros. Havia guerrilhas organizadas e os populares faziam exercícios em tudo idênticos aos dos militares. Havia fome, principalmente em certas classes do povo, nomeadamente entre os funcionários públicos.
As conjecturas funcionaram ainda à volta do que se tinha passado em Covelas, com D. Margarida Coelho da Rocha, dadas algumas incertezas e demasiadas reservas sobre a sua origem e o seu destino em conversas dos criados de Joaquim Álvaro, com os de D. Margarida, que acentuou as desconfianças desta. Inclusivé o tal Osório que aparece nesta história, já sabia do desaparecimento das meninas, uma vez que foi a este que o Dr. Silva Pinho tinha pedido lume no dia anterior, na sua chegada a Cabeçais. O Osório tinha tido uma conversa na taberna lá do sítio com um dos Bandeiras, quando este tomava uma refeição e a quem tinha contado toda a história e este havia pedido ao Osório para estar atento a qualquer movimento suspeito. Afinal, o Osório «vendeu-se» e traiu o Bandeira da Gama. Tinha sido fácil àquele relacionar a caravana com a história que lhe tinha sido contada, num dos dias anteriores pelo Bandeira da Gama.
No meio de tudo isto, os Bandeiras tinham já prevenido o irmão Pedro, que tendo ficado em Torredeita, lhe pediram para partir imediatamente para o Porto prevenir a polícia, com vista a poderem prender os fuigitivos e tentar evitar a sua retirada.
Começou a avistar-se Avintes, já o dia ia caindo. Havia um estratagema estabelecido entre Joaquim Álvaro e o Dr. Silva Pinho e o seu destino tinha sido confiado aos distintos cavaleiros Velosos da Cruz, de Vila Nova de Gaia. A estratégia consistia em ir o Dr. Pinho à frente encontrar-se com os Velosos e pedir-lhes que preparassem imediatamente seguro esconderijo para ele e para as meninas, devendo aquele, em seguida, voltar a Avintes, onde a caravana ficaria a aguardar.
Mas os planos sairiam gorados...
Vamos ver a seguir!

25 de Abril, sempre!

Foi nesta noite que aconteceu

Foi nesta noite que aconteceu, como estou a ver e a ouvir na TV o Herman José, com o Cor. Otelo Saraiva de Carvalho a dizer que em 25 de Abril até nem havia ainda telemóveis. Posta esta pequena nota introdutória, passemos aos factos.

*****

Nesta noite, 24 de Abril, como já o disse aqui, estava em Lisboa. No dia 25 assisti ao desenrolar das acções que durante a noite tinham sido postas em prática. Se faço este post, é apenas já pela lonjura que se sente no tempo, mas continuando a parecer que foi ontem!
Lembro-me de muitos factos e, deles, o envolvimento feito por Salgueiro Maia ao quartel do Carmo, não sei que horas eram, mas foi ainda de manhã, pouco depois de termos sido dispensados do trabalho, seriam cerca de 9:30 horas.
Lembro-me de não nos deixarem passar para o Terreiro do Paço.
Lembro-me de ter subido até ao Castelo de S. Jorge a tentar ver o que se passava em baixo junto do rio Tejo e na Praça do Comércio.
Lembro-me da auto-metralhadora Panhard, que, coincidentemente, se chamava «Bula», uma localidade da Guiné, onde uns bons anos antes eu tinha estado, a sair do Quartel do Carmo, transportando Marcelo Caetano e Américo Tomás.
Lembro-me da enorme malha humana que se aglomerava junto do Quartel do Carmo.
Lembro-me de um carro, salvo erro Peugeot, onde ia o Gen. Spínola, logo atrás da Panhard e em grande velocidade através da Rua Augusta, se não me engano. Se estivesse no local, de certeza que não me enganava.
Enfim, os jornais matinais que guardo ciosamente e que aqui já postei.
E amanhã, no calendário, é dia de celebração desse dia de Liberdade...
Por isso, evoco aqui e agora o 25 de Abril, sempre!!!

*****

PS-Só agora reparei que, quando cliquei 'Publicar Mensagem', já era 25 de Abril. Poderia corrigir, mas agora fica assim.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas

O Livro - XIII



Uma vez que a história se aproxima do norte, nada melhor que o brazão de V.N. Gaia

O resumo
Vamos continuar a respigar do livro com o título mencionado, uma narrativa, recorde-se, de um advogado que residia em Jafafe, de seu nome José Joaquim da Silva Pinho, que viveu e acompanhou esta história que decorreu no século XIX.
Ficamos em Covelas, junto a Fermedo, e já próximo de Arouca, onde as meninas, transportadas pelo seu tutor, Joaquim Álvaro Teles de Figueiredo Pacheco, procurava fugir à perseguição que lhes era movida pelos seus familiares, os tios das mesmas, Bandeira da Gama, de Torredeita-Tondela (Campo de Besteiros).
Naquele tempo as pessoas, mesmo dentro do país, deviam circular munidas de passaporte. E o Dr. Joaquim Álvaro, bem como o seu amigo, Dr. José Joaquim da Silva Pinho, não o levavam, porque não convinha.
Pelo caminho surgiram os imprevistos. Desenvencilhados de uma situação, outra surgiu, ainda em Covelas, protagonizadas pelo escrivão e pelo juiz de Fermedo. Destes, era porta voz o escrivão. O Juiz nada dizia ou fazia. Ambos mal apresentados, sujos e de botarras calçadas, como se diz no livro, queriam prender os viajantes e comitiva durante vinte e quatro horas, até que chegassem do Porto os Bandeiras da Gama, porque, diziam, estarem ali as Meninas que foram roubadas do Convento de Sá em Aveiro e que deveriam ser por eles reconhecidas como suas sobrinhas.

