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quarta-feira, 22 de julho de 2009

USOS E COSTUMES

CANTAR AS ALMAS SANTAS

Tratava-se de uma actividade tradicional de cariz religioso, vivido em algumas freguesias do concelho, na Quaresma, que já Adolfo Portela no seu livro ÁGUEDA fazia referência ao cantar as Almas Santas – Ementar as Almas – Aumentar as Almas, dizia-se.
No mesmo livro vêm ainda transcritas algumas «quadras desirmanadas do cancioneiro» e que eram assim;

À porta das Almas Santas
Bate Deus a toda a hora.
Almas Santas lhe respondem:
- Que quereis, meu Deus, agora?
- Quero que deixeis o mundo
E que venhais para a glória
- Ó meu Deus quem nos lá dera!
Ó meu Deus quem nos lá fora!

Também em Valongo do Vouga, esta manifestação popular, ainda há poucos anos – mas já bastantes – era vivida. Na Quaresma, em algumas povoações juntavam-se várias pessoas e organizavam o grupo para cantar as almas santas. Um era portador da cruz e dois outros ladeavam-na com archotes acesos. O grupo, em dois coros e em diálogo, cantavam aquelas expressões em verso e, ainda, os seguintes que vou tentar organizar em diálogo de um e outro grupo, porque nos apontamentos em minha posse, as frases estão todas seguidas.

1 - Nós preparados estamos,
Ó meu Deus vamos embora.
2 – Na companhia dos anjos
Também da Virgem Maria.
1 – Ó meu Deus quem nos lá dera!
Ó meu Deus quem nos lá vira.
2 – Das almas do outro mundo,
É bem que nós nos lembremos.
1 – Nós havemos de morrer,
Sabe Deus p’ra onde iremos.
2 – Dai a esmola se puderdes,
Se com devoção a dais.
1 – Já lá tendes vossas mães,
Vossos filhos, vossos pais.
2 – A esmola que vós dais,
Não penseis que a comemos.
1 - É para rezar de missas,
A devoção que trazemos.
2 – Temos de subir ao céu,
Por umas continhas brancas.
1 – Dai a esmola se puderdes,
Em louvor das Almas Santas.
2 – Em louvor das Almas Santas
Também da Virgem Maria.
1 – P´las almas, Pai Nosso
Por elas, Avé-Maria

Após cantados os versos descritos, recitava-se o Pai Nosso e a Avé-Maria e era cantada a última estrofe;

Ó bom Jesus do Calvário,
Que lá estais na bela cruz!
Livrai-as do Purgatório,
Para sempre, Amen, Jesus.

Tudo isto era musicado, mas não sei classificar como se define, por não ter qualquer conhecimento da arte dos sons. Mas era sempre a mesma música, em todas as frases, a lembrar um pouco, talvez, o Canto Gregoriano que, parece, era uma música, como se diz agora, redonda, por ser sempre com a mesma construção e entoação. Poderíamos dizer, em linguagem popular, que a música era a lengalenga, mas num tom monocórdico com um certo som triste (ou melancolia) do tempo da Quaresma... E, curiosamente ou não, ainda a sei entoar...
Fica aqui a ideia para a recolha do nosso Grupo de Folclore, da Casa do Povo de Valongo, que tem feito um meritório trabalho.

Pela Internet não faltam elementos sobre esta tradição. Dessa vasta informação, retiro dois ou três locais web, através dos quais se pode ver um, em vídeo, com alguma semelhança na letra, com a que se conhece em Valongo, mas no aspecto cantante muito diferente pois a versão que retenho é mais musical.
Noutros locais, há uma descrição histórica em tudo semelhante ao que aqui se praticava. Os endereços estão a seguir.
Na tradição, pode-se verificar neste endereço, o que consta a respeito das Almas Santas. Pode clicar aqui.
Existem ainda outras descrições da tradição, pelo que pode ver ainda esta, clicando aqui.
Ainda este vídeo, que apesar de algumas deficiências, pode ser apreciado o quanto de semelhante existe no que cantam e no que acima está escrito. Passa-se em Tourigo, concelho de Tondela, não muito longe daqui.






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