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sábado, 4 de julho de 2009

Coisas da Guiné - 5

GUINÉ – A PONTE DE S. VICENTE
Designação Oficial: Ponte Euro-Africana


Foto da Ponte de S. Vicente-foto Engº Pedro Moço (Soares da Costa abr2009)

Actual Ponte de S. Vicente (foto Missionário Italiano)

Penso que qualquer cidadão europeu devia viver em África, pelo menos 6 meses, para poder dar valor ao que tem disponível no seu país, coisas que para qualquer europeu são banais, tais como, o direito à saúde, educação, o poder dispor de electricidade, água potável, etc., etc. Aqui nada existe, a não ser a tentativa de sobrevivência do dia-a-dia.

Dói a ausência de futuro nos olhos das crianças, dói o nulo investimento na formação, na educação, dói o tipo de vida resignada, dói que a única solução seja emigrar, ainda que precariamente. Dói que o eldorado esteja sempre do lado de lá. Dói pensar nas desilusões de quem passa para o lado de lá e encontra o que não esperava.Dói a ausência de futuro e de estratégias de desenvolvimento. Dói que se morra de “coisas da Guiné”, espécie de doença generalista que agrupa tudo o que mata e se desconhece.

(Eng. Pedro Moço, empresa Soares da Costa, técnico da área de geologia que dirigiu a construção, na Guiné, da ponte de S. Vicente, no blogue psvicente.blogspot.com)

Ponte de S. Vicente (Cacheu) em construção-Ao fundo a estrada para Ingoré ou Bula
Ponte Rio Corubal (Saltinho?)
Este post abre com as palavras de Pedro Moço, um técnico que pertence, na área acima indicada, ao grupo Soares da Costa.
Com ele tive o privilégio de trocar uns mailes, nos quais ele me ajudou a identificar uma fotografia da Guiné que tenho em meu poder e que me parecia uma ponte do Rio Mansoa, perto desta localidade.
A minha companhia (CCaç 462) esteve aqui escassos meses, ou semanas, antes do seu regresso.
Por força das funções que tinha por apêndice e que já aqui esclareci, não fui para Mansoa, ficando a trabalhar em Bissau.
Mas alguém me fez chegar aquela fotografia. E sempre me ficou a ideia de ser uma ponte sobre o Rio Mansoa. Mas não…
Acabamos por concluir que esta ponte ou outra muito parecida (o que seria um tanto inacreditável) está no Rio Corubal (de que tenho por aqui, agora, algumas) e foi da autoria do Engº Edgar Cardoso, que também assinou a construção da ponte da Arrábida, no Rio Douro, ali ao chegar ao Porto.
Esclarecida esta situação, a história agora é outra…
Trata-se da ponte sobre o Rio Cacheu, ali mesmo em São Vicente!
Aquele engenheiro geólogo (não gosta que o tratem assim, mas estamos a falar em contextos profissionais!) durante dezoito meses esteve na Guiné, em anos recentíssimos, e deixou-nos aquela prosa, que pode ser confirmada em http://psvicente.blogspot.com./ o blogue que criou exclusivamente para historiar a evolução da construção da ponte.
Não faço comentários, porque as suas palavras, sentidas e honestas, deixam antever a câmara do que lhe vai na alma, relativo àquele território e àquelas gentes e à sua vida cheia de necessidades. E dizia-se, naquele tempo (1963-1965), que na Guiné era impossível a construção de pontes, por causa do terreno. Pois é, as estacas (ou pilares, ou lá como se chama, com toneladas de ferro e cimento) estão a muitas dezenas de metros de profundidade, mais ou menos a 35 metros, não confirmei, mas também não vale a pena…
E trago isto à colação, porque uma grande parte daqueles que estiveram na Guiné, esteve no meio do rio Cacheu, para se proteger durante a noite quando fazia guarda à jangada, durante o dia, portanto 24 horas; aquela ponte substituiu este meio de ligar uma à outra margem; atravessamos aquele local dezenas de vezes e, durante o tempo de guarda e vigia, também passamos os melhores momentos (pelo menos naquele tempo), quando nos deliciávamos com os petiscos que íamos cozinhando, ao fim da tarde, nomeadamente os belíssimos e enormes caranguejos (e outros apetitosos crustáceos) que ali eram apanhados da maneira mais simples; um arco de pipo, um bocado de rede e umas taliscas de bacalhau presas à rede, que tínhamos de "subtrair" ao armazém do Vagomestre (ele sabia) furr.mil. Ernesto Milton Patrício, que era natural de uma vila de Trás-os-Montes (um dia destes venho a lembrar-me).
A inauguração desta ponte foi feita em 19 de Junho último, tem 730 metros de comprimento e foi concluída em 3 de Abril de 2009. Quanta falta nos fez esta e outras pontes, neste e em outros locais! Sei que isto é um bocado de poesia, mas…
As fotos que acompanham esta história, sendo a sua utilização autorizada pelo Eng.º Pedro Moço, são recentes, como é evidente, e retratam a ponte já pronta. Há uma terceira que terá sido obtida através de um missionário, italiano, que faz uma descrição de uma viagem e consta no blogue http://didinho.org/uma_viagem_especial.htm,descrição essa do que passou do Senegal para a Guiné. Curiosamente, da seguinte forma; estando em Zinguinchor, rodou para nascente ao longo da fronteira e entrou na Guiné a norte de Bigene, segundo o mapa pelo próprio desenhado. Passado todo este tempo, e conhecendo toda aquela área, eu diria, facilitando, que, estando em Zinguinchor (uma cidade a norte de S. Domingos, onde já se ia em 1963, 1964, etc., e há por aí blogues com relatos dessas deslocações), aquele homem podia vir a esta localidade fronteiriça da Guiné (mais directo) e depois por ali abaixo (ou por ali acima, porque na Guiné é difícil dizer isto), vinha a Sedengal e a Ingoré e depois S. Vicente, Bula, etc. Isto porque a descrição da sua aventura é datada de Maio de 2009 e nela está mencionada a fotografia que agora é justificação deste post.Entretanto foram construídas outras pontes no atravessamento dos cursos de água (e muitos) na Guiné, para permitir abrir ao trânsito uma estrada Trans-Africana, que vai de Marrocos até, salvo erro, à Libéria.

Resta acrescentar que na Guiné, em 1963, apenas existiam ou eram conhecidas uma ou duas pontes.
UMA CORRECÇÃO: - É meu dever, porque foi omitido em post's anteriores involuntariamente o nome de um conterrâneo que também esteve na Guiné e, em tempos, lá fez uma visita. Trata-se de Manuel Francisco Rodrigues Simões, da Póvoa, que, se disser que é o Manuel do Talho, todos ficam a saber quem se trata. Fica reposta a referida omissão.



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