Corrupção já em 1846?!
Mas talvez em 1846, ou próximo deste ano, havia corrupção. Ou seja, após uma discussão travada desde a varanda da casa de D. Margarida Coelho da Rocha, para o pátio, o Dr. Pinho convidou o escrivão a dialogar lá em cima, por causa da barulheira que a conversa provocava, estando distantes uns dos outros. É pelo menos essa a ilacção que se retira da narrativa.
Recomeça aqui a história desde que a deixamos no post anterior.
No cimo da varanda, há um diálogo interessante, que não vamos perder tempo em descrever, até que o escrivão afirma que quer ver os documentos das meninas. E foram dentro de casa daquela senhora, o Dr. Joaquim Álvaro, tutor, e o escrivão, Osório e o Dr. Silva Pinho. Lá dentro, o futuro Visconde de Aguieira, enche-se de coragem e pergunta ao escrivão que os documentos não lhe interessam.
- Não me importo, é certo. - respondeu o escrivão.
- Quer dinheiro, não é verdade? Fale e fixe o preço à nossa liberdade!... Cartas na mesa! Jogo franco... De quanto precisa? - respondeu Joaquim Álvaro.
O escrivão lá disse o valor que queria, Joaquim Álvaro respondeu que era demais, o Osório disse que não e que ainda teria que agradecer o preço módico. Posto isto, do cinto de Joaquim Álvaro saiu uma quantia de sedutoras peças de ouro, de D. Maria I, de duas caras, que tinham sido entregues, na sua maioria, por D. Casimira Mascarenhas, de Rebordinho, tia das meninas. Entregou-as ao escrivão, o Dr. Pinho sabia a quantia, mas não a divulga no livro, mas ainda as descreve com estas palavras: «era de arregalar o olho».
.......
A partida e o alívio
Feito o negócio, voltaram à varanda e o escrivão, suvina e cínico, em voz alta, com desplante de velhaco, disse ao juiz na sua dicção minhota:
- Sr. Juiz, vi os documentos destes senhores e reconheço que estas não são as Meninas Bandeiras. Podem por isso, ir ao seu caminho, se o sr. juiz der licença.
O juiz sentenciou bruscamente:
- Visto isso, podem ir.
Estes diálogos foram retirados do livro tal qual estão escritos. E ainda se acrescenta esta passagem:
«Estas eram as palavras de um alarve, mas foram palavras de redenção. Foram feitas, de forma rápida, as despedidas. O Osório (escrivão), com muitas cortesias, modos de respeito, voltando-se para Joaquim Álvaro e para mim, fazia votos de boa viagem. Tinha o bolso pesado e quente e o semblante alegre de um homem abonado.»
Cumprimentaram cerimoniosamente D. Margarida, mostrando mais mágoa que agradecimentos, ansiosos por abandonarem aqueles sítios e partiram na direcção de Avintes, na margem do Rio Douro, com passo estugado e olhando sempre para trás, com receio que outro Osório os embaraçasse e obrigasse Joaquim Álvaro a despejar o cinto das peças de ouro nas suas algibeiras vazias.
A seguir, outras peripécias, na chegada ao Douro (Avintes), pelo caminho de Canedo (Vila Nova de Gaia), embora libertos dos incidentes de Covelas.

Biblioteca Dr. Fernando Silva

Junta de Freguesia perpetua nome de Fernando Silva


Ontem, quinta-feira dia 21 de Abril de 2010, é uma data que tem um simbolismo local devidamente marcado e acentuado através de uma pessoa simples, anónima, talvez desconhecida da maioria dos comuns habitantes regionais e locais, mas que, certamente e sem discordâncias ou antagonismos balofos, marcou a freguesia de Lamas do Vouga e a freguesia de Valongo do Vouga, onde residiu nos últimos cerca de 15 anos.
Chamava-se Fernando Augusto Pereira da Silva, arqueólogo, licenciado pela Universidade de Coimbra, se não estou em erro, e nos trabalhos da sua especialidade deixou um espólio científico e histórico de grande valor.
A Junta de Freguesia de Valongo do Vouga, com a colaboração da Câmara Municipal de Águeda, implantou na sede da primeira uma biblioteca, a qual recebeu a identificação de «Biblioteca Fernando Silva».

O presidente da Câmara Municipal, Dr. Gil Nadais, a vereadora da Cultura, Elsa Corga que é uma jovem natural e residente na freguesia de Valongo do Vouga, o presidente da Junta, Carlos Alberto Carneiro Pereira, representantes familiares do Dr. Fernando Silva que, recordamos, faleceu inesperadamente em 22 de Janeiro de 2010, no lugar de Carvalhal da Portela, onde residia e que fica a uma pequena distância do sítio da Mina, local arqueológico que teve a sua direcção desde 1996, em que se iniciaram os trabalhos científicos da especialidade.

Um aspecto geral da biblioteca, ainda incompleta

Já antes, nos anos 40 e 60, séc. XX, outras pessoas por lá andaram a fazer um trabalho de escavações, das quais não resultaram quaisquer documentos ou publicações, como refere o Dr. Fernando Silva no «Guia da Estação e do Visitante», na página 17 e seguintes, nomeadamente que no que se refere aos materiais recolhidos, além da ausência de documentação, que não foi produzida e com a qual muito se terá perdido.

Placa alusiva à data da fundação e inauguração da biblioteca «Fernando Silva»

Foi realizada um singela e simples sessão, com a presença, mesmo assim, em dia da semana e à hora possível (18 horas), de bastantes pessoas, tendo o residente da Junta explicado as razões da existência desta biblioteca, que «nasceu» pela boa vontade da Câmara Municipal e da família do arqueólogo já falecido, cujo acervo, em quantidade e qualidade, veio justificar a ocupação de um espaço (quase vazio) que, no projecto de construção da nova sede da Junta já estava previsto para biblioteca.


Cor. Sá Nogueira, familiar do Dr. Fernando Silva, tecendo algumas considerações

O familiar que aqui representou a família do homenageado, na pessoa do Cor. Manuel António Alves de Sá Nogueira, foi acompanhado por outros familiares, nomeadamente os seus filhos, que também estiveram presentes nesta modesta e singela cerimónia. Aquele historiou, num breve resumo, o percurso curricular do Dr. Fernando Silva, até chegar e finar-se em Valongo do Vouga, pormenor, pelo menos para mim, que não sabia, bastante interessante.

Isto para evidenciar que esta biblioteca está recheada de obras que o Dr. Fernando Silva possuía e que com o apoio da Câmara Municipal e a autorização dos herdeiros, ficou estabelecido que passasse a constituir um importante meio público de divulgação cultural.
Ficou ainda a pairar a ideia que esta biblioteca possa ser enriquecida com outras obras de valor, propriedade de particulares que irão aumentar o espólio cultural da freguesia, que ficará em estreita ligação, por internet, com a Biblioteca da Câmara Municipal de Águeda.
Na vivência deste facto, para além do que fica descrito, fiquei com a sensação de que ali existiu, nas palavras e nos actos, mais a face sensível do acto do que um caso oficial - que o foi também, é certo - mas pouco evidenciado com os protocolos a que estão sujeitos. Ou seja, poucos formalismos!


Familiares do Dr. Fernando Silva (o filho à esquerda e o Cor. Sá Nogueira è direita)

E assim, tudo simples, como as pessoas que ali participaram e como era o Dr. Fernando Silva, que deixou o seu nome perpetuamente ligado à freguesia de Valongo do Vouga, como ele queria, nomeadamente ser aqui sepultado. E a sua vontade foi duplamente satisfeita.

terça-feira, 20 de abril de 2010

A Junta de Freguesia na história - 33

Factos avulsos da vida da Junta

Vista parcial da freguesia de Valongo (ha aqui fotos idênticas)


Como as actas da Junta de Freguesia, a partir da última aqui postada, não possuem conteúdo histórico que se destaque, vamos apresentar alguns factos avulsos de menor impacto, mas que dá, ao menos, para perceber alguns aspectos da vida da freguesia, nomeadamente:

Sessão de 12 de Maio de 1912
Cômoros: - Deliberado oficiar à Câmara Municipal para que mandee proceder ao aprumamento de cômoros n viação pública desta freguesia e bem assim informá-la que alguns moradores desta freguesia têm valadado semeando penisco, e agricultando terreno baldio, sem nenhuma espécie de autorização, para que ela dê as providências devidas.

Sessão de 14 de Junho de 1912
Estrada da Póvoa à Carvalhosa: - Foi deliberado, sob proposta do presidente, oficiar à Câmara Municipal deste concelho a fim de ela pedir à direcção das obras públicas d'Aveiro, que mande fazer o estudo do ramal de estrada de acesso ao caminho de ferro, do Espírito Santo à Carvalhosa.

Sessão de 11 de Agosto de 1912
Legado: - Nesta sessão consta que foi deliberado aceitar um legado, deixado em testamento a esta Junta de Paróquia, pelo cidadão Joaquim Ferreira Pouzadas, do Lugar da Veiga, constante de duas inscrições do valor nominal de um conto de réis cada uma, e uma do valor nominal de quinhentos mil réis, cujo usufruto pertence a sua irmã Maria Rosa de Jesus, enquanto viva, ficando, por morte desta, a Junta de Paróquia com o encrago de, todos os anos, distribuir a quantia de quarenta e cinco mil réis pelos pobres mais necessitados desta freguesia.

Sessão de 25 de Agosto de 1912
Disciplina em 1912: - Esta sessão ocupou-se de pôr na Ordem a presença dos membros da Junta de Paróquia, como se designava, pelo que foi deliberado conceder autorização ao presidente para se ausentar por um mês, sendo também deliberado que, em harmonia com como dDisposições do Código Administrativo, se aplicasse a multa nele estabelecida aos vogais que faltassem às sessões e não justificassem essas faltas.
E não havendo mais que tratar foi encerrada a sessão ... com esta deliberação. É assim mesmo ... toma!

sábado, 17 de abril de 2010

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - XII

Igreja de Fermedo (Arouca)



Na última postagem desta história, tínhamos deixado os principais protagonistas com o vislumbre da legalidade da sua identificação praticamente resolvida. Até já se dirigiam para os seus cavalos, quando encontram no pátio da casa de D. Margarida Coelho da Rocha um bando de gente, com maus aspecto, feições rudes, mal apresentados, de condição duvidosa e não-sei-mais-quê.
Antes disto, a dita D. Margarida passou a ser toda mesuras com os seus visitantes, até que, (o que queriam era fugir dali o mais rápido possível e chegar ao Porto), toda cheia de atenções, com ar de arrependida, dorida, etc. e tal, convidando-os a almoçar, cujo almoço eram uns apetitosos rojões. Contrariados lá foram, até porque estava tudo pronto, as meninas vestidas e aptas a prosseguir viagem.
Lá foram almoçar. Durante o almoço o ambiente era pesado, pouca conversa existiu, a não ser de circunstância, mas consideraram que, apesar da noite tempestuosa que tinham passado, sempre eram hóspedes e a boa educação aconselhava que fossem amáveis.
O almoço terminou e o Dr. José Joaquim da Silva Pinho foi o primeiro a sair, vendo da varanda que dava para o pátio os criados e os cavalos prontos para a marcha. Só faltavam os viajantes.
De repente deu de caras com algumas figuras extravagantes, quatro homens mal arranjados, com aspecto sujo, com espingarda ao ombro e demonstrando - como dizia o Dr. Pinho - modos bastante atrevidos. Um deles - transcrevo do livro - mesmo do pátio e no momento em que Joaquim Álvaro e o abade apareciam na varanda, levantou a voz rude e fez esta intimação:
- Sei que estão aqui as Meninas Bandeiras que sua mãe procura por toda a parte e foram roubadas de um convento de Aveiro. Ficam os senhores presos, mais elas, até se dar notícia aos srs. Bandeira.
Foi uma surpresa e mais uma contrariedade enorme. Como era possível esta afirmação? Ficaram os protagonistas petrificados. O Dr. Pinho fez um esforço para dissimular e conseguiu retorquir:
- Quem é que ousa dirigir-se-nos dessa maneira? Com que autoridade nos interroga e prende?
- Com a força da lei e a autoridade da justiça.
- Da justiça!...
- Da justiça, sim senhor! Saibam que eu sou o escrivão ordinário de Fermedo, e está ali o sr. Juiz.
- Pois não parece. É inacreditável!
- Nós, ambos, representamos a justiça. Eu sou o Osório, sobrinho do abade da Foz, tão cabralista como meu tio, e fui nomeado pelo duque de Saldanha quando tinha o seu quartel-general em Oliveira de Azeméis, como lugar-Tenente da rainha nas províncias do norte.
Trocaram-se ainda mais umas frases entre o Dr. Pinho e o auto-identificado Osório, que parecia um maltrapilho, como diz o advogado amigo de Joaquim Álvaro.
O Juiz antes referido é descrito pelo Dr. José Joaquim da Silva Pinho como um figurão, grosseiro e velho, chapéu na cabeça, fatiota de burel, polainas de cavador, sapatorros de sola pregada, de brochas gradas, um montanhês, parecendo um bandido. Era o ordinário juiz de Fermedo, cara de bruto e mau, mãos sujas, não proferindo uma única palavra, pois quem falava era o escrivão.
Lá se acalmaram os ânimos e o Dr. Pinho convidou-os a conversar lá em cima na varanda, por causa da bulha de palavreado que se estava a desenvolver.
Vamos contar mais este facto que se passou na varanda e a forma ardiolsa como se desenvencilharam do teimoso escrivão, que os queria prender apenas 24 horas e ir ao Porto chamar o Bandeira da Gama para ver se as meninas eram ou não suas sobrinhas. E, dizia ele, já com bonomia: Vinte e quatro horas passam num instante...

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A Junta de Freguesia na história - 32

Acta da sessão de 28 de Abril de 1912
O primeiro relatório de actividades



Actual edificio da sede da Junta de Freguesia
............
Sei perfeitamente que para ir rebuscar estes pequenos pormenores é preciso ir lendo, muito, tudo aquilo que consta nas actas da Junta de Freguesia. Só assim é que se pode fazer história e trazê-la à costa, que é, como quem diz, colocá-la a descoberto e à vista de todos.
Não conheço nem conheci a legislação das então Juntas de Paróquia de 1912. Nem sei se haveria legislação específica. Mas o Código Administrativo já existia.
Mas vamos ao caso de agora. Certamente que não se faziam relatórios de actividades de uma Junta, como agora e, com base nesse pressuposto, certamente que muita história se terá esfumado.
Neste caso, um relatório que se pode considerar sucinto e também algo completo, é aquele que consta na acta da sessão identificada em título. Não o vamos transcrever totalmente, porque se tornava maçador na sua leitura e em tempo, mas alguma coisa aqui vamos deixar.
Além de mencionar a aprovação das contas de 1911 e do orçamento para 1912, ainda refere uma questão jurídica por ocupação e apropriação indevida de terrenos da Junta por parte de Maria Rosa Carvalhoso, que não diz donde é mas que me parece que morou na Veiga, diz a acta que «O presidente referido apresentou nesta sessão o relatório da gerência do ano findo, o que foi unanimemente aprovado e que é do teor seguinte:»
Transcrevemos esta parte, supostamente introdutória e que diz: «Para que chegue ao conhecimento de todos e a ninguém seja lícito duvidar dos bons desejos desta Junta em ser útil à sua freguesia, procurando sempre atender, por todas as formas, as mais urgentes reclamações do povo, e para que se possa avaliar da superioridade do regimen republicano sobre o regimen monárquico, pelo confronto com a administração das Juntas transactas, se publica este Relatório, que é um pálido reflexo da actividade que esta Junta de Paróquia tem desenvolvido e continuará a desenvolver, enquanto estiver à frente dos negócios desta freguesia.
Não é para susceptibilizar quem quer que seja que aludimos à administração transacta desta Junta, mas tão somente para demonstrar que essa administração era um reflexo, uma consequência da administração central da nação - do governo monárquico. O mal vinha de cima e todo oorganismo social se ressentia dele, o que, afinal, não admira.»

A acta acrescenta que dada esta ligeira explicação, vamos começar pelo:
-Aumento da receita;
-Melhoramentos materiais;
-Melhoramentos higiénicos;
-Beneficência;
-Educação cívica;
-Estatística;

Em cada um destes capítulos se descrevem o pormenor referente aos melhoramentos, nas diferentes actividades que estão elencadas. E termina deste modo:

«Por esta simples resenha de factos, todos podem avaliar a boa vonatde que esta Junta tem empregado para ser útil à sua freguesia. Se mais e melhor não pôde fazer, é porque a deficiência dos recursos de que dispõe o não permitiram. Muitos destes melhoramentos estão sendo continuados na gerência de mil novecentos e doze e outros não menos importantes estão projectados, todos concorrendo para o engrandecimento desta freguesia. Um destes melhoramentos, que esta Junta teria grande prazer em ver realizado é o de conseguir para cá uma estação de caminho de ferro do Vale do Vouga. Tem-se, porém, tornado isso impossível pela falta de recursos, para despesas que era preciso fazer. No entanto esta Junta de Paróquia ainda não deixou de pensar na melhor maneira de resolver este e outros assuntos de largo fôlego.»
Seriam oportunos alguns comentários adicionais à transcrição desta história. Mas a extensão aconselha a que fiquemos apenas por aqui.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Junta de Freguesia na história - 31

Nacos de história
.....

O actual largo citado na acta de 1912

A temática da Junta de Freguesia durante mais de um século e do que nela se passava, atravessando os anos pelas descrições existentes nas actas, é um precioso elemento que nos mostra o que se passava e, até, como viviam as populações dos diversos lugares e dos meios que existiam e com os quais tinham de ser «governo» da freguesia. Desta feita vamos ocupar um espaço aligeirado de alguns factos. E um deles, bastante interessante, é o alinhamento e a demarcação do largo propriedade da Junta de Freguesia existente junto do adro e hoje conhecido pela Praça de S. Pedro.
É na acta da sessão realizada em 14 de Janeiro de 1912, que existe uma pormenorizada definição do alinhamento e confrontações daquele espaço, que foi objecto de muitas e variadas intervenções ainda não há muitos anos.
Como vem sendo traduzido, havia muita gente, «a maior parte do povo da freguesia», como dizia a acta, a assistir «destacando-se nessa massa popular as pessoas de maior repeitabilidade e representação desta paróquia». Ou seja, com esta definição, estavam presentes "os importantes de então da freguesia, os fluentes".
A demarcação do terreno, está assim descrito na acta: ...«Tratou esta Comissão de proceder à demarcação do terreno que constitui propriedade da Junta de Paróquia, parte pelo nascente com o Passal, pelo norte com a Rigueira, pelo poente com o cemitério e Adro e pelo sul com o caminho que dá do pátio da «Residência» para o adro. Ouvidas as opiniões autorizadas, foi, com a aprovação unânime de todo o povo da freguesia ali largamente representado, fixada a linha divisória entre a propriedade desta Junta de Paróquia e o antigo "Passal", sendo em seguida metidos os marcos, que formam uma linha recta desde o marco sul, contíguo ao caminho de carro do pátio da "Residência" e à altura do pinhal nascente da primeira casa, ligada, a nascente, com a casa da residência.... etc., etc., etc.,»

A história local

As meninas Mascarenhas

O Livro - XI

Jardim de Cabeçais na actualidade

Esta história, de que temos feito eco por aqui, ficou no abade de Romariz, que seria a última hipótese de salvação perante as identidades que necessitavam de confirmar Joaquim Álvaro e o Dr. José Joaquim da Silva Pinho. Ficou-se ainda pelos impressos que estavam na posse de ambos e na congeminção que tiveram em falsificar um passaporte (!), enquanto não chegassem notícias do bom Samaritano do padre de Romariz, de seu nome Sousa Brandão. E lá o falsificaram, com um deles a servir de administrador do concelho e o outro de secretário.
Mas entretanto ouviu-se bater ao portão e uma figura de homem simpático, expansivo e prazenteiro chegava junto de ambos os interessados. Era o bom abade de Romariz, que transpirava alegria, franqueza e dizendo logo que vinha sujeitar-se à sorte dos amigos.
Rapidamente contaram o que se passava nessa noite e na madrugada e o que fizeram; um passaporte falsificado. Aqui, o abade perturbou-se e pediram-lhe que se explicasse. O abade respondeu que era uma contrariedade, porque não constituía nenhum perigo, mas u aborrecimento para ele. E explicou que foi o administrador do concelho que ordenou a diligência realizada e que era preciso levar-lhe o passaporte para ele pôr o visto.
Perguntaram-lhe se o conhecia. E o abade respondeu que era seu primo mas as relações familiares estavam cortadas há muito tempo.
Pediu que não ficassem impacientes e que tivessem confiança. Era simples, o abade ia ter com o administrador do concelho, seu primo, e reatava as relações com ele. Colocava de lado todos os melindres e razões e partiu. E o simpático do abade desapareceu a correr. E, pouco depois, voltava à Quinta de Covelas com um papel na mão. A sua reacção, foi:
- Paz e liberdade!... Paz e liberdade!...
O administrador recebeu o abade, seu primo, com demonstrações de amizade, carinho e escreveu logo a ordem de soltura.
O regedor da paróquia, que dirigia a diligência policial, foi portador da ordem, chegou junto dos acusados, leu-a e despediu-se de forma cortez, dizendo que estavam livres e pedia desculpa, acrescentando que não fez mais que cumprir o seu dever.
O Dr. José Joaquim da Silva Pinho narra ainda que algumas palavras, a meia voz e um pouco obscuras e misteriosas, foram pronunciadas, denunciando a intervenção de uma terceira pessoa contra os viajantes. Ou seja, tinha existido uma denúncia, segundo parecia.
A manhã rompia e todos se preparavam para o retomar da viagem, cujo destino era a cidade do Porto. Mas nova contrariedade surgiu, como iremos ver.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estamos ainda na Páscoa!

Páscoa - A festa da vida plena

Imagem da ressurreição num altar da igreja de Valongo


Páscoa é a festa da vida que triunfa da morte. Após a cruz da quaresma surge radiante a luz da ressurreição.
O Senhor vive e está connosco, anuncia alegremente a Ireja, expressando a fé que nos anima e ajuda a construir o futuro. Aquele que esteve morto, experimentando todas as amarguras e dores, surge agora como a fonte da vida nova e definitiva, e mestre da sabedoria plena, o Senhor do tempo e da eternidade.
A morte foi vencida e transformada em gérmen vigoroso de vida. Da sepultura fria em que pretendiam arrumá-Lo, ergue-se triunfante o condenado e executado, rasgando horizontes de esperança e de conforto a todos os atribulados da terra.
Do túmulo de José de Arimateia - última réstea de que a humanidade podia oferecer ao seu Criador -, irrompe vitorioso o homem novo, solidário e fraterno, amigo dos pobres e humildes, defensor inteligente dos recursos da natureza e realizador fiel da Vontade de Deus-Pai.
As trevas que se abateram sobre a terra são desfeitas, dando lugar à luz pascal que brilha no espírito humano e o faz dscobrir os vestígios do Ressuscitado em todas as situações que enobrecem a vida, e a marca identificadora das suas chagas onde e sempre que se fazem atropelos à justiça e se espezinha a honra que atesta e qualifica a dignidade de todos os homens.
O Senhor vive e apareceu.
Revigora-se a nossa esperança no seu amor misericordioso que nos recupera das faltas e rasga horizontes infinitos do perdão. Confirma-se a nossa fé na sua presença estimulante que nunca nos abandona e sempre está disponível para intervir. Enraíza-se e cresce a nossa caridade, chamada a viver em sintonia com a d'Ele, que atende com solicitude a todos e por todos se entrega generosamente.
O Senhor vivie e está à disposição. Há novas possibilidades para cada um.
Ergue-te, por isso, tu que estás caído à beira do caminho da vida. Levanta o teu olhar e, confiadamente, vê mais longe. Acredita que é possível chegar onde te pede o coração. Conhece-te a ti mesmo e às tuas capacidades criativas. Revigora as tuas forças debilitadas. Recupera-te do desgaste e do cansaço. Experimenta como é bom viver. Assume a vida com entusiasmo.
O Senhor vive e coopera connosco. Nascem energias renovadas em todos.
Vê à tua volta. Os homens são todos irmãos. Têm todos capacidades e limites. Aceita estes e apoia aquelas. É mais o que nos une do que aquilo que nos separa. Aos olhos de Deus todos valemos tanto que, por nós, entregou à morte o Seu Filho Jesus. Ele está em cada pessoa. Deixa o egoísmo estérico e decadente. Vence a indiferença e apatia. Não vivas como parasita de ninguém. Abre-te aos outros. Estende as tuas mãos solidárias. Lança pontes de união. Supera o isolamento e a solidão. Vive e promove a comunhão.
Em cada passo dado, saboreia o ideal desejado.
O Senhor vive e envia-nos o Seu Espírito. Com ele estamos bem acompanhados. É paz e reconciliação, criatividade e missão, dom e penhor de vida mais plena para todos. Ele é guia e força interior para cada um.
O Espírito Santo faz-nos viver o dinamismo da ressurreição e experimentar em cada dia a alegria da páscoa.
Viver o dinamismo da ressurreição é fazer triunfar o que nos torna mais homens, intensificando o amor solidário e generoso, desenvolvendo as capacidades criativas, abrindo-se confiadamente ao futuro e assumindo com coragem os desafios do presente.
Experimentar diariamente a páscoa e contemplar a acção do Senhor que vai construindo, entre os homens, a comunhão, convocando e reunindo em comunidades, suscitando movimentos e associações, despertando gestos de solidariedade e abnegação, fazendo encontrar e viver processos de renovação, estimulando a Igreja a prosseguir a reforma conciliar e a realizar mais intensamente a missão.
A páscoa de cada dia é a passagem para outras situações melhores, em que o Senhor se experimenta em cada passo e se pode reconhecer na humildade de cada gesto e na boa vontade de todos os esforços.
A nossa páscoa em Igreja é a celebração festiva do homem novo que há em nós e, porque o Senhor vive e está connosco, se abre cada vez mais à comunhão solidária e à participação responsável.
.......
Georgino Rocha
.........
(Eminente teólogo da diocese de Aveiro, de um folheto do início dos anos 90, que serviu de base a uma acção de formação)

domingo, 11 de abril de 2010

A nossa terra

Mensagem aos Valonguenses e Vouguenses ausentes


Vista parcial das instalações da estação da CP de Macinhata do Vouga em 5 de Abril de 2010

Estava a acabar de colocar o post sobre a região do Vouga, que antecede este, quando verifico que, com alguma regularidade, este blogue é visitado por muitas pessoas de todo o mundo. E precisamente no momento em que saía, verifico que está on line um «visitador« do Brasil.
Então pensei, não só no que respeita aos Luso-Brasileiros, mas também a todos os que estão ausentes, em lançar um pequeno desafio, que, resumidamente, consiste:
TODOS AQUELES QUE QUEIRAM "ESTAR" NOS LOCAIS QUE HÁ MUITO NÃO VÊEM, PEDIA QUE ATRAVÉS DO MAIL QUE ESTÁ NA COLUNA LATERAL DESTE BLOGUE, ME CONTACTEM E INDIQUEM ESSES LOCAIS. SE FOREM DESCRITOS MINIMAMENTE, FACILMENTE SE IDENTIFICAM, OBTENDO-SE AS NECESSÁRIAS E INDISPENSÁVEIS FOTOGRAFIAS QUE AQUI SERÃO COLOCADAS.
SEJA QUEM FOR QUE O QUEIRA, NÃO TEM PROBLEMAS. É SÓ DIZER QUE QUEREM VER FOTOS DO ADRO DA IGREJA, DA ARRANCADA, DA VEIGA, DO MOUTEDO, DA CADAVEIRA, DA AGUIEIRA, DE LAMAS, DE MACINHATA, ETC., ETC., ETC.
É UMA FORMA DE MATAR SAUDADES E VER COMO ESSES LOCAIS ESTÃO ACTUALMENTE.
CONTEM COMIGO... COM VOTOS DE FELICIDADES!

A região do Vouga

Indumentárias, marmeleiros e romarias

- As mulheres -

Trajes de outrora idênticos aos descritos, aqui apresentados por duas componentes do Grupo de Folclore da Região do Vouga-Mourisca do Vouga

As mulheres desta região também usavam, ainda no século passado [século XIX, entenda-se, à data de publicação deste escrito], indumentária diferente da actual.
Nos dias festivos calçavam chinelinhas pretas lustrosas e meias brancas, mas as chinelas, mais curtas que os pés, deixavam os calcanhares de fora, e era elegante caminhar aos passinhos miúdos e aligeirados dando as chinelas estalinhos nas plantas dos pés.
As saias, de farta roda, com rendadas saias brancas por baixo, desciam até às chinelas, e no tronco uma blusa clara muito justa, que encolarinhava parte do pescoço e desenhava nitídamente os contornos dos seios.
Na cabeça da moçoila morena, de cabelo farto, lustroso e bem penteado, um lenço claro de ramagens. E a cair-lhe dos ombros, a envolvê-la à guisa de capa, o chaile de merino franjado, o melhor, dos dias de festa, que ela guardava religiosamente embrulhado na gaveta da velha cómoda, entre raminhos de murta e alecrim, pro-môr-da-traça.
A completar esta indumentária dos grandes dias, o bom e grosso cordão de ouro (que era das mães e já fôra dás avós), com o qual era costume darem duas ou três voltas ao pescoço, caindo o restante em dois fios, até à cintura, sobre a blusa clara e muito justa aos seios.
Este cordão, o xaile de merino e aquelas chinelinhas eram toda a maluqueira (faceirice) das moças casadouras.
Mas certas cachopas, mais da vida da lavoura, não usavam chinelas nem meias; andavam descalças, sobretudo em dias de romaria. E as saias, compridas e de farta roda, cintavam-nas com cinta preta ou de cor, aparecendo, assim, com as saias subidas, palmo e meio das pernas roliças. E na cabeça, sobre o lenço desatado, e de ramagens berrantes, a cair pelos ombros, um cahpeuzinho preto e redondo (como alguns que ainda se vêem por esta região) enfeitado, ao lado, com penas coloridas compradas nas romarias. Estas penas ofereciam-nas os conversados ou os admiradores às cahopas que traziam debaixo d´olho. Já pouco também se vê esta interessante indumentária das cahopas nos dias que correm.
E havia também antigamente uma capinha (não era a capucha serrana) que dos ombros descia até quase aos joelhos e era usada por algumas pessoas do sexo feminino, de mais categoria, quando iam à missa. Ainda há quem tenha guardadas por velhas gavetas, como reminiscência, esas românticas e elegantes capinhas que marcaram uma época.

*****

Nas romarias, sempre muita gente. Tocavam violas e harmónicas. Havia homens com «borrachas» e com grandes chifres, cheios de vinho, a tiracolo. Havia descantes e desafios versejados, entre homem e mulher.
As cachopas bailaricavam, meneando muito os quadris, a esturlicar (estralicar) os dedos no ar ou agarradas aos conversados, as saias cintadas com cintas pretas e de cores...
Anadvam suarentas, faces coradas, os cabelos negros em desalinho sensual, os olhos em volúpia... E daí a pouco (ai meninos!) havia marmeleiros no ar e cabeças rachadas, que o amor é belo e o vinho é bom, graças a Baco e Cupido, dois velhos deuses amigos.


Autor: Laudelino de Miranda Melo
IN: - Arquivo do Distrito de Aveiro
Data: Desconhecemos

sábado, 10 de abril de 2010

A Junta de Freguesia na história - 30

Os problemas de terrenos e demarcações

Como se fez notar no post anterior, a diligência realizada pela Junta de Freguesia em 7 de Janeiro de 1912, faz denunciar alguns aspectos quer da vida da freguesia e dos problemas a enfrentar, quer do modo de vida da respectiva população.

Rio Marnel. Era um pouco mais a juzante da "Cascata do Visconde", na foto, que ficava o Lameirão

Da leitura daquela acta ressalta uma coisa que agora já não é comum ao que antigamente se verificava. Reparamos que a redacção da referida acta salienta, em várias passagens, a grande afluência de público (ou seja, a grande participação de público). Isto significa que talvez não haviam interesses particulares que poderiam ser comuns a todos os assistentes, mas certamente que a situação era de impacto e a criar algumas curiosidades nos populares que queriam, talvez, ver o desfecho e participar naquilo que era comum a todos: O LAMEIRÃO.
A acta não deixa dúvidas quanto ao local: Brunhido.
E o «Lameirão» onde era? Fazemos esta pergunta porque talvez a maioria das pessoas mais jovens não saibam «colocar» o Lameirão na geografia de Brunhido. Vamos tentar dar uma ajuda.
À entrada do lugar, na estrada Póvoa-Brunhido, junto à ponte do Marnel, próximo das instalações do sr. Délio Augusto Gomes da Silva, num caminho ainda existente e que dá, a partir da estrada e ao longo do rio, acesso à Garganta, situava-se o Lameirão. Uma pessoa com quem falei, foi-me dizendo que era um local aprazível, cheio de relva, onde se lavava a roupa e em cujo terreno as mulheres a colocavam a corar.
A acta descreve, como já dissemos, a área que ficava demarcada, pois seria notório que o confinante com este terreno público não estivesse a cumprir as suas obrigações legais. Fica também confirmado o que dizia antes sobre o caso da usurpação, lenta, mas eficiente, através de algumas artimanhas, da área de terreno que iria fazer uma dimensão maior da propriedade que qualquer pessoa já detinha e que confinasse com outras em que se pudesse concretizar essa acção.
Actualmente não é muito vulgar estas coisas.
No entanto, quando em Janeiro de 1977, tomei posse de secretário da Junta de Freguesia, nas primeiras eleições democráticas realizadas, ainda era pertinente este tipo de atitudes e de acções que sempre envolviam a Junta de Freguesia, sem legislação, sem finanças locais, sem qualquer subsídio ou apoio, salvo aquele que a Câmara (quase arbitrariamente) ia concedendo. Os problemas de marcos, demarcações de terrenos, caminhos, confinações com baldios, etc. eram uma constante a criarem uma grande dor de cabeça a todos especialmente ao presidente da Junta, que, na altura, era José Lopes Falcão.
Penso que o local ainda é motivo de alguma dificuldade que a autarquia actual enfrenta. Mas o que nos importa é a história...

A Junta de Freguesia na história - 29

As demarcações do Lameirão
- Brunhido -

Lugar de Brunhido-Rua da Audiência-Esta era a casa da audiência onde funcionavam alguns serviços do concelho de Brunhido


Em inícios do século XX, e até mais recentemente, havia muito o hábito de certos proprietários de terrenos, sempre que havia necessidade de cultivar ou fazer outro trabalho agrícola, que não necessariamente o cultivo, de fazer alargar os seus domínios, quer pela entrada adentro de terrenos públicos, quer (e aqui mais grave) de se apropriarem, lenta mas gradualmente, de terrenos dos vizinhos.
Neste caso a coisa podia ir mais longe. E, por causa destas atitudes, muiitas vezes resultavam em rixas violentas, com feridos graves, tribunais, e mesmo, às vezes, a morte na contenda de algum dos intervenientes.
As Juntas de Freguesia, principalmente no antigamente, tinham uma função primordial no sossego das populações e funcionava mais como intermediária dos seus interesses e como apaziaguadora das causas a que era chmada a derimir.
A acta da sessão de 7 de Janeiro de 1912, a que nos vamos referir, é disso a mais indelevel confirmação. Então, naquele dia, como estava programado, a Comissão da Junta de Paróquia, pelas 14 horas, reuniu-se no local do Lameirão, limite de Brunhido, «no meio de numeroso público que ali afluiu» - salienta a redacção da acta.

O presidente, João Baptista Fernandes Vidal, abriu a sessão naquele local e «por ele foi exposto a toda a multidão o motivo por que ali se achava reunida esta Comissão Administrativa da Junta de Paróquia, a todos pedindo que elucidassem a questão, para que conscientemente se fizesse justiça. E, depois de ouvir e bem estudar as reivindicações do público, se meteram os marcos entre o Lameirão público e a terra lavradia confinante pelo lado do noroeste e que é propriedade do cidadão António Soares da Rocha (vulgo "o Magalhães") do lugar de Brunhido, ficando esses marcos em linha recta na direcção nordeste-sudoeste.»
A acta menciona ainda outras questões de pormenor, de medidas, indo até ao centímetro, a distância entre os marcos, outras medidas em certas direcções e, caso curioso, esta passagem:
«Mais se deliberou, a pedido do povo, que este se encarregasse de vedar o dito coradouro público ou Lameirão a um metro de distância dos marcos, ficando este espaço entre essa vedação e os marcos para um caminho público de pé, que por ali passa; igualmente se assentou que o inquilino da supra dita terra confinante se servisse de carro (de tracção animal, certamente) para a mesma terra pelo fundo desta, por onde carral era antigamente e não através do dito Lameirão, como tem feito nos últimos anos. - Todas estas deliberações foram unanimemente aprovadas por toda a população ali presente e que era em grande número.»
Esta situação sugere algumas considerações históricas que faremos a seguir.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A região do Vouga

Indumentária, marmeleiros e romarias
.......
Um excerto que guardava por aqui há muitos anos, oriundo do Arquivo Distrital de Aveiro - DA REGIÃO DO VOUGA - publica algumas histórias, usos e costumes bastante curiosos. Com a devida vénia, permitimo-nos discorrer de tais páginas o seguinte:


Monumento alusivo à lenda da Justiça de Fafe, in blogue do Prof. Kiber, em

http://esoterismo-kiber.blogs.sapo.pt/


«Antigamente, os homens das localidades desta região de Vouga, aos domingos, dias santificados, ou à noite quando saíam à rua, usavam gabão, castanho ou preto.
O gabão, com capuz, cabeção e mangas largas, de grande roda a cair às pregas, envolvia todo o corpo e descia até aos pés, calçados em tamancos com uma chapinha de metal amarelo na biqueira. Era um grande agasalho para o inverno, tal gabão.
Na cabeça, os mais humildes enfiavam um barrete preto (carapuço), em forma cónica, com borla na ponta. Os mais categorizados, em vez de barrete usavam chapéu preto, em geral de abas largas, e nos pés, em vez de tamancos, calçavam botas (com elástico dos lados) ou chancas (calçado de solado de madeira) e quasi sempre se faziam acompanhar de um pau de marmeleiro da altura do indivíduo. Este pau, cheio de nós, e aquele gabão com o capuz que o homem enfiava na cabeça, eram as suas armas de ataque e defesa.
Nas feiras rurais e nas romarias populares, via de regra, depois do vinho fazer o seu efeito, ou fosse por negócios pouco lisos ou fosse por ciúmes de mulherido, os marmeleiros dançavam no ar, ouviam-se gritos em goelas femininas, e, a seguir, apareciam cabeças valientes a esguichar sangue. E nem a feira teria sido grande feira e nem a romaria teria sido famosa sem aquele quadro pitoresco dos grisos femininos do aqui-dél-rei-quem-acode e das cabeças rachadas. E até as lojas da boa pinga, com ramo verde de loureiro à porta, ficariam desacreditadas por muito tempo.
Ou então em noite escura como breu, gabão vestido e capuz enfiado na cabeça, bom marmeleiro no pulso firme, o engaboado, se era namorado traído ou irmão insultado, procurava o rival ou o roubador da honra da irmã em sítio ermo por onde fosse costume ele passar e, no dia seguinte, havia na aldeia uma vida a menos ou um ferido a mais. Quem teria sido?! Ninguém tinha visto e o gabão, capuz enfiado na cabeça, era vulto irreconhecível. Só perdurava o mistério e a desconfiança...
Também alguns lavradores destas localidades, quando antigamente andavam a lavrar terras ou quando iam à apanha do mato, usavam umas polainas cor de castanha de burel, a cair sobre os tamancos, e que lhes subiam quasi até aos joelhos, evitando assim sujarem as calças ou picarem as pernas.
Ainda há cinquenta anos atrás (desconhece-se a data em que esta descrição foi escrita) se usava gabão, marmeleiro e polainas, embora já rareando. Hoje em dia isso pouco se vê nas localidades desta região, mas o marmeleiro ainda e, em noitadas e romarias populares, usado por alguns, mais para não levar as mãos a abanar do que como arma. E o gabão foi substituído pelo sobretudo e pela gabardine, agasalhos deste nosso tempo, porque muitos rapazes destas terras, embora modestos, se as economias ajudam, vestem-se actualmente, em dias de folgança, como os rapazes das cidades. As estradas e os fáceis meios de transporte, que não havia outrora, a ligar as cidades às aldeias, operaram, em meio século, esta mudança.»

Autor: Laudelino de Miranda Melo
A seguir: - As mulheres

Nota: - Do que se encontra descrito, posso afiançar que assistimos ainda a alguns destes episódios, principalmente nas romarias.

A história local

As Meninas Mascarenhas
O Livro - X

Brazão do Visconde existente na parece exterior (lado sul) da Quinta de Aguieira


Neste recomeço de contacto com muitos amigos que gostam de blogues e daquilo que neles se transpõe, estou crente que falar mais um pouco da história de «As Meninas Mascarenhas» não deve ser fastidioso. Antes pelo contrário, para quem não conheça a história e pelo resumo que aqui deixamos, admitimos que ela pode constituir alguma curiosidade. Vamos retomar o seu fio condutor, a partir do momento em que a resposta de D. Margarida Coelho da Rocha, para servir de testemunha identificativa dos viajantes terá constituído um terramoto para estes.

*****

Ora, perante os mal-encarados personagens que interrogavam Pacheco Teles e o Dr. José Joaquim da Silva Pinho, na casa de D. Margarida Rocha, onde se tinham acoitado naquela mal passada noite, aqueles começaram a cogitar as mais variadas artimanha para se poderem safar. Assim, o Visconde de Aguieira (que ainda não o era quando este episódio se passou), mostrando-se forte disse que havia um antigo condíscipulo da Universidade de Coimbra, que morava ali perto e podia afiançar a sua identidade e perguntou a dois dos indivíduos do grupo da «autoridade», quem é que queria ir a casa do Dr. Alves, o tal condiscípulo e amigo com uma carta sua e quanto é que queriam receber por este serviço.
Um deles adiantou de imediato que fazia o serviço por um pinto, ou seja, um cruzado.
Logo outro adiantou que o Dr. Alves não viria àquela residência de D. Margarida, pois tinha casado havia pouco tempo, estava no gozo de núpcias e não se levantava da cama àquelas horas da noite. Pudera... (acrescento eu!). Mas a carta foi escrita e os mensageiros lá foram, todos contentes em ganhar aquela pechincha (480 reis), mas que, mesmo assim, era bastante para o que certamente não tinham.
A diligência demorou duas horas. A resposta foi uma desilusão. O Alves estava já deitado, «dormindo o primeiro sono da noite, e disse aos dois que não se levantava da sua cama e não conhecia o Joaquim Álvaro», descrevia o Dr. José Joaquim da Silva Pinho.
Perante a desilusão provocada pela resposta, surgiu mais uma ideia. Num último favor, pedia Joaquim Álvaro, que levassem uma carta ao abade de Romariz, seu conhecido e amigo. E foi este prelado que lhes valeu.
Colocaram-se várias conjecturas sobre o bom abade de Romariz. Até que, enquanto a resposta não chegou, pensaram o Dr. Joaquim Álvaro e o Dr. Silva Pinho falsificar um passaporte, documento obrigatório daquele tempo para quem se deslocava. E, se bem pensado, melhor feito.
Acabada a obra prima da falsificação, batem entretanto e fortemente ao portão. Era o próprio abade de Romariz, Sousa Brandão, que era da Murtosa, com muito boas relações, nomeadamente irmão do procurador régio na Comarca de Águeda, entre outras pessoas importantes descritas no livro.
O que se passou com este fiel e bondoso homem deixamos para o próximo capítulo.

Regresso com a Alta Vila!



Depois de ter passado todo este tempo ausente, retomo as minhas funções com a apresentação de um slide de uma das pérolas (porque há mais por aí) que não me canso de visitar. Mas só vou lá quando não há muita gente e muita actividade. Porque só assim se consegue ver e viver aquele local, a que já foi chamado de «o pulmão da cidade de Águeda». Além disso é uma preciosidade aquele local e tudo o que o envolve. Por isso, recomeçar, com esta amostra, após a quaresma e a páscoa, esta actividade bloguista a que já nos habituamos. E a seguir a este, talvez outros mais aqui viremos colocar, de alguns cantinhos existentes em alguns locais bem próximos de nós, que, pela objectiva da máquina, se conseguem ver com outros olhos.
Então, até breve...

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